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UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO SEMI-ÁRIDO

CENTRO MULTIDISCIPLINAR DE PAU DOS FERROS


CURSO DE ARQUITETURA E URBANISMO
TEORIA E HISTÓRIA DA ARQUITETURA E URBANISMO III
FRANCISCA MARIZA DE CARVALHO

TEXTO SOBRE O FILME “MEU TIO” (MON ONCLE), DE JACQUES TATI

Profª. Drª. Anna Cristina Andrade Ferreira

PAU DOS FERROS – RN 2020


TEXTO SOBRE O FILME “MEU TIO” (MON ONCLE), DE JACQUES TATI
O filme “Meu tio” (Mon Oncle), do cineasta francês Jacques Tati, é uma
comédia que aborda o cotidiano de uma França no contexto de pós-guerra.
Jacques Tati mostra o forte contraste existente entre o padrão de vida em um
subúrbio velho e pobre de Paris, onde mora Monsieur Holut, e o cenário marcado
pela modernidade que envolvia a Europa neste período, onde mora a família da
irmã do Sr. Holut, o sobrinho e o cunhado. Faz-se evidente a crítica que o filme
busca fazer sobre a modernidade, que é retratada através do modo de vida
destes personagens e também pela arquitetura e decoração, para as quais o
filme chama atenção.
De início, já faz-se notório este contraste existente entre os dois estilos de
vida, retratando a desordem existente no antigo subúrbio, com cachorros se
divertindo nas ruas, a interação de pessoas numa feira, onde se localiza o prédio
que reside o Sr. Holut (Figura 01), uma construção simplória, antiga, repleta de
esquadrias desarmonizadas, estruturas fora de padrão, e em contrapartida a
isso, é retratado o centro urbano em que a modernidade se faz presente,
mostrando o padrão perfeito de automóveis, todos na mesma velocidade e
ordem.
Figura 01. Casa do Sr. Holut

Fonte: Vaz (2014)


Na arquitetura, vê-se todos os prédios seguindo as mesmas
características de construção, com a utilização de concreto, fachadas abertas,
envoltas por vidros, estruturas metálicas. Torna-se até mesmo confundível uma
escola, com uma empresa ou uma residência. É neste ambiente representado
de forma cinza e sem vida que se implanta a casa da família Pichard, uma
residência de alto padrão, que segue as características da arquitetura moderna,
como é conferida na Figura 02.
Figura 02. Casa da família Pichard.

Fonte: Helm (2012)


Feita de concreto e metal, as fachadas da residência possuem vidro, com
um jardim com pouca vegetação, e uma passarela que orienta exatamente o
caminho por onde as pessoas devem percorrer para alcançar a casa. Além disto,
a casa possui diversas funções automáticas, que invés de gerar facilidades no
dia-a-dia das pessoas, tendem a produzir bastante ruído. Os móveis são
escolhidos de acordo com as cores e o design, porém, além da estética não
oferecem conforto para os hóspedes.
É notório então que tais elementos da casa são apenas de aparência. Isso
também é demonstrado através do chafariz no jardim, o qual é acionado somente
com a visita de pessoas, e de acordo com seu nível social. No geral, a casa é
mostrada apenas para ser apreciada e não para ser habitada e usufruída de
forma confortável por pessoas. Gerard Pichard, sobrinho do Sr. Holut tem a vida
compartilhada entre ambos ambientes, e é perceptível que a criança demonstra
mais alegria com a convivência no subúrbio, juntamente com meninos pelas
ruas, sem tanta formalidade, como é conferida em sua casa.
Além disso, o Sr. Holut também não consegue se encaixar no padrão
exigido pela casa e nem muito menos pela cidade moderna. O mesmo, busca
soluções rápida, improvisadas e sem tanta formalidade, em diversas cenas, para
resolver os problemas que lhe surgem tanto na casa, como na cidade, o que
torna o filme bastante cômico.
Neste entendimento, o filme termina mostrando os avanços da
modernidade, ao som de picaretas e ruídos produzidos pela indústria, ao passo
que até as pessoas da vila mais humilde estão se adaptando ao modo de vida
moderno, produzindo uma sociedade sem vida e chata, onde se preza a
funcionalidade e a produção.

REFERÊNCIAS

(TATI, Jacques. Meu Tio (Mon Oncle). França, 1958)


VAZ, Sérgio. Meu Tio / Mon Oncle. 2014. Disponível em:
http://50anosdefilmes.com.br/2014/meu-tio-mon-oncle/. Acesso em: 15 dez.
2020.
HELM, Joanna. Cinema e Arquitetura: “Mon Oncle”. 2012. Disponível em:
https://www.archdaily.com.br/br/01-43127/cinema-e-arquitetura-mon-oncle.
Acesso em: 15 dez. 2020.

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