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OBJETO, PROGRAMA E DESAFIOS DA FILOSOFIA DO

DIREITO

A palavra filosofia tem sua origem e significado dos termos gregos philo, que
significa sabedoria, e shopia, que significa amor, amizade. Depreende-se, então, que o
seu significado é amizade ao saber. A filosofia pode ser entendida como um estado de
espírito da pessoa que procura, respeita o conhecimento. Sendo assim, indaga-se: como
se exerce a atividade filosófica? Tal resposta é algo de difícil resposta. Cada filósofo
produz uma parte do todo. Ela é um elemento que compõe a vida, que se vive, que se
relaciona com a existência humana (REALE, 2013).
O início da atividade de filosofar ocorre com a admiração, com o espanto e
com a inquietação. Para que alguém se torne um bom filósofo é preciso que tenha a
capacidade de admiração. Pois ela gera surpresa, a indagação. O que sustenta a filosofia
é o espanto. A partir dele, surge a segunda característica da filosofia: a indagação
(FERRAZ Júnior, 2009). Ela surge com a surpresa, o susto quando se depara com
determinada situação. Diante de uma situação, o filósofo que se espanta, indaga: O que
é isso? Como surgiu? Não poderia acontecer de forma diferente? Esta atitude é
fundamental para a filosofia.
A partir dessas duas atitudes, surge a terceira característica da filosofia: a
atitude crítica. Algumas perguntas básicas da filosofia em sua atitude crítica são: O que?
Por quê? Como? Admiração, indagação e atitude crítica levam à reflexão. A reflexão,
que é voltar um pensamento a si mesmo, indagando-se, é também uma atitude basilar
filosófica.
Definir filosofia é algo muito complexo e quase impossível de se fazer. Na
tentativa de conceituá-la, serão apresentadas algumas definições abaixo (BONAVIDES,
2019):

a) Visão de mundo: se relaciona a como um povo, uma civilização ou uma cultura


percebem o mundo. É, portanto, ampla e genérica e um pouco falha, pois não permite,
por exemplo, diferenciar a filosofia da religião.
b) Sabedoria de vida: a filosofia conduz a uma vida justa, sábia e feliz por meio da
observação do mundo e dos homens. Se relaciona apenas com o esperado da filosofia (a
sabedoria interior), mas não o que ela realmente faz.

c) Esforço racional para conceber o universo como uma totalidade ordenada e dotada de
sentido: Por meio dessa definição, a filosofia se encarrega de explicar e compreender as
coisas em sua totalidade, que é racional. Começa a se distinguir a filosofia da religião.

d) Fundamentação teórica e crítica dos conhecimentos e das práticas: a Filosofia se


relaciona com o momento no qual a realidade natural e histórica se diferem, tornando-se
objeto de espanto, incompreensíveis. Ela surge quando o senso comum não é mais
válido e as ciências não sabem como agir.

A definição que se baseia na “fundamentação teórica e crítica dos


conhecimentos e das práticas é a mais completa, uma vez que comporta a filosofia como
a responsável por analisar as ciências, a religião, a moral. Ela reflete sobre si mesma ao
mesmo tempo que critica as ilusões e preconceitos individuais e coletivos de teorias
sejam científicas ou políticas. Sendo assim, percebe-se a filosofia como sendo a busca
por um fundamento e por um sentido da realidade nas suas mais diversas formas.
Após essa análise inicial, passa-se ao estudo da filosofia do direito, que deve
ser vista como uma vertente da própria filosofia. Tem como origem o pensamento
hegeliano, pois até então sua história e conteúdo se misturava com os demais sistemas e
pensamentos filosóficos (FERRAZ JÚNIOR, 2014).
A partir de então, a filosofia do direito passa a ter sua autonomia, devido a uma
complexização dos direitos positivos, que careciam de compreensão específica das
práticas e técnicas jurídicas. Forma-se, então, uma corrente composta por estudiosos da
filosofia do direito, que mesmo não sendo filósofos por formação, dedicaram-se a
pensar o Direito. Ressalta-se que não é possível separar a filosofia do direito da
filosofia. Seus pontos de semelhança são diversos, vez que ambas estudam as
indagações do ser humano.
A filosofia do direito tem como objetivo auxiliar a estrutura do pensamento
lógico-jurídico; fazer a crítica das práticas jurídicas; trabalhar e revalorizar os conceitos
de justiça, direito, lei e normas; auxiliar a compreensão do Direito enquanto saber.
Nota-se que ela é um ramo da filosofia que une os estudos do homem e sua relação com
a justiça, a moral e o social. Abarca ademais a relação jurídica aceita em benefício desse
estado social de vivência humana (ALVES, 2011).
Para construir suas indagações jurídicas a filosofia utiliza das novidades
trazidas pela ciência do direito., sobre seu próprio sentido e objetivos, os questiona e
critica. Fornece sentido e dinamismo aos valores que compõe o mundo social e por isso
devem ser estudados tanto pela filosofia como pela filosofia do direito. Dessa forma,
aquela se firma sobre questionamentos de princípios e postulados, contribuindo para sua
renovação ao não permitir que ocorra uma estagnação em um dogmatismo não fértil e
alienado.
O termo “direito” possui diversas interpretações e pode ser compreendido
como um fato social e um ramo do conhecimento, ou seja, produção e aplicação das
normas jurídicas ou a disciplina que se destina a investigar o sentido das normas
jurídicas. O direito por ser uma realidade produzida pela razão, sendo um elemento
cultural, é o objeto pensado pela Filosofia, que leva a criação e desenvolvimento da
Filosofia do Direito.
A relação entre a Filosofia com o Direito passa pela tentativa de avaliar, de
sopesar a atuação do Direito frente à sociedade a fim de contribuir para que ele, o
Direito, aprimore o que for possível e necessário para atingir seu principal objetivo:
organizar, de forma razoável, a sociedade administrando de modo equânime as
divergências de interesses dos indivíduos que compõem a sociedade (REALE, 2013). 
Sendo assim, a filosofia do direito se mostra como uma ramificação da
Filosofia Geral, que possui uma visão ampla do fenômeno jurídico em determinado
contexto social cujo objetivo é analisar, não apenas os resultados almejados pela ordem
jurídica, como também compreendê-los. É o local de estudos dos jus filosóficos, que
desejam conhecer sobre o sentido do direito, na tentativa de compreender a existência
da norma. É o ramo da Ciência Jurídica que se destina a compreender a aplicação ética
da norma. É a constante indagação que os juristas filósofos fazem aos diversos
fenômenos do campo jurídico. Por fim, pode ser entendida como o campo de estudos
dos juristas com interesses filosóficos, que se destinam a refletir sobre problemas para
os quais inexiste solução no âmbito do Direito Positivo. Evolve o estudo do Direito em
sua totalidade, abordando questão fundamentais, ou seja, as bases de construção do
fenômeno jurídico.
Seu conceito pode ser entendido como um pensamento crítico direcionado às
construções jurídicas construídas pela Ciência do Direito e pela própria práxis do
Direito. Seu principal papel é localizar as bases do direito, seja para identificar sua
natureza, ou apresentar críticas aos fundamentos do raciocínio jurídico.
A Filosofia do Direito estimula o aluno do Direito a realizar uma análise crítica
dos dogmas que compõe o ordenamento jurídico, indo além do que foi positivado.
Permite, assim, que se tenha uma compreensão panorâmica do fenômeno jurídico no
contexto social, abandonando a visão técnica do Direito (FERRAZ JÚNIOR, 2014).
Ou seja, sua importância reside no fato de promover o questionamento do
tecnicismo do direito e as verdades jurídicas que são impostas pelo ordenamento, na
busca por despertar o debate e a crítica de dogmas e pré-compreensões, criar a
consciência de que a lei, muitas vezes não é perfeita.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ALVES, Alaôr Caffé: Lógica, pensamento formal e argumentação. Elementos do


discurso jurídico. 4 ed. São Paulo: Quartier Latin, 2011.

FERRAZ JUNIOR, Tércio Sampaio. A ciência do Direito. 3ª ed. São Paulo: Atlas,
2014.

FERRAZ JUNIOR, Tércio Sampaio. Estudo de filosofia do Direito. 3ª ed. São Paulo:
Atlas, 2009.

REALE, Miguel. Filosofia do Direito. 20ª ed. São Paulo: Saraiva, 2013.

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