Escrevo essa carta, pois efetuei a leitura do Capítulo 1 - As teorias da educação e o problema da marginalidade, publicado no livro Escola e Democracia de 2003, e gostaria de tecer alguns comentários sobre o que li. Primeiramente, foi um tanto quanto desalentador, ler sobre as teorias não-críticas e crítico-reprodutivistas, pois me pareceu muito difícil modificar essa situação e ir contra esse sistema dominador que marginaliza. Por mais que, ao final do seu texto, nos traga uma visão da teoria crítica da educação, foram tantas páginas destinadas a explicar as teorias que não resolvem totalmente o problema de marginalização e por vezes contribuem para seu agravamento, que terminei de ler o texto com certo desânimo. Penso que o texto poderia detalhar e se aprofundar um pouco mais sobre a teoria crítica da educação e sua funcionalidade, mas entendo que esse não era o objetivo do mesmo. Embora tenha terminado a leitura do texto mais desanimada do que esperançosa com a possível transformação que a educação seja capaz de realizar em relação ao problema da marginalidade, foi bastante enriquecedor ler sobre as diversas teorias da educação apresentadas e o agradeço por nos mostrar de forma tão objetiva tantas verdades e práticas que temos conhecimento de suas existências, mas que algumas vezes desejamos esquecer, ou esquecemos porque já estamos totalmente imersos na cultura capitalista. É um balde de água fria, mas que precisamos tomar. O que me parece é que quando olhamos as teorias não-críticas de fora e a forma como a escola e a educação foram pensadas no geral, não percebemos seu lado negativo, mas ao penetrarmos profundamente nos detalhes ou ao observarmos de maneira mais sistêmica, como nos é apresentado em seu texto, tudo fica mais claro. Explico. Conforme declara, a Pedagogia Tradicional “se inspirou no princípio que a educação é direito de todos e dever do Estado”. Que mal pode haver nisso, pode-se pensar? Porém quando é explicado a forma que foi pensada, centrada no professor e como antídoto à ignorância, sendo que nem todos se ajustavam a ela, percebe-se que ainda falta algo. Já na Pedagogia Nova, quando se lê em seu texto que a educação, ao cumprir a função de ajustar e adaptar os indivíduos à sociedade, gera um sentimento de aceitação uns pelos outros, sendo capaz de corrigir a marginalidade, também não se percebe logo de imediato, onde está o problema. Porém, vemos mais a frente que houve “o afrouxamento da disciplina e a despreocupação com a transmissão de conhecimentos, rebaixando o nível de ensino para as camadas populares”. A comparação da Pedagogia Tecnicista com o trabalho fabril foi perfeita em seu texto. A maneira como foi descrita, me fez pensar na forma com que o ensino ainda é realizado nos dias de hoje, com o aluno sendo o produto de um processo de educação realizado por diferentes sujeitos, os quais não conseguem identificar sua relação com o resultado. No entanto, na minha percepção, gostaria de dizer que embora as diferentes pedagogias sejam apresentadas com o passar do tempo no texto, me parece que hoje, em 2022, elas ainda convivem de alguma forma nas escolas, ou seja, em algum momento podemos entender que a educação é centrada no aluno, em outro a figura do professor se apresenta mais relevante e em outro, e talvez mais fortemente, a organização escolar e os especialistas conduzem o processo conforme lhes convém. Na minha humilde visão, penso que a pedagogia ideal para a educação seria um misto entre todas, abarcando o que há de bom em cada uma das teorias. Para isso é necessário que os envolvidos tenham certa flexibilidade para não sufocar os professores com tantas normas e formulários a serem preenchidos e uma visão sistêmica que possibilite atingir o problema da marginalidade de forma mais efetiva. Sobre as teorias crítico-reprodutivistas tenho a dizer que são como um soco no estômago e considero de extrema importância ter o conhecimento das mesmas, porém penso que seja necessário adotar uma visão otimista da função da educação, pois do contrário não nos motivaremos a mudar o sistema. Por isso a crítica de Snyders à teoria da violência simbólica é tão importante, pois se a luta de classes é considerada impossível, não adiantaria fazer nada. A teoria da escola como aparelho ideológico do Estado não avança muito nessa questão, já que considera a luta de classes possível, mas sem chance de êxito e tampouco a teoria da escola dualista, que, segundo Snyders, apresenta a escola como inútil na questão da luta de classes. Concordo com sua visão de que seja possível e necessária uma teoria crítica da educação, porém entendo que seja bastante dificultosa, a prática da mesma, pois impõe aos realizadores de educação forte determinação e resiliência para driblar a ação da classe dominante, transformar a situação da classe dominada e transpor o problema da marginalidade. Por fim, gostaria de declarar que achei excelente a sua proposição de inversão da expressão “educação compensatória”, proveniente de sua constatação de que não se pode atribuir à educação a responsabilidade de compensar todo tipo de deficiência, existindo assim diferentes tipos de compensações. Com certeza, são tantos os problemas que atingem a classe dominada, que seria impossível a educação realizar a compensação de tudo.