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Teorias da Administração

aplicadas à Gestão Escolar I

Eloiza da Silva Gomes de Oliveira

Introdução: gestor ou administrador?


Esta aula abordará as principais Teorias da Administração, apresentan-
do brevemente algumas teorias consideradas clássicas, seus fundadores e
princípios. Posteriormente será estabelecido uma relação entre essas teo-
rias e a Gestão Escolar.

Iniciaremos com a conceituação dos termos gestão e administração.


Ambos têm origem latina (gerere e administrare). O primeiro termo (gerere)
tem o sentido de governar, conduzir, dirigir. O segundo termo (adminis-
trare), tem um significado mais restrito – gerir um bem, defendendo os
interesses daquele que o possui – constituindo-se em uma aplicação do
gerir. Para outros autores, como Wittmann e Franco, no entanto aplicam
esses termos
como uma instância inerente à prática educativa, que abrange o conjunto de normas/
diretrizes e práticas/atividades que garantem, de um lado, o significado ou o sentido
histórico do que se faz e, de outro lado, a unidade do conjunto na diversidade de sua
concretização. A administração da educação engloba as políticas, o planejamento, a
gestão e a avaliação da educação. (1998, p. 27)

Assim, entendida como uma ampla coordenação de esforços para rea-


lizar a implementação de políticas e planos, a gestão passa a ser uma parte
da administração.

Sem pretender aprofundar essa polêmica, quando falamos em Gestão


Escolar trata-se, numa visão atual, do conjunto de funções desempenhadas
pelos “atores institucionais” da escola (ou seja, toda a comunidade escolar),
com diferentes graus de complexidade e responsabilidade, coordenadas
pela equipe técnico-pedagógica, encabeçada pelo diretor da escola. Já fica
claro, portanto, que desvinculamos da figura do diretor da escola todas
as características de autoridade máxima, unipessoalidade, centralização,
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linha hierárquica, ênfase e relevo único – e às vezes onipotência – que lhe eram
atribuídas há alguns anos (em especial na década de 1970).

Na década de 1980, com a redemocratização da sociedade brasileira, isso


começa a ser questionado e a direção colegiada surge nas escolas.

O termo “gestor”, amplamente utilizado na atualidade, amplia as competên-


cias exigidas deste profissional, demandando uma visão ampla, dinâmica e ar-
ticulada, conjugando decisão e avaliação constantes. Seja qual for a concepção
utilizada, entendemos que o conhecimento histórico das Teorias da Administra-
ção, aplicando-as à realidade escolar, é fundamental para a formação do gestor.

Teorias da Administração:
evolução histórica e características
Em vez de apresentarmos uma sucessão de teorias, com seus vários autores
de destaque, falaremos de grandes paradigmas que dominaram o cenário da
Administração, em ordem cronológica, discutindo-os brevemente e verificando
alguns dos seus impactos no cenário da escola.

Antes, porém, uma pergunta:

Você sabe o que é um paradigma?

Kuhn (1992, p. 29) afirmou que paradigmas são “realizações reconhecidas du-
rante algum tempo por uma comunidade científica específica, proporcionando
os fundamentos para sua prática posterior.” Não é, portanto, um simples modelo,
mas uma explicação da realidade em constante reformulação, buscando fazê-lo
de forma cada vez mais clara e completa. É a evolução histórica de paradigmas
que faz a ciência evoluir.

Então, vamos conhecer alguns desses paradigmas, expressos nas Teorias da


Administração que lhes foram contemporâneas? Optamos por apresentar três
grandes blocos históricos, como o fazem Ferreira et al. (2000). Embora eles se
refiram à administração de empresas, podemos adaptar esses blocos teóricos à
gestão da escola:

 Teorias tradicionais de gestão.

 Teorias modernas de gestão.


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 Teorias emergentes de gestão.

A escola é uma organização e, como as demais, tem as características desta-


cadas por Schein (1982):

 objetivos comuns, cujo atingimento é meta de todos os que transitam na


organização;

 divisão de trabalho, por meio da diferenciação de funções;

 integração, por meio de um esquema de atribuições que define a esfera


de responsabilidade de cada um;

 coordenação dos esforços e meios disponíveis, no sentido da ajuda mútua


e da consecução dos objetivos comuns. Aqui incide, fundamentalmente,
a gestão.

Teorias tradicionais de gestão


A origem deste conjunto teórico coincide com as enormes transformações
trazidas pela Revolução Industrial. O aparecimento das fábricas fez surgir um pri-
meiro paradigma, que defendia a produção racionalizada, a supervisão estreita
e contínua, a obediência hierarquicamente estruturada e a divisão de tarefas.
Tais teorias tiveram enorme importância histórica e ganharam destaque até a
década de 1960.

No início do século XX, dois engenheiros desenvolveram trabalhos revolucio-


nários em relação à Administração. Um deles era o americano Frederick Winslow
Taylor, criador da Escola de Administração Científica; o outro era o francês Henri
Fayol, criador da Escola Clássica de Administração.

Taylor e a Administração Científica


Nascido em 1856, na Filadélfia, Estados Unidos, a obra de Taylor é usual-
mente dividida em duas partes. A primeira corresponde ao período de traba-
lho na empresa Midvale Steel, com estudos sobre a racionalização do trabalho
dos operários, por meio do estudo de tempos e movimentos. Ele analisava deta-
lhadamente as tarefas dos operários, decompondo-as nos menores movimen-
tos e processos, aperfeiçoando-as e racionalizando-as. A segunda corresponde
à publicação da obra clássica Princípios de Administração Científica (1911), em

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que afirmava que a racionalização do trabalho operário deveria ser acompa-


nhada de uma reestruturação geral da empresa, de acordo com os princípios
que ele propôs.

Criticava as empresas em três pontos: a vadiagem sistemática dos trabalha-


dores e o desconhecimento pela gerência, as rotinas do trabalho desenvolvido e
a falta de uniformidade das técnicas e métodos de trabalho.

Assim Taylor falava da Administração Científica:


A administração é uma ciência que não encerra, necessariamente, invenção, nem descobertas
de fatos novos ou surpreendentes. Consiste, entretanto, em certa combinação de elementos
que não fora antes realizada, isto é, conhecimentos coletados, analisados, agrupados e
classificados, para efeito de leis e normas que constituem uma ciência, seguida de completa
mudança na atitude mental dos trabalhadores e da direção, quer reciprocamente, quer nas
respectivas atribuições e responsabilidades [...] (1963, p. 126).

Fica claro que, neste enfoque, a improvisação dá origem ao planejamento e o


empirismo, à ciência. O objetivo desta forma de administração seria contemplar
a identidade de interesses entre patrão e empregado (o máximo de prosperi-
dade), conjugando o baixo custo da produção, desejado pelo empregador, aos
altos salários, anseio dos empregados.

Taylor separou as atividades de planejamento e supervisão (administração)


das atividades de execução (operários), propondo uma “Organização Racional
do Trabalho” (ORT), cujos princípios eram:

 Seleção científica do trabalhador: é necessário colocar o homem para de-


sempenhar a tarefa mais adequada ao seu perfil de aptidões e interesses.

 Estabelecimento de um tempo, um padrão para a execução de cada tarefa:


isto é obtido por meio da minuciosa análise do trabalho (desenho de car-
gos e tarefas) e do estudo de tempo, movimentos e da fadiga humana.

 Plano de incentivos salariais: a remuneração do trabalhador deve ser com-


patível com a sua produção, estabelecendo-se prêmios por produção.

 Divisão do trabalho: cada tarefa deve ser dividida no maior número pos-
sível de subtarefas, pois assim o trabalhador se especializará ao máximo,
aumentando a eficiência da sua produção.

 Supervisão funcional: também especializada – por áreas – a supervisão


significa controle rígido do trabalho dos funcionários.

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 Padronização das tarefas, com ênfase na eficiência: existe uma única ma-
neira de executar uma tarefa (the best way) e ela deve ser descoberta e
imposta aos trabalhadores.

 Estabelecimento de boas condições físicas de trabalho: isto influi direta-


mente na produtividade e na eficiência, em virtude do bem-estar físico e
da diminuição da fadiga do trabalhador.

Fica claro perceber que esta abordagem, embora revolucionária, sofreu inú-
meras críticas. Procuramos sintetizá-las no quadro abaixo:

 Utilização da visão do Homo economicus – visão estreita do homem


como movido apenas por interesses econômicos, preguiçoso, limita-
do e mesquinho, que precisa ser controlado por meio da racionaliza-
ção de tarefas e do tempo-padrão, e vigiado pela supervisão.

 Enfoque mecanicista do homem – a organização de trabalho é vista


como uma máquina, que deve funcionar de maneira ótima; o homem
constitui-se, assim, apenas em uma engrenagem desta máquina, sen-
do desvirtuado da sua condição humana.

 Exploração dos trabalhadores – a Administração Científica contribui


para legitimar a exploração dos trabalhadores, enfatizando decisiva-
mente os interesses dos patrões.

 Superespecialização do trabalhador – a fragmentação da tarefa reduz


a demanda de qualificação do trabalhador, tornando o trabalho monó-
tono e repetitivo e alienando cada vez mais o homem ao seu trabalho.

 Abordagem fechada – desconhece o ambiente da empresa (tanto in-


terno quanto externo) e as influências que ele tem sobre todo o pro-
cesso de produção.

A Administração Científica de Taylor teve muitos seguidores, destacando-se


Gilbreth, Gantt e Henry Ford, lançador do primeiro carro popular americano pro-
duzido em escala industrial (o Ford T, em 1908).

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Princípios e Métodos de Gestão Escolar Integrada

Fayol e a Teoria Clássica da Administração


Enquanto, nos Estados Unidos, Taylor desenvolvia os estudos da Administra-
ção Científica, centrada nas tarefas, o engenheiro francês Henri Fayol defendia
princípios bastante semelhantes, mas com uma ênfase maior na estrutura.

Segundo Chiavenato (1998, p. 87):


A preocupação com a estrutura da organização como um todo constitui, sem dúvida, uma
substancial ampliação do objeto de estudo da Teoria Geral da Administração [com relação à
abordagem Taylorista das tarefas]. Fayol, um engenheiro francês, partiu de uma abordagem
sintética, global e universal da empresa, inaugurando uma abordagem anatômica e estrutural,
que rapidamente suplantou a abordagem analítica e concreta de Taylor.

Fayol postulou 14 princípios gerais da Administração. Vejam como se asse-


melham, em muitos aspectos, às ideias enunciadas por Taylor.

 Divisão do trabalho: a especialização das tarefas e das pessoas conduz a


uma maior eficiência e ao aumento da produtividade.

 Autoridade e responsabilidade: o direito de dar ordens e ser obedecido (auto-


ridade) pertence aos supervisores, enquanto a obrigação de obedecer com-
pete aos trabalhadores de escalões hierarquicamente inferiores. Existe uma
reciprocidade, pois quanto maior é a autoridade, maior a responsabilidade.

 Disciplina: existe a necessidade da existência de normas de conduta e de


trabalho, válidas para todos os trabalhadores, que devem ser obedecidas,
para que a empresa não mergulhe no caos.

 Unidade de comando: é necessário que o trabalhador receba ordens de


uma autoridade única, evitando a existência de contraordens.

 Unidade de direção: deve haver a aplicação de um plano único para cada


grupo de atividades com os mesmos objetivos.

 Prevalência dos interesses gerais: deve haver a subordinação dos interes-


ses individuais aos interesses coletivos.

 Remuneração de pessoal: deve ser justa, para garantir a satisfação dos em-
pregados e da organização.

 Centralização: deve haver a concentração da autoridade nas funções mais


elevadas da organização.

 Cadeia escalar ou hierarquia: a linha de autoridade deve estabelecer-se do


nível mais alto ao mais baixo da estrutura hierárquica.
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 Ordem: mantida em toda a organização, deve ser material e humana: “um


lugar para cada coisa ou pessoa e cada coisa ou pessoa em seu lugar”.

 Equidade: na empresa deve prevalecer a justiça, pois esta traz a lealdade


dos empregados.

 Estabilidade e duração do pessoal: quanto mais tempo as pessoas forem


mantidas em seus cargos, melhor, pois a rotação (turnover) possui efeito
negativo.

 Iniciativa: deve-se estabelecer um plano e cumpri-lo, assegurando o seu


sucesso.

 Espírito de equipe (sprit de corps): a comunicação entre as equipes deve


ser facilitada, garantindo um clima organizacional de harmonia e união.

Coube a Fayol enunciar as funções da gerência administrativa, como ele mesmo


chamou. Elas possuem bastante atualidade, embora, como já dissemos, a década
de 1980 tenha trazido profundas mudanças no que concerne às funções do gestor.
Essas funções são enumeradas em cinco, a saber:

 Planejar ou prever – estabelecer os objetivos e as formas de consecução


dos mesmos, visualizando o futuro e traçando os programas de ação.

 Organizar – coordenar todos os recursos da organização, em função dos


objetivos definidos.

 Comandar – fazer com que as pessoas executem as tarefas que lhes são
atribuídas, respeitando a hierarquia existente.

 Coordenar – articulação de atitudes e esforços de toda a organização,


tendo em vista os objetivos traçados.

 Controlar – estabelecer padrões e medidas de desempenho que permi-


tam verificar que tudo ocorra de acordo com as regras estabelecidas e
com as ordens dadas.

Henri Fayol teve seguidores, como Elton Mayo, Argirys e Likert.

Da mesma forma que a Administração Científica, a Teoria Clássica recebeu


críticas bastante pertinentes:

 Obsessão pelo comando – a visão da organização pela ótica gerencial le-


vou à centralização no comando, na autoridade e na responsabilidade.

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Princípios e Métodos de Gestão Escolar Integrada

 Empresa como sistema fechado – trata-se da mesma crítica atribuída a


Taylor, por desconhecer o contexto interno e externo à organização, o que
inviabilizaria qualquer planejamento.

 Manipulação dos trabalhadores – é outra crítica comum à Administração


Científica e à Teoria Clássica: a tendenciosidade favorável aos patrões.

Elton Mayo e a Escola de Relações Humanas


Os estudos de Kurt Lewin sobre o comportamento dos grupos sociais e as
experiências realizadas por Elton Mayo e sua equipe na fábrica da Western
Electric Company (Hawthorne, Chicago) marcaram, na década de 1930, o início
da preocupação com o fator humano na administração.

Ao tentar determinar a relação existente entre a intensidade da iluminação


e a eficiência dos operários (produtividade), Elton Mayo desmentiu alguns pres-
supostos da Administração Científica e estudou as relações entre a organização
informal dos operários e a organização formal da fábrica. As conclusões do ex-
perimento definiram os princípios da chamada “Escola de Relações Humanas” da
Administração. São eles:

 Nível de produção como resultante da integração social – o nível de


competência e eficiência do trabalhador é estabelecido pela capacidade
social do trabalhador e não pela sua capacidade de executar movimentos
eficientes dentro de um tempo previamente estabelecido. O homem não
age individualmente, mas integrado socialmente ao grupo de trabalho, e
isto amplia a sua disposição para o mesmo. A Teoria Clássica não percebeu
que não são os trabalhadores que definem sua capacidade máxima de
produção, mas os grupos com os quais eles estabelecem interação. Des-
vios de comportamento do indivíduo provocam retaliações simbólicas,
por parte do grupo do qual faz parte.

 Recompensas e sanções sociais – as pessoas são avaliadas pelos grupos


de que participam, de acordo com normas que o próprio grupo cria para
si. São consideradas boas companheiras e colegas, se o seu comporta-
mento se ajusta a essas normas e padrões de comportamento e são avalia-
das como más, se o seu comportamento transgride tais normas e padrões.
Embora essas recompensas sejam simbólicas e não materiais, influenciam
fortemente a motivação e a felicidade do trabalhador.

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Teorias da Administração aplicadas à Gestão Escolar I

 Grupos informais – a empresa passou a ser concebida como uma organiza-


ção social composta por grupos sociais informais, cuja estrutura nem sem-
pre coincide com a organização formal da empresa. Esses grupos informais
constituem a organização humana da empresa, muitas vezes em contrapo-
sição à organização formal estabelecida pela direção. Os grupos informais
definem as suas regras de comportamento, as formas de recompensas ou
sanções sociais, seus objetivos, sua escala de valores sociais, crenças e ex-
pectativas, que cada participante vai assimilando e integrando às suas atitu-
des e comportamentos.

 Relações humanas – para explicar e justificar o comportamento das pes-


soas na organização, a Teoria das Relações Humanas estudou as interações
sociais surgidas dentro da mesma, em face do grande número de grupos
e de interações necessariamente resultantes; a compreensão da natureza
dessas relações humanas permite ao administrador obter melhores resul-
tados de seus subordinados.

 A importância do conteúdo do trabalho – a maior especialização (e


fragmentação) do trabalho não é a forma mais eficiente de divisão desse
trabalho, pois não cria, necessariamente, a organização mais eficiente. O
conteúdo e a natureza do trabalho têm enorme influência sobre o moral
do trabalhador.

 Ênfase nos aspectos emocionais – os teóricos das Relações Humanas


atribuem grande atenção aos aspectos emocionais do comportamen-
to humano.

 Participação nas decisões – embora dependa da situação envolvida e da


posição na estrutura hierárquica, a participação de todos os trabalhadores
no processo decisório da organização estimula a produtividade e a inicia-
tiva dos mesmos.

Alguns teóricos importantes das Relações Humanas são Sheldon, Marrow,


Tead e Follett.

Sistematizando as principais críticas sofridas por este enfoque, temos:

 Negação do conflito entre o trabalhador e a empresa – a teoria superfi-


cializa o tratamento do problema negando a existência de conflitos que
surgem da diferença das metas e objetivos da empresa e do trabalhador.

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Princípios e Métodos de Gestão Escolar Integrada

 Ausência de critérios inovadores de gestão – falta a esta teoria a indicação


de estratégias para o alcance de melhores resultados para a empresa e
para o trabalhador.

 Excesso de ênfase nos grupos informais – este enfoque trata como ilimita-
da a influência dos grupos, supervalorizando-as.

 Concepção utópica do trabalhador – apresenta uma visão idealizada do


trabalhador (plenamente satisfeito e integrado ao ambiente de trabalho).

 Restrição das variáveis e da amostra – esta teoria trabalhou com poucas


variáveis e com uma pequena amostra de organizações, o que torna os
seus resultados discutíveis.

 Estabelecimento de procedimentos de “espionagem“ – a abertura de um


espaço para a participação dos trabalhadores foi utilizada, com frequên-
cia, como uma forma de saber das ideias e insatisfações dos trabalhado-
res, para uso da administração.

As Teorias X e Y de McGregor
Na década de 1930, Douglas McGregor, insatisfeito com a inadequação do
modelo de relações humanas à realidade empresarial e influenciado pela Teoria
Comportamental – ou Behaviorismo – focou seus estudos na relação entre o
sucesso de uma organização e a capacidade que ela tem para prever e controlar
o comportamento.

Ele construiu duas teorias constrastantes: a Teoria X, em que a autoridade


determina a direção e o controle, e que ele considera inadequada, e a Teoria Y,
em que é a integração que legitima a autoridade e busca-se a integração entre
os objetivos pessoais e os organizacionais.

O quadro abaixo, adaptado de Ferreira et al. (2000, p. 44), estabelece uma


comparação entre os dois modelos propostos por McGregor:

Teoria X Teoria Y
Concepção tradicional de Integração entre os objetivos pessoais
direção e controle e organizacionais
As pessoas são preguiçosas e indolentes, têm As pessoas são esforçadas e gostam de ter o
aversão natural ao trabalho. que fazer.

O trabalho é uma atividade tão natural quanto


As pessoas evitam o trabalho.
brincar ou descansar.

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Teorias da Administração aplicadas à Gestão Escolar I

Teoria X Teoria Y
Concepção tradicional de Integração entre os objetivos pessoais
direção e controle e organizacionais
As pessoas evitam a responsabilidade a fim de As pessoas procuram e aceitam responsabili-
se sentirem mais seguras. dades e desafios.

As pessoas podem ser automotivadas e auto-


As pessoas precisam ser controladas e dirigidas,
dirigidas em relação aos objetivos que preten-
coagidas, para que trabalhem.
dem.

As pessoas são ingênuas e sem iniciativa. As pessoas são criativas e competentes.

A participação dos trabalhadores é um instru- A participação dos trabalhadores é uma forma


mento de manipulação dos mesmos. de valorização das suas potencialidades.

O compromisso com um objetivo depende


O ser humano é carente e se esforça para satis-
das recompensas associadas à sua consecu-
fazer uma hierarquia de necessidades.
ção.

O líder assume um estilo autocrático. O líder assume um estilo participativo.

A Teoria Y desenvolve um estilo de administração muito aberto e dinâmico,


extremamente democrático, por meio do qual administrar é um processo de
criar oportunidades, liberar potenciais, remover obstáculos, encorajar o cresci-
mento individual e proporcionar orientação quanto a objetivos.

Segundo McGregor, a Teoria Y é geralmente aplicada nas empresas com um


estilo de direção baseado em uma série de medidas inovadoras e humanistas,
dentre as quais salienta as seguintes:

 Descentralização das decisões e delegação de responsabilidades.

 Ampliação das funções inerentes a cada cargo, para atribuir maior signi-
ficado ao trabalho.

 Participação nas decisões mais altas e administração consultiva.

 Autoavaliação do desempenho do trabalhador.

Teoria Sistêmica
A Teoria Sistêmica, que teve destaque na década de 1960, parte do estabele-
cimento de um paralelo entre os organismos vivos e as organizações. Trata-se de
uma teoria interdisciplinar, elaborada inicialmente pelo biólogo alemão Ludwig

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Princípios e Métodos de Gestão Escolar Integrada

von Bertalanffy, buscando transcender os problemas exclusivos de cada ciência


e proporcionar princípios e modelos gerais para todas as ciências envolvidas, de
modo que as descobertas efetuadas em cada ciência pudessem ser utilizadas
pelas demais.

Os sistemas podem ser fechados ou abertos.

 Sistemas fechados: são os sistemas que não apresentam intercâmbio com


o meio ambiente que os circunda, pois são herméticos a qualquer influên-
cia ambiental.

 Sistemas abertos: são os sistemas que apresentam relações de intercâm-


bio com o ambiente, através de entradas e saídas.

As organizações são sistemas do segundo tipo e compostas por cinco parâmetros:

a) Entrada, insumo ou impulso (input) – é o conjunto de insumos que o


sistema extrai do ambiente fornecendo o material ou energia para a ope-
ração do sistema.

b) Saída, produto ou resultado (output) – são os produtos, serviços ou


informações que o sistema retorna ao ambiente, como resultado do
processamento.

c) Processamento – competências, procedimentos e tecnologia emprega-


dos pela organização para a transformação do input.

d) Retroação, retroalimentação ou retroinformação (feedback) – retorno


das informações para alimentar o sistema.

e) Ambiente – é o meio que envolve externamente o sistema. O sistema


aberto recebe entradas do ambiente, processa-as e efetua saídas nova-
mente ao ambiente, de tal forma que existe entre ambos – sistema e am-
biente – uma constante interação.

A Teoria de Sistemas baseia-se no conceito do “homem funcional”, que de-


sempenha um papel dentro das organizações, relacionando-se com os demais
indivíduos como um sistema aberto.

A perspectiva sistêmica trouxe uma nova maneira de ver as coisas, não so-
mente em termos de abrangência, mas principalmente quanto ao enfoque do

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Teorias da Administração aplicadas à Gestão Escolar I

todo e das partes, de dentro e de fora, do total e da especialização, da integração


interna e da adaptação externa, da eficiência e da eficácia. Essa visão gestáltica
e global das coisas privilegia a totalidade e as suas partes componentes, sem
desprezar o que chamamos de emergente sistêmico (as propriedades do todo
que não aparecem em nenhuma de suas partes).

Antes de concluirmos a aula, porém, vamos responder a uma pergunta que


os alunos sempre fazem, quando tratamos de Teorias da Administração:

O que é burocracia?

Na linguagem corrente, burocracia é sinônimo de emperramento, de lentidão


no processo administrativo. Na sua origem, no entanto, o significado era com-
pletamente diferente. A burocracia constitui uma forma de associação humana
que se baseia na racionalidade, ou seja, na adequação dos meios aos fins, para se
alcançar com a máxima eficiência os objetivos de uma organização.

Historicamente, a “ideologia da burocracia” nasceu de um novo conjunto de


normas de comportamento e produção, que Max Weber denominou de “ética
protestante”: trabalho duro, ascetismo, poupança e objetividade (sem vaida-
de). Essas ideias surgiram junto com o capitalismo, principalmente na Holanda
e na Inglaterra.

Os princípios da burocracia incluem a visão do “homem funcional” (flexível


ao desempenho de vários papéis simultâneos na organização); racionalização,
com economia de esforços; divisão do trabalho e hierarquia; promoção e sele-
ção por competência técnica; separação entre propriedade e administração; e
indesejabilidade das organizações informais, porque são imprevistas e pouco
racionais. O modelo burocrático de organização, quando aplicado de forma cor-
reta, mostrou-se bastante adequado, pois facilita a supervisão do trabalhador,
previamente informado sobre a tarefa e sobre a expectativa em relação ao seu
desempenho.

Segundo Ferreira et al. (2000, p. 37):


Provavelmente nada revoltaria mais os defensores da verdadeira burocracia, do que prever que
seus pressupostos seriam tão amplamente deturpados. Afinal, a defesa do desempenho das
tarefas da forma mais poupadora possível de esforços não é muito compatível com a visão que
se faz hoje de uma organização burocratizada. Afinal, os princípios da burocracia defendem o
cumprimento dos objetivos organizacionais de forma não apenas eficaz, mas eficiente.

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Princípios e Métodos de Gestão Escolar Integrada

Texto complementar

As Teorias da Administração
e suas relações com a realidade escolar hoje
(GRACZYK, 2009)

A principal finalidade deste texto é provocar professores e diretores de es-


colas a refletirem sobre o tipo de administração existente nas escolas em que
trabalham, vivem e convivem, pois consideramos que sempre há oportuni-
dades de estudo e reflexões, devemos partilhar os saberes apreendidos, para
podermos construir uma escola mais adequada à realidade, mais humana e
de melhor qualidade. Assim, a partir de estudos e pesquisas sobre as Teorias
da Administração, vamos pontuar algumas questões da tradição funcionalis-
ta que, segundo nosso entendimento, são importantes e podemos dar pistas,
a fim de que cheguemos a mudanças qualitativas no cotidiano escolar.

Com isso, não queremos dizer que outras teorias existentes e estudadas
sejam menos importantes e não estejam também presentes nas instituições.
Mas nós, que vivemos no cotidiano escolar e bem perto da administração de
uma escola particular, com certeza sentimos a presença das marcas indelé-
veis do poder centrado no diretor e das relações de subordinação em que
uns têm mais autoridade do que outros.

Segundo Brandalise, (2002, p. 25),


da teoria funcionalista prevalece como preocupação central por parte dos administradores
a ordem estrutural, o comportamento funcional e a integração social. Constituem o
chamado “paradigma tradicional” que tem prevalecido na pesquisa e na prática da gestão da
educação ocidental, cujos objetivos são alcançar a ordem e o progresso social, a integração
e a coesão social, a satisfação das necessidades sociais e a reprodução estrutural e cultural
da sociedade.

Dos aspectos estudados, observamos que Max Weber foi o responsável


pela introdução do conceito de burocracia e de suas características na litera-
tura até hoje vigente, por acreditar que o progresso da organização burocrá-
tica, em relação às outras formas de organização, deve-se à sua superiorida-
de puramente técnica.

O característico do modelo burocrático pode ser assim resumido: as ta-


refas da organização se distribuem, entre as várias posições, como deve-
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Teorias da Administração aplicadas à Gestão Escolar I

res pessoais. Implicitamente há uma divisão de trabalho estabelecida entre


os cargos, o que propicia um alto grau de especialização e permite que
se contrate funcionários tendo por base a qualificação técnica. Os cargos
são organizados em uma estrutura de autoridade hierárquica, geralmente
em forma piramidal, na qual cada elemento é responsável pelas decisões e
ações de seus subordinados, como também pela sua perante seu superior
na pirâmide. É um sistema formalmente definido com regras e regulamentos
que governam as decisões e ações oficiais. Os funcionários devem assumir
uma orientação impessoal no contato com os clientes e demais funcioná-
rios. O emprego na organização constitui uma carreira para os funcionários,
os quais são nomeados e não eleitos; depois de um período probatório,
ganham estabilidade e ficam protegidos contra a demissão arbitrária.

As escolas públicas e privadas seguem certas tendências burocráticas, as


quais variam em alguns aspectos de uma para outra, pois na sua organização
sofrem a influência da necessidade de especialização e divisão de tarefas.
Nota-se isso quanto aos cargos existentes: diretor, vice-diretor, supervisor es-
colar, orientador educacional. Tais cargos evidenciam que a organização es-
colar desenvolveu uma hierarquia de autoridade, bem definida. Basta olhar
no Projeto Político-Pedagógico e observar o organograma que é utilizado
para especificar as linhas de autoridade e os canais de comunicação. Mesmo
na ausência de um organograma, os funcionários da escola têm um conceito
claro da natureza da hierarquia nos sistemas escolares.

Além disso, na sua organização, a escola é inclinada ao uso de um regula-


mento geral para o desenvolvimento de padrões que assegurem certa uni-
formidade no desempenho de tarefas. Esse regulamento aparece em forma
de manuais de desempenho, manuais de diretrizes, regimento ou outra qual-
quer denominação. É importante realçar ainda, que a despeito das frequentes
proclamações sobre integração e democracia, a organização escolar tem
feito aplicação extensiva dos princípios da impessoalidade nas relações or-
ganizacionais. Mesmo assim, é importante fazer parte do quadro de pessoal
via concurso, pois se passa a ser profissional da carreira e a obter promoções
por antiguidade e mérito.

Não podemos esquecer que é a administração burocrática que visa à racio-


nalização do trabalho e à eficiência dos serviços escolares. Possivelmente, é
por isso que, de alguma forma, essa forma de administração está presente até
hoje na organização da escola, mesmo que em suas diversas ênfases tenha
sido muito criticada e, até, rechaçada.
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Princípios e Métodos de Gestão Escolar Integrada

Atualmente, levando em conta todas as questões de poder e a necessária


administração dos conflitos existentes no cotidiano escolar, outras concep-
ções de organização e de gestão vêm sendo enfocadas, a fim de conseguir-
-se uma melhor gestão, principalmente de pessoal, e as escolas procuram
efetivá-las.

A concepção democrática/participativa, que tem por base a relação or-


gânica entre a direção e a participação do pessoal da escola, é um dos prin-
cipais exemplos de gestão, e muitos estudiosos da área têm dedicado seu
tempo a discussões sobre o tema. É um modelo que defende a busca de
objetivos comuns, a serem assumidos por todos os elementos da organiza-
ção, e ressalta uma forma de gestão em que as decisões são tomadas cole-
tivamente. Concebe a participação de todos nas decisões como ingrediente
imprescindível para a criação e desenvolvimento de relações democráticas
e solidárias.

Observamos, na literatura existente, que muitas experiências vêm sendo


realizadas e que várias escolas estão em busca da efetivação desse para-
digma de gestão. Nesse sentido, vêm tentando trabalhar com o Conselho
Escolar, o qual possui atribuições consultivas, deliberativas e fiscais, sendo
constituído com elementos da instituição e da comunidade. Têm, também,
implementado os Conselhos de Classe e de Série, já com participação de pais
e alunos, a Associação de Pais e Mestres entre outros segmentos participati-
vos já existentes na escola.

É importante ressaltar que a democracia na escola não se exaure na par-


ticipação, mas consideramos que todas as suas práticas devem refletir os
valores basilares da democracia: a liberdade, a não discriminação, a solida-
riedade e o respeito a cada um, a partir da organização de um sistema que
dê lugar à diversidade social, à liberdade do professor, ao método pelo qual
é abordado qualquer conteúdo, ou à avaliação.

Temos consciência de que as escolas que estão buscando a efetivação do


novo paradigma ainda não conseguiram realizar todos os valores apontados,
mas com certeza, se persistirem com o trabalho, conseguirão concretizá-los.

É claro que muitas teorias existiram e existem, passaram por uma evolu-
ção, foram criticadas e aperfeiçoadas. Cada uma, com as características que
lhe são específicas, influenciou ou vem influenciando a escola, até chegar-
mos ao que está posto hoje. A teoria da gestão democrático/participativa de

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Teorias da Administração aplicadas à Gestão Escolar I

maneira geral, e particularmente na educação, é uma síntese integrada das


teorias administrativas organizacionais.

Embora as ações escolares venham sofrendo, ao longo dos anos, a influ-


ência dessas teorias, a que tem se manifestado com mais força é a concepção
burocrática. O que esperamos é que as escolas extrapolem os padrões da
objetividade e da racionalidade técnica e que cheguem a um ponto em que
a organização e a gestão considerem as pessoas que trabalham na escola,
também e principalmente, na sua dimensão humana. Queremos crer que,
com a implementação e a consolidação do paradigma democrático/partici-
pativo, esse sonho será realizado.

Dica de estudo
Indicamos o filme Tempos Modernos, do genial Charles Chaplin.

Um trabalhador de uma fábrica (Chaplin) tem um colapso nervoso por traba-


lhar de forma quase escrava, desempenhando o trabalho repetitivo de apertar
parafusos. É levado para um hospital, e quando retorna para a “vida normal”, para
o barulho da cidade, encontra a fábrica já fechada. Consegue um emprego numa
outra fábrica, mas se envolve em uma greve dos operários. No meio da confusão,
encontra uma bandeira vermelha, que julga ter caído de um caminhão e chama
pelo dono, enquanto acena com ela. Um grupo de militantes surge atrás dele
e segue o vagabundo. A polícia chega, toma-o como líder comunista e o leva
preso por desacato à autoridade policial.

Esse filme trata-se de uma dura crítica ao modelo taylorista da Administração


Científica, com forte mensagem social: a máquina tomando o lugar dos homens,
as facilidades que levam à criminalidade, à escravização.

Atividades
1. Você viu as Teorias X e Y das organizações, elaboradas por McGregor.

Imagine duas escolas, X e Y, cada uma baseada em uma dessas teorias. Escre-
va as características que cada escola contém dentro dessas teorias. Em seguida
descreva as características dos gestores de cada escola.

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