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05/06/2023, 11:17 As diferenças entre cinema clássico e moderno | AIC

As diferenças entre cinema


clássico e moderno
Publicado em: 20/02/2019

O que torna um filme clássico?


A pergunta é mais complexa do que parece, já que vários aspectos podem
ser levados em consideração para avaliar o impacto e a relevância de uma
obra cinematográfica.
Historiograficamente, o cinema clássico abrange um período que vai do
nascimento do cinema, em 1895, até o início do movimento neorrealista
italiano, na década de 1940.
Muitos dos filmes dessa época, inclusive os da chamada de Era de Ouro
de Hollywood, ainda se mantêm como favoritos dos espectadores, mesmo
após serem vistos e revistos inúmeras vezes.
Tais obras se tornaram parte do cânone da sétima arte e são apresentadas
como referências para quem estuda a história do cinema mundial.

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Nos Estados Unidos, um filme somente pode entrar no National Film Registry
25 anos após a data de seu lançamento. Esse é o tempo aproximado para
que um longa possa ser considerado clássico, na opinião de alguns
estudiosos. Contudo, a definição também varia conforme o parâmetro
analisado:
Um clássico pode ser um filme que bateu recordes de bilheterias ou de
premiações.
Pode ser um filme original e diferente da maioria.
Pode ser também um filme que influenciou muitas pessoas e se tornou
parte da cultura, de alguma forma.
Um filme que é considerado atemporal e memorável.
Em geral, são consideradas clássicas as produções do período
denominado Era de Ouro de Hollywood.
 

O que caracteriza um filme clássico?


De acordo com Marcelo Müller, editor e crítico do Papo de Cinema e
professor da AIC, as características estilísticas que definem o cinema clássico
ganharam notoriedade nas primeiras décadas do século XX e se
consolidaram como modelo hegemônico ao final da Segunda Guerra Mundial.

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“Em linhas gerais, o cinema clássico é caracterizado por narrativas lineares,


com início, meio e fim bem definidos e um encerramento fechado. Também é
uma constante do período clássico a soma de procedimentos para gerar
certa magia, como se não fosse possível ao cinema se apresentar ao
espectador enquanto fruto de uma série de artifícios. Especialmente no
cinema hollywoodiano, eram comuns os finais felizes e/ou conciliatórios”.
 

Clássico Casablanca, de 1942

Para o cineasta e professor da AIC Pedro Jorge, há uma linha tênue entre o


cinema clássico e o moderno, já que eles se visitam e convivem de forma
harmoniosa e ao mesmo tempo conflitante.

“O cinema clássico ‘mastiga’ a linguagem para o espectador, tornando a


montagem invisível. Para exemplificar, isso acontece quando o público não
sente cada corte, nem estranha algum tipo de mudança brusca dentro da
montagem. O uso da música também contribui, tornando a relação do
espectador com o filme mais catártica. Os personagens não ‘quebram a
quarta parede’ (que acontece quando um ator se dirige diretamente ao
público, por exemplo, ou toma conhecimento de que as ações do filme não
são reais) e em nenhum momento atuam de forma que o público duvide
daquilo que está vendo”.

Segundo Müller, mesmo os movimentos de avanço (como o Expressionismo


Alemão), guiavam-se em parte por essas regras, que foram subvertidas
gradativamente até a geração do cinema moderno. “É importante pontuar que
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as mudanças não aconteceram de uma hora para a outra, mas foram


paulatinas e alimentadas ao longo das décadas por iniciativas de vanguarda”,
explica o professor.
 

O que caracteriza o Cinema Moderno?


A transição do clássico para o moderno não deve ser vista necessariamente
como a substituição de um tipo de cinema por outro, mas como uma transição
natural. “A base do cinema moderno é exatamente o cinema clássico, que
transcendeu determinados limites, quebrou barreiras e remodelou cânones. O
cinema se reinventou”, afirma Müller. Um exemplo disso são os cineastas
da Nouvelle Vague, que, embora fizessem parte de um movimento moderno,
utilizaram e reconfiguraram elementos do cinema clássico hollywoodiano –
por exemplo, Acossado / À Bout de Souffle (1960), com suas referências aos
filmes policiais. Afinal, para romper alguns padrões, é preciso primeiro
conhecê-los.
De acordo com Marcelo Müller, o cinema moderno nasceu com
o Neorrealismo Italiano, especificamente com Roma, Cidade Aberta / Roma
Città Aperta (1945), de Roberto Rossellini. “É fruto de uma série de
experimentos que vinham sendo feitos ao longo dos anos anteriores, mas
também uma resposta artística aos efeitos da Segunda Guerra Mundial. A
falta de provisões e a desilusão do conflito que alterou a percepção do mundo
sobre a realidade determinaram a maneira como Rossellini driblou
convenções para estabelecer uma nova forma de fazer cinema”, conta.

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Já o cinema moderno no modelo americano surgiu com Cidadão Kane /


Citizen Kane (1941), de Orson Welles. “Welles trouxe algumas mudanças
bruscas nesse filme, como a profundidade de campo, o plongée (que, em
francês, significa ‘mergulho’ e se refere a uma câmera alta, voltada para
baixo) e o contra-plongée, as elipses temporais radicais e a narrativa
fragmentada (começo, meio e fim, não necessariamente nessa ordem). Além
disso, ele contribuiu com a experiência que tinha dentro do rádio e do teatro,
o que trouxe algumas mudanças na forma de atuação, buscando novas
nuances na tela e quebrando a ‘quarta parede’, entre outras inovações”,
observa Pedro Jorge.
Algumas características marcantes da modernidade são a existência de
personagens mais complexos, multifacetados, menos afeitos ao
maniqueísmo; além disso, a câmera ganhou mobilidade e o movimento se
insinuou como um grande vetor dessa mudança. “A montagem não
necessariamente criava um percurso linear e os finais eram frequentemente
abertos. Por um lado, havia maior fidelidade à ideia de vida real, e, por outro,
uma noção acurada do cinema como uma forma de arte única e fascinante
que, inclusive, pode refletir acerca de si própria”, completa Müller.
 

Cinema Clássico x Cinema Moderno


Qual seria, então, a maior diferença entre o cinema clássico e o cinema
moderno? Possivelmente a liberdade de se reinventar, de quebrar supostas
regras a favor de experiências múltiplas e, talvez, mais íntimas. Enquanto o
cinema clássico buscava, majoritariamente, envolver o espectador em um
universo mágico e fantástico, o cinema moderno surgiu com preocupações
mais profundas, como refletir sobre sua própria natureza e seu papel social,
até mesmo convidando o espectador a meditar sobre o processo durante a
sessão. Essas subversões propunham uma ruptura do fluxo que era “vendido”
pelo cinema clássico, cujo objetivo seria criar uma ilusão à qual o público
deveria se entregar completamente.
Vale ressaltar que um tipo de cinema não desmerece o outro. Todos os
momentos cinematográficos possuem seu lugar na história e foram motivados
por circunstâncias externas – políticas, econômicas, sociais ou culturais. O
repertório dos espectadores contemporâneos é composto de uma série de
filmes considerados clássicos, obras de extrema maestria em sua
composição narrativa e estética. Curiosamente, muitos filmes que se
encaixam na definição do cinema moderno já são considerados por muitos,
nos dias de hoje, como clássicos. De certo modo, os filmes notórios de hoje
se tornam os clássicos de amanhã.
 

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Para saber mais (ou por onde começar)


Segundo Marcelo Müller, entre os maiores representantes do cinema clássico
está o diretor norte-americano que ajudou a moldar o gênero western, John
Ford, de No Tempo das Diligências / Stagecoach (1939). Já o alemão
radicado nos Estados Unidos Ernst Lubitsch, de Ladrão de Alcova / Trouble in
Paradise (1932), foi um verdadeiro mestre da comédia sofisticada. Outra
figura emblemática foi Alfred Hitchcock, com seu longa Os 39 Degraus / The
39 Steps (1935), que transitou entre o clássico e o moderno. Douglas Sirk,
de Palavras ao Vento / Written on the Wind (1956), é considerado o grande
diretor do melodrama cinematográfico. Saindo das produções hollywoodianas,
o cineasta japonês Akira Kurosawa, de Os Sete Samurais / Shichinin no
samurai (1954), também pode ser citado como um exemplo do cinema
clássico. A lista de grandes cineastas é extensa, não podendo faltar o nome
de Charles Chaplin, de Tempos Modernos / Modern Times (1936),
possivelmente o maior de todos os clássicos.
Já entre os destaques do cinema moderno estão os cineastas Orson Welles,
de Cidadão Kane / Citizen Kane (1941), que é também considerado por
muitos como um clássico; John Cassavettes, de Sombras / Shadows (1958);
François Truffaut, de Os Incompreendidos / Les quatre cents coups (1959);
Jean-Luc Godard, de Acossado / À Bout de Souffle (1960); Federico Fellini,
de A Doce Vida / La Dolce Vita (1960); Nelson Pereira dos Santos, de Vidas
Secas (1963); Glauber Rocha, de Deus e o Diabo na Terra do Sol (1964);
Pier Paolo Pasolini, de Teorema (1968); Luis Buñuel, de O Discreto Charme
da Burguesia / Le charme discret de la bourgeoisie (1972); Ingmar Bergman,
de Gritos e Sussurros / Viskningar och rop (1972); Francis Ford Coppola,
de O Poderoso Chefão / The Godfather (1972); Martin Scorsese, de Taxi
Driver (1976); Roman Polanski, de O Inquilino / Le Locataire (1976); Woody
Allen, de Noivo Neurótico, Noiva Nervosa / Annie Hall (1977); Abbas
Kiarostami, de Close-up / Nema-ye Nazdik (1990); e Claire Denis, de Bom
Trabalho / Beau Travail (1999). “A lista é infindável”, declara o professor.
 
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Alguns clássicos hollywoodianos que todo cinéfilo


deveria conhecer
O Nascimento de Uma Nação / The Birth of a Nation (1915)
Grande Hotel / Grand Hotel (1932)
 …E o Vento Levou / Gone with the Wind (1939)
 O Mágico de Oz / The Wizard of Oz (1939)
Casablanca (1942)
A Felicidade Não Se Compra / It’s a Wonderful Life (1946)
A Malvada / All About Eve (1950)
Crepúsculo dos Deuses / Sunset Boulevard (1950)
 Cantando na Chuva / Singin’ in the Rain (1952)
A Princesa e o Plebeu / Roman Holiday (1953)
Glória Feita de Sangue / Paths of Glory (1957)
Quanto Mais Quente Melhor / Some Like It Hot (1959)
Psicose / Psycho (1960)
Lawrence da Arabia / Lawrence of Arabia (1962)
O Sol é Para Todos / To Kill a Mockingbird (1962)
Minha Bela Dama / My Fair Lady (1964)
Mary Poppins (1964)
A Noviça Rebelde / The Sound of Music (1965)
Bonnie e Clyde: Uma Rajada de Balas / Bonnie and Clyde (1967)
 
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*Texto de Katia Kreutz e fotos divulgação 

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