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SAFRA DE BALANÇOS 2019 (parte 2) –

EBITDA, CAPEX E DIVIDENDOS

Algumas informações contábeis e não contábeis

Continuando na quarentena e retomando a leitura da safra de balanços de


2019, faço algumas considerações às informações publicadas em conjunto com
as demonstrações financeiras das empresas incluídas no IBOVESPA e dos
dividendos consignados.

A combinação ou um simples somatório dos valores reportados como EBITDAs


AJUSTADOS pelas empresas não financeiras incluídas no IBOVESPA*, e
calculados com base nas demonstrações financeiras preparadas de acordo com
o BR GAAP, totalizou no ano de 2019 o montante de R$ 398 bilhões o que
corresponde a um tímido acréscimo de 2% em relação a esta métrica “não
contábil” divulgada para o ano de 2018.
No entanto, o que me chamou a atenção foi a relevante variação positiva dos
CAPEX reportado pelas empresas não financeiras incluídas no IBOVESPA*. Em
2019 esse investimento em capital fixo (no sentido econômico amplo) registrou
um acréscimo de 25% em relação a 2018, atingindo o valor de R$ 108
bilhões, excluindo o montante reportado pela PETROBRAS, dado a sua
relevância para a análise. Essa variação é bastante expressiva e denota a
confiança e o otimismo que imperou no mercado em 2019, lembrado a variação
positiva de 32% do IBOVESPA naquele ano. Adicionalmente, destaca-se o
incrível CAPEX de R$ 110 bilhões divulgado pela PETROBRAS em 2019 o que
nos dá a dimensão do tamanho e a importância que esta empresa brasileira
representa em nosso mercado de capitais ou na economia do País. Foi maior do
que todo o somatório das demais empresas não financeiras incluídas no
IBOVESPA*. É claro que parte substancial desse CAPEX da PETROBRAS de 2019,
foi turbinado pelos investimentos na cessão onerosa.

Também é interessante frisar que o auditor independente, quando da emissão


de seu relatório sobre as demonstrações financeiras, não opina sobre essas
métricas não contábeis como o EBITDA e o CAPEX. Porém, geralmente essas
métricas são incluídas no Relatório de Administração o qual, é lido pelo auditor
independente cujo escopo de trabalho inclui fazer a sua consistência com as
demonstrações financeiras e apontar eventuais desvios no seu relatório se
aplicável.

E para corroborar esse sentimento de otimismo que existia e persistia no


mercado de capitais, é interessante olhar também para os dividendos e os juros
sobre capital próprio aqui tratados de forma conjunta como “dividendos”. E
aqui, enquanto contador, compilei o somatório dos dividendos que
foram debitados no ano dos patrimônios líquidos das empresas incluídas no
índice IBOVESPA.

Vale uma observação quanto as práticas contábeis adotadas no Brasil (BR


GAAP) as quais, são alinhadas às normas internacionais de relatórios financeiros
(IFRS). De acordo com o ICPC 08, o dividendo obrigatório - de que trata a Lei
6.404 e considerando os estatutos das correspondentes empresas - deve ser
registrado como uma obrigação na data do encerramento do exercício social a
que se referem as demonstrações contábeis. Ou seja, devem ser debitados do
patrimônio líquido e creditados no passivo se não no caixa quando antecipados,
quando da sua proposição ao encerramento do exercício. Evidentemente,
também são debitados no patrimônio líquido do ano corrente, aqueles
dividendos efetivamente pagos (caixa) no ano referentes distribuição
suplementar (ao obrigatório) proposta nos períodos anteriores, o que também
considerei neste levantamento.
Com isso, o total de débitos no patrimônio líquido das empresas integrantes do
IBOVESPA* em 2019 relativos a dividendos, apresentou um acréscimo de 24%
em relação a 2018, atingindo o montante de R$ 138 bilhões. O que demonstra,
até de certa forma nostalgicamente, que o otimismo imperava nos negócios no
ano de 2019.

Não é novidade que os bancos BRADESCO, ITAÚ e SANTANDER foram os


campeões no quesito dividendos – em valor absoluto – ultrapassando os R$ 10
bilhões cada um desses entes sem contar é claro, com a PETROBRAS que
também supera essa régua.

O BACEN, com objetivo de prover liquidez ao mercado, por meio da resolução


4797 de 6 de abril de 2020 determinou ente outras medidas, que as instituições
financeiras por ele reguladas, estão vedadas a pagar juros sobre o capital
próprio e dividendos acima do mínimo obrigatório estabelecido no estatuto
social até a data de 30 de setembro do ano corrente.

Dada a inevitável severa recessão global em curso, a pauta dos acionistas e dos
conselhos de administração das empresas está focada em ações para enfrentar
a desaceleração econômica e dentre as medidas a serem implementadas, uma
questão central é a eventual postergação do pagamento dos proventos dos
acionistas.

Com base na medida provisória 931/2020 e regulamentação da CVM, foi


permitindo a postergação das assembleias as quais, dentre outras pautas,
deverão deliberar sobre os dividendos propostos nas demonstrações financeiras
de 2019.

Adicionalmente, no âmbito da política econômica, uma outra questão que me


parece deve ganhar corpo ao longo dessa crise de saúde e econômica, será o
debate quanto a tributação dos dividendos ainda isentos no Brasil. Mas, esta é
uma outra questão para futuras discussões.

A conferir.

(*) Do total das setenta empresas do índice IBOVESPA, este levantamento


considerou sessenta e oito não incluindo, portanto, as informações contábeis da
CVC e da EQUATORIAL cuja divulgação para 2019 não foi efetuada até a
presente.

José Luiz de Souza Gurgel

6 de abril de 2020

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