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Ricardo, L. (2013). Estilos e perfis de líderes intermédios na escola com funções de avaliação do desempenho docente.

Tese de
doutoramento, Universidade Aberta, Lisboa, Portugal

Anexo IX – Modelos da supervisão pedagógica vs teorias que os suportam

Anexo IX.1- Evolução dos modelos de supervisão pedagógica (Duffy, 1998)

Períodos dos
modelos Características Prováveis influências
supervisivos

Os professores cumpriam ordens e os resultados dos O Taylorismo e a visão da


alunos pouco interessavam. Debruçavam-se mais sobre eficiência administrativa da teoria
1 as tarefas dos professores. Era o período de inspeção de Weber (com a burocratização do
Administrativo administrativa (onde os supervisores eram autoritários, sistema) ressaltam como podendo
pertencentes a entidades morais e faziam um papel de ser uma das influências deste
fiscalização ao trabalho do professor). período.

A visão da eficácia na linha da


O paradigma industrial dominava começando assim a
teoria clássica das organizações
olhar-se para a organização dividindo-se os papéis da
proposta por Taylor, com um
2 administração e da supervisão. Os agentes estavam
reforço da divisão das tarefas
Eficaz mais próximos. O período de orientação para a
proposto pela burocracia de Weber,
eficiência orientava-se assim para uma melhor eficácia
numa visão produtiva, parece estar
da organização.
aqui bem presente.

Valoriza-se o papel do professor, vislumbrando-se a A base teórica parece aproximar-se


supervisão como um processo onde todos os das teorias da supervisão moderna
3 envolvidos são importantes e procura-se, em grupo, onde se incluem os componentes da
Cooperativo resolver os problemas educativos. Neste período de liderança participativa e os das
esforço cooperativo de grupo incentivava-se a organizacionais relacionadas com a
cooperação entre todos. participação e democraticidade.

Terá, então, uma ligação próxima à


Suportado pela supervisão Clínica dá-se valor à relação
obtenção de resultados no sentido
entre o professor e alunos onde a sala de aulas é vista
4 de os compreender e melhorar. O
como um laboratório. Este período de orientação para a
Investigativo paradigma científico sobressai
pesquisa/investigação contém os mesmos preceitos de
como uma das bases predominantes
uma supervisão clínica.
neste período.
Ricardo, L. (2013). Estilos e perfis de líderes intermédios na escola com funções de avaliação do desempenho docente. Tese de
doutoramento, Universidade Aberta, Lisboa, Portugal

Anexo IX.2- Modelos gerais da supervisão pedagógica (Tracy, 2002)

Modelos Sugestão de pistas para a descoberta das


Características
supervisivos bases teóricas alicerçantes

Este modelo, ou conjunto de modelos, ou família de modelos, ou


abordagem, é comummente perspetivada também sob outros prismas, Assim, dadas as diferentes visões que este
como, por exemplo, método ou mesmo teoria e é o conceito mais modelo apresenta, podemos também
concorrido e referido pelos diversos autores. considerar várias teorias que a podem
Foi a partir desta abordagem que nos anos 50 se começou a sustentar desde as de Comunicação, até à
desenvolver a supervisão pedagógica iniciando-se nos Estados Unidos “Teoria Z” de Ouchi, mas sobretudo nas
da América (Vieira, 1993). teorias Sociológicas no sentido da definição
Apoia-se na sala de aulas, vista como o seu alvo preferencial, e na das relações entre o supervisor e
Clínico
relação do supervisionado-supervisor. Glatthorn (cit. Tracy, 2002) supervisionado. Dadas as referências de
inclui neste modelo as abordagens científica e artística mas sem o outros modelos à supervisão Clínica pode-se
supervisor fazer qualquer avaliação ao supervisionado (teria de ser ainda considerar que este modelo possa ser
outra figura/agente a fazê-lo). visto como uma teoria uma vez que
Sergiovanni e Starratt (1993, cit. idem) acrescentam mais “representa a base conceptual para muita
características a este modelo atribuindo as responsabilidades deste tipo prática de supervisão” (Tracy &
de supervisão a uma colegialidade que terá de existir na equipa MacNaughton, 1993, cit. Tracy, 2002, p. 72).
supervisor/supervisionado.

Este modelo, próximo do Investigativo (referido anteriormente nos Poder-se-á considerar o paradigma científico
períodos/modelos de Duff) foi proposto por McNeil (1982) e nasceu da como podendo ser uma das suas bases de
investigação. A emergência da investigação ação com todas as suas sustentação. No entanto, tem sido muito
Cientifico
componentes terá sido quem o despoletou. Santos (2006, p. 84) refere contestado uma vez que não se podem testar
que este modelo foi depois desenvolvido por vários autores passando a todas as conclusões resultantes das
chamar-se “Modelo Clínico com Garman (1982)”. observações feitas na sala de aulas.

Proposto por Eisner (1982, cit. Tracy, 2002, p.43) baseia-se “na
sensibilidade, capacidade de perceção e conhecimento do supervisor,
Parece-nos que muito dificilmente se
como modo de valorizar as subtilezas significativas que ocorrem na
consegue encontrar a teoria dominante mas,
sala de aulas”. Assim, também aqui, não podemos de deixar de associar
poderá atravessar os campos das teorias
Artístico este modelo também à abordagem clínica. Insiste nos aspetos naturais
Comportamentais (Mayo, Maslow e
do professor em detrimento dos aspetos técnicos. Numa variante ao
McGregor) onde a personalidade e o caráter
Modelo Humanistístico-artístico (referido mais à frente), e podendo ser
da pessoa são aspetos salientados.
inserido na família de modelos Clínicos, o ensino é visto mais como
uma arte e incentiva-se o professor a desenvolver a sua criatividade.

Assente no compromisso entre dois (pelos menos) colegas professores


Desenvolvimento A “Teoria Z” de Ouchi parece-nos poder ser
que se supervisionam um ao outro através de observação de aulas e de
profissional uma das bases predominantes bem como um
outros interesses escolares. Aqui a avaliação é vista como não
cooperativo estilo de liderança partilhada e democrática.
importante.

Tem como referências o estabelecimento de objetivos e recorre ao


Parece que este Modelo se pode apoiar na
Desenvolvimento suporte, cujo processo supervisivo é controlado pelo próprio
teoria do Aconselhamento (Mosher &
autodirecionado supervisionado (mas dirigido pelo supervisor) e também não deve
Purpel, 1972, cit. Tracy, 2002)
existir qualquer avaliação.

As teorias clássicas das organizações


(Taylor, Fayol e Weber) poderão ser o
Aqui realça-se o acompanhamento do professor pelo supervisor através suporte deste modelo. Mas dado que os
Monitorização
do plano por este agendado e contempla a respetiva avaliação. O foco resultados que se esperam são sobretudo
administrativa
principal é o resultado do aluno. devido ao trabalho do supervisor o estilo de
liderança autoritário poderá também estar
aqui presente.

Valoriza-se os resultados das escolas e todo o processo de ensino onde Portanto, à semelhança da anterior, as teorias
o supervisionado tem um papel passivo (McGreal, 1983). A sala de clássicas organizacionais e o estilo de
Normas Comuns
aula é determinante para a avaliação do supervisionado que é liderança autoritária poderão encaixar-se nas
implementada de uma forma comparativa com outros supervisionados. bases de suporte deste modelo.

Organizam-se as prioridades segundo as abordagens administrativas, Ou seja, Weber com a sua teoria da
Estabelecimento
desempenho, e da criação de objetivos tendo em vista a aprendizagem Burocracia está visivelmente presente nesta
de objetivos
dos alunos (McGreal, 1983). estrutura.

Valoriza-se o produto final, resultados dos alunos, mudanças de O Taylorismo parece poder suportar este
Produto
atitudes/comportamento dos alunos e não o processo (McGreal, 1983). Modelo.
Ricardo, L. (2013). Estilos e perfis de líderes intermédios na escola com funções de avaliação do desempenho docente. Tese de
doutoramento, Universidade Aberta, Lisboa, Portugal

Assente sobretudo na teoria, à semelhança do modelo Artístico descrito Assim, também aqui tendo em conta a
Artístico- anteriormente, trabalham-se os traços de personalidade do personalidade e o caráter da pessoa, as
naturalista supervisionado e dão relevo às imprevisibilidades das ocorrências na teorias comportamentais poderão suportar
relação professor-aluno opondo-se ao rigor de objetivos. As críticas este modelo.
surgem dos defensores da abordagem científica.
A teoria do Aconselhamento (extraindo-a da
Procura desenvolver as capacidades do supervisionado em vez de tentar visão psicoterapêutica) ao lado das
Original encontrar os seus défices. Necessita-se de uma forte cumplicidade entre Comportamentais e Motivacionais parece-
o supervisor-supervisionado e baseia-se na abordagem clínica. nos que poderão encaixar no suporte a este
modelo.
Sendo considerado também como uma variante ao modelo
Interpessoal de Humanistístico-artístico acrescenta-se a importância das relações A teoria das Relações Humanas de Mayo
Blumberg pessoais/humanas entre o supervisor e supervisionado e opõe-se, a par pode ser uma das bases de sustentação.
do modelo Artístico, à burocracia.
A teoria de Weber ao preconizar que para
Próximo do modelo Científico, dá-se muito valor às técnicas de ensino cada problema existe uma solução
Técnicos-
usadas, e provenientes da investigação, em detrimento das predeterminada pode ter aqui as suas
didácticos
imprevisibilidades. influências.

Como a linha de desenvolvimento depende


Procura-se que o professor supervisionado reflita e critique suas
do estado de desenvolvimento do
experiências/ações tentando melhorar o seu desempenho. O supervisor
supervisionado, sugerindo a existência de
Desenvolvimento tem um papel de perceber as necessidades do supervisionado para
um suporte reflexivo por parte deste, as
-reflexivo poder tomar as decisões que melhorem o desenvolvimento pessoal e
teorias de sustentação deste Modelo podem
profissional do supervisionado. A reflexão incide sobre a vertente
variar consoante essa necessidade resultante
técnica, prática e moral/ética.
dessa reflexão.
Próximo do modelo do Desenvolvimento Profissional Cooperativo
pode tomar várias formas tendo em vista a sala de aulas mas que
Assim a “Teoria Z” de Ouchi parece-nos
poderá extravasar para além desta com reuniões de planificação e
poder ser uma das bases predominantes bem
Colegial preparação dessas aulas. De referir que colegialidade, numa visão
como as influências de um estilo de
administrativa, significa que nenhum dos intervenientes tem poder
liderança partilhada.
deliberativo que sobressaia significativamente sobre o outro (Caupers,
1996).
A teoria das Lideranças, concretamente a
Este modelo cola-se ao modelo de Desenvolvimento autodirecionado,
que define o estilo Laisser-faire parece-nos
Autodirecionado referido anteriormente, mas o supervisionado assume o controlo do seu
que poderá encaixar como um suporte deste
desenvolvimento.
modelo.

Este modelo considera-se pouco


desenvolvido. Por este motivo não se
Baseia-se na observação espontânea e não prevista por parte dos
Informal vislumbram, de uma forma clara, teorias
supervisores ao supervisionado.
alicerçantes predominantes parecendo-nos
que pode abarcar várias.

Chamado também Investigação-Ação, por se parecer com esta


Os paradigmas científicos e investigativo
metodologia de investigação, pede-se ao supervisionado que reflita
poderão estar presentes neste modelo. A “2ª
sobre um determinado problema encontrado para que, em conjunto com
Baseado na rutura epistemológica” de Sousa Santos
colegas e supervisor, procurem a solução desse problema e,
pesquisa (1989) ou o “duplo paradoxo” de Costa,
seguidamente, que a solução desse problema seja partilhado. Sugerem-
(investigação) Ávila, e Mateus (2002) podem ajudar no
se os seguintes passos de implementação: identificação do problema,
entendimento sobre a implementação deste
encontrar as suas causas, encontrar a solução, testar a solução e
modelo.
partilhar os resultados.

O supervisor observa e avalia privilegiando-se os suportes e estratégias Verifica-se se o supervisionado possui


existentes, ou seja, avaliam-se sobretudo as formas como o professor determinadas características e realiza
Orientado para
supervisionado transmite os conhecimentos aos alunos (abordagem determinadas ações, logo, parece-nos que
meios
neotradicional) ou as suas características técnicas (abordagem este modelo pode assentar sobre um
tradicional). paradigma científico.

Procura atingir os objetivos traçados. Parece-nos que este modelo,


Assim, a teoria clássica das organizações de
conforme é definido, não deveria ser considerado como tal mas sim
Weber com a sua teoria da Burocracia, a
como uma característica existente em quase todos os modelos. Dá
Orientado para teoria Pragmática da Administração por
ideia, no entanto, que, para lhe darem esta importância, o enfoque deste
objetivos Objetivos com incidência na planificação e a
modelo se dirige sobretudo para os objectivos subestimando os meios
Neoclássica acentuando os resultados,
para os atingir. Muito próximo em termos de ideologia do modelo de
podem também suportar este modelo.
Estabelecimento de Objetivos.

Parte do pressuposto que o professor supervisionado aceita e reconhece Também aqui não arriscamos colar este
Orientado para o as suas limitações e é ele que desenvolve e propõe as ações modelo a qualquer teoria alicerçante, pois
professor supervisivas numa necessária cumplicidade colegial com o supervisor. parece-nos que pode abarcar vários suportes
Tem como objetivo a autosupervisão. Sendo assim, entende-se como dependendo do resultado da reflexão do
muito próximo do modelo do Desenvolvimento Reflexivo. professor e das suas indicações/propostas.
Ricardo, L. (2013). Estilos e perfis de líderes intermédios na escola com funções de avaliação do desempenho docente. Tese de
doutoramento, Universidade Aberta, Lisboa, Portugal

Anexo IX.3- Modelo ecológico da supervisão pedagógica (Oliveira-Formosinho, 2002)

Sugestão de pistas para a


Modelo
Características descoberta das bases teóricas
supervisivos alicerçantes

Este modelo, dirigido à formação de educadores de infância,


sugere a introdução de um educador de infância cooperante no
processo. Assim, além do supervisor (fixo na universidade) e do
supervisionado (entre o infantário e a universidade) surge um
Aqui não são claras as bases
educador de infância cooperante (2º supervisor residente na
de sustentação deste modelo
escola) que ajuda na integração profissional do candidato a
podendo percorrer várias
educador.
teorias, já que a
Ecológico De referir que os estágios (integrados no curso) dos candidatos a
característica principal é a
professores e dos estágios inseridos na profissionalização em
inclusão de um 2º supervisor
serviço (dirigido ao professor com base científica mas que no seu
mais próximo do
curso superior não obteve formação pedagógica) também
supervisionado.
contemplam esta terceira figura (um professor com mais
experiência efetivo na Escola que ajuda na integração do
supervisionado). Assim não se pode considerar tratar-se de um
modelo exclusivo dos educadores de infância.
Ricardo, L. (2013). Estilos e perfis de líderes intermédios na escola com funções de avaliação do desempenho docente. Tese de
doutoramento, Universidade Aberta, Lisboa, Portugal

Anexo IX.4- Modelos supervisivos de Leddick (n.d.)

Sugestão de pistas para a


Modelos
Características descoberta das bases teóricas
supervisivos
alicerçantes

A teoria do Aconselhamento
O supervisor assume um papel de professor, conselheiro e parece-nos sobressair como
Terapêutico
consultor. uma das bases teóricas deste
modelo.

Divide a implementação em três níveis de Como a linha de


desenvolvimento (iniciante, intermédio e avançado) tendo desenvolvimento do
em conta o autoconhecimento, a motivação e a autonomia. supervisionado depende da
Desenvolvimento Estas três divisões parecem-nos ser de uma grande sua posição profissional as
pertinência pois sabe-se que um professor ao longo da sua teorias alicerçantes podem
carreira não se encontra no mesmo estádio de variar consoante esse
desenvolvimento. estatuto/estádio.

Procura melhorar a comunicação entre o supervisionado e


o cliente (aluno), verifica a aplicação/transmissão dos Também aqui a teoria do
Discriminatório conhecimentos do supervisionado e parece promover uma Aconselhamento parece poder
abertura de modo a que o supervisionado não se coloque suportar este modelo.
numa posição defensiva.
Ricardo, L. (2013). Estilos e perfis de líderes intermédios na escola com funções de avaliação do desempenho docente. Tese de
doutoramento, Universidade Aberta, Lisboa, Portugal

Anexo IX.5 - Esboço do modelo supervisivo Especialista

Modelo Características Bases alicerçantes

Modelo de supervisão pedagógica que contempla as


Este modelo teria de ir beber
especialidades a serem supervisionadas separando o processo
às fontes das teorias
supervisivo por áreas de ação, ou seja, prevendo-se em cada
Psicológicas, dentro de um
escola: (a) supervisores científicos (para cada área científica), (b)
paradigma humanista e
um supervisor pedagógico, (c) um supervisor administrativo e (d)
democrático, onde teria de
um supervisor sócio-afectivo/participativo.
se apelar à sensibilidade do
Especialista Seria conveniente que o supervisionado não tivesse habilitações
supervisor no sentido da
superiores ao do supervisor nas áreas (a), (c) e (d) nem
escolha de um estilo
experiência superior na área (b) pedagógica. Caso aconteça o
supervisivo mais adequado
supervisionado estaria sujeito a uma autosupervisão nessa área
atendendo às características
específica pois teriam de lhe ser reconhecidas essas
pessoais e profissionais do
competências provenientes dos seus estudos avançados ou da sua
supervisionado.
experiência.

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