Você está na página 1de 15

5

TRIBUNAL DO JÚRI ESTADOS UNIDOS x TRIBUNAL DO JÚRI


BRASILEIRO: JÚRIS CRIMINAIS E PETIT JURY.

Davi Ramos Abdon1

RESUMO

O presente artigo objetiva abordar de forma objetiva os institutos dos pequenos júris
dos Estados Unidos da América e o júri tradicional brasileiro na figura dos júris
criminais de procedimento comum e norte americano através do Petit Jury, através
de uma inserção em seus aspectos históricos, doutrinários e sociológicos, migrando
sistematicamente nos bojos que os coincidem e os distinguem respectivamente,
ensejando a interação entre estes dispositivos e base das constituições que
integram o funcionamento desses organismos, dos quais se consequenciam
famigeradas faces do Civil e Commom law, que gera conjuntamente no público
adepto e não adepto a prática do direito penal, profuso interesse, acerca das
ocorrências que envolvem a realidade de um tribunal de júri moderno, desde de sua
formação a forma como as ações transcorrem para a tomada da decisão, a qual o
presente artigo busca atribuir a esse interesse, o esclarecimento. Fundado em
extensiva pesquisa científica e bibliográfica. Ponderando o objetivo em que tem
causa o corrente artigo, voga o método comparativo, elucidado por pesquisa
qualitativa, aplicada e descritiva, dotada de ampla sondagem bibliográfica, realizada
a partir do levantamento de referências publicadas em fontes digitais ou impressas,
como livros; artigos científicos; teses e dissertações, além de sites oficiais dos
Governos nacionais e estadunidenses, ou de instituições privadas ou não
governamentais. Pesquisa essa em que se verificou os fundamentos e aspectos
intrínsecos que ligam os sistemas e a suma importância de compreendê-los para
uma visão mais apurada do direito como ciência.

PALAVRAS-CHAVE: Tribunal do Júri, civil law, common law, petit jury.

1 INTRODUÇÃO
O direito como ciência ergueu-se tal como a linguagem humana, em
incontáveis vertentes, dotadas de sua própria origem e fato inicial gerador
(Desconhecido e envolto sob a noite do tempo em ímpares ocasiões),
desenvolvendo um corpo em simbiose atrelada a evolução e distinções próprias da
sociedade que o deu início, de forma que cada nação passou a adotar naturalmente,
não um direito uno e equitativo, mas um sistema próprio, munindo das das
similaridades e necessidades de cada país, concernentes a seus problemas,
história, cultura ou comumente religião, sob tal nortificação cabe o interesse de
1
Graduando do Curso de Direito do Centro Universitário Fametro. E-mail: daviabdon92@gmail.com
6

estudo acerca do direito no “mundo ocidental”, cuja relevâcia, por um lado o sistema
Estadunidense influi em grande matéria no cenário mundial através de grandes
casos da mídia, como o recente e televisionado “Depp. VS. Heard” ou no cenário
das grandes corporações multinacionais da economia e cultura mundial, bem como
do nosso próprio e indispensável sistema nacional, cuja evolução na mídia é
gritantemente inegável, ambos receptados pela figura dos júris criminais especiais e
de menor porte, com a motivação de esclarecer e iluminar o peso da relevância de
suas ocorrências na seara nacional atualmente.
Esse tema se justifica através de sua relevância inegável diante dos aspectos
de outro país que adota um sistema sistema similar, resguardando suas próprias
funcionalidades e instrumentos, bem como a influência desse mesmo credo na
constituição de nosso próprio mecanismo (STRECK, 2001).
Não obstante a causa de imponência sociológica, cabe também a mostra de
uma realidade promovida em fatos, diferente da glamurização generalizada
transmitida atravé de filmes e seriados, realidade a qual nos surge através das
figuras do petit jury e de nosso rito nacional, comparando os sistemas como forma
de trazer luz á um campo de interesse universal, sob uma ótica mais aprofundada e
realística, apontando os procedimentos, escolha de júri, composição de jurados,
princípios, materialidade da qual tratam ambos os mecanismos e decisão dos
tribunais, nas quais se observam as disparidades de cada instrumento, sua origem e
a forma como se desenvolvem atualmente em cada país e seus sistemas jurídicos
sob um plano mais exato.
Acerca do tema proposto e sua delimitação, levanta-se o principal
questionamento, acerca da influência sofrida pelo nosso próprio ordenamento á luz
da influência do common law norte-americano, e se a mesma é agrega consigo
atributos benéficos ao direito penal e consequentemente ao brasileiro, como um
todo.

2 O Ambiente do Júri
O corrente referencial será apresentado a partir de uma perspectiva teórica,
consoante o exposto na seção de metodologia desta pesquisa, acentuando a
compreensão dos temas apresentados e os conceitos explicitados, objetando expor
uma noção mais apurada dos sistemas do common e civil law, por meio dos
7

dispositivos do petit jury estadunidense e sua raízes, que consequentemente


influenciou o sistema brasileiro, o qual naturalmente desenvolveu características
inerentes a seu próprio ambiente sociológico, mas mantendo ativos traços, os quais
ainda hoje continuam a integrar-se no ordenamento brasileiro, sobretudo nos
tribunais do júri.

2.1 O Júri

O Direito Ocidental como o conhecemos nasce nos primórdios do império


romano com as codificações legislativas dos antigos jurista romanos, o qual é
atualmente dividido em duas vertentes maiores conhecidas como civil law e common
law, sendo o Brasil adepto a primeira vertente caracterizada pela maior afinidade
com o direito romano, enquanto o common law, amplamente usado por países do
antigo e atual Commonwealth britânico de maior caractere germânico e anglo-saxão,
nascidos de compilações do antigo império com adaptações maiores ou suavizadas
da lei romana em si. Conforme norteia Carlos Saldanha em sua obra dissertação
sobre direito romano:
O conjunto das fontes acumuladas durante séculos de trabalho do gênio
jurídico romano, a essa altura, formava um imenso corpo de normas... a
necessidade de sistematização fazia-se sentir como forma de tornar mais
simples a aplicação e a interpretação deste conjunto de normas...se fizeram
compilações de leis romanas nos impérios bárbaros que se erigiram sobre
os escombros do império romano ocidental (SALDANHA; CARLOS, 2011
p.152)

Na história do direito embora se falasse de um sistema de júri na antiguidade,


ainda na Grécia Homérica, o júri como o conhecemos veio primeiramente a ser
positivado na Magna Carta inglesa em meados de 1215, instituído como forma de
aplacar o julgamento sofrido pela pessoa comum ante o poder do rei, ensejando em
um dispositivo de controle sobre o poder ilimitado exercido até então por este, tal
configuração predispôs uma banca composta jurados com encargo de definir a
conduta guilty or not guilty, modelo este que veio posteriormente a influenciar as
legislações de júri em todo o mundo, mas com particular prestígio nos países
anglófonos diretamente influenciados pela codificação da carta original (STRECK,
2001)
A maior conquista se dá pelo fato que nos períodos que anterioram esse
instituto, predominavam penas capitais, cujas execuções de maneira quase sumária
eram alternadas, restando ainda o julgamento por meio do appeal of fenoly, a
8

famigerada prática que consistia na promoção um duelo entre o acusado e seu


acusador, com o fim de determinar a justiça e assim alcançar a decisão mais justa
de acordo com o cenário social da época (TOURINHO, 2004)
A natureza crua dessas práticas, foi uma das, senão, o influente mais
expressivo, para a criação de um tribunal mais humanizado para a época, em que
houvesse um sentenciamento de menor caráter punitivo e sim, mais efetivo.

2.2 O Tribunal do Júri e o Petit Jury nos Estados Unidos.

Nos Estados Unidos o júri é introduzido através da colonização inglesa,


seguindo o modelo anglo, sendo amplamente aceito e dado seu desenvolvimento na
esfera jurídica norte-americana, é amplamente utilizado ainda hoje, no referido
Tribunal do Júri, no julgamento de causas civis e criminais, subdivido em Grand Jury
e Petit Jury (SILVA, 2008)
O Petit Jury, ou seja, o Pequeno júri o qual iremos abordar, tem sua
nomenclatura em face do Grande Júri Norte-americano composto comumente por 12
a 24 jurados adultos, enquanto o menor júri versa de uma composição de 6 a 12
jurados assomados a pessoa de um juiz togado, o número dos chamados jurors
(jurados) pode variar em decorrência do estado americano ou caso em específico a
ser julgado, desde o “Ato do Júri”, promulgado em 1976, foi decidido que um jurado
em solo americano deve ter idade mínima de 18 anos e máxima de 70 anos,
estando dispensado do serviço de jurado aqueles de idade entre 65 e 70 anos, em
todos os casos em um tribunal dessa natureza for estabelecido. Tradicionalmente
nesses tribunais os entes participantes do júri, são membros da mesma comunidade
do indivíduo sob julgamento, a qual tem nascituro a partir da 6 a Emenda da
Constituição Estadunidense, variando em certos casos em que sob circunstâncias
especiais, ou notória suspeição, tais comunidades sejam ineptas a terem seus
membros como parte julgadora de tais julgamentos, como previsão dessa emenda
que prima por um composição de membros imparciais.
Conforme aponta (PEREIRA, 2020), as decisões de tribunais nas cortes
norte-americanas, por apoiar-se na doutrina na anglo-saxã, conforme visto em
preâmbulo anterior, é baseada não somente em sua constituição, mas
principalmente do costume e doutrina não positivado em leis específicas, sobretudo
casos de decisões firmadas anteriormente.
9

As decisões firmadas em caráter judicial dos tribunais criminais,


despontando dos grandes tribunais, apesar de composta por um mínimo comum de
12 jurados, não obrigatoriamente exige uma apuração em que resulte acordão
comum entre os jurados em seus votos, embora de forma comum a totalidade
desses apoie-se numa mesma decisão comum, estados como a Flórida não tornam
tal resolução obrigatória, exceptuando casos que versam sobre matéria relacionada
a crimes graves ou de penal capital. Valendo apontar o caso Apodaca v. Oregon,
406, US 404, 1972, que através de decisão da Suprema Corte, optou por decisão
firmada pela maioria dos votos, com base na 6 a Emenda. (STRECK. 2001)
Ainda acerca da formação típica do corpo de jurados, em casos de absoluta
relevância social, visto a extensa gama de conflitos raciais existente nos Estados
Unidos, o réu pode optar por uma nova escolha de jurados, como forma de carga de
defesa, tendo sua primeira hipótese em casos como esse formulados sobre o
julgamento Castaneda v. Partida ocorrido em 1977 (BEALE e BRYSON, 1985).

A previsão de tal dispositivo tem guarnição no artigo 3 0, seção II, item 3 da


Constituição Americana:

[...]O julgamento de todos os crimes, exceto em casos de impeachment,


será feito por júri, tendo lugar o julgamento no mesmo Estado em que
houverem ocorrido os crimes; e, se não houverem ocorrido em nenhum dos
Estados, o julgamento terá lugar na localidade que o Congresso designar
por lei.” (ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA, 1787, Art. 3, Seção II)

Dessa forma aponta (REIS, 2013) acerca da obrigatoriedade de julgamento


no estado federativo em que originou-se o fato ou em sua ausência, conforme
discorre o referente artigo, a escolha de localidade pelo Congresso Nacional
Estadunidense, como forma de despontar a ocorrência de julgamentos inválidos
decorrentes de jurisdição ilegal, tais julgamentos imbuídos de obrigatoriedade nos
estados dos fatos de origem, são próprios dos pequenos júris, esses geralmente
detentores de seara estadual especial, como forma de economia e celeridade
processual, para que tais casos não demandem desgaste e recursos além do
mínimo a ser necessitado.

2.3 Julgamento

Segundo o Escritório Administrativo de Cortes dos Estados Unidos


(AOUSC), a carga defensiva de um crime tem como vantagem, a prévia presunção
10

de inocência do acusado, estando sob o acusador o ônus de provar suas teses


acusatórias, semelhante ao vocábulo latino in dubio pro reo, que principia nosso
ordenamento jurídico nacional, apontando sob dúvida aceitável, um julgo favorável
ao réu, mas no caso dos tribunais norte-americanos, uma dúvida de caráter menos
“aceitável”, é em regra também adequada ao julgo favorável daquele padece do
fardo acusatório efetuado pela parte adversa.
Sendo as cortes do referente sistema de common law, divididas em duas
classes gerais, tanto nos grandes quanto pequenos júris. Sendo estas classes
determinadas em casos criminais e casos civis.
Os crimes penais típicos a serem julgados são falsificação, violação do
imposto de renda Federal e lei de narcóticos e roubo de correspondência,
independentemente se cometidos por indivíduos ou organizações que incorrerem
em violação da lei, devendo a acusação ser interposta ao réu no prazo de dois dias,
podendo ser feita de duas maneiras previstas na jurisprudência estadunidense,
sendo elas acusação por indicamento e a outra por informação, não obstante o local
definido de julgamento, cada acusação deve indicar o distrito onde foi previamente
cometida pelo réu (Por isso a nomenclatura), sendo esta encarregada de ser feita
por um grand jury, acusando o réu da referente infração cometida.
Sendo cada acusação separada em uma contagem própria de forma a não
confundir o julgamento ou jurados na referente ocasião. Não obstante, Um
Informação, ter maior peso na seara de julgamento, embora comumente julgada por
um Petit Jury, e o impedimento de ser julgada por uma comuna de jurados maior,
esta deverá ser efetuada exclusivamente pelo Procurador Geral dos Estados Unidos
e não por um Grande Júri como nos demais casos. Havendo exceções em que a
denúncia recebida pelo réu ocasione em direito a obter julgamento por um Grande
júri, o arguido poderá declinar tal direito e preterir pelo arquivo da ação de
informação sob a qual é acusado.
Após os procedimentos de acusação por indicamento ou Informação
arquivada o réu deverá comparecer formalmente a uma audiência pública na qual
perante os presentes na cerimônia, deverá fazer a famosa alegação, optando por
declarar-se “culpado” ou “Não culpado”, tal procedimento é chamado “acusatório”,
havendo ainda as possibilidades mais peculiares do instituto norte-americano, o
guilty plea em que pode ainda o acusado declarar-se culpado e o plea bargain, que
11

remete a uma negociação com acusação que se baseia na admissão de culpa, na


qual grande partes dos casos se encerra (REIS, 2013).
Nos casos em que o réu optar por declarar sua culpabilidade, não será
necessário um julgamento, mas caso declare-se não culpado, alegando assim sua
inocência, ele ou ela será levado a julgamento.
Iniciado o procedimento de julgamento o juiz instruirá os jurados escolhido
acerca da lei referente ao crime a ser contemplado pelo jurado, havendo uma
pluralidade de crimes, cada instrução de lei deverá ocorrer sistematicamente.
Estando sob cargo de júri determinar através de ampla contemplação e ponderância,
a verdade dos fatos através de uma votação, apesar de haver um prazo máximo
estipulado para uma decisão, é requerido o princípio de celeridade.
Consequentemente, por meio de análise dos fatos, decidir se o réu é culpado ou não
culpado de cada crime, podendo o acusado arrolar um número máximo de 8
testemunhas, tal como a acusação, ou preferindo, pode até mesmo dispensar esse
direito.
Da parte do Juiz, recaindo a esse ponderar a acerca da decisão dos jurados,
cabe a ele unicamente proferir uma sentença, sendo esta sua única
responsabilidade, ou seja, em outras palavras, a respeito de um veredicto imparcial
sobre culpa ou inocência do réu proferido pelos jurados, a sentença caberá
unicamente ao juiz efetuar a sentença ignorando o júri, devendo esta ser
fundamentada (USC, 1980).
Ocorrendo em um mesmo julgamento a acusação de um réu por mais de um
crime, estes serão considerados separadamente pelo júri, a cada fase de defesa e
acusação, podendo acontecer com que a pessoa seja declarada: culpada de todas
as acusações, “inocente” de todas as acusações ou até mesmo culpada de parcela
das acusações e não culpada de outra parcela delas, sendo absolvido, não havendo
provas de culpabilidade além de qual dúvida razoável (O.T.U.S.A, 2022).
É passível que a defesa deste seja formulada por um advogado escolhido
por sua pessoa no caso do acusado, ou mesmo dispor de um representante
designado pelo estado, ou ainda ser passível de sustentação promovida pelo próprio
acusado, fato marcante na promoção do jury trial. (ADMINISTRATIVE OFFICE OF
THE U.S. COURTS, p, 3-13. 2022)
12

2.4 Os Estágios do Julgamento

Após o início do julgamento, caso o arguido opte por declarar-se não culpado,
será iniciada a apresentação dos fatos e provas, devendo partir unicamente desses
e dos argumentos que forem feitos pelas partes, o veredicto.
O início da votação toma lugar logo após a instrução do juiz acerca do crime a
ser ponderado e a apresentação dos fatos relacionados a este. Nesta fase o
defensor constituído pelo réu, ou este próprio, se assim escolher, apresentará
defesa mediante o tribunal em face das acusações interpostas.
O próximo estágio se concentra na retirada dos jurados para uma sala
privada, com o intuito de permanecerem alheios a influências e opiniões externas
que deturpem o caráter imparcial a qual a votação deve estar imbuída, em que estes
deverão após razoável aproveitamento dos fatos e argumentos, iniciar uma votação
com objetivo de chegar a um veredicto consensual entre todos, devendo mencionar
que embora busquem um consenso mútuo, é proibido que estes previamente
informem o seu voto direto, ficando a estes facultados unicamente argumentar sem
expor a intenção de suas escolhas ou influenciar de forma apelativa os demais
jurados. Uma face interessante dos júris americanos que certamente influenciou o
nosso tribunal, são as chamadas decisões honestas, em que um voto não pode ser
decidido por meio de métodos ilícitos e imorais, como influências econômicas,
familiares ou de poder, bem como práticas como arremesso de moedas ou demais
relacionadas a sorte.
Após o advento em que se propõe o veredicto, este deverá ser apresentado
imediatamente a um juiz, o qual acerca deste proferirá a sentença, em diversos
casos, dado a expressiva reprovação sofrida pelos júris e pelo tardamento
processual, a maioria dos casos de julgamentos nos Estados Unidos terminam em
acordos entre o acusado e a parte contrária, um fato expressivo é a existência da
grande dimensão de acórdãos que ocorrem na corrência de processos penais, que
se dão justamente antes que venha a se dar o clareamento de uma decisão chegue,
tornando cada vez mais incomum uma a ser proferida.

3 O JÚRI NO BRASIL

3.1 O Nascimento do Júri no direito brasileiro.


13

A história do Brasil remonta ainda a Revolução Francesa de 1799, a qual foi


a primeira positivar em civil law, adotando o sistema surgido na Inglaterra em sua
nova constituição da qual por sua vez aproveitou a esfera política brasileira em
1822, por meio de decreto real estabelecido pelo então Imperador do Brasil, D.
Pedro I, já amplamente receptiva aos ideais da dita revolução da bastilha e as
normas do direito francês, como parte da influência romano-germânica no cenário
nacional, já positivados em seus princípios constitucionais, sendo composto
originalmente por 24 membros jurados, tidos com bons, honrados e inteligentes
patriotas, assim surgia o “juízo de jurados”. O então recém-criado dispositivo da
legislação brasileira, passou por diversas mutações, sofrendo a priori maiores
influências europeias e inclusive do Common Law norte-americano.

3.2 A Previsão Constitucional dos Tribunais Modernos.

O tribunal composto por jurados em que estes figuram como atores, sendo a
cada um, dado papel a ser desempenhado de notoriedade, sendo pelo seu voto ou
sua simples participação, com o objetivo alcançar uma sentença considerada justa e
segura (SCHRITZMEYER, p. 13, 2012), no ordenamento atual o Tribunal do Júri é
composto por 25 jurados sorteados, dentre um número determinado a partir da
população da localidade, dos quais 7 serão onde será efetuado o julgamento com
ensejo em um veredicto, de idade mínima de 18 anos, dotados de idoneidade moral,
um juiz togado e o presidente do júri (CPP) destoante o júri do common law norte-
americano, este se caracteriza por ser passível unicamente de julgar crimes contra
a vida, tanto nas modalidades tentadas ou consumadas dos crimes dessa natureza,
preconizados nos artigos 121 a 128 do código penal.

A previsão do júri corrente, se faz pelo art. 5 0, inc. XXXVIII da constituição


Federal de 1988, o instituindo como direito fundamental e garantia, o qual por meio
dessa previsão é elevado a cláusula pétrea conforme, artigo 60,§ 4o, IV da carta
magna, dessa forma, pressupõe-se que sua supressão não poderá ocorrer nem
mesmo mediante Emenda constitucional.

Ainda no mesmo inciso do artigo 5 o, como garantias essenciais aos


procedimentos do tribunal do júri, a plenitude de defesa; sigilo das votações;
soberania dos veredictos e a competência para julgar os crimes dolosos contra a
14

vida, tendo esses norteadores como princípios básicos do tribunal do júri. (LIMA,
2017)

3.3 Princípios

Relacionado a amplitude de defesa, diante de um tribunal que sem


fundamentar seus veredictos ante sua pronúncia no julgamento, é exigível que este
proporcione ao réu uma defesa acima da média, a qual foi claramente exposta no
código normativo, estando consignado ao júri a qualidade inerente de plenitude de
defesa. Tal princípio não exclui a já conhecida ‘ampla defesa’, a qual é vigente
desde o procedimento inicial de acusação, mas neste cenário busca-se alcançar
uma defesa mais do que ampla, expandindo tal princípio a sua forma ‘plena’.
(NUCCI, 2004)

O sigilo das votações das votações pressupõe que tal qual o Petit and Grand
Juries estrangeiros, a incomunicabilidade entre os jurados deve ser presumida e
respeitada, na qual mantém-se em segredo seus votos, sendo permitido conversar
de assuntos outros, que não, os referentes ao processo, como forma de manutenção
de imparcialidade, aplicando-se igualmente o princípio da dúvida razoável para a
culminação de um veredicto que enseje a condenação do acusado, sendo nesses
aspectos concordante a norma dos Estados Unidos. Aponta o código:

§1º – O Juiz Presidente também advertirá os jurados de que, uma vez


sorteados, não poderão comunicar-se entre si e com outrem, nem
manifestar sua opinião sobre o processo, sob pena de exclusão do
Conselho e multa, na forma do §2º do art. 436 deste Código (BRASIL –
DECRETO-LEI Nº 3.689, 1941).

Acerca dos veredictos e sua soberania, é válido citar que apesar da decisão
proferida pelo júri, esta não terá o condão para inverter a prova apresentada em
julgamento, mas uma decisão conferida por um júri público poderá acarretar o
mesmo papel exercido por um juiz togado em fazer a decisão da causa. Cabendo
validar que a decisão do júri não é onipotente, podendo ser feita de qualquer forma,
esta deve ser feita seguindo o fluxo proposto pelos fatos, não os contrariando,
podendo em casos assim sofrer apelação (TJDFT, 2015).
Destarte não tratar de um princípio, mas sim de uma competência de
natureza desempenhada pelo tribunal do júri, ao exercer julgamento de crimes que
constituem natureza dolosa contra a vida, também figura como importante alicerce
15

das fases de um julgamento, visto que tal responsabilidade cabe apenas a ele,
podendo em certos casos ter até sua previsão ampliada. (SCALON, 2020)
O mecanismo brasileiro, evidencia notória destoante neste sentido ao
tradicional petit jury norte-americano, ao promover a existência de competência
privativa, relativa à unicidade de crimes dolosos, sendo o dispositivo estadunidense
mais abrangente no que consta a matérias de julgamento por tal tribunal, como
matérias de natureza cível e penais das mais diversas infrações.

Consoante o artigo 74, §1º e caput do CPP, quando afirma que:

Art. 74 – A competência pela natureza da infração será regulada pelas leis


de organização judiciária, salvo a competência privativa do Tribunal do Júri.

§1º – Compete ao Tribunal do Júri o julgamento dos crimes previstos nos


artigos 121, §§ 1º e 2º, 122, parágrafo único, 123,124,125,126 e 127 do
Código Penal, consumados ou tentados (BRASIL – DECRETO-LEI Nº
3.689, 1941)

3.4 Rito e sentença

Tal espelho o julgamento nos Estados Unidos da América, o procedimento


se inicia com uma “instrução preliminar” feita pelo referente juiz-presidente, ante os
jurados, havendo neste caso a concessão de um prazo de até 10 dias úteis após o
recebimento da denúncia. Nesta fase, tanto os figurantes de acusação quanto de
defesa terão direito de escolha em um rol formado de até 8 testemunhas.
O juiz encarregado, prosseguinte ao término dos debates orais, proferirá sua
decisão consoante a acusação inserta na denúncia ou queixa apresentada, ou no
prazo previsto de 10 dias úteis, ordenando dessa forma que sejam conclusos os
autos (411, § 9.º). A partir deste ponto, é facultado ao magistrado a ação de
pronunciar o réu, impronunciá-lo ou desclassificar a infração penal consoante as
matérias apresentadas em julgamento (AVENA, 2017)
Acerca da espécies de sentença, conceitua Avena conforme o código:

Pronúncia Possui conteúdo eminentemente declaratório, como se infere do


art. 413, caput e § 1.º, do CPP. O magistrado, em síntese, limita-se a
proclamar a admissibilidade da acusação, para que seja o réu julgado pelo
júri popular [...] classifica-se como decisão interlocutória mista não
terminativa, pois encerra uma fase do procedimento [...] sem pôr fim ao
processo a ausência de provas quanto à existência do fato, e a ausência de
indícios de autoria ou participação do réu conduzem à impronúncia (art.
414). Entretanto, a certeza de que o fato não existiu e a certeza de que o
réu não foi autor nem partícipe do fato levam à absolvição sumária (art.
415, I e II). (AVENA; NORBERTO C. P. 2017 p.555).
16

Nos julgamentos em que se propõe a formação de um tribunal de júri, as


decisões a cargo do juiz que preside a sessão, devem plausivelmente apresentar
caráter fundamentatório, de forma que não venham a ser invalidadas as decisões
pela referente ausência de devida fundamentação legal em se baseia a sentença, a
luz do que se exige nos princípios constitucionais.

4 CONCLUSÃO

Portanto, ante a matéria constante no presente artigo científico, conclui-se


tendo a idealização de um instrumento de direito que constantemente tem
promovido abertamente uma internacionalização, não só do rito em si, mas dos
princípios e pragmatismos que carecem o direito, em que diferentes esferas
regionais, vem sofrendo uma interação por meio da adoção de noções ou até
mesmo dispositivos completos, como forma de promover o avanço de seus próprios
ordenamentos, internacionalização instituída há muito, mas que se intensifica com a
globalização não só cultural, mas tecnológica que se virtua. Destarte a importância
de avanços nessa pluralidade de campos, tem somente a agregar positivamente. O
interesse comunitário na atmosfera penal tem obtido crescente interesse, sobretudo
o júri e seu cativante tribunal, matéria esta, que o presente artigo idealiza
despojadamente dotar de esclarecimento ao público externo, o famoso tribunal de
júri da atmosfera hollywoodiana e mesmo da cultura universal, agora transmitido a
realidade dos tribunais, tais como desenvolve-se. Não obstante a mostra de
confluências de ambos os aparelhos, e situações em que por vezes aplicam-se
consonantemente e ocasiões em que vigorosamente destoam.
Dessa maneira é observada a clara associação dos tribunais nas diversas
esferas, seja no Brasil ou nos Estados Unidos, como a influência desse caractere
nos organismos próximos, em que apresentam uma caracterização própria, pela
atuação da comunidade pública em exercer uma participação mais próxima no setor
judiciário, que se define pela diminuição da impressão de que a justiça se encontra
em uma orbe extraterrena e fora do alcance desse mesmo público de quem emana,
que neste caso são os entes que compõem a sociedade dos respectivos países em
que o júri e o tribunal em geral tem sua ocorrência, das classes mais elevadas até as
esferas inferiores.
17

AMERICAN JURY COURT X BRAZILIAN JURY COURT: Criminal Juries and Petit
Jury.

ABSTRACT

This article aims to objectively approach the institutes of the small juries of the United
States of America and the traditional Brazilian jury in the figure of the criminal juries
of common and North American procedure through the Petit Jury, far side of an
insertion in their historical, doctrinal and sociological aspects, migrating
systematically in the bulges that coincide and distinguish them respectively, giving
rise to the interaction between these devices and the basis of the constitutions that
integrate the functioning of these bodies, from which the famous faces of the Civil
and Common law, which jointly generate in the adept public and not adept at the
practice of criminal law, profuse interest, about the occurrences that involve the
reality of a modern jury court, from its formation to the way in which the actions take
place for the decision making, which this article seeks to attribute to this interest,
clarification. Founded on extensive scientific and bibliographic research. Considering
the objective in which the current article is concerned, the comparative method,
elucidated by qualitative, applied and descriptive research, endowed with extensive
bibliographic research, carried out from the survey of published references in digital
or printed sources, such as books; scientific articles; theses and dissertations, as well
as official websites of national and US governments, or private or non-governmental
institutions. This research verified the fundamentals and intrinsic aspects that link the
systems and the paramount importance of understanding them for a more accurate
view of law as a science.

KEYWORDS: Jury Court, civil law, common law, petit jury.

5 REFERÊNCIAS

AMBITO JURIDICO. Origem, história, principiologia e competência do tribunal


do júri. Equipe ambito jurídico, 2011. Disponível em:
https://ambitojuridico.com.br/edicoes/revista-86/origem-historia-principiologia-e-
competencia-do-tribunal-do-juri Acesso em 21 de Maio de 2022.

ADMINISTRATIVE OFFICE OF THE U.S. COURTS. Jury Handbook. Thurgood


Marshall Federal Judiciary Building One Columbus Circle, N.E. Washington, D.C.
20544. 2022. Disponível em: <www.uscourts.go.> Acesso em 22 de Abril de 2022.

AVENA, Norberto Cláudio Pâncaro. Processo Penal. 9. ed. São Paulo: Método,
2017.

BEALE, Sara Sun e BRYSON, C. William. Forthcoming on Grand Jury Law and
Practice. Ilinois: Callagham and Company, 1985.

BRASIL. Lei Nº 11.689, de 9 de Junho de 2008: Código de Processo Penal (CPP).
Brasília: Casa Civil: 2008. Disponível em:
https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2008/lei/l11689.htm Acesso em
28 de Abril de 2022.

CAPEZ, Fernando. Curso de Processo Penal. 12. ed. São Paulo: Saraiva, 2005.
18

Estados Unidos da América. United States Code. Emendas de 1980/1996.


Washington D.C. Departamento de Justiça. Disponibilizado por Cornell Law School,
2022. Disponível em: <https://www.law.cornell.edu/cfr/text.> Acesso em 3 de
Novembro de 2022.

LAKATOS, E. M.; MARCONI, M. DE A. Metodologia do trabalho científico. São


Paulo: Atlas, 2014.

LEMOS, Marcelo Augusto de. A influência dos EUA nos acordos penais
brasileiros. CONJUR. 2021. Disponível em:
https://www.conjur.com.br/2021-jul-03/diario-classe-influencia-eua-acordos-penais-
brasileiros Acesso em 22 de abril de 2022.

LIMA, Renato B. D. Código de Processo Penal comentado. 2. Ed.rev. e atual.


Salvador: Jurispodivm, 2017.

MARTINS, G.A. & PINTO, R.L. Manual para elaboração de trabalhos


acadêmicos. São Paulo: Atlas, 2001.

NUCCI, Guilherme de Souza. Código de Processo Penal comentado. São Paulo:


Editora Revista dos Tribunais.2004.

OTSTA, Offices of the United States Attorneys – 950 Pennsylvania Avenue, NW


Washington, DC 20530-0001. 2022. Disponível em:
<https://www.justice.gov/usao/justice-101.com > Acesso em 7 de Novembro de
2022.

PENEGAR, Kenneth L. Constituição dos Estados Unidos da América (1787).


Washington D.C.: Revista de informação Legislativa, 1987.

PEREIRA, Luiz Marcello de Almeida. Por que a Constituição dos EUA é menor
que a brasileira.  A Cidade ON. 2020. Disponível em:
<https://www.acidadeon.com/campinas/colunas/lextra/BLOG,0,0,1543642,por-que-a-
constituicao-dos-eua-e-menor-que-a-brasileira.aspx> Acesso em 23 de abril de
2022.

REIS, Wanderlei José dos. O júri no Brasil e nos Estados Unidos. Jus.com.br.
Disponível em:< https://jus.com.br/artigos/23474/o-juri-no-brasil-e-nos-estados-
unidos.com > Acesso em 7 de Novembro de 2022.

SALDANHA, Daniel Cabaleiro. História e teoria das fontes do direito romano.


Dissertação (Mestrado em Direito). Universidade Federal de Minas Gerais - UFMG.
Belo Horizonte, p.152 - 171. 2011.

SCALON, Karen Marques. Competência do Tribunal do Júri. Jus.com.br.


Disponível em:< https://jus.com.br/artigos/82816/competencia-do-tribunal-do-juri.com
> Acesso em 17 de Outubro de 2022.

SILVA, Rodrigo Faucz Pereira e. Tribunal do Júri: O novo rito interpretado.


Curitiba: Juruá Editora, 2008.
19

SCHRITZMEYER, Ana Lúcia Pastore. Jogo, ritual e teatro: um estudo


antropológico do Tribunal do Júri. São Paulo: Terceiro Nome, 2012.

STRECK, Lenio Luiz. Tribunal do júri: símbolos e rituais / 4 a edição — Porto


Alegre: Livraria do Advogado, 2001.

TJDFT - Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios. Tribunal do Júri.


ASC, 2015. Disponível em:
<https://www.tjdft.jus.br/institucional/imprensa/campanhas-e-produtos/direito-facil/
edicao-semanal/tribunal-do-juri.com>. Acesso em 5 Novembro de 2022.

TOURINHO FILHO, Fernando da Costa. Código de Processo Penal Comentado.


8. Ed. São Paulo: Saraiva, 2004.

Você também pode gostar