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Bioética no Final da Vida

Prof. José Luiz Fonseca Brandão

Belo Horizonte, 13 e 29 de junho de 2023


Bioética no Final da Vida

NASCER - VIVER - MORRER


Bioética no Final da Vida

QUANDO A VIDA SE INICIA?


Bioética no Final da Vida

QUANDO A VIDA SE INICIA?

INEXISTE CONSENSO!
Bioética no Final da Vida

QUANDO A VIDA TERMINA?


Bioética no Final da Vida

Uma pessoa está morta quando sofreu uma perda


irreversível de toda a capacidade de integrar e de
coordenar as funções físicas e mentais do corpo.
Bioética no Final da Vida

A morte ocorre quando:


- as funções espontâneas cardíaca e respiratória
cessaram definitivamente
- há cessação irreversível de toda a função cerebral
Bioética no Final da Vida

Diagnóstico de morte:
- ausência de pulso em grandes artérias
- midríase fixa
- ausência de atividade elétrica cerebral
Bioética no Final da Vida

A BIOÉTICA
NO FINAL DA VIDA
Bioética no Final da Vida

Só há uma oportunidade para morrer.


Cada paciente é único, sua condição é única e exclusiva.
The Doctor é uma pintura de 1891, de Luke
Fildes, que mostra um médico da era vitoriana
observando o estágio crítico da doença de uma
criança, enquanto os pais olham impotentes da
periferia.
Foi usada para retratar os valores do médico
ideal e as inadequações da profissão médica.
Bioética no Final da Vida

O Ser Humano no fim da vida está tão vulnerável


quanto no início da vida.
Bioética no Final da Vida

Evolução histórica do processo de morrer


Bioética no Final da Vida

Mudanças no processo de morrer


Idade Média - sem medo da morte
- anseio pela ressurreição
- medo de ir para o “inferno”
Atualidade - medo da morte / do processo de morrer
- sem preocupação com a ressurreição
- sem medo de ir para o “inferno”
Bioética no Final da Vida

Mudanças no processo de morrer


1900 (rápido) - epidemias
- acidentes (natureza / animais)
- doenças cardíacas
2022 (lento) - câncer
- doenças cardíacas crônicas
- doenças cerebrais crônicas
Bioética no Final da Vida

Morrer em casa ou no hospital?


As condições atuais das famílias são diferentes das condições
existentes no início do Século XX
Bioética no Final da Vida
Morte em hospital Morte em casa

Um paciente / muitos estranhos Uma pessoa / junto à família


Bioética no Final da Vida

A BIOÉTICA
NO FINAL DA VIDA
Bioética no Final da Vida

Edvard Munch (Adalsbruk 1863 - Oslo 1944)


foi um pintor e gravador norueguês, um dos
precursores do impressionismo e do
expressionismo.
Autor das obras "O Grito" e "A Menina
Doente“, foi um dos maiores representantes
da corrente expressionista do século XX.
Suas primeiras pinturas receberam a
influência dos pós-impressionistas, mas não
tardou a criar um estilo pessoal, baseado em
acentuar as linhas de expressão para
exteriorizar as sensações de angustia e
solidão do ser humano.
O Grito - 1893
Bioética no Final da Vida

QUESTÕES ÉTICAS AO MORRER


EUTANÁSIA / DISTANÁSIA / ORTOTANÁSIA
Bioética no Final da Vida

EUTANÁSIA
Eu = bom, boa
Bioética no Final da Vida

Eutanásia / “A boa morte”


- um ato médico que tem por finalidade acabar com a dor e a indignidade na doença
crônica e no processo de morrer

- objetiva eliminar a dor, o desconforto e o sofrimento

- elimina o doente
Bioética no Final da Vida

Eutanásia / “A boa morte”


- um ato de misericórdia e de solidariedade, proporcionando ao doente que está
sofrendo uma boa morte, suave e sem dor

- contudo, provoca a morte antes da hora


Bioética no Final da Vida

Eutanásia Social / Mistanásia


- processo desencadeado pela omissão de socorro

- decorrente da precariedade dos serviços de

atendimento médico e assistência à saúde


Bioética no Final da Vida

Eutanásia Social / Mistanásia


Bioética no Final da Vida

Eutanásia Social / Mistanásia


Diz Diego Gracia:
“Se a sociedade primeiro coloca as pessoas em situações de marginalização e
injustiça, que são piores que a morte, e depois atende com toda solicitude os desejos
de morrer de quem se encontra em tal estado, acredito que temos razões para
afirmar que essa sociedade envelheceu moralmente”
Bioética no Final da Vida

Código de Ética Médica


Capítulo III – Responsabilidade Profissional

É vedado ao médico:
Artigo 14 – Praticar ou indicar atos médicos
desnecessários ou proibidos pela legislação vigente
no País.
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Código de Ética Médica


Capítulo V – Relação com pacientes e familiares

É vedado ao médico:
Artigo 41 – Abreviar a vida do paciente, ainda que
a pedido deste ou de seu representante legal.
Bioética no Final da Vida
Bioética no Final da Vida

Dionísio (Baco), filho de Zeus e Sêmele (mortal de Tebas), nascido do fogo e


amamentado pela chuva, foi criado pelas ninfas do vale de Nisa, vagando por
lugares distantes e estranhos ensinando aos homens o cultivo da vinha e os
mistérios de seu culto, sendo aceito como o deus do vinho.
Dionísio tinha momentos de bondade e generosidade, mas também podia ser cruel
e induzir os homens a atos pavorosos. Seu culto era centrado em dois conceitos
muito distantes entre si: o da liberdade, alegria e êxtase, e o de um selvagem
brutalidade. A quem o cultuasse, podia dar uma coisa ou outra. Ao longo de sua
história de vida, ele, por vezes, é a benção do homem, por outras, sua ruína.
O que o tornava tão diferente de um momento para outro era essa natureza dupla
do vinho e do seu deus. Ele era o benfeitor dos homens e também seu destruidor.
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DISTANÁSIA
Dis = ato defeituoso
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= encarniçamento terapêutico

DISTANÁSIA = obstinação terapêutica

= futilidade terapêutica
Bioética no Final da Vida

Distanásia
- usa a tecnologia para prolongar, penosa e inutilmente, o processo de agonizar e
morrer

- considera que o grande valor é proteger a vida humana

- considera a quantidade de vida mais importante que a qualidade de vida


Bioética no Final da Vida

Distanásia
- considera que todos os recursos disponíveis devem ser utilizados, buscando
prolongar ao máximo a vida humana

- apresenta-se com paradigmas tecno-científico e comercial-empresarial

(lucro com uso de medicamentos, produtos, equipamentos, exames)


Bioética no Final da Vida

Código de Ética Médica


Capítulo I – Princípios Fundamentais

XXII – Nas situações clínicas irreversíveis e terminais,


o médico evitará a realização de procedimentos
diagnósticos e terapêuticos desnecessários ...
Bioética no Final da Vida

ORTOTANÁSIA
Orto = correto, em seu tempo
Bioética no Final da Vida

Ortotanásia / “Arte de morrer bem”


- procura respeitar o bem-estar da pessoa, abrindo pistas a buscar garantir, para
todos, a dignidade no viver e no morrer

- sabe que a morte não é uma doença a curar, mas algo que faz parte da vida
Bioética no Final da Vida

Ortotanásia / “Arte de morrer bem”


- permite ao doente enfrentar seu destino com certa tranquilidade

- integra conhecimento científico, habilidade técnica e sensibilidade ética no cuidado


- sempre respeitando a autonomia pelo - direito de saber
- direito de decidir
- direito de não ser abandonado
Bioética no Final da Vida

Código de Ética Médica


Capítulo I – Princípios Fundamentais

XXII – Nas situações clínicas irreversíveis e terminais,


o médico evitará a realização de procedimentos
diagnósticos e terapêuticos desnecessários e propiciará
aos pacientes sob sua atenção todos os cuidados
paliativos apropriados.
Bioética no Final da Vida

Receios ou medos no processo de morte


1. Dor
2. Dispneia
3. Desconforto
4. Angústia (frente ao momento da morte)
5. Solidão / Abandono
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CUIDADOS PALIATIVOS
Bioética no Final da Vida

CUIDADOS PALIATIVOS
I - ACOLHER
II - NUNCA ABANDONAR
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Procedimentos indicados
Dor - analgésicos, antidepressivos, opioides
Dispneia - oxigênio, broncodilatadores, mucolíticos
Desconforto - sonda vesical, clister, SNG, curativos
Infecção - antibióticos, drenagens
Insônia - sedativos, antidepressivos
Bioética no Final da Vida

O sentimento de morte com a perda de


pessoas queridas o acompanhou por toda sua
vida e convertendo-se em um dos temas
recorrentes em suas obras.
Entre 1908 e 1909, esteve em uma clínica
psiquiátrica em Copenhague, na Dinamarca.
Ele mesmo se apresentou na clínica, ciente de
que precisava de ajuda.
Achava que diabos o perseguiam, ouvia
vozes, tinha alucinações e insônia, bebia
demais e sofria paralisações súbitas.

A Menina Doente - 1886


Bioética no Final da Vida

ESPIRITUALIDADE
Bioética no Final da Vida

“Há um momento para tudo e um tempo para todo


propósito debaixo do céu. Tempo de nascer, e tempo de
morrer; tempo de plantar, e tempo de arrancar a
planta”.

Eclesiastes (Ecl) 3,1-2


Bioética no Final da Vida

ESPIRITUALIDADE

RELIGIOSIDADE
Bioética no Final da Vida

= conexão do humano com o Divino

ESPIRITUALIDADE = transformação da vida para vivê-la

spiritus = sopro
= reencontro com a essência
Bioética no Final da Vida

“Propensão humana a buscar


significado para a vida por meio de

ESPIRITUALIDADE conceitos que transcendem o tangível, à


procura de um sentido de conexão com
algo maior que si próprio”

Guimarães, Hélio Penna. O impacto da


espiritualidade na saúde física. Rev. Psiq. Cli
Bioética no Final da Vida

= manifestação do sagrado

RELIGIOSIDADE = vinculação com doutrina ou instituição

religare = religar
= prática de ritos ditos sagrados
Bioética no Final da Vida

Manifestação do comportamento humano


inserida em uma cultura, com

RELIGIOSIDADE características de cunho e evolução


históricos, modificados pela evolução do
homem e pela inserção de novos valores.
Bioética no Final da Vida

“Indivíduos em período final da vida buscam a


espiritualidade por meio de diferentes perspectivas”

The Psychological and Spiritual Dimensions of Palliative Care: A


Descriptive Systemic Review
Neuropsychiatry (London) (2018) 8(2), 484-494
Bioética no Final da Vida

“As evidências crescentes demonstram que o sofrimento espiritual é


um aspecto significativo do sofrimento geral em pacientes com
cuidados paliativos”

Visão geral da espiritualidade em cuidados paliativos


Bioética no Final da Vida

Sobre a morte e o morrer.


Elizabeth Kübler-Ross

Cinco estágios sobre a morte:


- Negação
- Raiva
- Barganha
- Depressão
- Aceitação
Bioética no Final da Vida
Este quarto de enfermo, tão deserto
de tudo, pois nem livros eu já leio
e a própria vida eu a deixei no meio
como um romance que ficasse aberto...

que me importa este quarto, em que desperto


como se despertasse em quarto alheio?
Eu olho é o céu! Imensamente perto,
o céu que me descansa como um seio.

Pois só o céu é que está perto, sim


tão perto e tão amigo que parece
um grande olhar azul pousado em mim.

A morte deveria ser assim:


um céu que pouco a pouco anoitecesse Mário Quintana
e a gente nem soubesse que era o fim... 1906 - 1994
Bioética no Final da Vida

Décima sexta semana

A morte como conselheira

Rubem Alves

In: Da morte: estudos brasileiros


Bioética no Final da Vida

Obrigado a todos.

Até a próxima aula!

Prof. Brandão

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