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EXERCÍCIOS AULA 1 – FARMACOCINÉTICA E FARMACODINÂMICA

PROFESSORA: CLARICE GORENSTEIN DISCIPLINA: NEUROCIÊNCIA II

INSTITUTO: INSTITUTO DE CIÊNCIAS BIOMÉDICAS CURSO: PSICOLOGIA – 3° SEMESTRE

GRUPO

BRUNO KINOSHITA – 11220455

ANA BEATRIZ CASTELO BRANCO - 11220441

JÚLIA GRANDE PETTERSSEN - 11220393

THÉO AZEVEDO – 11220222

BRUNO ZOCCHI DE ALMEIDA - 11220218

VINÍCIUS LEMOS - 6856249

ANDRÉ KOHAN -10735707

SARAH CHRISTINA – 11275940

CASO 1) Há várias formas que um remédio e fármaco de via oral pode se apresentar,
isto é, desde cápsulas duras, cápsulas gelatinosas, comprimidos, drágeas etc. No caso 1,
nota-se que o antidepressivo descrito vinha em formato de uma cápsula, uma vez que é
explicito que a mulher a “abriu”. É importante ressaltar que essa variação de formatos
que os remédios apresentam se deve principalmente à forma como estes serão
desintegrados e absorvidos no sistema digestivo para seguir caminho para o plasma
sanguíneo e, posteriormente, para órgãos responsáveis pelo metabolismo e excreção.
Assim, a diversidade de formatos causa uma desintegração, absorção e distribuição em
ritmos, eficiência e velocidade diferentes. Logo, é provável que a diferença de
miligramas do antidepressivo entre a mulher (150mg) e sua amiga (50mg) se devia ao
fato dos remédios de cada uma vir em formatos diferentes, o que poderia justificar a
divergência das quantidades, mesmo que o efeito terapêutico buscado fosse o mesmo.
Além disso, a indicação de dosagem do fármaco é particular e própria para cada
paciente, uma vez que envolve diversos aspectos, como a idade, massa corpórea,
gênero, entre outros. Dessa forma, ao se basear na dosagem administrada por sua amiga
para alterar a sua própria, a paciente desconsidera essas especificidades
(farmacocinéticas) e provoca uma alteração significativa na relação dose-efeito do
fármaco. Acrescenta-se a isso o fato de que a concentração das drogas no plasma
apresenta um gradiente de efeito, o que explica a possibilidade de que a redução da
dosagem fez com que essa concentração não atingisse a faixa terapêutica, sendo apenas
subterapêutica e, portanto, ineficiente, podendo acarretar em efeitos colaterais e/ou
ausência de efeitos ao invés dos terapêuticos desejados. Devido a essa série de
questões, a mulher não precisava se preocupar com a “diferença de quantidades” entre
os remédios, uma vez que provavelmente eles se referiam a processos de eficiência e a
condições diferentes.
Com isso em mente, é possível sugerir que o fato da mulher abrir a cápsula do
seu antidepressivo, somado com o fato de ela ter tomado apenas metade da dose,
tornou a absorção deste remédio ineficiente com relação ao esperado. As formas sólidas
de administração oral são particularmente pensadas para serem absorvidas e
metabolizadas nos locais apropriados do organismo de acordo com suas variações e
especificidades (por exemplo, pH). A cápsula, por exemplo, exige sua desintegração
antes que se inicie a absorção e distribuição, o que permite que esse fármaco seja
absorvido no local apropriado. Ao quebrar a cápsula, perdeu-se essas características de
liberação do fármaco, alterando o local de absorção e, portanto, o efeito produzido. O
seu remédio veio justamente nesta quantidade e neste formato, pois esperava-se que
ele fosse desintegrado no estômago e absorvido em etapas pelo seu estômago e
intestino, como se espera de uma cápsula. Como a mulher consumiu-o já desintegrado
e em uma quantidade menor que o solicitado, o remédio provavelmente foi absorvido,
distribuído e metabolizado em uma taxa mais acelerada e, portanto, excretado e
eliminado pelo organismo em uma velocidade muito mais rápida do que devia e se
esperava, fazendo com que os seus efeitos fossem improdutivos ou apenas
parcialmente eficientes, levando a um quadro de não melhora da paciente.
É digno mencionar também que o tratamento antidepressivo envolve,
inicialmente, a fase aguda, em que a paciente se encontra. Essa fase visa à remissão dos
sintomas, buscando a recuperação dos níveis normais de funcionamento e de bem-estar
da paciente. É também na fase aguda que a psiquiatra avalia a efetividade do tratamento
e o redireciona conforme os efeitos observados em contraste com os desejados. A
condução dessa primeira fase do tratamento envolve, claramente, a expectativa de que
a dosagem indicada pelo profissional de saúde seja respeitada. Ao alterar essa dosagem,
a paciente, portanto, inviabiliza a avaliação médica do tratamento já que compromete
as contingências iniciais.
Por último, é importante lembrar que hipóteses relativas à eficiência metabólica
da paciente como causas do não funcionamento do antidepressivo não devem ser
levadas em conta, uma vez que é explicito que os seus exames laboratoriais indicaram
resultados normais.

CASO 2) Apesar de estar tomando o remédio da forma correta, a eficiência no processo


de absorção e desintegração dos fármacos de vias orais no estômago e intestino pode
depender de outros fatores. Um deles, por exemplo, pode ser o momento em que se
toma eles, como depois ou antes de uma refeição, fato que pode ser explicado através
do efeito do pH nestes processos. É fundamental lembrar que há medicamentos orais
que serão absorvidos pelo estômago e outros pelo intestino. Para tornar a absorção
mais eficiente, o medicamento deve possuir uma composição que corresponda ao pH
do ambiente em que será absorvido. Logo, se a absorção ocorre no estômago, onde o
pH é mais ácido, deve-se esperar que a droga administrada seja ácida também. Por outro
lado, se a absorção ocorre no intestino, onde o pH é mais básico, deve-se esperar que a
droga tenha um caráter básico. Isso se deve ao fato de que um sistema em que há essa
correspondência, a droga naturalmente produz menos íons, pois se encontra em um
meio com seu próprio pH e, portanto, o processo de ionização é menos intenso,
permitindo uma melhor absorção da droga em seu meio.

Com isso em mente, o caso da paciente pode ser melhor analisado. Seu
antidepressivo vem em um formato de cápsula, ou seja, espera-se que a droga seja
absorvida parte no estômago, onde sofre sua desintegração, e parte no intestino. Logo,
se a eficiência da absorção está intimamente ligada com o pH da droga, esta não poderia
ter um caráter muito ácido, uma vez que boa parte dela provavelmente seria ainda
absorvida no intestino, onde o pH é básico. Assim, espera-se, como hipótese, que a
droga tenha um caráter básico. Como a paciente não encontra tempo para seu almoço,
seu café da manhã é visivelmente reforçado. Esta ingestão significativa de comida pela
manhã, composta de uma fonte de principalmente proteínas e carboidratos, ao chegar
no estômago faz com que suas glândulas produzam uma quantidade grande de suco
gástrico, que possui um pH ácido para tornar eficiente a digestão dos alimentos
proteicos e dos carboidratos. Uma vez que a droga entra em contato com o estômago
em um momento em que há uma quantidade significativa de suco gástrico (pois ocorre
logo após a ingestão de alimentos ricos em carboidratos e proteínas), a cápsula
provavelmente é desintegrada num ritmo acelerado demais, fazendo com que a droga
sofra o processo de ionização no estômago, tornando o processo de absorção
ineficiente.
Além da primeira hipótese, é possível que, na situação especificada, a
alimentação em quantidade exagerada antes da tomada do antidepressivo fez com que
a cápsula com a droga tenha tido dificuldade de encontrar espaço para chegar ao
intestino no momento certo, ou seja, fazendo com que o fármaco ficasse mais tempo
no estômago do que deveria. Durante esse tempo excessivo, o meio ácido estomacal,
então, levaria à desintegração da cápsula e posterior ionização do composto
provavelmente básico do antidepressivo, impossibilitando sua absorção no intestino de
forma apropriada.
Nos parece incongruente poder considerar a droga como sendo ácida, pois, se
assim fosse, esta seria desintegrada e absorvida no meio ácido do estômago sem
maiores problemas. Neste cenário, a alimentação reforçada antes da ingestão do
remédio não pareceria, a princípio, um empecilho para a eficiência dos efeitos do
fármaco na paciente.

CASO 3) A carbamazepina é um medicamento indicado para neuralgia idiopática do


nervo trigêmeo e neuralgia trigeminal em decorrência de esclerose múltipla, além de
ser indicado para síndrome de abstinência alcoólica, mania aguda e tratamentos de
manutenção em distúrbios afetivos bicolores, monoterapia e terapia combinada,
neuropatia diabética dolorosa e diabetes insípida central. Entretanto é um fármaco
contraindicado quando combinado com inibidores da monoamina oxidase (IMAOs) e
antidepressivos tricíclicos (ADTs)
Os inibidores da monoamina oxidase (IMAO) são uma classe de fármacos que
atuam bloqueando a ação da enzima monoamina oxidase, esta sendo responsável por
degradar monoaminas como a noradrenalina, serotonina, dopamina e tiramina. Os
IMAOs podem ser utilizados, então, no tratamento da depressão, já que, ao inibirem a
enzima monoamina oxidase, garantem um aumento da concentração desses
neurotransmissores no corpo e no cérebro.
Já os antidepressivos tricíclicos (ADTs) agem bloqueando a recaptura de
monoaminas, principalmente norepinefrina, serotonina, dopamina. Eles promovem
aumento na eficiência da transmissão monoaminérgica (e possivelmente GABAérgica),
envolvendo os sistemas noradrenérgico e serotoninérgico através do aumento, na
concentração sináptica, de norepinefrina e serotonina por bloqueio de recaptura.
Dessa forma, a associação da carbamazepina com os inibidores da monoamina
oxidase (IMAOs) e com os antidepressivos tricíclicos (ADTs) ocasiona a diminuição
plasmática ou até mesmo a inibição completa de atividade desses fármacos. No caso
dos IMAOs, é necessário que estes sejam descontinuados por no mínimo 2 semanas
antes do uso da carbamazepina.
Em outras palavras, podemos simplificar o caso através da hipótese de que o
antidepressivo atua no sistema com um inibidor enzimático, cuja prolongação da
eficiência do fármaco vem do fato do metabolismo da droga ficar menos acelerado. Por
outro lado, a carbamazepina atuaria como um indutor enzimático, aumentando a
eficiência metabólica do indivíduo. Essa maior eficácia metabólica provavelmente se
relaciona com uma indução de uma mesma enzima que o antidepressivo deveria inibir,
o que faz com que este seja metabolizado mais rapidamente e, consequentemente,
fique menos tempo no sistema da paciente do que o esperado, surtindo menos efeito e
não melhora dos sintomas, como a paciente constatou. Dessa maneira, possivelmente
a não eficácia do antidepressivo, seja este sendo um IMAO ou um ADT, deveu-se à
associação com a carbamazepina.

CASO 4) Os diuréticos são medicamentos usados no tratamento de hipertensão e


insuficiência renal cuja atuação se dá nos rins, o que influencia diretamente no processo
de absorção e filtração de sais e águas, aumentando a quantidade de urina produzida
pelo organismo.
Ao ser desintegrada e absorvida após sua ingestão, a droga poderá seguir
caminho para o plasma, até alcançar órgãos responsáveis por seu metabolismo, tal
como o fígado. Este processo gera metabólitos que, naturalmente, serão excretados
através das fezes, urina etc. É importante lembrar que parte das drogas são também
eliminadas inalteradas, podendo às vezes ser reabsorvidas para o plasma no processo
de eliminação renal. Como os diuréticos influenciam diretamente na produção de urina
e, consequentemente, na eliminação de substâncias no indivíduo, uma hipótese
provável é que tal eliminação se encontra em um ritmo muito intenso, eliminando a
droga inalterada e os metabólitos do organismo de forma muito rápida, tornando o
efeito ineficiente. Somando-se a essa hipótese, pode-se teorizar também que o
antidepressivo que a paciente toma possui um possível caráter hidrossolúvel. Sabe-se
que fármacos com caráter mais lipossolúveis, ao chegar no sistema renal em forma
inalterada, podem sofrer de reabsorção tubular, voltando para o plasma sanguíneo e
permanecendo mais tempo no sistema. Entretanto, fármacos hidrossolúveis serão mais
facilmente excretados do organismo, através da urina. Como o diurético aumenta a taxa
dessa urina e os efeitos do antidepressivo se mostram ausentes, pode-se supor que,
somado ao fato da excreção renal estar aumentada, o composto pode ter um caráter
hidrossolúvel, sendo eliminado fácil e rapidamente do sistema.
Podemos também olhar o caso através da análise de outros efeitos do diurético
no organismo. Para que ocorra influência no processo de absorção e filtração de sais e
água, os diuréticos estimulam excreções de íons. Este aumento do grau de ionização no
plasma - em conjunto com uma maior eliminação de volume de água, que resulta em
um aumento da concentração de íons no plasma sanguíneo também - dificulta a
penetração de fármacos na barreira hemato-encefélica. Isso significa que, no momento
que a paciente passa a tomar o diurético, segundo as indicações do clínico, aumenta-se
concentração de íons no plasma de seu sangue. Tendo em vista isso, outra hipótese
relevante ao caso é que houve uma maior eliminação do antidepressivo devido ao efeito
do diurético, que impediu indiretamente uma entrada mais eficiente do fármaco
antidepressivo na barreira hemato-encefálica. Isso provavelmente impossibilitou que
o medicamento estivesse sob concentração dentro da faixa terapêutica esperada, o que
poderia explicar, portanto, a queixa da paciente em não sentir nenhuma melhora em
seus sintomas, mesmo que respeitando à risca as indicações da psiquiatra.
Ainda outra hipótese aditiva ao problema poderia ser que, como a paciente se
queixava de dores de cabeça constantes, talvez ela estivesse se auto medicando com
analgésicos. Esta possibilidade, somada ao fato de ela já estar tomando antidepressivos,
poderia levar a uma sobrecarga de seu rim, causando o aumento da pressão arterial.
Remédios como aspirina e grande parte de psicofármacos são fármacos de metabolismo
de primeira passagem, ou seja, eles passam pelo fígado antes de ir para a corrente
sanguínea. Ao tomar constantemente esses remédios, portanto, o rim ficaria
sobrecarregado, pois, neste processo, uma parte do fármaco é metabolizado, indo para
o rim como forma de excreção. Tal sobrecarga por alto nível de metabólitos variados
poderia explicar o aumento da pressão arterial relatado pelo clínico, que receitou o
antidiurético para ajudar na eliminação do sódio através do aumento da produção de
urina. Como essa produção aumenta significativamente, o antidepressivo
provavelmente é eliminado inalterado do paciente em quantidade maior do que devia
e rápido demais, devido às explicações já dadas anteriormente, referentes à excreção
renal.
Para a dor de cabeça, podemos pensar também que a dose passada inicialmente
pelo psiquiatra está muito alta, sendo que a dosagem certa e o efeito dependem de
inúmeros fatores, como dieta, polimorfismo genético etc. Se a dosagem estiver muito
alta, o fármaco estaria agindo em nível tóxico, ou seja, ultrapassou o nível terapêutico
ideal, ficando sem funcionamento terapêutico e podendo apresentar efeitos colaterais,
como a dor de cabeça. Assim, seria uma boa alternativa diminuir um pouco a dose e ver
como ela reagiria e também informar que o tempo médio para se notar o efeito do
antidepressivo no corpo é de 2-6 semanas, mas que os efeitos colaterais considerados
normais do remédio podem aparecer logo no começo. Outra informação importante
que deveria ser passada é que mesmo com esses sintomas, ela nunca deve parar de
tomar o antidepressivo abruptamente, pois uma interrupção desta natureza pode
causar efeitos colaterais muito fortes também. Por fim, a indicação de uma psicoterapia
iria agregar muito ao tratamento.

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