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UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO

Geografia Humana e Cultural


Diego da Silva Santos, Mateus Mariano Serrão, Natália Crivellaro Couto

CLAVAL, Paul. Uma geografia do próprio homem. In: _______. (org). A Geografia
Cultural. Florianópolis: Ed. da UFSC, 1999.

Segundo Paul Claval (1999, p.90) é impossível existir cultura sem o homem porque é sua
existência que dá sentido ao que conhecemos, produzimos, vestimos e transmitimos aos
demais, após colocarmos um pouco de nossa essência também. Através da cultura o ser
humano desenvolve suas relações pessoais, é inserido na sociedade e tem seu papel
reconhecido como contribuinte da realidade que o cerca.

1. A cultura e as etapas da vida


A cultura não é a mesma em todos os lugares e em uma organização familiar ela também não
segue determinado padrão. Os indivíduos recebem estímulos externos do ambiente e das
relações e cada um reagirá de diferentes formas.

1.1 A infância e a adolescência


Conhecimento inicial transmitido pela imitação e impregnação - Abertura de novos
horizontes pela escola - Adolescência como campo fértil de amadurecimento do indivíduo
com a cultura.

1.2 Continuidade e questionamento na idade adulta


Estudos, trabalho e entrada na vida ativa provocam mudanças provisórias ou definitivas no
domicílio e produz novos deslocamentos que são diferentes para homens e mulheres.
Receptividade e assimilação da cultura pelo adulto é diferente da pelo realizada pela criança e
adolescente.

1.3 A velhice
“Na medida em que não é mais confrontada aos problemas da vida ativa, a cultura que as
pessoas idosas adquiriram deixa de ter, de se adaptar e evoluir” (CLAVAL, 1999, p.94). A
vida estagna e a participação social diminui, a cultura não adquire mais o mesmo sentido a
não ser através das lembranças ou por procuração.

1.4 Os ritos de passagem

Acontecimentos biológicos Ritos de passagem

Nascimento Batismo/ Circuncisão

Puberdade Comunhão

Acasalamento Iniciação/ Casamento


Morte Cerimônias mortuárias/ Enterro
Retorno dos Mortos

2/2.1 Do indivíduo à pessoa/ O indivíduo imerso no grupo


Neste trecho Claval conceitua o indivíduo social, formado por códigos e conhecimentos
adquiridos sobre o mundo e as normas morais. Quanto à identidade, é apontado que ela seja
coletiva e individual ao mesmo tempo: individual nas atitudes e gostos, coletiva nos valores à
se respeitar. Em diversas culturas a falta grave as regras de conveniência podem levar à
exclusão da comunidade. Cabe à sensibilidade individual através das regras morais distinguir
o bem e o mal, o puro e o impuro, dentro do grupo ou meio que se vive.

2.2 A institucionalização da pessoa


"Existe pois uma geografia da natureza humana, por que ela é criação social." Construção de
valores que correspondem a uma certa lógica social. A coletividade resiste mais em
sociedades em que o indivíduo é capaz de reagir de maneira independente em conformidade
com o espírito da comunidade.

2.3 Cultivar-se e realizar-se


A cultura institui ordens ideais para qual os indivíduos devem se encaixar através de ações
para torná-los mais conformes à modelos valorizados pela sociedade. Algumas dimensões
desenvolvidas e domínio de técnicas nos propiciaram desde realizações pessoais até lugares
mais privilegiados socialmente. Entre estes trabalhos de dimensão estão o físico, o intelectual
e o domínio das artes. Esta educação ocorre no meio burguês, jovens experimentam piano,
pinturas e afins, não com finalidade de se tornarem artistas, mas para ter compreender a arte e
se satisfazer que o diferenciaria dos 'mortais'. (Estas ações de se cultivar são muito praticadas
em sociedades do consumo, não com finalidade de se criar, mas de se distrair)

3. Complexidade social, cultura e estratégias individuais


A cultura não é uma realidade passivamente endossada pelos indivíduos: estes não aceitam
forçosamente o que lhes é imposto e opõem-se frequentemente desde a mais tenra idade a
certas regras ou certas injunções. Nas estratégias sociais desenvolvidas, podem adotar
atitudes muito diversas em relação à cultura (Camilléri, 1980).

3.1 Estratégias individuais e sociedades de cultura estática e fechada


Inúmeras sociedades têm tendência a considerar que os saberes técnicos, os conhecimentos e
os valores sobre os quais são construídas não têm nenhuma necessidade de serem melhorados
ou modificados. Para melhorar seu status e se beneficiar do mais completo crescimento
cultural, a estratégia é então simples: desempenhar o máximo de papéis e ocupar no decorrer
de sua existência todas as posições, ao menos, as de responsabilidade.

3.2 Estratégias individuais e sociedades com culturas abertas


Para se afirmar no campo cultural, o indivíduo tem a escolha entre a busca da singularidade e
a realização pessoal.

1) Imitação e busca da singularidade: o papel da moda


Por que as pessoas imitam o que se faz ao redor delas? Para se identificar ao grupo onde
vivem. Mas a preocupação de copiar o vizinho, a mimesis dos gregos, é geralmente
contrabalançada pelo desejo de se singularizar. É a vontade de emergir da massa que
impulsiona a excentricidade.

2) A realização individual
A recompensa de um longo esforço é dupla: o sentimento de realização extraído por via
difícil é mais profundo do que aquele que produzem os setores mais fáceis e mais
superficiais. O domínio dos aspectos teóricos e normativos da cultura confere uma autoridade
intelectual, artística ou moral.

3.3 Situações de contatos e privilégios dos intermediários


A possibilidade de contatos múltiplos oferece outras estratégias culturais aos indivíduos
(Leach, 1954). O intermediário aparece frequentemente como um personagem privilegiado.
Seu domínio dos códigos múltiplos confere-lhe um certo prestígio, porém não é sempre por
escolha que se participa de duas ou mais culturas.

3.4 A experiência do relativismo cultural e a formação das elites


Ao frequentar vários grupos, descobre-se rapidamente a relatividade das convenções e das
normas que os caracterizam. As situações de contato cultural abrem assim a via aos
questionamentos. Em face ao perigo de uma eventual subversão, a reação pode ser, ao
inverso, a de se fechar no seu próprio sistema e condenar aqueles com os quais está se
confrontando. O desenraizamento provido pela elite é praticado através de grupos
especializados na manipulação de seus aspectos abstratos, filosóficos, científicos, religiosos
ou artísticos.

Conclusão
O indivíduo é moldado pela cultura: o que sabe fazer, suas maneiras de sentir e de ver, suas
aspirações, são recebidos de seu círculo ou construídos a partir dos elementos por ele
fornecidos. O que adquirem são atitudes para a ação, procedimentos para enfrentar situações
variadas, regras a seguir ou modelos a imitar. O indivíduo reage às condições de vida, tira
partido de sua experiência e transmite àqueles que o circundam aquisições que diferem
daquelas com as quais foi beneficiado na infância. Nas sociedades que concebem sua cultura
como um todo já constituído, as incitações a inovar são fracas e as mudanças de paradigma
são mal vistas. Nas culturas abertas, a estruturação do eu é tal que os indivíduos filtram o que
lhes é proposto.

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