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UNIVERSIDADE FEDERAL DE VIÇOSA

CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS


DEPARTAMENTO DE LETRAS E ARTES
PROF. DR. RONY PETTERSON GOMES DO VALE
RONYVALE@ UFV.BR

LET 102 – LEITURA E PRODUÇÃO TEXTUAL I

AULA 06 – COESÃO E COERÊNCIA


OBJETIVOS DA AULA:

 Conhecer mais e melhor o conceito de “coesão” textual;


 Conhecer mais e melhor o conceito de “coerência” textual;
 Compreender o papel desses conceitos no processo de leitura.
Experiência 1a1

1
Fonte: Koch & Elias (2010, p. 105).
[...] a sequência é apresentada como um texto, quem
a produziu tem a intenção de que ela seja um texto e
pretende realizar com ela uma intenção
comunicativa. Quem a recebe age cooperativamente
e aceita a sequência com um texto, procurando
determinar-lhe o sentido. (KOCH; TRAVAGLIA,
2010, p. 13)
Experiência 1b

João vai à padaria. A padaria é feita de tijolos.


Os tijolos são caríssimos. Também os mísseis
são caríssimos. Os mísseis são lançados no
espaço. Segundo a teoria da relatividade o
espaço é curvo. A geometria rimariana da conta
2
desse fenômeno.

2
In: (KOCH; TRAVAGLIA, 2010, p. 17)
A coesão ocorre quando a interpretação de algum
elemento no discurso é dependente da de outro. Um
pressupõe o outro, no sentido de que não pode ser
efetivamente decodificado a não ser por recurso ao
outro. (KOCH; TRAVAGLIA, 2010, p. 16)
Experiência 1c

O dia segue normal. Arruma-se a casa.


Limpa-se em volta. Cumprimenta-se os
vizinhos. Almoça-se ao meio-dia. Ouve-se
rádio à tarde. Lá pelas 5 horas, inicia-se o
3
[de] sempre .

3
in: KOCH; TRAVAGLIA (2010, p. 16)
COESÃO TEXTUAL

Podemos conceituar coesão como o fenômeno que diz


respeito ao modo como os elementos linguísticos
presentes na superfície textual se encontram
interligados entre si, por meio de recursos também
linguísticos, formando sequências veiculadoras de
sentido. (KOCH, 2010, p. 45)
Experiência 2

Fonte: Folha de São Paulo in: MUSSALIM (2006, p. 111).


Coesão por Remissão  (re)ativação de referentes

Dêixis

Ex.01: Este, esse e aquele

Ex.02: João falou com o seu irmão? (=> ambiguidade)


Anafórica

Ex.01: Márcia olhou em torno de si. Seus pais observaram-


na com carinho.

Ex.02: O aposento estava abandonado. As vidraças


quebradas deixavam o vento e chuva entrar. (por
frame/script)
Catafórica

Ex.01: O sonho da bailarina era este: dançar no Faustão.

Ex.02: É preciso fazer isto: comprar, vender, lucrar e


enganar.
Sinalização Textual
(Orientação de processamento textual)

Ex.01: Como foi mencionada mais acima...

Ex.02: Mais adiante, voltaremos a esta questão...


Coesão por Sequenciação
 progressão de sentido e orientação argumentativa

Por Justaposição

Ex.01: Não desejava ver ninguém. Estava suja. Cabelos em


desalinho, o rosto em lágrimas. (pois/por que  causa)

Ex.02: João cantava; Joana ouvia. (e / aditiva)


Pelo uso de conectores e operadores

Ex.01: Ele é pobre, mas é limpinho.


Atividade 01: O texto a seguir é coeso? Justifique a sua resposta,
destacando TODOS os elementos linguísticos que possuem função
coesiva.

Naquela manhã, a catedral estava silenciosa. Num dos bancos


da igreja vazia, Carmela rezava. Ela se lamentava e pedia aos
céus dias melhores. De repente apareceu um homem. Carmela
se assustou. Porém, olhando mais atentamente, ela percebeu
que o homem era Padre Antônio. Ele também a reconheceu.
Sorriram comovidos. Os dois não se viam há anos.
COERÊNCIA TEXTUAL

Experiência 3a

1 – Um chopps
2 – E dois pastel (...)
5 – o polpetone do jardim de Napoli (...)
30 – Cruzar a Ipiranga com a Av. São João (...)
43 – O “Parmera” (...)
45 – O “Curintia” (...)
59 – Todo mundo estar usando cinto de segurança.
“100 motivos para gostar de São Paulo” In: Estado de
São Paulo, 25 jan. 1995.

1 – Um chopps
2 – E dois pastel (...)
5 – o polpetone do jardim de Napoli (...)
30 – Cruzar a Ipiranga com a Av. São João (...)
43 – O “Parmera” (...)
45 – O “Curintia” (...)
59 – Todo mundo estar usando cinto de segurança.
[...] a coerência não está no texto, não nos é possível
apontá-la, destacá-la, sublinhá-la ou coisa que a
valha, mas somos nós, leitores, em um efetivo
processo de interação com o autor e o texto,
baseados nas pistas que nos são dadas e nos
conhecimentos que possuímos, que construímos a
coerência. (KOCH; ELIAS, 2010, p. 189)
COERÊNCIA = PRINCÍPIO DE INTERPRETABILIDADE

=> A coerência está “ligada à inteligibilidade do texto numa


situação de comunicação e à capacidade que o receptor tem
para calcular o sentido desse texto.” (KOCH; TRAVAGLIA,
2010, p. 23)

Daí  “para haver coerência é preciso que haja possibilidade


de estabelecer no texto alguma forma de unidade ou relação
entre seus elementos.” (KOCH; TRAVAGLIA, 2010, p. 23-
24)
Atividade 02: O texto a seguir é coerente? Justifique a sua resposta.

Vi uma cadela doente na estrada. Seus filhotes


estavam chorando. Mais longe pastava um cavalo
magro numa grama rala e seca. Perto de mim
estava um menino pobre pedindo pão. Tudo
retratava uma cena de tristeza.
Atividade 03: O texto a seguir é coerente? Justifique a sua
resposta.

O corpo humano se divide em três partes: cabeça, tronco


e membros. Os membros, que podem ser superiores
(braços e mãos) e inferiores (pernas e pés). A cabeça, que
fica na parte superior do corpo, é a mais importante, porque
nela estão contidos o cérebro e os principais órgãos de
sentido; finalmente, o tronco, onde estão alojados o
coração, os pulmões, o estômago, os intestinos, os rins, o
fígado e o pâncreas.
Experiência 3b

i) A galinha está grávida

ii) João não foi à aula; entretanto estava doente

iii) Maria tinha lavada a roupa quando chegamos,


mas ainda estava lavando roupa.
A coerência diz respeito ao modo como os
elementos subjacentes à superfície textual vêm
a construir, na mente dos interlocutores, uma
configuração veiculadora de sentido. (KOCH,
2011, p. 52)
Experiência 3c

A: ─ O telefone!
B: ─ Estou no Banho!
A: ─ Certo!
A coerência [...] longe de constituir mera
qualidade ou propriedade dos textos, é
resultado de uma construção feita pelos
interlocutores, numa situação dada, pela
atuação conjunta de uma série de fatores de
ordem cognitiva, situacional, sociocultural e
interacional. (KOCH, 2011, p. 52)
Coerência pragmática
(atos de fala + coerência)
A: ─ O telefone!
B: ─ Estou no Banho!
A: ─ Certo!
p.ex.: pedido/atendimento (ou sua negativa)
pedido/promessa
pedido/juramento
pedido/esclarecimento
pedido/recusa/justificativa
pergunta/resposta
Experiência 3d
No WhatsApp4:

4
Adaptado de KOCH & ELIAS (2010).
Coerência Genérica e Coerência Estilística
(registro + variedades linguísticas + situação + gênero)

“Não se vai à praia de smoking, nem a uma festa a rigor, de


biquíni.” (KOCH; ELISAS, 2010, p. 203)
Atividade 04: O texto a seguir é coeso e
coerente? Justifique a sua resposta.

Numa mesa de bilhar, as bolas restantes


estavam do mesmo lado do primeiro jogador:
a verde, a amarela, a marrom e a de número
sete.
Logo, para teremos COERÊNCIA:

“Sempre que for possível aos interlocutores


construir um sentido para o texto, este será,
para eles, nessa situação de interação, um
texto coerente.” (KOCH; ELIAS, 2010, p.
189)
E o NONSENSE: ele pode ter sentido?
Ver no PVANET: Alice e o mestre gato

5
nonsense Datação: sXIX Língua: inglês Pronúncia: 'nAnsEns

 substantivo masculino
1 frase, linguagem, dito, arrazoado etc. desprovido de significação ou coerência;
absurdo, disparate
1.1Rubrica: cinema, literatura.
filme ou escrito que recorre a elementos surreais, a situações ilógicas,
absurdas etc.
Exs.: irmãos Marx, os reis do n. no cinema
o n. em Lewis Carrol
2 conduta contrária ao bom senso

5
Dicionário eletrônico Houaiss (2009).
“E como você sabe que você é louco?”
“Para começar”, disse o Gato, “um cachorro não é louco. Admite isso?”
“Suponho que sim”, disse Alice.
“Pois bem”, continuou o Gato, “você sabe, um cachorro rosna quando
está zangado e balança cauda quando está contende. Ora, eu rosno
quando estou contente e abano a cauda quando estou zangado. Portanto
sou louco.”
“Chamo isso ronronar, não rosnar”, disse Alice.
“Pois chame do que quiser”, disse o Gato 6.

6
Cf. CARROLL, L. Aventuras de Alice no país das maravilhas..., 2009, p. 77-78.
Referências bibliográficas

CARROLL, L. Aventuras de Alice no país das maravilhas. Rio de Janeiro: Zahar, 2009.
FIGUEIREDO, L. C. A redação pelo parágrafo. Brasília: Editora UnB, 1998.
HOUAISS, A. Dicionário eletrônico Houaiss da língua portuguesa. São Paulo: Objetiva,
2009.
KOCH, I. V. A coesão textual. 22 ed. São Paulo: Contexto, 2010.
KOCH, I. V. A construção dos sentidos no texto: coesão e coerência. In: KOCH. I. V. O
texto e a construção do sentido. São Paulo: Contexto, 2011, p. 45-58.
KOCH, I. V.; ELIAS, V. M. Ler e compreender: os sentidos do texto. 3 ed. 1 remp. São
Paulo: Contexto, 2010.
KOCH, I. V.; TRAVAGLIA, L. C. A coerência textual. 18 ed. São Paulo: Contexto, 2010.
MUSSALIM, F. Análise do discurso. In: MUSSALIM, F.; BENTES, A. C. (Orgs)
Introdução à linguística: domínios e fronteiras. 2 v. 5 ed. São Paulo: Cortez, 2006, p. 101-
142.

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