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Florianópolis, 28 de setembro de 2022.

Disciplina: Organização Escolar


Avaliação: Carta 1

Prezado Dermeval Saviani,


Escrevo essa carta, pois efetuei a leitura do Capítulo 1 - As teorias da educação e o
problema da marginalidade, publicado no livro Escola e Democracia de 2003, e
gostaria de tecer alguns comentários sobre o que li.
Primeiramente, foi um tanto quanto desalentador, ler sobre as teorias não-críticas e
crítico-reprodutivistas, pois me pareceu muito difícil modificar essa situação e ir contra
esse sistema dominador que marginaliza. Por mais que, ao final do seu texto, nos traga
uma visão da teoria crítica da educação, foram tantas páginas destinadas a explicar as
teorias que não resolvem totalmente o problema de marginalização e por vezes
contribuem para seu agravamento, que terminei de ler o texto com certo desânimo.
Penso que o texto poderia detalhar e se aprofundar um pouco mais sobre a teoria
crítica da educação e sua funcionalidade, mas entendo que esse não era o objetivo do
mesmo.
Embora tenha terminado a leitura do texto mais desanimada do que esperançosa com
a possível transformação que a educação seja capaz de realizar em relação ao
problema da marginalidade, foi bastante enriquecedor ler sobre as diversas teorias da
educação apresentadas e o agradeço por nos mostrar de forma tão objetiva tantas
verdades e práticas que temos conhecimento de suas existências, mas que algumas
vezes desejamos esquecer, ou esquecemos porque já estamos totalmente imersos na
cultura capitalista. É um balde de água fria, mas que precisamos tomar.
O que me parece é que quando olhamos as teorias não-críticas de fora e a forma como
a escola e a educação foram pensadas no geral, não percebemos seu lado negativo,
mas ao penetrarmos profundamente nos detalhes ou ao observarmos de maneira mais
sistêmica, como nos é apresentado em seu texto, tudo fica mais claro. Explico.
Conforme declara, a Pedagogia Tradicional “se inspirou no princípio que a educação é
direito de todos e dever do Estado”. Que mal pode haver nisso, pode-se pensar?
Porém quando é explicado a forma que foi pensada, centrada no professor e como
antídoto à ignorância, sendo que nem todos se ajustavam a ela, percebe-se que ainda
falta algo. Já na Pedagogia Nova, quando se lê em seu texto que a educação, ao
cumprir a função de ajustar e adaptar os indivíduos à sociedade, gera um sentimento
de aceitação uns pelos outros, sendo capaz de corrigir a marginalidade, também não
se percebe logo de imediato, onde está o problema. Porém, vemos mais a frente que
houve “o afrouxamento da disciplina e a despreocupação com a transmissão de
conhecimentos, rebaixando o nível de ensino para as camadas populares”.
A comparação da Pedagogia Tecnicista com o trabalho fabril foi perfeita em seu texto.
A maneira como foi descrita, me fez pensar na forma com que o ensino ainda é
realizado nos dias de hoje, com o aluno sendo o produto de um processo de educação
realizado por diferentes sujeitos, os quais não conseguem identificar sua relação com o
resultado.
No entanto, na minha percepção, gostaria de dizer que embora as diferentes
pedagogias sejam apresentadas com o passar do tempo no texto, me parece que hoje,
em 2022, elas ainda convivem de alguma forma nas escolas, ou seja, em algum
momento podemos entender que a educação é centrada no aluno, em outro a figura
do professor se apresenta mais relevante e em outro, e talvez mais fortemente, a
organização escolar e os especialistas conduzem o processo conforme lhes convém.
Na minha humilde visão, penso que a pedagogia ideal para a educação seria um misto
entre todas, abarcando o que há de bom em cada uma das teorias. Para isso é
necessário que os envolvidos tenham certa flexibilidade para não sufocar os
professores com tantas normas e formulários a serem preenchidos e uma visão
sistêmica que possibilite atingir o problema da marginalidade de forma mais efetiva.
Sobre as teorias crítico-reprodutivistas tenho a dizer que são como um soco no
estômago e considero de extrema importância ter o conhecimento das mesmas,
porém penso que seja necessário adotar uma visão otimista da função da educação,
pois do contrário não nos motivaremos a mudar o sistema. Por isso a crítica de Snyders
à teoria da violência simbólica é tão importante, pois se a luta de classes é considerada
impossível, não adiantaria fazer nada. A teoria da escola como aparelho ideológico do
Estado não avança muito nessa questão, já que considera a luta de classes possível,
mas sem chance de êxito e tampouco a teoria da escola dualista, que, segundo
Snyders, apresenta a escola como inútil na questão da luta de classes.
Concordo com sua visão de que seja possível e necessária uma teoria crítica da
educação, porém entendo que seja bastante dificultosa, a prática da mesma, pois
impõe aos realizadores de educação forte determinação e resiliência para driblar a
ação da classe dominante, transformar a situação da classe dominada e transpor o
problema da marginalidade.
Por fim, gostaria de declarar que achei excelente a sua proposição de inversão da
expressão “educação compensatória”, proveniente de sua constatação de que não se
pode atribuir à educação a responsabilidade de compensar todo tipo de deficiência,
existindo assim diferentes tipos de compensações. Com certeza, são tantos os
problemas que atingem a classe dominada, que seria impossível a educação realizar a
compensação de tudo.

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