Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Psicossomática um estudo
histórico e epistemológico
AUTORIASCIMAGO INSTITUTIONS RANKINGS
Resumos
Text
Datas de Publicação
Histórico
Resumos
Artigo originado da Dissertação de Mestrado “ Uma Contribuição ao Estudo da Relação
Câncer de Mama e Alexitimia”¹. Trata-se de um detalhado estudo teórico sobre o tema,
abrangendo a psicossomática desde suas origens às abordagens atuais. Procura fazer um
levantamento de quais doenças que se encontram sob esta denominação e qual o fator
etiológico predominante se biológico ou psíquico. Analisa também a alexitimia em sua
relação com a psicossomática. Sugerir ainda o termo somatopsicose como o mais indicado
para referenciar as doenças designadas psicossomáticas.
This article originated from the mastership dissertation “ A Contribution to the study on the
relationship of breast cancer and alexithymia” . The detailed study about this teme shows
the deasese psychosomatic from yours origin until now. This study shows yet which
desease are called desease psychosomatic and which factor etiologic main and if the
desease are biologic or psychic. This study analyses the alexitymia and yours relationship
with psychosomatic. The author suggests the word somatic-psycosis with the best word to
indicate deseases called deseases psychosomatics.
ARTIGOS
RESUMO
ABSTRACT
This article originated from the mastership dissertation A Contribution to the study on the
relationship of breast cancer and alexithymia . The detailed study about this teme shows
the deasese psychosomatic from yours origin until now. This study shows yet which
desease are called desease psychosomatic and which factor etiologic main and if the
desease are biologic or psychic. This study analyses the alexitymia and yours relationship
with psychosomatic. The author suggests the word somatic-psycosis with the best word to
indicate deseases called deseases psychosomatics.
Para Alexander, o termo psicossomático deve ser usado apenas para indicar um método
de abordagem, tanto em pesquisa quanto em terapia, ou seja, o uso simultâneo e
coordenado de métodos e conceitos somáticos - de um lado e métodos e conceitos
psicológicos por outro lado. (Alexander, 1989, p.42).
A. Dias (1992, p.31), refletindo a relação entre sujeito e linguagem, começa por criticar o
termo psicossomático. Afirma que é um termo gasto, pois entrou no domínio do
psiquiátrico e da medicina com uma tal amplitude que, se bem que criando um novo
espaço de investigação, também o diluiu noutros espaços afins. Propõe ainda que, a
partir de algumas indicações deixadas por Bion, há necessidade de se interrogar quanto à
inespecificidade do termo psicossomático e sua pertinência.
Sami-Ali (1992, p.159) ao refletir sobre a ligação entre o orgânico e o relacional começa
por distinguir medicina psicossomática e psicossomática. Assim, a medicina
psicossomática é uma maneira de introduzir variáveis psicológicas num domínio que se
define como orgânico, adicionando variáveis psíquicas às variáveis orgânicas.
Vemos que, os contributos da psicanálise para a teoria psicossomática são valiosos, uma
vez que, qualquer que seja o momento de sua elaboração, a teoria psicossomática
permanece estreitamente ligada à psicopatologia e mais especialmente à noção de
psiconeurose, o que continua sendo a norma mesmo quando dela nos afastamos
deliberadamente (Sami-Ali, 1993, p.86).
Na América, o interesse pela psicossomática surge por volta dos anos 30, consolidando-se
em meados deste século com Alexander e Dunbar da Escola de Chicago. Estes autores
consideram que os transtornos psicossomáticos seriam conseqüência de estados de
tensão crônica, relativa à expressão inadequada de determinadas vivências, que seriam
derivadas para o corpo. (Cardoso, 1995, p.10). Defendem ainda a questão da
especificidade da doença psicossomática numa visão psicogenética. De acordo com a
hipótese da especificidade, as diferentes doenças psicossomáticas corresponderiam
diferentes factores psicológicos, que para Dunbar seriam os tipos de personalidade e
para Alexander os conflitos ou situações de vida significantes (Cardoso, 1995, loc. cit.)
Para este autor, apenas no campo das inervações voluntárias pode haver a expressão
simbólica do conteúdo psicológico, enquanto que é pouco provável que nos órgãos
internos haja expressão simbólica. Para explicar este funcionamento, Alexander cria a
noção de neurose orgânica, que abrange todos os distúrbios funcionais dos órgãos
vegetativos, causados por impulsos nervosos, originados por processos emocionais que
ocorrem em algum lugar nas áreas cortical e subcortical do cérebro (Alexander, 1989,
p.37).
Outro perfil estudado por ela se refere ao paciente fraturado. Ao contrário dos pacientes
coronarianos, estes Tendem a agir sob impulso repentino e, freqüentemente, manifestam
hostilidade mal controlada contra pessoas em posição de autoridade; ao mesmo tempo,
seu comportamento é motivado por sentimentos de culpa e mostra uma tendência a auto-
punição (Alexander, 1989, p.59)
Alvarez (1930, cit. Alexander, 1989), clínico e estudioso de perfis, tem aperfeiçoado
o conceito de personalidade própria do portador de úlcera péptica (Alexander, 1989,
p.58), concluindo que estas pessoas demonstram características do tipo empreendedor,
enérgico e agressivo. No entanto, Draper (1924, cit. Alexander, 1989) diz que um grande
número de pacientes com úlcera péptica demonstram que sob a aparência de
empreendedor, enérgico e agressivo há característica de dependência e, conforme ele as
expressou, femininas (Alexander, 1989, loc. cit.).
Apesar da aceitação e da popularidade desta teoria nos anos 70, alguns autores (Price,
1982; De Flores e Valdes, 1986; cit. Léon, 1993, op. cit.) questionam o peso destas
características nas doenças coronarianas. Parece que somente certas características da
personalidade do tipo A, tais como a agressividade e a cólera, poderiam ser ligadas à
aparição de doenças coronárias. Um outro problema ameaça a validade do tipo A, é o fato
de ele não predizer os riscos coronários em mulheres (Paulhan, et al. , 1994, p. 34,
tradução nossa).
Em uma reversão de perspectiva das escolas americanas, no final dos anos 50, a França,
a partir de nomes com o P. Marty, M de MUzan, M. Fain e C. David, inicia uma
investigação em psicossomática.
Marty e MUzan (1983, cit. Silva e Caldeira, 1992, p.113),. a partir dos estudos realizados
por Fain e David, sobre a vida onírica e aplicados à seus pacientes, perceberam que estes
tinham uma forma peculiar de pensar e de lidar com suas emoções. A esta forma de
pensamento, estes autores denominaram de pensamento operatório. Portanto, o
conceito de pensamento operatório surgiu nos últimos anos como conseqüência do
desenvolvimento da escola francesa e americana, para designar a forma de pensar e de
lidar com emoções de pacientes definidos como psicossomáticos.
Esta forma peculiar de pensamento seria para eles um pensamento consciente que se
organizaria por causa da falha do pré-consciente, acarretando assim impossibilidade de
comunicação entre o consciente e o inconsciente. Conseqüentemente , os sujeitos que
apresentam esse estilo peculiar de pensamento teriam uma pobreza fantasmática e uma
precária vida onírica. Portanto, a capacidade simbólica e o valor de sublimação seriam
quase inexistentes acarretando um prejuízo considerável da capacidade de produção, quer
científica quer artística, desses sujeitos.
Para esses autores, em um primeiro momento parece que não há nenhuma relação entre
o pensamento operatório e o processo primário. No entanto, determinadas manifestações
verbais perversas ou agressivas, que surgem de repente desconectadas do contexto,
denunciam uma certa ligação com o inconsciente. Apesar da existência dessa ligação, o
contato estabelecido entre eles ocorre en el nível mas boyo, el menos elaborado, mas
acá de las primeiras elaboraciones integradoras de la vida pulsional 6 . (Marty y MUzan,
1963, p.719).
Jonhn Nemiah e Peter Sifneos, dois analistas americanos, nos anos 70, que se
propuseram a realizar pesquisas sobre a forma peculiar de se comunicar dos pacientes
psicossomáticos, constataram, por meio do estudo minucioso de entrevistas psiquiátricas,
gravadas com pacientes que apresentavam alguma doença psicossomática clássica, que
dezesseis desses pacientes demonstraram uma impressionante dificuldade de expressar
ou descrever suas emoções através da palavra, assim como uma acentuada diminuição
dos pensamentos fantasmáticos.
Apesar desses estudos atuais demonstrarem que essa maneira peculiar de se comunicar
não é específica dos pacientes com doenças psicossomáticas clássicas, a contribuição de
Nemiah e Sifneos é de importância fundamental, pois chamaram a atenção para um
aspecto do funcionamento psíquico relevante tanto para a medicina psicossomática quanto
para a psicanálise. Apontaram, principalmente para a psicanálise atual, uma direção a
tomar sobre a exploração da vida intra-psíquica via estudo da comunicação entre paciente
e analista.
De acordo com Mc Dougall (1974, cit. Taylor 1990), ao contrário do que acontece na
histeria de conversão, onde o corpo se rende à dramatização simbólica do conflito intra-
psíquico, no fenômeno alexitímico o corpo segrega seus próprios pensamentos. Sendo
este corpo sentido como se pertencesse a alguém (mãe) ou a alguma coisa (mundo
externo). Para essa autora, o fenômeno alexitímico acontece em decorrência de
perturbações da relação mãe-filho, sendo esse fenômeno uma patologia pré-neurótica
extremamente precoce dominada pelos mecanismos de defesa de clivagem e de
identificação projetiva (Mc Dougall, 1980, 1982 cit. Taylor, 1990). Essas perturbações
correspondem à fase do desenvolvimento simbiótico, onde as representações de si e as
representações do objeto não são nitidamente diferenciadas e também os símbolos não
são utilizados de forma concreta. Portanto, do ponto de vista de Mc Dougall (1982), a
alexitimia é uma dèfense singulièrement forte contre la douleur psychique et les anxiétés
psychotiques associées aux objtes internes archaiques 7 (Taylor, 1990, p. 778).
Krystal (1973, cit. Silva e Caldeira, 1992) realizou estudos em toxicômanos, vítimas de
holocaustos e indivíduos psicossomáticos, e concluiu que a alexitimia é mais que uma
defesa, como postulou Mc Dougall, é uma parada do desenvolvimento afetivo decorrente
de um traumatismo infantil, ou uma regressão da fonction affetictive-cognitive après un
traumatisme catastrophique à lagê adulte8 (Krystal, 1979,1982-1983 cit. Taylor, 1990, p.
778). Portanto, a concepção de alexitimia de Krystal se aproxima da noção de Bion (1977)
de dune fonction alpha déficente9 e também da concepção Kleiniana de fixation ou de
régression par rapport à la position paranóide-schizóide 10 (Taylor, 1990, p. 779).
Nemiah e Sifneos (1970, cit. Taylor, 1990) perceberam, através desses estudos que havia
uma nítida diferença na maneira como se queixavam os pacientes alexitímicos dos
pacientes neuróticos. Enquanto os pacientes neuróticos se queixavam de sintomas
emocionais e dificuldades psicológicas, os pacientes alexitímicos se queixavam de
sintomas somáticos, onde na maioria das vezes não havia qualquer ligação entre os
sintomas e qualquer doença física que pudessem ter. A maneira como esses pacientes se
comunicavam se caracterizava por um pensamento simbólico em que as pulsões, os
sentimentos e os desejos não apareciam. Sendo esse um pensamento vulgar, particular,
preocupado com detalhes e acontecimentos externos, ou seja, voltado para o mundo
exterior em detrimento do mundo interior.
Outra característica, apontada por esses autores, se refere a uma extraordinária
dificuldade desses sujeitos em reconhecer e descrever seus próprios sentimentos, assim
como, em diferenciar as sensações corporais dos estados emocionais. (Nemiah,
Freyberger e Sifneos, 1976, cit. Taylor, 1990). Ainda, nessa concepção, esses sujeitos
demonstraram ser hiperadaptados e com elevado grau de conformismo social,
aparentando ser às vezes um neurótico com une personnalité hystérique ou un caractére
obsessionnel11 (Taylor, 1990, p. 771). No entanto, Nemiah (1973) faz uma distinção,
dizendo que as personalidades alexitímicas apresentam uma ausência de pensamento
fantasmático associados ao conflito psicológico (Taylor, 1990).
Partindo desta concepção, Hipócrates, cem anos depois, define saúde como sendo um
equilíbrio harmonioso dos elementos e das qualidades de vida (Chrousos e Gold, 1993,
p.480) e doença como desarmonia sistemática destes elementos. (Chrousos e Gold,
1993, loc. cit.). Hipócrates sugere ainda que as forças que provocam a desarmonia - a
doença - têm sua origem nas fontes naturais e não de fontes sobrenaturais e que as
forças de contra equilíbrio ou adaptativas eram também de origem natural (Chrousos e
Gold, 1993, loc. cit.).
Esta síndrome, de acordo com este autor, consiste em três fases: a de alarme, a de
resistência e a fase de exaustão, sucessivamente. No entanto, para que haja o stress, não
é necessário que a fase se desenvolva até o final e, se a reação ao agressor for muito
intensa ou se o agente do estresse for muito potente e/ou prolongado, poderá haver, como
conseqüência, doença ou maior predisposição ao desenvolvimento da doença (Rodrigues
e Gasparini, 1992, p.99).
Holmes et Rahe, (1967, cit. Cardoso, 1995), partindo da noção de stress e interessados
em investigá-los, elaboraram um instrumento para medí-lo. Desenvolveram, desta forma,
uma Escala onde os life events são pontuados em função do esforço adaptativo que
exigem (Life Change Units ou LCU) (Cardoso, 1995, op. cit.), onde haveria limites a partir
dos quais se constituiriam níveis de risco para o aparecimento de doenças, dado que o
esforço de adaptação em causa teria um efeito cumulativo nos sujeitos, em relação a sua
capacidade de resposta. Daí que a pontuação obtida constituiria um bom indicador
preditivo de um adoecer psicossomático (Villemain, 1989, cit Cardoso, op. cit.).
A patologia orgânica, conforme a perspectiva desse autor, não pode ser integrada num
modelo histórico, nem no modelo da neurose atual e nem no modelo da psicose, uma vez
que tudo é relacional, isto é, o problema da patologia orgânica deve ser visto globalmente
a um funcionamento regido em primeiro lugar pelos ritmos biológicos, sendo que nesses
ritmos há sempre alternância entre dois estados fundamentais, o sonho e a vigília, que
são regidos por qualquer coisa que se encontre além ou aquém do psíquico (Sami-Ali,
1987, op. cit.). A partir dessa perspectiva Sami-Ali coloca que toda a questão
psicossomática deve ser considerada na relação onde não haja dum lado o psíquico e do
outro do orgânico. O que realmente existe é qualquer coisa que reenvia a uma relação
original, existente antes do nascimento e depois do nascimento. Está-se em relação desde
a concepção (Sami-Ali, 1987, op. cit.).
Desta forma, Sami-Ali contesta Fairbaim, quando este tenta assentar a relação precoce à
procura do objeto, e também Anzieu ou Bowlby, quando estes procuram relacionar essa
relação aos laços de vinculação, uma vez que, para ele, a vida psíquica começa muito
antes da fase narcísica ou auto-erótica.
Outro aspecto relevante à psicossomática, conforme esse autor, diz respeito à maneira
como vê o sonho. Para ele, o sonho é uma criação da realidade e não uma realização do
desejo como é visto por Freud, sendo que está ligado aos ritmos biológicos. Paralelamente
a esses ritmos, Sami-Ali considera o espaço e o tempo como duas dimensões
fundamentais na compreensão da realidade humana (Sami-Ali, 1987, op. cit.), pois a
organização desse espaço e tempo é parâmetro para a análise e para a compreensão
dos fenômenos psicossomáticos (Sami-Ali, 1987, op. cit.).
Quando Sami-Ali articula a questão tempo e espaço, não a reduz a formas simbólicas.
Fala de um tempo e espaço ideais e da transposição de espaço em tempo e deste tempo
em espaço de representação, em relação com a projeção (Sami-Ali, 1987, op. cit.). É no
sonho que ocorre a objetivação de um mundo e na criação de um mundo objetivo, que se
torna subjetivo, uma vez que a projeção é a alucinação, é o facto de criar um mundo que
sou eu, e todos criam esse mundo (Sami-Ali, 1987, op. cit.).
Seguindo essa mesma concepção, outros autores trouxeram sua valiosa contribuição para
o movimento psicossomático. Contudo, essas contribuições não propiciaram resolução
quanto à fundamentação epistemológica da psicossomática. Nesse sentido, A. Dias (1994,
cit. Cardoso, 1995, op. cit.), de posse das contribuições epistemológicas de Bion, coloca o
adoecer psicossomático no contexto da relação entre pensamento, emoção e aparelho de
pensar o pensamento, onde o fenômeno alexitímico deve ser visto como manifestação da
separação entre o pensamento e aparelho de pensar o pensamento.
Referências bibliográficas
Dejours, Christophe. (1988). O corpo entre a biologia e psicanálise. Artes Médicas. Porto
Alegre.
Recebido em 20/07/99
Aprovado em 22/09/00