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RESUMO
Este estudo é um relato de experiência, caracterizado como exploratório-descritivo, que teve como
objetivo apresentar os resultados de um ciclo de palestras de formação continuada para professores
verificando sua contribuição para a prática educacional de acordo com a análise dos seus relatos. Os
temas abordados nas palestras foram: “Deficiência auditiva”, “Síndrome de Down” e “Transtornos
da aprendizagem”. Participaram 97 professores que estiveram presentes em pelo menos uma delas.
Para análise dos resultados considerou-se: escola de atuação; participação nas palestras do ciclo;
caracterização das questões fechadas e comentários adicionais. Quanto à escola de atuação, 60%
dos participantes lecionavam em Escolas Municipais de Educação Infantil e 40% em Escolas
Municipais de Ensino Fundamental; a palestra sobre “Transtornos de aprendizagem” foi a que
registrou o maior número de participantes (n=90); 35% dos participantes optaram por assistir as três
palestras, 31% duas e 34% uma sendo a preferência o tema “Transtornos de aprendizagem”. Quanto
a avaliação da qualidade das palestras assistidas, 63,2% a classificou como “ótima”, 54% como
“boa” e 2% como “regular”. Os comentários adicionais confirmaram os resultados positivos da ação.
Conclui-se que as contribuições da Fonoaudiologia Educacional são fundamentais para a atuação
do professor auxiliando no direcionamento de suas ações, aprimorando sua prática pedagógica e
garantindo um ensino de qualidade.
ABSTRACT
This study is an exploratory-descriptive experience report, whose objective was to present the results
of a cycle of continuous teacher training analyzing their contribution to the educational practice. 97
teachers participated in one of the following lectures: "Hearing loss", "Down Syndrome" and
"Learning Disorders". To analyze the results were considered: kind of school; participation in the
lectures; characterization of closed questions and additional comments. As for the kind of school,
60% of the participants taugh in Kindergarten and 40% in Elementary School; the lecture on
"Learning Disorders" was the one that registered the largest number of participants (n = 90); 35%
of the opted to attend the three lectures, 31% two and 34% one being the preference the topic
"Learning Disorders". About the quality of lectures, 63.2% pointed "optimal", 54% as "good" and
2% as “regular. Additional comments confirmed the positive results of the action. It is concluded
1 INTRODUÇÃO
Há algumas décadas, atividades relacionadas à Fonoaudiologia já eram realizadas ligadas à
Pedagogia, pelos então “ortofonistas”, que faziam a “correção” da fala, apesar de sua formação e
prática estarem vinculadas ao Magistério1. Estes professores faziam cursos de curta duração, de
aproximadamente três meses, habilitando-se a trabalhar com os distúrbios da comunicação. Eram
também denominados “Terapeutas da Palavra” ou “Logopedistas”2.
Com o passar dos anos houve a necessidade de criar uma profissão específica para tratar os
alunos com esses distúrbios, tirando do professor tal responsabilidade e criou-se uma especialidade
que, ao adquirir caráter reabilitador, exigiu maior aproximação da área médica1.
Em 1972, já observava-se que, embora a Fonoaudiologia tenha se norteado em seus
primórdios por um perfil clínico de intervenção, que caracterizou sua herança médico- organicista,
ela tem uma base multidisciplinar sobre a qual se edificou; pois, mantém relações estreitas com
outras ciências, tais como a Linguística e a Educação3. Pode-se caracterizá-la como uma disciplina
científica que utiliza dados e informações de disciplinas auxiliares.
O Fonoaudiólogo surgiu inserido no contexto escolar com a finalidade de combater os
distúrbios da comunicação. A ideia de tratar essas alterações foi incorporada pelos professores que
recebiam orientação de outros profissionais (médicos, psicólogos, educadores, sanitaristas)4. Ao
atuarem de forma curativa nesse processo, gradativamente, a imagem dos e educadores foi se
modificando para a de terapeutas. Com o aperfeiçoamento desses profissionais surge a oficialização
da profissão de Fonoaudiólogo.
A atuação do fonoaudiólogo no contexto escolar tem sido cada vez mais necessária e
solicitada. Com aumento do número de pessoas com deficiência matriculadas nas salas do ensino
regular, desponta a preocupação com a garantia de que elas estejam incluídas, ou seja, que façam
parte do grupo e do processo educacional, sendo oferecidas as mesmas oportunidades de acesso ao
conteúdo que seus pares5.
Em 2010, por meio da resolução 387/10, o Conselho Federal de Fonoaudiologia – CFFa,
reconhece a Fonoaudiologia Educacional como especialidade e estabelece suas atribuições e
competências6. O foco principal de atuação do fonoaudiólogo educacional deve ser centrado no
“Um dos desafios que os professores enfrentam em uma turma heterogênea é determinar
adaptações curriculares e modificações didáticas importantes que permitam aos alunos com
necessidades expressivas serem membros ativos da rotina diária da turma”5.
2 METODOLOGIA
Este estudo, caracterizado como exploratório-descritivo, faz parte de uma pesquisa
registrada na Plataforma Brasil - CEP-CONEP, sob nº CAAE 957998 da qual participaram 97
professores da Rede Municipal da Educação de um município do interior paulista, sendo 58 de
Escolas Municipais da Educação Infantil - EMEI e 39 de Escolas Municipais de Ensino
Fundamental - EMEF.
Após reunião com a supervisora da Educação Especial da Secretaria Municipal da Educação-
SME e, considerando as necessidades dos participantes, o ciclo de palestras de formação continuada
foi organizado em três encontros que abordaram os seguintes temas: 1. “Deficiência auditiva”, 2.
“Síndrome de Down” e 3. “Transtornos da aprendizagem”. As palestras tiveram a duração de três
horas cada e ocorreram no período da noite, no anfiteatro da sede da SME, durante o primeiro
semestre de 2016. Os convites foram enviados às 50 Escolas Municipais de um município do interior
paulista.
Como critério de inclusão para esta pesquisa o participante deveria ter assinado Termo de
Consentimento Livre e Esclarecido e estar inscrito em pelo menos uma das palestras. Foram
excluídos aqueles que não preencheram corretamente o protocolo previamente elaborado. Este foi
entregue a todos os participantes e era composto por: campo de identificação (nome, escola e função
exercida pelo professor), quatro alternativas fechadas para o julgamento da qualidade da palestra
(ruim, regular, boa e ótima) e campo para os “comentários adicionais”, no qual os participantes
poderiam registrar sua opinião pessoal sobre a formação.
Posteriormente, a partir dos resultados obtidos e considerando o objetivo do estudo, os
protocolos foram numerados aleatoriamente e analisados a partir dos seguintes campos: 1) Escola
de atuação, 2) Participação nas palestras do ciclo, 3) Caracterização das questões fechadas com
quatro opções de respostas e 4) Comentários adicionais. O conteúdo foi analisado utilizando-se a
3 DISCUSSÃO
Desenvolver ações em parceria com os professores visando contribuir para o processo de
ensino e aprendizagem é uma das responsabilidades do fonoaudiólogo educacional. Com uma visão
diferenciada e privilegiada da criança considerada “diferente”, esse profissional dispõe de
conhecimentos que lhe permitem analisar os fatores biológicos e pedagógicos envolvidos nas
questões escolares. Sua formação lhe oferece subsídios sobre o desenvolvimento normal e
patológico dando-lhe parâmetros de comparação necessários para o diagnóstico. O conhecimento
do fonoaudiólogo traz contribuições efetivas para a melhoria da qualidade do atendimento
educacional realizado e propicia a construção de estratégias e meios de comunicação, que, muitas
vezes, eram impossíveis de serem pensados em contexto escolar20.
Ao promover um ciclo de palestras que abordou temas envolvendo questões específicas da
Fonoaudiologia o profissional conseguiu suprir algumas lacunas provocadas por um sistema de
ensino que, mesmo “promovendo a inclusão” de alunos com necessidades especiais é falho quanto
à garantia da formação do professor.
Por meio de relatos individuais os participantes registraram no campo “comentários
adicionais”, contido no protocolo, sua opinião sobre a iniciativa da formação continuada promovida
pelo setor de Fonoaudiologia Educacional da Secretaria Municipal da Educação (Quadro 1).
Fonte: o autor.
A seleção dos temas abordados no ciclo foi baseada num mapeamento das necessidades da
Rede Municipal, que considerou as dificuldades apresentadas pelos professores para lidar com o
público da educação especial incluído nas salas de aula regulares, especialmente aqueles com
deficiência auditiva e síndrome de Down. O levantamento do diagnóstico institucional é
indispensável para a atuação do fonoaudiólogo junto unidade escolar. É necessário investigar seu
funcionamento, compreender sua dinâmica, assim como conhecer o perfil da população atendida:
condições econômicas, sócio-histórico-culturais, educacionais, ambientais e epidemiológicas. O
projeto político pedagógico é um referencial no qual o profissional deverá pautar seu planejamento
e suas ações21.
Considerando o interesse e a adesão dos professores da Rede Municipal pelas palestras
oferecidas no ciclo de formação continuada, foi possível observar que 65% dos participantes
inscreveram-se em pelo menos duas palestras. Na figura 2 observou-se que, dentre aqueles que
optaram por presenciarem um único encontro (n=33), a maioria optou por assistir a palestra com o
tema “Transtornos da aprendizagem”, 81,9% (n=27).
Legenda: SD, síndrome de Down; DA, deficiência auditiva; TA, transtornos da aprendizagem
Fonte: o autor.
Após cinco anos, o Plano Nacional de Educação, destacou que “o grande avanço que a
década da educação deveria produzir seria a construção de uma escola inclusiva que garantisse o
atendimento à diversidade humana”; porém, estudos apontaram um déficit referente à oferta de
matrículas, à formação docente, à acessibilidade física e ao atendimento educacional
especializado22.
O decreto nº 7.611, de 17 de novembro de 2011, dispôs sobre a educação especial, o
atendimento educacional especializado e deu outras providências. Em seu §1o do Art.1 considerou
como público-alvo da educação especial as pessoas com deficiência, com transtornos globais do
desenvolvimento e com altas habilidades ou superdotação23.
Os transtornos da aprendizagem não são descritos na legislação como público alvo da
educação especial; porém, há de se considerar que esta condição acarreta impedimentos a longo
prazo; o que é caracterizado pelo MEC, no Art. 4º da resolução 04/2009, como “deficiência” 24
.
Verificou-se que o tema em questão atraiu o maior número de participantes no ciclo de palestras
(n=90).
Sobre a formação de professores, constatou-se uma mudança de postura quanto ao
direcionamento dos esforços na educação inclusiva que, num primeiro momento, concentravam-se
na garantia do acesso e da permanência das pessoas com deficiência na escola e que, com o passar
dos anos, tem se concentrado na efetivação de ações que atendam às necessidades individuais desse
público uma vez grande parte já frequenta as salas de aula regulares:
Quanto à qualidade das palestras ministradas o ciclo foi considerado “ótimo” por 63,2%
deles, confirmando a importância da atuação do Fonoaudiólogo Educacional junto ao sistema de
ensino (Figura 3).
Fonte: o autor.
4 CONCLUSÃO
A formação continuada de professores é um processo necessário não somente para
complementar o conhecimento adquirido na graduação como também para auxiliá-lo em demandas
específicas que envolvem a aprendizagem. Principalmente diante do público alvo da educação
especial, o professor constantemente se depara com situações inéditas, diante das quais não se sente
preparado para desempenhar sua função com qualidade e segurança. Tais situações podem, muitas
vezes, exigirem saberes peculiares para o direcionamento das ações pedagógicas.
Não é comum as escolas buscarem apoio de profissionais especialistas de áreas a fins ao
planejarem as capacitações dos professores. Este estudo apontou para as contribuições da
Fonoaudiologia Educacional, que ocorreram por meio da promoção de ações voltadas para a
complementação da formação docente inicial, detalhando o interesse e a participação dos
professores num ciclo de palestras de formação continuada.
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