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DRE: 118061370
Habilitação: Letras: Português/Literatura
Disciplina: Cultura Portuguesa
Professora: Mônica Genelhu Fagundes
PROPOSTA 02
Resenha crítica de “As causas da decadência dos povos peninsulares nos últimos
três séculos”, de Antero de Quental.
Seguindo a lógica por ele estabelecida, portanto, faz-se mister entender como,
nessa perspectiva, a Contrarreforma seria um dos elementos responsáveis por
intensificar o declínio português. Fruto das modificações alavancadas pelo Concílio de
Trento, a Contrarreforma surge como um movimento de afirmação das crenças cristãs
frente aos questionamentos vários da Reforma Protestante. Dessa forma, na tentativa de
validar a ideologia doutrinadora do Catolicismo, cuja força via-se particularmente
atingida pelos pensamentos contrastantes e contestadores do Protestantismo, a Igreja
desencadeia a técnica atroz da Inquisição, feito que confere à sociedade lusitana uma
incólume nódoa. Segundo Antero de Quental, então, a medida, que unia um método de
doutrinação ideológica, compreendido pela figura dos valores cristãos da moral e do
bom-costume, à instituição social do Catolicismo, extremamente dogmática e
normativa, incita o surgimento de uma sociedade hipócrita e de aparências. Buscando
atender às regras católicas, os portugueses exporiam tudo o que, por trás de suas
máscaras, não lhes dizia respeito; um ciclo eterno de dissimulação que marcaria para
sempre a tessitura social lusitana.
Por fim, o cenário construído a partir da Era das Grandes Navegações, marcado
por inúmeras conquistas dos países ibéricos, em especial, de Portugal, constitui as bases
para a fundamentação do Mercantilismo. Todo esse panorama, oriundo de uma série de
ideias que concebem que a prosperidade de um Estado está diretamente relacionada à
quantidade de capital por ele acumulado, defende que o desenvolvimento de uma nação
deveria atrelar-se ao comércio exterior. A consequência, pois, é a formação de um ideal
de estado-nação que seria responsável por ditar as políticas econômicas que seriam
seguidas a partir de um viés protecionista e exportador. Na sociedade lusitana, contudo,
mesmo a descobertas de metais preciosos em suas colônias não foi capaz de atender as
demandas de uma grande parcela da população que, saída dos campos, busca a chance
de riquezas trazidas com as especiarias. O que se nota, assim, é que, apesar da difusão
de um ideal de prosperidade e de desenvolvimento, as Grandes Navegações inflam o
peito do povo português com promessas vãs que, outra vez, fomentam a construção de
uma sociedade utópica. Sem a sua grande força motriz, a produção agrícola do interior
do país, Portugal vê-se inevitavelmente atrasada após anos à vanguarda de seu tempo.