Você está na página 1de 5

ESTUDO DIGITALIZADO PELO SITE

WWW.SEMEANDOVIDA.ORG
Projeto exclusivo de resgate de revistas antigas de
Escola Bíblica Dominical.

Para mais estudos visite o nosso site.


Página |1

CORPO E ESPIRITUALIDADE
1 Coríntios 6.19,20

Talvez por influência do pensamento grego,que considerava a matéria essencialmente


má,concebendo o corpo como a prisão da alma, nós, os cristãos, temos, em certos
aspectos.um conceito distorcido do corpo.Assumimos sempre a tendência de fazer
uma separação entre corpo e alma, como se esta fosse superior e aquele inferior.

Mas o ser humano deve ser visto em sua integralidade, isto é, corpo e alma. E é por
isso que propomos esta reflexão sobre a espiritualidade do corpo.

Nas palavras de apresentação de seu livro de meditações intitulado "Creio na


Ressurreição do Corpo" (CEDI, RJ, 1984), Rubem Alves escreve: "Pensamos
encontrar Deus onde o corpo termina: e o fizemos sofrer e o transformamos em besta
de carga, em cumpridor de ordens, em máquina para o trabalho, em inimigo a ser
silenciado, e assim o perseguimos, ao ponto do elogio da morte como caminho para
Deus, como se Deus preferisse o cheiro dos sepulcros às delícias do Paraíso.

E ficamos cruéis, violentos, permitimos a exploração e a guerra. Pois se Deus se


encontra para além do corpo, então tudo pode ser feito ao corpo".

O objetivo desse estudo é reforçar o conceito de integralidade do homem, dando ao


corpo o elevado valor que ele tem.

Nas palavras de H. W. Hoehener, "o homem é mais do que um mero corpo; é físico e
material; é corpo e alma e/ou espírito. O dualismo bíblico não é igual ao dualismo
grego, em que a alma é prisioneira do corpo; pelo contrário, o corpo é instrumento
através do qual o imaterial se expressa. As partes material e imaterial da pessoa estão
em pé de igualdade. As duas precisam da redenção e vivem eternamente. O homem
não apenas corpo ou apenas alma/espírito, mas a combinação deles" (Enciclopédia
Histórico-Teológica da Igreja Cristã, vol. 1, Vida Nova, SR pág. 359).

1 - CRIAÇÃOEENCARNAÇÃO: BASES DA ESPIRITUALIDADE


DO CORPO
A doutrina bíblica da Criação oferece consistente base para a compreensão de que o
corpo é bom. A Bíblia ensina que, após decidir fazer o homem à Sua imagem e
semelhança, formando-o do pó da terra e dotando-o de espiritualidade (Gn 2.7), Deus
o abençoou. E conforme Gênesis 2.31, "viu Deus tudo quanto fizera, e eis que era
muito bom".

Ainda que o pecado tenha maculado o corpo, exercendo até hoje um certo domínio
sobre ele, isto não significa, contudo, que o corpo tenha perdido a sua espiritualidade.

Além da Criação, a Encarnação reforça a base bíblica da espiritualidade do corpo: "E


o Verbo se fez carne, e habitou entre nós, cheio de graça e de verdade, e vimos a sua
glória, glória como do unigênito do Pai"(Jo 1.14).

A espiritualidade do corpo, confirmada na Encarnação, é celebrada de forma magistral


pelo Dr. Rubem Alves, em um poema intitulado "O Corpo". A seguir, a transcrição de
parte desse poema:

Para mais estudos visite o site


www.semeandovida.org
Página |2

Deus fez-nos corpos.


Deus fez-se corpo. Encarnou-se.
Corpo: imagem de Deus.
Corpo: nosso destino, destino de Deus.
Isto é bom.
Eterna divina solidariedade com a carne humana.
Nada mais digno.
O corpo não está destinado a elevar-se a espírito.
É o Espírito que escolhe fazer-se visível, no corpo.

Corpo: realização do Espírito: suas mãos, seus olhos, suas


palavras, seus gestos de amor...

Corpo: ventre onde Deus se forma. Maria, grávida, Jesus, feto


silencioso, à espera, protegido, no calor das entranhas de uma
mulher.

Jesus: corpo de Deus entre nós,


corpo que se dá aos homens,
corpo para os corpos, como carne e sangue,
pão e vinho.

E o corpo de Deus, Jesus Cristo, se expande, incha, tomando o


universo inteiro: ‘presente em todos os lugares, mesmo dentro
da folha mais diminuta, em cada uma das coisas criadas,
dentro e fora, à sua volta e no interior de suas nervuras, por
baixo e por cima, atrás e à frente...' (Lutero).

O corpo é o Espírito gracioso, capaz de sorrir, capaz de ficar


grávido, gerar, morrer de amor...
É bem aí, no corpo, que Deus e o homem se encontram"

("Creio na Ressurreição do Corpo", pág. 17).

2 - TRABALHO, DESCANSO E LAZER: EXPRESSÕES DA


ESPIRITUALIDADE DO CORPO
O trabalho é vocação e bênção de Deus. É um meio através do qual o corpo expressa
a sua espiritualidade.

O professor C. T. Carriker, observa que "Paulo também valorizava o trabalho. Criticava


a preguiça (II Ts 3.6-12). E não fez nenhuma distinção entre o labor físico e o trabalho
espiritual. Usou os mesmos termos para o seu trabalho manual como fazedor de
tendas, e seu serviço como apóstolo (I Co 4.12; 15.10; 16.16; Ef 4.28; Gl 4.11; Fp
2.16; Cl 1.29; I Ts 5.12)." ("Espiritualidade - onde, quando e como", Ultimato Editora,
Viçosa/MG, pág. 43).

É preciso entender, porém, que o corpo não foi feito só para o trabalho. A Bíblia nos
informa que até Deus descansou (Gn 2.1-3). Deus estabeleceu para o Seu povo um
dia especial de descanso (Êx 20.8-11). Jesus teve uma vida de intenso trabalho, mas
houve ocasiões em que ele convidou os discípulos para um merecido descanso (Mc
6.31,32). O descanso é um ato de profunda espiritualidade.

Para mais estudos visite o site


www.semeandovida.org
Página |3

Muito mais do que a simples paralisação do corpo por algum tempo, o descanso
cristão envolve uma experiência de comunhão com o Senhor. Trata-se de uma
experiência diretamente ligada à alma, como propõe Jesus em Mateus 11.28-30:
"Vinde a mim todos os que estais cansados e sobrecarregados, e eu vos aliviarei.
Tomai sobre vós o meu jugo, e aprendei de mim, porque sou manso e humilde de
coração; e achareis descanso para as vossas almas. Porque o meu jugo é suave e o
meu fardo eleve".

Mas, além do trabalho e do descanso, podemos afirmar, ainda, que o lazer se constitui
em excelente estratégia para a expressão da espiritualidade do corpo. Precisamos
aprender a fazer do lazer uma experiência tão espiritual quanto a meditação ou o
louvor. A dificuldade para se aceitar isso, é fruto muito mais de legalismo e
imaturidade, do que propriamente de uma verdadeira espiritualidade.

A Palavra de Deus nos conclama a glorificar a Deus no nosso corpo (Rm 12.1; I Co
6.19,20). E isso pode e deve-se dar através do trabalho, do descanso e do lazer. Esse
perfeito equilíbrio faz bem ao corpo, à mente e à alma. A glorificação a Deus através
do corpo não é somente o exercício daquelas atividades de caráter religioso que
costumamos julgar mais "espirituais" (Cl 3.17).

O materialismo instalado no mundo atual, que explora a força de trabalho na busca de


produção, e que depois transforma o lazer em sinônimo de consumo, precisa ser
questionado e confrontado. E esta ação urgente começa com uma compreensão
correta da espiritualidade do corpo.

O nosso corpo não foi criado para viver em função de um sistema de exploração.
Somos desafiados a buscar e a defender a expressão de uma espiritualidade integral
por meio do corpo, no equilíbrio entre trabalho, descanso e lazer. Esse corpo que
trabalha, descansa e desfruta do lazer, é morada do Espírito Santo.

3. MORTE E RESSURREIÇÃO: PLENITUDE DA


ESPIRITUALIDADE DO CORPO
Toda vez que reafirmamos a nossa fé através das palavras do Credo Apostólico,
declaramos: "... Creio na ressurreição do corpo e na vida eterna." O nosso corpo não é
descartável.

Apesar de ter sido vitimado pelo pecado, experimentando a morte e a decomposição,


o corpo está destinado à ressurreição e à vida eterna como declaram as Escrituras
(Rm 8.11; I Co 6.13,14; I Ts 4.14-17). ' O corpo será submetido a um processo de
transformação e aperfeiçoamento, superando de uma vez por todas os efeitos
provocados pelo pecado. E assim, atingirá, finalmente, a plenitude de sua
espiritualidade (I Co 15.35-53).

A morte - mesmo não sendo definitiva - representa uma afronta à espiritualidade do


corpo. É por isso que a nossa fé em Cristo se alicerça na realidade da ressurreição (I
Co 15.20).

A ressurreição é a espetacular vitória do corpo sobre a morte. Inflamado por esta


certeza e cheio de esperança, o apóstolo Paulo celebra esse dia glorioso, evocando
as retumbantes palavras proféticas: "Tragada foi a morte pela vitória. Onde está, ó
morte, a tua vitória? Onde está, ó morte, o teu aguilhão?" (I Co 15.54,55).

Para mais estudos visite o site


www.semeandovida.org
Página |4

A negação do corpo como evidência de piedade, bem como o elogio à morte como
uma condição de bem-aventurança, representam um desvio teológico. A morte é uma
anormalidade, é provisória, é inimiga e será abolida. No projeto de Deus não há lugar
para a morte (Ap 21.1-4). A ressurreição é a garantia da plenitude da espiritualidade
inerente ao corpo, e é definitiva.

DISCUSSÃO
1. Por que, geralmente, valorizamos mais a alma do que o corpo?'
2. Até que ponto o ativismo religioso tem prejudicado o descanso do corpo?

AUTOR: REV. ENEZIEL PEIXOTO DE ANDRADE

Para mais estudos visite o site


www.semeandovida.org

Você também pode gostar