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Hollywood
dos estúdios a partir de 1948 tem a ver com a separação destes aspectos industriais.
aos espectadores) que era preservado e afirmado em cada filme. Hollywood deve ser
por isso menos associada a um estilo, a uma marca, e mais a um marco topográfico, a
um lugar que integrou o que era estranho e estrangeiro, numa imagem da própria
democracia na América. O cinema clássico americano que resultou daqui foi muito
feito por cineastas europeus que fugiram da Primeira Guerra Mundial e do seu rescaldo
e, mais tarde, da Segunda Guerra Mundial: Charles Chaplin, Fritz Lang, Ernst
Lubitsch, Josef von Sternberg, Billy Wilder, entre outros. Esta terra, Hollywood, não é
tanto um território físico, mas um lugar imaginário baseado nas ideias que o
agregavam e motivavam.
O Sistema de Estúdios
Entre 1930 e 45, os EUA sofreram uma grave crise económica e depois uma recuperação
espectacular durante a Segunda Guerra Mundial. Em 1933, perto de 14 milhões de
EUA não se envolveram desde o início, gerou uma grande explosão na produção
industrial. O cinema também foi beneficiado com uma grande subida na venda de
dividido. Quem controlava a indústria eram as cinco majors: Paramount, Loew’s (mais
conhecida pelo nome de uma das suas subsidiárias, MGM), Fox (que se tornou na 20th
exponencialmente com o advento do cinema sonoro. A RKO, aliás, foi fundada com o
propósito de explorar essa nova tecnologia e foi sempre a mais fraca em termos
Disney. Este estúdio foi, no entanto, o responsável pela aposta em Orson Welles,
produzido Citizen Kane (O Mundo a Seus Pés, 1941). As majors eram companhias com uma
minors: Universal, Columbia, e United Artists. The Great Dictator (O Grande Ditador, 1940)
sua espessura, da sua entoação, isto é, mostrando que o som pode ser importante não
exactamente pelo significado das palavras, mas pela sua carga expressiva, evocativa,
de produção e orçamento — mais uma vez Selznick é um bom exemplo, assim como
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Samuel Goldwyn, de alguém que produziu estes filmes de prestígio fora dos grandes
Os estúdios tinham técnicos e artistas sob contracto — Cary Grant com a Paramount,
Bette Davis com a Warner Bros., entre numerosos exemplos. Podemos falar deste sistema
e do seu génio, como André Bazin. Em vez de nos centrarmos neste ou naquele cineasta,
por exemplo John Ford, podemos centrar-nos no sistema que permitiu que a sua arte se
realizasse e a ligação dessa arte de Hollywood com a arte clássica. O classicismo está
arte clássica, e sendo assim porque não admirá-lo no que tem de mais admirável, não
apenas o talento deste ou daquele cineasta, mas o génio do sistema,4 a riqueza da sua
contacto com novos elementos. Só mais tarde, depois da morte de Bazin, é que os críticos
dos Cahiers du Cinéma entenderam completamente esta ideia, quando cineastas como
Anthony Mann e George Cukor começaram a fazer filmes medíocres depois do fim do
sistema de estúdios. François Truffaut diria mesmo que aquilo que eles gostavam nos
filmes americanos, de Howard Hawks por exemplo, era a sua semelhança. Cada filme
concretizava e dava forma particular a uma inteligência e sensibilidade artística que unia
todos as obras de Hollywood, uma espécie de standard ou padrão que se perdeu depois.
Censura
4. André Bazin, “De la politique des auteurs”, Cahiers du Cinéma 7, n.º 70 (1957): 2-11.
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membros dos estúdios. Foi criada em 1922 com o objectivo de evitar a censura externa à
Este código ficou conhecido como Código Hays, ligando-o à figura proeminente do
Partido Republicano que liderou a criação deste regulamento. Regulava o modo como
os filmes deviam lidar com o sexo, a violência, e outros temas que podiam ser
problemáticos. A verdade é que havia também um sentido pragmático nisto que tinha
locais não aceitassem os filmes ou cortassem cenas que tinham de ser refilmadas. O
facto é que algumas destas restrições que hoje nos surgem como puritanas emergiram
da prática — por exemplo, a ideia de que não se podia mostrar um casal, casado ou não,
cineastas. It Happened One Night (Uma Noite Aconteceu, 1940), realizado por Frank Capra,
vai mostrando um homem (Clark Gable) e uma mulher (Claudette Colbert) que se
apaixonam a pouco e pouco, mas que dormem em duas camas com um cobertor
estendido a separá-los. No fim, depois de casados e de ela ter fugido do seu casamento
combinado, o cobertor cai. Não é preciso o filme mostrar os dois na mesma cama para
Géneros
surgindo através de padrões e convenções que se relacionam com uma certa forma de
interpretar o mundo e a vida que faz parte do imaginário dos espectadores, tal como
acontecia com a tragédia na Grécia Antiga. Esta percepção história, esta consciência do
chão que se pisa, do que antecedeu um artista, de que a arte nunca começa do zero,
pode ser aproveitada como uma maneira de assumir um lugar artístico no tempo. O
reencontro com a mesma coisa, uma e outra vez, abre também espaço para a diferença
subtil, minimal, decisiva, entre cada filme. Um filme de género está ligado a todos os
que o antecederam, mas pode abrir também possibilidades para os filmes que o
seguem.
Um género não se baseia num conjunto de regras ou leis, mas é um meio artístico
sempre em mutação, dinâmico, embora pareça por vezes que permanece imutável. Um
género pode ser pensado como uma pequena forma viva, um modo de fazer, um meio
artístico como indica o filósofo Stanley Cavell. Pode ser entendido como um certo uso das
matérias (físicas e conceptuais) de que se faz a arte, como o chiaroscuro da pintura barroca
em pintores como Caravaggio e Rembrant. Isto explica como Hollywood deu origem
também a géneros teóricos, como o film noir americano, a que pertence um filme sombrio
sobre um alcoólatra em rota auto-destrutiva, The Lost Weekend (Farrapo Humano, 1945).
classicismo americano.
Mighty Hunters (1940) de Chuck Jones é um bom exemplo do filme animado, no qual
O filme musical deu origem a cenas de dança, plenas de fluidez e elegância, como
aquelas que tiram partido da afinidade entre Fred Astaire e Ginger Rogers em Swing
gerando um ciclo de filmes que ficaram na história do cinema. The Mummy (A Múmia,
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1932), realizado pelo director de fotografia de Der letzte Mann (O Último dos Homens,
1924) de F. W. Murnau, cria uma atmosfera aterradora com poucos meios, apoiando-
Esta última inclui o uso de um pequeno alfinete de luz que se reflecte nos olhos do
monstro.
No âmbito do filme de gangsters, The Public Enemy (O Inimigo Público, 1931), tal como
outros filmes deste género, foi alvo de receios de que iria louvar ou tornar desejável a
vida criminal. Neste caso, a Warner contornou o código argumentando que o gangster é
finais felizes. Não é o caso de They Were Expendable (Homens para Queimar, 1945),
realizador por John Ford (com algumas cenas rodadas sob a supervisão de Robert
Marinha dos EUA. Nesta obra, centra-se num grupo de soldados na Batalha das
continuar a combater.
A Grande Depressão gerou mais atenção aos problemas sociais a que o chamado
filme de problema social respondeu. Filmes como estes podiam ser menores,
funcionais, por vezes pensamos neles nestes termos hoje. Mas obras como Fury (Fúria,
1936), realizado por Fritz Lang, sobre o linchamento de um homem falsamente acusado
de um crime, mostram como este foco social não tem que instrumentalizar ou diminuir
o cinema. Numa cena, os acusados pelo linchamento são confrontados com as imagens
que registaram os seus actos. Fury é também uma robusta reflexão sobre o poder das
afiadas, e complexos jogos de palavras. Uma das cenas inicias de His Girl Friday (O
Grande Escândalo, 1940) entre Walter (Cary Grant) e Hildy (Rosalind Russell) mostra
bem o uso da chamada regra dos 180º, importante para a montagem em continuidade.
No entanto, é de notar que o que se destaca é o modo como Howard Hawks utiliza esse
esquema, dando espaço aos actores e aos seus gestos, movimentos e posturas,
Tecnologia e Estética
Eis alguns exemplos. Em contraste com a montagem “invisível” de His Girl Friday,
estúdio, como “The Lullaby of Broadway” de Gold Diggers of 1935 (As Gold Diggers de 1935,
1935).
Alcova, 1932), dirigido por Lubitsch, a busca ansiosa de um casal, vítima de um roubo
durante uma ópera, é acompanhada pela música do palco, fora de campo. King Kong
(1933), realizado por Merian C. Cooper e Ernest B. Schoedsack, conhecido pelos seus
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espantosos efeitos visuais, tem um dos primeiros e mais marcantes usos de uma
cenas com fundos projectados, que se desenrolavam no alto mar ou numa viagem de
automóvel, tornaram-se comuns nos anos 1930. Outro aspecto dos efeitos especiais
(Voando para o Rio de Janeiro, 1933) experimenta com muitos tipos de transição. Uma dela
Technicolor
A mais importante inovação técnica deste período foi o Technicolor. O cinema tinha
vermelho, verde, e azul, cada um com a sua tira, revelados depois em positivo. A
amarelo. O primeiro filme a utilizar este processo foi um filme de animação da Walt
Disney: Flowers and Trees (1932), realizado por Bert Gillett, onde árvores e flores cantam
e dançam ao som de uma harpa improvisada e do canto dos pássaros.
A cor não foi vista como um elemento realista. A tendência foi, pelo contrário,
Hood (As Aventuras de Robin dos Bosques, 1938), dirigido por Michael Curtiz e William
Keighley, e o musical Meet Me in St. Louis (Não Há Como a Nossa Casa, 1944), realizado por
Profundidade de Campo
A maior parte dos filmes não exploravam composições em profundidade, mas foi
isso que Orson Welles decidiu fazer. Conta-se que Welles viu várias vezes Stagecocah
(Cavalgada Heróica, 1939), de Ford, para se preparar para Citizen Kane. Young Mr. Lincoln (A
Grande Esperança), realizado por Ford no mesmo ano, mostra o uso da composição em
diversos níveis, colocando Lincoln num espaço semelhante a uma mesa de tribunal. A
profundidade é enfatizada pela postura de Henry Fonda, sentado com os pés sobre a
mesa, e pelo modo como é enquadrado. O que distingue Citizen Kane e The Magnificent
Ambersons (O Quarto Mandamento, 1942), filme que acabou por ser retirado das mãos de
Welles para ser terminado com adições e alterações de Fred Fleck e Robert Wise, de
copo) e o último nível (a porta do quarto) estão ambos em foco. The Magnificent
Ambersons leva ainda mais longe esta premissa, com arranjos mais complexos, como se
estar sozinhos nem livrar-se das imposições familiares e sociais que contaminam as
suas vidas.