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PONTIFÍCIA UNIVESIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO

PROGRAMA DE ESTUDOS PÓS GRADUADOS EM DIREITO

PROF. DR. RENATO LOPES BECHO


ASSISTENTE VOLUNTÁRIO: BRAULIO BATA SIMÕES

Valentina Hannud Cavalcante


RA00184850

Filosofia do Direito

Marilena Chauí define filosofia como “(...) A decisão de não aceitar como óbvias e evidentes as coisas, as
ideias, os fatos, as situações, os valores, os comportamentos de nossa existência cotidiana; jamais aceitá-
los sem antes havê-los investigado e compreendido.” 1 Segundo a autora, a atitude filosófica possui duas
características: a negativa e a positiva.

A característica negativa da atitude filosófica diz respeito a um dizer “não” ao senso comum, pré-
conceitos, pré-juízos, estabelecido. Já a característica positiva da atitude filosófica é uma “ interrogação
sobre o que são as coisas, as ideias, os fatos, as situações, os comportamentos, os valores, nós mesmos” 2.
Tanto a característica negativa, quanto a característica positiva constitui o pensamento crítico. Nesse
sentido, Sócrates toma como verdade filosófica o reconhecimento da “consciência de ignorância” 3, isto é,
“Sei que nada Sei”.

A autora apresenta quatro definições gerais sobre o que seria a filosofia, sendo elas: a) visão de mundo de
um povo; b) sabedoria de vida; c) esforço racional para conceber o Universo como uma totalidade
ordenada e dotada de sentido; e d) fundamentação teórica e crítica dos conhecimentos e das práticas.

1 CHAUÍ, Marilena. Convite à Filosofia. São Paulo: Ed. Ática, 2000. pág.9. disponível em
<https://home.ufam.edu.br/andersonlfc/Economia_Etica/Convite%20%20Filosofia%20-%20Marilena%20Chaui.pdfhttps://
home.ufam.edu.br/andersonlfc/Economia_Etica/Convite%20%20Filosofia%20-%20Marilena%20Chaui.pdf>. Acessado em
19.03.2022
2 idem
3 PLATÃO. A república: [ou sobre a justiça, diálogo político] / Platão; tradução Anna Lia Amaral de Almeida Prado ; revisão
técnica e introdução Roberto Bolzoni Filho - 2. ed. São Paulo: Martins Fontes - selo Martins, 2014. p. XI - introdução
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Para a definição “visão de mundo” a filosofia corresponde ao conjunto de ideias, valores e práticas pelos
quais uma sociedade apreende e compreende o mundo e, a si mesma 4. A segunda definição de filosofia,
“Sabedoria de vida”, identifica a filosofia como uma contemplação do mundo e dos homens para nos
conduzir a uma vida justa, sábia e feliz, ensinando-nos o domínio sobre nós mesmos, nossos impulsos,
desejos e paixões5. Contudo, a autora faz uma ressalva com relação a essa definição uma vez que ela fala
de modo vago sobre o que se espera da filosofia, deixando de lado a questão o o que é a filosofia e o que
faz a filosofia, por essa razão, a definição não pode ser adotada. A definição “Esforço racional para
conceber o Universo como uma totalidade ordenada e dotada de sentido” distingui a filosofia da religião,
uma vez que ambas possuem o mesmo objeto - compreende o Universo - contudo, a filosofia faz isso
através do esforço racional, enquanto a religião faz por meio da confiança (fé). Pela fé, a religião aceita
princípios indemonstráveis e até mesmo aqueles que podem ser considerados irracionais pelo
pensamento, enquanto a Filosofia não admite indemonstrabilidade e irracionalidade 6. Essa definição
também é criticada pela autora uma vez que ela concede à filosofia a obrigação de oferecer uma
explicação e compreensão sobre o Universo, tarefa considerada impossível por duas razões: 1) a
explicação sobre a realidade também é oferecida pelas ciências e pelas artes, cada uma das quais
definindo um aspecto e um campo da realidade para estudo, por essa razão não é possível determinar uma
única disciplina que pudesse abranger a totalidade dos conhecimentos e; 2) a própria Filosofia já não
admite que seja possível um sistema de pensamento único que ofereça uma única explicação para o todo

4 CHAUÍ, Marilena. Convite à Filosofia. São Paulo: Ed. Ática, 2000. pág.14. disponível em
<https://home.ufam.edu.br/andersonlfc/Economia_Etica/Convite%20%20Filosofia%20-%20Marilena%20Chaui.pdfhttps://
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5 idem
6CHAUÍ, Marilena. Convite à Filosofia. São Paulo: Ed. Ática, 2000. pág.15. disponível em
<https://home.ufam.edu.br/andersonlfc/Economia_Etica/Convite%20%20Filosofia%20-%20Marilena%20Chaui.pdfhttps://
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da realidade7. Por fim, na definição “Fundamentação teórica e crítica dos conhecimentos e das práticas” a
filosofia busca ocupar-se do conhecimento de princípios que visam ser racionais e verdadeiros, além
disso, a filosofia também estuda a consciência e suas várias modalidades: percepção, imaginação,
memória, linguagem, inteligência (...) a fim de descrever as formas e os conteúdos dessas modalidades de
relação entre o ser humano e o mundo, do ser humano consigo mesmo e com os outros. Ou seja, esta
última descrição retrata a filosofia como: análise, reflexão e crítica - análise das condições da ciência
religião, arte, moral; reflexão devido a volta da consciência para si mesma para descobrir a capacidade
para o conhecimento, o sentimento e a ação; e crítica das ilusões e dos preconceitos individuais e
coletivos, aplicados na elaboração filosófica de significações gerais sobre a realidade e o ser 8.

Visto isso, é possível concluir que a filosofia objetiva investigar toda natureza por meio da crítica dos
pressupostos para encontrar os princípios últimos. Nas palavras de Miguel Real, a filosofia (...) procura
sempre respostas a perguntas sucessivas, objetivando atingir (...) certas verdades gerais, que põem a
necessidade de outras: daí o impulso inelutável e nunca plenamente satisfeito de penetrar, de camada em
camada, na órbita da realidade (...) quando atingimos uma verdade que nos dá a razão de ser de todo um
sistema particular de conhecimento, e verificamos a impossibilidade de reduzir tal verdade a outras
verdades mais simples e subordinantes, (...) dizemos que atingimos um princípio, ou um pressuposto9.

Nesta senda, afirmar que a Filosofia é a ciência dos primeiros princípios significa que a Filosofia busca
legitimar outros juízos que integram um sistema de compreensão total, e isso descreve a característica
Universal da filosofia. Ou seja, ser universal não significa ser generalizadora, pois não analisa a somatória
do particular para chegar ao geral10.

7 idem
8 idem
9 REALE, Miguel. Filosofia do direito - 19. ed. - São Paulo, Saraiva, 1999. pág. 7. Disponível em
<https://direitoufma2010.files.wordpress.com/2010/05/miguel-reale-filosofia-do-direito.pdf>. Acessado em 19/03/2022.
10 Formação humanística para concursos/ coordenação Alvaro de Azevedo Gonzada, Nathaly Campitelli Roque - 5. ed. - Rio
de Janeiro: Forense; São Paulo: Método, 2020. pág. 188
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No âmbito da Filosofia do Direito, Miguel Reale afirma que esta não é disciplina jurídica, mas é a própria
Filosofia enquanto voltada para a ordem de realidade jurídica. Neste sentido, é possível concluir que a
Filosofia não se cinge da Filosofia do Direito pelo fato do Direito ser suscetível a indagação filosófica por
ser fenômeno universa11, logo, é possível afirmar que temos uma Filosofia no Direito, e não uma Filosofia
do Direito12.

Reale também diferencia o filósofo do direito do operador do direito: “Quando o advogado invoca o texto
apropriado da lei, fica relativamente tranquilo, porque a lei constitui ponto de partida seguro para o seu
trabalho profissional; da mesma forma, quando um juiz prolata a sua sentença e a apoia cuidadosamente
em textos legais, tem a certeza de estar cumprindo sua missão de ciência e de humanidade, porquanto
assenta a sua convicção em pontos ou em cânones que devem ser reconhecidos como obrigatórios. O
filósofo do direito, ao contrário, converte tais pontos de partida em problemas, perguntando: Por que o
juiz deve apoiar-se na lei? Quais as razões lógicas e morais que levam o juiz a não se revoltar contra a lei,
e a não criar solução sua para o caso que está apreciando, uma vez convencido da inutilidade, da
inadequação ou da injustiça da lei vigente? Por que a lei obriga? Como obriga? Quais os limites lógicos
13
da obrigatoriedade legal? Dessa forma, o autor conclui que o objetivo da Filosofia do Direito é tecer
críticas sobre a experiência jurídica para determinar as condições que servem de fundamento à
experiência, fazendo com que ela se torne possível. ”

Ou seja, o operador do direito, como cientista do Direito, constrói sua ciência através de pressupostos
fornecidos pela lei, diferentemente do Filósofo do Direito que converte referidos pressupostos em um
problema, para encontrar a verdade.

Tendo em vista a importância da Filosofia no Direito, acredito ser pertinente questionar o impacto da
inteligência artificial no funcionamento de um sistema jurídico a partir da perspectiva da Filosofia do
Direito.

11 REALE, Miguel. Filosofia do direito - 19. ed. - São Paulo, Saraiva, 1999. pág. 9. Disponível em
<https://direitoufma2010.files.wordpress.com/2010/05/miguel-reale-filosofia-do-direito.pdf>. Acessado em 19/03/2022.
12 Formação humanística para concursos/ coordenação Alvaro de Azevedo Gonzada, Nathaly Campitelli Roque - 5. ed. - Rio
de Janeiro: Forense; São Paulo: Método, 2020. pág. 191
13 REALE, Miguel. Filosofia do direito - 19. ed. - São Paulo, Saraiva, 1999. pág. 10. Disponível em
<https://direitoufma2010.files.wordpress.com/2010/05/miguel-reale-filosofia-do-direito.pdf>. Acessado em 19/03/2022.
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Perguntas:

1. Filosofia DO Direito ou Filosofia NO Direito14?

R: Conforme mencionado anteriormente, segundo Miguel Reale “A filosofia do Direito não é


disciplina jurídica, é a própria filosofia, enquanto voltada à realidade jurídica” 15. Isto é, para Reale a
filosofia não se encontra “dentro” do Direito, portanto não temos uma filosofia “DO” direito, e sim
uma filosofia NO direito, uma vez que o Direito, por ser um fenômeno universal, deve sofrer
indagações filosóficas.

2. Qual o impacto da inteligência artificial no funcionamento de um sistema jurídico a partir da


perspectiva da Filosofia do Direito?

R: Ainda não sei a resposta.

14 idem
15 REALE, Miguel. Filosofia do Direito. 19.ed. São Paulo: Saraiva, 1999.p.286)
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