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Blêmios

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Os blêmios (do egípcio antigo: brhm, em


grego clássico: Blλέμμυες ou Blλέμυες; em Blêmios
latim: blemmyæ), também conhecidos como
blemitas ou bleminges, um antigo povo
inicialmente nômade, que habitava desde o
II milênio a.C. até o século V a Baixa Núbia.
Os blêmios foram obrigados a cada vez mais
se refugiarem nas regiões montanhosas do
deserto oriental do Alto Egito e da Alta
Núbia, passando a dominar a região
conhecida como Dodecasqueno (a área que
se estende da primeira catarata até o antigo
Templo de Hierasicamino a 120 km ao sul de
Assuão). [1]

São a origem do mito sobre um povo


fantástico de homens sem cabeça da tradição
romana, eles teriam olhos nos ombros e boca
no tórax.

Mapa Localizando o território dos blêmios


Etnogênese: antecessores e
População total
sucessores
Regiões com população significativa
A caracterização étnica dos blêmios é
problemática. Além de habitarem uma região  Egito
antiga, lá habitavam pessoas de várias  Sudão
famílias linguísticas. [2] A opinião da maioria
considera que os blêmios são os sucessores Línguas
dos Medjai, que emigraram para o Egito no
segundo milênio para servirem como forças Beja (Bedaui)
policiais. No entanto, deve-se levar em conta Religiões
que os Medjai eram de etnia nilo-saariana,
como testemunham as inscrições meroíticas, Grupos étnicos relacionados
enquanto a área ocupada pelos blêmios é
ocupada atualmente pelos povos cuchíticos. Beja

Outros consideram os blêmios, por sua vez,


os ancestrais dos bejas, [3] ou pelo menos de uma fração deles, os Bisjarins[4] ou os Ababda.[5]

Um ponto de vista diferente, ligado às fontes greco-romanas clássicas, considera-os tribos etíopes, mas deve
ser levado em conta que essas fontes aludem a um conceito amplo da Etiópia, [6] referindo-se aos territórios
ao sul do Egito. habitado por populações negras. O mesmo acontece com a sua atribuição como tribo líbia,
uma vez que a Líbia, em sentido amplo, refere-se à
África que rodeia o Egito. [7]

Há também referências romanas que os identificam


como árabes, possivelmente influenciados por suas
incursões na Península do Sinai. [8]

História
Durante o Império Novo Egípcio, os blêmios eram
conhecidos como bleu, segundo as inscrições
hieroglíficas, nas fontes egípcias da época de No arco ocidental na nave com um afresco gótico de
Ramessés IX, [9][10] embora exista muita discussão 1511 da Igreja de Dalbyneder Dinamarca. estão
da época em que chegaram a Baixa Núbia, e retratados dois blêmios, que simbolizavam a avareza
mesmo se sempre foram nômades, se em alguma e a gula, dois dos sete pecados capitais
época se estabeleceram, se dominaram certas
regiões ou se foram dominados pelos Nobácios .[11]

O Reino de Cuxe principalmente em sua fase meroítica foi uma grande potência na África durante o
período clássico. [12] [13] Após o declínio de Cuxe apareceram na região vários reinos que foram fortemente
influenciados pelos meroítas, por exemplo, a fase de Ballana do Reino da Nobácia. [14]

O papel dos blêmios na história da Baixa Núbia durante o período meroítico tardio (após a queda de Cuxe)
não é claro. [15] Monnert de Villard [16] e Hoffman, Tomandl e Zach acreditam que os blêmios eram os
principais núbios que viviam em grande parte da Baixa Núbia no século I [17] Török, por outro lado,
acredita que os blêmios não poderiam ter tido uma posição de destaque no Vale antes de 373, embora eles
fossem mencionados nas inscrições demóticas de Filas. Isso levou muitos pesquisadores a concluírem que
os nobácios formaram o estado meroítico sucessor após o declínio dos cuxitas de Meroé. [18] A partir daí, os
blêmios passaram a ser reconhecidos como um povo nômade associado ao declínio de Meroé. [19] [20]

As inscrições dos axumitas deixam claro que depois que estes conquistaram os cuxitas, e que os os
'nobácios foram os sucessores ao sul, mas indicam também que os blêmios eram o poder dominante na
Baixa Núbia nesta época. [11]

Outra indicação que corrobora com este ponto de vista pode ser vista nos registros em Napata que deixam
claro que no século VII a.C. os blêmios estavam entrando na Baixa Núbia. [21] Esses registros mostram que
essas pessoas reconheciam a supremacia napatana. E entre os séculos V e IV a.C. esses registros afirmam
que os blêmios foram assentados na Alta e Baixa Núbia, após serem derrotados pelo rei Harsiotef
(r. 404–369 a.C.). [22]

As fontes clássicas deixam claro que embora os cuxitas em Meroé fossem a potência dominante na Núbia e
no Sudão nessa época, havia também muitos estados independentes associados [13] Entre os séculos IV e
II a.C., a Baixa Nubia era pouco povoada. Mas a essa altura muitos blêmios foram assentados ali.
Eratóstenes afirma que eles foram reconhecidos como súditos dos reis meroíticos (Cuxe). [23]

Por volta do século I a.C., Estrabão classificou os blêmios como subordinados dos meroítas. No século
seguinte, os nobácios foram mencionados como vivendo a sul de Meroé, na margem ocidental do Nilo. [23]
Os blêmios parecem ter tido relações muito íntimas com os meroítas e eram reconhecidos por estes como
um importante grupo subordinado dentro da estrutura meroítico. Isto explicaria Eusébio de Cesareia
mencionar a visita de embaixadores dos meroítas e dos blêmios à corte egípcia, [24] provavelmente por volta
de 336. [25] V. Christides, afirma que os blêmios deram as coroas de Balana ao imperador Constantino. [11]
[26]

Os blêmios adoravam o deus Mandúlis e provavelmente muitas das divindades meroíticas à medida que se
tornavam aculturados à civilização meroítica. Devido ao grande número de blêmios na Baixa Núbia, um
templo em homenagem a Mandúlis foi construída entre 206 e 186 a.C., em Calabexa pelo rei Arcamani. [11]
Os blêmios eram muito poderosos por volta de 249-251, atacaram o Egito. [18] Por volta de 297, os
romanos estavam pagando um subsídio para os nobácios apaziguarem a região de Dodecasceno, e servirem
como um "tampão" entre os romanos e os blêmios. [27]

Nos anos 370 começamos a ouvir mais sobre os blêmios em fontes clássicas. Em 373, atacaram os romanos
nos Dodecasceno. Este ataque é registrado em Filas na inscrição demótica Ph.371. [28] [29] Por volta de
374, os blêmios também estavam atacando a Península do Sinai. [21]

Uma inscrição meroítica descoberta em Calabexa conhecida como Inscrição de Calabexa apoia a visão de
que os blêmios controlavam grande parte da Baixa Núbia após o declínio dos meroítas Esta inscrição deixa
claro que Caramadoie foi reconhecido como um importante rei na Baixa Núbia. Aparecia nas inscrições que
seu pai era Patatecaie fundador do Império e que seu filho e sucessor era Isamenie ou Icemne. [11]

Há evidências de que Isamenie foi bem sucedido em manter o império blêmio. A maioria dos pesquisadores
acredita que uma outra inscrição grega em pidgin em Calabexa conhecida como Inscrição de Icemne,
provavelmente se referia a Isamenie. [18] Os blêmios continuaram a ser o maior poder na Baixa Núbia até
450 quando foram derrotados pelos nobácios liderados pelo rei Silco.[30] De acordo com a inscrição de
Silco, em 450 Silco derrotou o rei blêmio Fonene. [31]

A pista documental dos blêmios desaparece, embora se tenha conhecimento de um rei chamado Bachia e de
alguns vestígios arqueológicos que datam do século VII em torno de sua capital no deserto Deraeibe,
localizada entre Uádi Halfa e o Mar Vermelho. [32] A última menção às blêmios aparece em 758 quando os
governantes abássidas do Egito quebram o baqt (tratado de não agressão) o que desencadeou incursões
blêmias. [33]

Hoje, os descendentes dos blêmios fazem parte dos bejas, que incluem as tribos de Bixarins, Amaras e
Hadendoas. Em todo o sudeste do Egito e nordeste do Sudão, estima-se que existam um milhão de falantes
do beja, embora muitos deles também falem árabe. A maioria dos bejas continua a viver como nômades,
pastoreando camelos e gado na região árida que, tempos atrás era mais verdejante, também abrigava seus
ancestrais. Alguns grupos bejas são famosos pela sua reclusão, outros, como os criadores de camelos como
os Bixarins, tiveram contato prolongado com os povos do Vale do Nilo. [34]

Referências
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d=HistSciTech.Cyclopaedia01&entity=HistSciTech.Cyclopaedia01.p0257). History of
Science: Cyclopædia, p. 170 (em inglês). Consultado em 18 de fevereiro de 2019
2. Yinger, John Milton (1994). Ethnicity (https://books.google.com.br/books?id=ZVpBivDW8eY
C). Source of strength? Source of conflict? (em inglês). Albany: State University of New York
Press. ISBN 9780791417973.
3. Janet Starkey: Perceptions of the Ababda and Bisharin in the Atbai (https://web.archive.org/w
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4. Janet Starkey,L’Etbaye ou pays habité pas les Arabes Bichariehs. (https://web.archive.org/w
eb/20090411130710/http://www.dur.ac.uk/justin.willis/starkey.htm) Géographie, ethnologie,
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5. Pete Francis, The Bead Trade In The Indian Ocean, With Special Reference To Berenike,
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2.html) (Part Two). (em inglês)
6. Snowden, Frank M. (1970). Blacks in Antiquity: Ethiopians in the Greco-Roman Experience
(https://books.google.com.br/books?id=37MTRCr9oAUC&pg=PA117#v=onepage&q&f=fals
e) (em inglês). [S.l.]: Harvard University Press, p. 117. ISBN 9780674076266
7. Nubia (https://books.google.com.br/books?id=6tm4ccynIEcC&pg=PA823#v=onepage&q&f=f
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9. Muhammad Shamsaddin Megalommatis (2006), Sudan's Beja / Blemmyes, and their Right to
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10. Robert T. Updergraff (1988), The Blemmyes I: (https://www.bu.edu/ict/anrw/pub/II/10/updegraf
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13. Samia B. Dafa'alla, Art and Industry: (https://www.penn.museum/sites/expedition/art-and-indu
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14. W.Y. Adams, Medieval Nubia: (https://www.penn.museum/documents/publications/expeditio
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28. Török, Late Antique Nubia (https://books.google.com.br/books?redir_esc=y&hl=pt-BR&id=qG
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30. Török, Late Antique Nubia (https://books.google.com.br/books?redir_esc=y&hl=pt-BR&id=qG
QPAQAAMAAJ&focus=searchwithinvolume&q=Silko) p.59
31. T. C. Skeat, E.G, Turner, and C.H. Roberts, A Letter from the King of the Blemmyes to the
King of the Nubians (https://www.jstor.org/stable/3856316?seq=1#page_scan_tab_contents),
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fevereiro de 2019
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International Journal of African Historical Studies (em inglês) Vol. 28, No. 3 (1995), pp. 577-
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34. Robert Berg, Nomads and Pharaohs (http://www.saudiaramcoworld.com/issue/199803/noma
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pages 26-35

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