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Marcos Mylius
© 2017 Marcos Mylius.
Venda de Valor
A Venda de Valor (ou Engenharia de Valor) é uma metodologia que
conduz o empreendedor na jornada de conceituar o valor, preparar os dados,
demonstrar e formular uma proposição que seja percebida e reconhecida pelo
cliente.
Construir esta Engenharia de Valor não está relacionado a trabalhar os
preços da oferta. Conseguir se livrar da discussão pura de preços é um dos
objetivos e resultado da aplicação da engenharia de valor. Reconheço que não
é fácil e é uma das tarefas mais importantes para a grande maioria das
startups, já que é a base fundamental para todas as mensagens levadas aos
clientes.
“Valor é quando o seu cliente percebe em termos monetários e sociais
os ganhos que terá com os benefícios e diferenciais dos seus produtos e
serviços.” Marcos Mylius
O comportamento de compra do cliente, e a capacidade de demonstrar
que a compra pode aumentar receitas ou reduzir custos são apenas algumas
das questões que devem ser abordadas pelas startups ao construir uma
proposição de valor. Apesar de abranger tantos pontos, essa proposição deve
ser precisa, objetiva, clara e, principalmente, trazer evidências.
O valor tangível percebido pelo cliente é resultado da seguinte equação:
Benefícios percebidos – sacrifícios percebidos = valor
tangível
O diferencial do processo de mentoria que desenvolvo é o conteúdo de
negócio. Provoco o empreendedor a vestir o sapato do cliente e pensar nos
desafios de negócio que ele possa enfrentar no dia a dia. Sempre reforço que
primeiro vendemos para a pessoa, depois para o empregado e por último para
a empresa.
As startups que colocaram em prática a Venda de Valor, construindo o
storytelling do desafio de negócio até as evidências, conseguiram ótimos
resultados. Os depoimentos dos empreendedores listados no final dos
capítulos são um grande incentivo para o investimento na metodologia.
Parcerias estratégicas
O ecossistema de startups é muito rico em parcerias. As startups podem
fechar parcerias com incubadoras e aceleradoras. Existe um pouco de
confusão com a interpretação da diferença das duas. No final deste livro, no
glossário, encontrará a definição. As aceleradoras de startups foram cruciais
para a minha entrada no ecossistema.
Em julho de 2016 visitando Chicago para um curso de Business
Marketing Strategy na Kellogg, conheci a aceleradora 1871 e participei de
alguns eventos abertos ao público. A energia do ambiente e a troca de ideias
forma contagiantes. Voltei com a certeza de trabalhar de alguma forma com
startups.
Um ex-sócio me recomendou conversar com um conterrâneo nosso, o
Pedro Weingartner, que é CEO da ACE. No primeiro contato com o Pedro já
fui apresentado a alguns empreendedores e assim iniciaram as mentorias.
Ainda com a ACE fui convidado a participar do pool de investidores de um
ciclo de aceleração.
A partir de uma conversa com o Lélio Souza da INTELIE fui indicado
como mentor do programa de aceleração de startups InovAtiva Brasil,
programa realizado pelo Ministério da Indústria, Comércio Exterior e
Serviços (MDIC) e pelo Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas
Empresas (SEBRAE), com execução da Fundação Centros de Referência em
Tecnologias Inovadoras (CERTI). A parceria com o InovAtiva envolve
desenvolvimento de artigos para o blog e mentorias coletivas com dezenas de
startups que podem estar em qualquer Estado. Nos últimos meses, fui
convidado para ser curador de conteúdo do blog do InovAtiva, junto a um
grupo seleto de mentores.
Outra importante parceria é com a Liga Ventures, que suporta a
aceleração da Oxigênio, da Porto Seguro e desenvolve um trabalho muito
especial em verticais para outras empresas. Exemplo da Liga AutoTech, Liga
Emerging Technologies e Liga Retail. Esta parceria não teve indicação, tentei
contato direto com o Guilherme Massa e a nossa reunião foi cancelada
algumas vezes.
Uma das decisões mais assertadas da minha vida foi ter insistido. Desde a
primeira reunião foi criada uma cooperação de trabalho muito legal. O
Guilherme começou a utilizar a “Avaliação de Maturidade” para analisar as
startups B2B logo no início do ciclo de aceleração. Após as empresas
responderem a avaliação, faço uma devolutiva por escrito e uma mentoria
individual.
Em agosto a Liga Ventures fez dois anos e homenageou os mentores mais
ativos e avaliados pelas startups. Foi gratificante receber o carinho do grupo
da Liga e das startups. Reproduzo abaixo o texto do cartão recebido.
“Se vi mais longe, foi por estar de pé sobre ombros de gigantes” – Issac
Newton
“Obrigado por emprestar seus ombros e fazer parte da nossa história” –
Liga Ventures
Depoimentos
InovAtiva
Esta é uma grande verdade que aprendi com muitos erros e acertos ao
longo da minha careira: de nada adianta planejar e executar uma campanha
de marketing ou uma estratégia de vendas, para qualquer segmento, se você
não conhece o comportamento do consumidor. Do SEU consumidor! É perda
de tempo e de recursos.
A única maneira de fazer com que seu público-alvo realmente compre é
entendendo como ele se comporta: por que, como e quando ele compra.
Uma boa maneira de começar a identificar o
comportamento do consumidor é dividindo os clientes por
diferentes tipos de perfis.
Perfil 1 – Preço.
Aquele cliente que já domina o serviço ou o produto de que necessita e,
por isso, está focado no preço mais baixo possível, fornecido com eficiência e
simplicidade de processos, somados à rapidez e à pontualidade na entrega.
Ele planeja cuidadosamente seus custos, reflete e prioriza antes de comprar.
Dicas para você lidar com esse tipo de comprador:
-O ambiente de negociação deve ser muito fácil.
-Sua proposta deve mostrar claramente que você está oferecendo a
melhor condição comercial comparada com o que é praticado
normalmente.
-Provavelmente ele já pesquisou sobre o seu produto e sobre as
soluções de mercado. Portanto, não faça grandes investimentos em
apresentações. Invista em deixar claro como pode entregar com
qualidade e no prazo que ele precisa.
Perfil 2 – Qualidade do fornecedor.
Esse é o cliente que se preocupa muito com a estrutura e com as
referências da empresa de quem está comprando. Ele valoriza marcas com
credibilidade reconhecida, que se destacam pela alta qualidade e capacidade
de encontrar soluções com eficiência, rapidez e excelência. Ele deseja ter
suas expectativas atendidas, e até excedidas, previamente. Portanto, ele
precisa ter certeza de que o fornecedor possui conhecimento profundo de sua
indústria, que vai atendê-lo de forma personalizada e de que vai dar todo o
suporte necessário.
Algumas dicas:
-Ele vai avaliar bastante os profissionais por quem for atendido desde
o começo das negociações, bem como todas as apresentações. Por isso,
muito cuidado para alocar as pessoas corretas.
-Este cliente é conservador e precisa se sentir seguro. Ele não gosta
de correr riscos! Demonstre casos de sucesso da sua empresa. Mostre
também o que você costuma fazer para reduzir riscos.
-Não se iluda: este cliente é, sim, bastante influenciado por preços.
Aqui, os valores se tornam um fator importante de decisão ao final do
processo de avaliação.
Perfil 3 – Inovação.
O comprador orientado por inovação segue dois drivers: negócios e
relacionamentos. Ele procura uma abordagem customizada para projetos
complexos, com impactos estratégicos nos negócios e que envolvem
conhecimento profundo da indústria. Rapidez na solução de problemas,
excelência no desenvolvimento e condução de projetos, bem como integração
com a infraestrutura existente são alguns dos pontos que ele vai avaliar na sua
empresa.
Dicas para lidar com os clientes que buscam parceiros inovadores:
-Trabalhe para identificar, junto ao seu cliente, o impacto que a
inovação em questão irá trazer. Muitas vezes, um projeto pode envolver
até mesmo um escopo de trabalho de change management.
-Aqui, o cliente deseja saber detalhadamente todas as tecnologias
envolvidas na solução proposta. Por isso, preocupe-se em demonstrar
nas apresentações a qualidade técnica das suas soluções.
-Este cliente pode ser um grande candidato a um beta teste dos seus
produtos. Ofereça que ele sirva de “cobaia assistida” para os próximos
lançamentos de produtos.
Quer uma boa dica para identificar o perfil dos seus
compradores?
Preste muita atenção aos detalhes! Por exemplo: o seu cliente usa a versão
mais recente de um smartphone ou tem um celular mais simples? É adepto de
aplicativos, gosta de tecnologia? Essa informação pode dizer muito sobre as
preferências dessa pessoa, te dá pistas do que ela valoriza em um produto e
de como se comporta como cliente.
Para quem é o produto mesmo?
Muitas vezes o produto ou serviço comprado será usado por outro público
que não o que está de fato executando a compra, isso é comum em B2B. O
importante é entender quem são os seus interlocutores e identificar quais
pontos eles mais valorizam no momento da compra.
Por isso, é importante que você conheça e investigue o comprador, sem
nunca deixar de lado os seus influenciadores. E não se esqueça: os
interlocutores podem mudar durante um processo de venda. Portanto, o
conteúdo das apresentações e dos discursos deve ser flexível para atender
essas possíveis variações.
Para terminar, uma sugestão: meu conselho é que você, depois de
identificar corretamente o perfil em questão (atenção aos detalhes!), construa
uma persona para o seu cliente. Caso faltem informações, vá atrás das
respostas que ainda não tem. Em seguida, faça uma lista dessas dicas e monte
um plano cuidadoso para contemplá-las no seu processo de vendas. Assim,
vai ficar muito mais fácil desenvolver estratégias de marketing e de vendas
coerentes e assertivas.
Depoimentos
“Por ele [Marcos] ter um know-how muito grande na área de B2B e a
nossa empresa trabalhar com isso também, ele nos trouxe muitos insights de
como evoluir o nosso produto, a estratégia de negócio e como explorar isso
junto ao cliente final. Isso nos ajudou a consquistar resultados bem
interessantes. No final do ano passado, estávamos com 70 empresas no nosso
networking, e hoje estamos com 700. E muito foi em função do alinhamento
que tivemos ao longo desse trajeto” – Diego Peruchi, CEO da
RealNetworking, startup 5º lugar em Gestão de Pessoas no Ranking 100
OPEN STARTUPS BR 2017.
“A parte mais crucial no sucesso de qualquer empresa, com certeza, é a
comercial. Isso ainda é mais crítico para uma Startup, que geralmente tem
como proposta de valor a quebra de paradigmas e a mudança no status quo.
Conseguir mostrar a sua proposta de valor a um cliente em vendas B2B
complexas é realmente um desafio! Poder contar com a mentoria do Marcos
Mylius é ótimo para conseguirmos agir de forma correta e assertiva em cada
uma das etapas da jornada do cliente e vencer o tortuoso caminho das vendas
complexas.” – Michelle Morcos, CEO da Justto.
“Estamos criando um spin-off na empresa, e poder contar com a mentoria
do Marcos tem sido muito importante. Além de ser especialista na parte
comercial (uma área muita escassa no Brasil), possui uma visão completa
sobre todos os aspectos, inclusive com a ótica de investidor. Dessa forma as
reuniões são muito proveitosas e produtivas. Marcos não mede esforços para
ajudar, com muito comprometimento e dedicação.” – Pedro Henrique
Diretor da Projeta.
PARTE IV-Recursos humanos e carreira
Recursos Humanos: como a sua startup lida com pessoas?
Você já deve ter visto essa história, assim como eu, dezenas de vezes: ex-
colegas da faculdade ou amigos próximos resolvem montar uma startup. No
começo, os próprios sócios dão conta da maioria das atividades da empresa,
inclusive das demandas relacionadas a Recursos Humanos — é óbvio que
uma startup não tenha condições, no início, para criar uma área de RH.
A maioria dos empreendedores não considera contratar um especialista
em Recursos Humanos antes de resolver questões como geração de demanda
e financeiras, além de incorporar ao time as pessoas necessárias para fazer a
empresa funcionar.
A prioridade é compreensível e eu, se questionado, aconselharia o
mesmo. Agora, isso não quer dizer que as demandas de gestão de pessoas não
sejam latentes desde o início das atividades.
Investir na experiência ou apostar na gestão de talentos
promissores?
Quem acompanha o dia a dia das startups sabe que é sempre crítico
preencher as posições iniciais, pois geralmente as pessoas contratadas se
tornam responsáveis pela área em que entraram. O CEO da Conpass, Ivan
Biava, uma das startups para as quais faço mentoria, aponta um dilema com
dois possíveis caminhos:
1. Estruturar muito bem a área para a qual está contratando e treinar um
novo funcionário, um talento promissor. Esse processo é mais barato, porém
há mais necessidade de treinamento e gestão do novo funcionário.
Ou
2. Contratar alguém com mais experiência, que entre atuando plenamente
e estruture a área. Mais caro, porém há menos necessidade de treinamento e
gestão.
Em geral, a startup não pode pagar pelo mais caro, porém não tem a
expertise típica de Recursos Humanos, e não sabe como recrutar, selecionar e
treinar talentos. Caso não sejam bem ocupadas, essas posições iniciais e
estratégicas impactam negativamente a empresa.
Os Recursos Humanos e a maturidade das startups
Esse mergulho no ecossistema das startups me mostrou que, na maioria
dos casos, a evolução de uma startup pode se dar de duas formas extremas:
ou não há recursos para contratar, ou o faturamento chega a alguns milhões e,
então, é preciso passar de 15 para 100 funcionários em um ano. O segundo
cenário é uma realidade hoje em dia. Mesmo com a economia em
recuperação, basta olhar a quantidade de startups no geral que estão
contratando.
Esse aumento rápido de funcionários evidencia um grande desafio: criar
uma cultura desde o início, quando os sócios estão ocupados com tantas
outras questões importantes. Como manter a informalidade do ambiente de
inovação e empreendedorismo com a responsabilidade de uma empresa maior
que precisa entregar resultados? Em recente visita a Exact Sales, tive a
oportunidade de conhecer o excelente trabalho de Recursos Humanos da
startup e ouvir o mantra da cultura da empresa.
“Somos acolhedores com pessoas e duros com metas”
É o que me disse a Vanessa Ronque, coordenadora de Gestão de Gente na
startup Exact Sales.
Em grande parte das startups das quais sou mentor, Recursos Humanos é
um assunto quase sempre deixado para depois. Infelizmente, as pessoas se
esquecem de que uma cultura não pode ser desenvolvida de uma hora para
outra. Afinal, para construir uma casa é preciso ter, primeiro, os alicerces.
Outro ponto crítico dessa história e que também diz respeito a Recursos
Humanos é o relacionamento entre os sócios.
No início da sociedade, a divisão de percentuais e cotas é fácil de fazer.
No entanto, em pouco tempo aparecem as diferenças na entrega dos sócios. É
difícil separar o percentual da empresa do valor do labor. Então surgem as
disputas de poder e as brigas.
O investimento e a ênfase que acontece com Marketing, Jurídico e
Vendas nas aceleradoras deveria ser refletido também na área de Recursos
Humanos.
Pessoas: fardo ou ativo?
As pessoas são o maior ATIVO da maioria das empresas. No entanto, os
colaboradores muitas vezes são gerenciados quase como um verdadeiro fardo
a ser carregado.
Tudo isso mostra que desde o primeiro funcionário contratado existe a
necessidade crítica da gestão de Recursos Humanos. E digo mais. Em uma
startup, os colaboradores devem ser vistos como uma forma especial de
clientes. E qualquer startup sabe o quão difícil é descobrir e desenvolver
novos clientes.
Moral da estória: questões típicas de Recursos Humanos, como
relacionamento, cultura, ambiente, contratações e conflitos, sempre vão
existir. Mesmo que você não tenha uma área de RH estruturada, é preciso
aceitar que esses assuntos impactam diretamente na saúde e no crescimento
dos negócios. Alguém precisa cuidar disso logo. E provavelmente essa
pessoa é você!
Mulheres em startups desempenham melhor?
Estes tempos difíceis que nos fazem pensar e valorizar o salário recebido
mensalmente também nos trazem outros questionamentos. Será que estaria
melhor seguindo uma carreira de empreendedor?
Em junho de 2016 o portal Entrepreneur publicou um artigo de Rick
Bisio, que apresenta 7 motivos para sustentar que as pessoas são viciadas em
salário. Ele traça um paralelo entre a droga e o salário.
O sistema de recompensas do cérebro afetado pela droga é
cientificamente comprovado ser o mesmo afetado pelo dinheiro. Para
alimentar o sistema de recompensa você necessita de regularidade de
consumo. Então a mesma ansiedade e stress enfrentado pelo viciado quando
está na eminência de ficar sem a droga é a mesma enfrentada pelos
assalariados que estão em risco com a continuidade do recebimento do
contracheque. O empreendedor não teria esse estresse. Em contrapartida, ele
teria outros.
Existem outros exemplos comparativos em relação à forma como isso
acabou moldando a sua vida e possível dependência. O artigo gerou críticas
em outros blogs porque o autor teria motivos financeiros como francise coach
para abordar o assunto desta forma.
Concordo que é extremamente provocativo. O
empreendedor não é viciado em salário!
Convivo no trabalho e em roda de amigos com funcionários de grandes
empresas, e sem precisar fazer grandes análises e entrevistas, posso afirmar
que possuem todas as habilidades exigidas para ser um empreendedor.
Porque esses profissionais não possuem seus próprios
negócios?
Em alguns casos analiso que estes profissionais encaram o trabalho deles
como uma franquia. Administram como se fossem realmente sócios da
empresa. Preocupam-se com a lucratividade e longevidade da companhia
como fundadores. A forma como o plano de compensação do executivo foi
elaborado pode ajudar muito neste ponto. O profissionalismo pode falar mais
alto também. Os outros casos necessitam de mais autoanálise.
Eu estava participando de um mini-MBA na IBM quando o professor
citou que os funcionários de empresas são as pessoas que mais assumem
riscos e estão expostas a mudanças. Muito mais do que os empreendedores.
Ele defende o fato que empregado não possui nenhuma gestão sobre a sua
posição na empresa, logo, ele pode ser demitido a qualquer momento. Isso é
um risco.
Por outro lado, o empreendedor possui a gestão total deste risco, sendo
assim uma pessoa menos tolerante ao risco. Provocações.
Mentoria: mitos e verdades sobre essa parceria que pode
alavancar uma startup