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Relatório Final

Projeto de Arqueologia na obra de restauro do Palácio Antônio Lemos, Belém/PA


Processo N°: 01492.000444/2022-37

Amanda Carolina de Sousa Seabra – Arqueóloga Coordenadora Geral

Belém, Julho de 2023

1
Identificação

Empreendedor
Prefeitura Municipal de Belém
Secretaria Municipal de Urbanismo (SEURB)
Endereço: Avenida Governador José Malcher N° 1622 Bairro: Nazaré
CEP: 66060-230
Telefone: (91) 3039-3700

Apoio Institucional
Museu Paraense Emílio Goeldi
Av. Perimetral N° 1901 Bairro: Terra Firme
CEP: 66077-830

Empresa responsável pelo acompanhamento arqueológico


Razão Social: Multisul Engenharia S/S Ltda.
CNPJ: 02.577.145/0001 - 85
Endereço: Av. Júlio César N° 65 Bairro: Val-de-Cães
Cep: 66613-010
Responsável: Ulisses Pinheiro Sereni

Equipe técnica responsável pelo acompanhamento arqueológico


Arqueóloga Coordenadora geral: Ma. Amanda Carolina de Sousa Seabra – Arqueóloga
(FURG/UFPA)
Arqueóloga: Ma. Amanda Daltro de Viveiros Pina – Museóloga/Arqueóloga
(UFPA/UFPA)

2
Lista de Figuras
Figura 1: Praça Dom Pedro II e o Palácio Antônio Lemos ao fundo. Fonte: Haroldo
Baleixe Blogspot . ............................................................................................................ 9
Figura 2: Imagem recente do Palácio Antônio Lemos com as árvores da Praça Dom
Pedro II. Fonte: Agência Belém ......................................................................................11
Figura 3: Localização do Palácio Antônio Lemos. Fonte: Google Maps ....................... 14
Figura 4: Esquerda: local onde ocorreu a escavação. Direita: área que já tinha sido
aberta. Embaixo: retirada das pedras de lioz. ................................................................. 15
Figura 5: Vestígios coletados na região da fossa ............................................................ 17
Figura 6: Área da fossa na profundidade que aparece material arqueológico ................ 17
Figura 7: Imagens do solo na região da fosso e perfil estratigráfico .............................. 18
Figura 8: Desenho do perfil estratigráfico de toda a área escavada. Desenho: Gabriela
Mauriti ............................................................................................................................ 19
Figura 9: Presença abundante de água na área do purificador e do filtro ....................... 20
Figura 10: Segundo piso de lioz encontrado .................................................................. 21
Figura 11: Setas verdes apontando para a barreira entre a área da fossa e o restante da
escavação ........................................................................................................................ 22
Figura 12: Vestígios arqueológicos encontrados embaixo do piso de lioz ..................... 23
Figura 13: Galeria pluvial ............................................................................................... 24
Figura 14: Desenho da galeria pluvial. Vista superior. Desenho: Gabriela Mauriti ....... 25
Figura 15: Vista superior do local da escavação ............................................................. 27
Figura 16: Canaletas escavadas na área interna do palácio e fragmento de faiança fina
encontrado ...................................................................................................................... 28
Figura 17: Sala destinada para as atividades de curadoria da arqueologia ..................... 29
Figura 18: Atividade de limpeza e catalogação dos fragmentos .................................... 30
Figura 19: Faiança simples, porcelana e faiança fina encontradas na escavação da
estação de tratamento...................................................................................................... 35
Figura 20: Morfologias encontradas: tampa, pires, tigela e base, respectivamente ....... 36
Figura 21: Técnicas decorativas: transffer printed, superfície modificada e outras ....... 38
Figura 22: Base com selo ............................................................................................... 41
Figura 23: Fragmentos e peças de grés coletados no Palácio Antônio Lemos ............... 44
Figura 24: Direita: garrafas de grés “brillantina” de Buenos Aires. Fonte: Schávelson, p.
159, 2018. Esquerda: garrafa de grés coletada no Palácio Antônio Lemos ................... 45
Figura 25: Foto de cima: fragmentos de grés coletados no Palácio Antônio Lemos. Foto
debaixo: garrafas de grés coletadas no Solar da Beira. Fonte: Seabra, p. 78, 2020 ....... 46
Figura 26: Base de grés com a gravação “YS ATE LONDON”..................................... 47
Figura 27: Direita: alças coletadas no Palácio Antônio Lemos. Esquerda: Garrafas
inteiras coletadas no Solar da Beira. Fonte: Seabra, p. 78, 2020.................................... 47
Figura 28: Cerâmicas coletas na estação de tratamento ................................................. 49
Figura 29: Morfologias dos vidros ................................................................................. 52
Figura 30: Garrafa de vidro inteira ................................................................................. 53
Figura 31: Cores encontrada nos vidros: transparente, verde escuro, branco leitoso e
variações de verde, respectivamente. ............................................................................. 55
Figura 32: Técnicas de acabamento. Retângulo verde são applied finish. Retângulo rosa
são os tooled finish. ........................................................................................................ 57
Figura 33: Gravação mais comum encontrada nos fragmentos coletados no Palácio
Antônio Lemos. Letras identificadas: C e B .................................................................. 58
Figura 34: Ossos coletados na escavação da estação de tratamento............................... 59
3
Figura 35: Publicação na rede social sobre o trabalho de arqueologia no Palácio Antônio
Lemos ............................................................................................................................. 61
Figura 36: Imagens da palestra de arqueologia .............................................................. 63

Lista de Gráficos
Gráfico 1: Quantidade de fragmentos por nível ............................................................. 32
Gráfico 2: Total de vestígios encontrados na escavação da estação de tratamento ........ 33
Gráfico 3: Quantidade de faianças por nível .................................................................. 34
Gráfico 4: Quantidade de faianças finas, simples e porcelanas ...................................... 34
Gráfico 5: Gráfico com as diferentes morfologias encontrada nas louças ..................... 36
Gráfico 6: Esmaltes identificados nas louças ................................................................. 37
Gráfico 7: Técnicas decorativas encontradas nas louças ................................................ 38
Gráfico 8: Estilos decorativo das louças......................................................................... 39
Gráfico 9: Cores encontradas nas louças ........................................................................ 40
Gráfico 10: Motivos decorativo das louças .................................................................... 41
Gráfico 11: Morfologias do grés..................................................................................... 43
Gráfico 12: Cores do grés ............................................................................................... 43
Gráfico 13: Morfologia da cerâmica histórica ................................................................ 49
Gráfico 14: Quantidade de fragmentos de vidro por nível ............................................. 51
Gráfico 15: Morfologia dos vestígios em vidro ............................................................. 52
Gráfico 16: Cores identificadas no vidro ........................................................................ 54
Gráfico 17: Técnicas de produção de vidro .................................................................... 56
Gráfico 18: Fragmentos que possuíam algum tipo de gravação ..................................... 57

4
Sumário

1. Introdução ................................................................................................................. 6
2. Contexto histórico .................................................................................................... 6
3. Contexto Arqueológico ............................................................................................11
4. Localização ............................................................................................................. 13
5. Escavação arqueológica .......................................................................................... 14
5. Atividade de curadoria, conservação e catalogação ............................................... 28
5.1. Análise das louças ................................................................................................ 33
5.2. Análise do Grés .................................................................................................... 42
5.3. Análise da Cerâmica histórica ............................................................................. 48
5.4. Análise do material vitreo .................................................................................... 50
5.5. Análise dos Ossos ................................................................................................ 58
6. Arqueologia Pública ............................................................................................... 60
7. Conclusão ............................................................................................................... 63
8. Referência Bibliográfica ......................................................................................... 66

5
1. Introdução
Este relatório irá apresentar metodologias, curadoria, análise e resultados obtidos
do Projeto de Arqueologia na obra de restauro o Palácio Antônio Lemos, Belém/PA,
realizado durante a restauração do Palácio Antônio Lemos, localizado no Praça Dom
Pedro II, s/n, bairro Cidade Velha, ocorrido no período de 8 de maio até 28 de junho de
2023.
Para o funcionamento correto do Palácio, se fez necessário a construção de uma
estação de tratamento (fossa, purificador e filtro) próximo aos banheiros de visitantes,
pela área externa do edifício. Esse tipo de construção causa alterações irreversíveis no
solo da região, portanto, se fazia necessário o acompanhamento arqueológico. Além
disso, o bairro da cidade velha possui tombamento a nível federal e municipal.

2. Contexto histórico
A cidade de Belém se desenvolveu em área cercada por água, entre o rio, a baía e
o igarapé do Piri. O principal ponto para o avanço da cidade foi o forte do Presépio, assim,
as linhas seguiram em direção norte e sul. Em um primeiro momento, a cidade se
desenvolve no entorno do forte, cercada por uma paliçada, tendo algumas construções:
uma Ermida e a Rua do Norte, a primeira a ser construída. Este era o núcleo Cidade, onde
ficavam localizados os principais edifícios públicos e as casas dos portugueses e algumas
igrejas (Zenkner, 2002).

Em seguida, do outro lado do igarapé piri, começa a ocupação de uma outra parte
do território, o núcleo Campina, com a construção do convento dos Mercedários e a
abertura da Estrada de Santo Antônio (atual Rua Conselheiro João Alfredo e Rua Santo
Antônio). Essa parte da cidade ficou mais voltada para a área comercial e também função
religiosa, pela presença do convento. Esses dois núcleos eram interligados por uma ponte
de madeira (Zenkner, 2002). Assim, a cidade foi crescendo, seguindo as direções do rio e
da baía, com o igarapé separando:

“A partir do Forte, foram construídos dois vetores (Fig. 2), um que


margeava o rio Guamá, chegando até onde hoje se localiza a Igreja do
Carmo e o outro era definido paralelo à baía do Guajará chegando até o
Convento dos Capuchinhos, atual Colégio Santo Antonio. O primeiro
vetor era a Rua do Norte e o segundo era definido pela rua dos

6
Mercadores (rua da Cadeia e atualmente Conselheiro João Alfredo) e
rua Santo Antônio.” (Ribeiro 2009).

De acordo com Zenkner (2002), próximo ao forte existiam duas áreas abertas que
se transformaram em duas praças distintas: a da Sé e a do Palácio. Normalmente, as praças
surgiam em frente as igrejas e em Belém foi dessa maneira que surgiram a Praça da Sé
(atual Praça Frei Caetano Brandão), o Largo dos Mercedários (atual Praça da Mercês),
entre várias outras.

A praça da Sé nasce em um espaço vazio que existia entre o Colégios dos Jesuítas
(atual Museu de Arte Sacra), que separava a cidade do forte, Igreja Matriz (Igreja da Sé),
Casa de Câmara e Cadeia. Essa praça foi se moldando aos poucos, mas não tem uma
forma geométrica perfeita. A Praça do Palácio (atual Praça Dom Pedro II) surge por conta
da construção da Casa do Governador ou Casa de Residência, o Palácio Lauro Sodré, que
foi construído entre 1676 e 1680. Essa praça era a única, nesse período, que possuía uma
característica geométrica e foi planejada, seguindo modelos eruditos (Biblioteca do
IBGE1, Zenkner 2002).

Em um primeiro momento, a Casa do Governador tinha dois pavimentos e era


feito de taipa-de-pilão. Porém, na segunda metade dos anos 1700, com a ideia de
transformar Belém em uma cidade maior e a principal da região amazônica, o então
Governador do Estado do Pará manda demolir a Casa do Governador e construir um
maior e, assim, contratou o arquiteto Antônio Landi, que acrescentou característica do
ecletismo ao edifício. Esse espaço se caracterizava por ser uma área alagadiça e irregular,
assim, durante essa reforma, o arquiteto modificou essa área, transformando em um
retângulo de lados grandes, com isso, nasce o Largo do Palácio, que no futuro se
transformará em Praça Dom Pedro II (Biblioteca do IBGE, Zenkner 2002, Soares 2009).

Apesar da existência dessa praça desde o século XVII, foi somente no século
XVIII que ela foi pensada e construída. A sua obra foi concluída no ano de 1772, porém,
foi somente no ano de 1882 que ocorreu a sua inauguração oficial, durante o governo de
José Coelho Gama Abreu. De acordo com a biblioteca do IBGE2 o objetivo de criação
dessa praça ocorreu para fazer a ligação entre diferentes pontos da cidade: o mercado do

1
https://biblioteca.ibge.gov.br/biblioteca-catalogo?id=42518&view=detalhes
2
https://biblioteca.ibge.gov.br/index.php/biblioteca-catalogo?id=42493&view=detalhes
7
Ver-o-Peso em direção à avenida Presidente Vargas e do forte do Presépio até a praça do
Carmo.

Foi nesta praça que ocorreram vários eventos importantes para a história do nosso
Estado, assim, a partir de cada acontecimento, um nome diferente era dado a essa local.
Em um primeiro momento foi nomeada de Largo do Palácio, por estar ali situado o
Palácio do Governador, depois Largo da Constituição porque foi ali que foi proclamada
a adesão do Pará a constituição portuguesa no ano de 1821. No ano de 1823 se chamava
Largo da Independência, por ter sido palco do movimento nacionalista que aderiu o Pará
ao Estado Brasileiro (Biblioteca do IBGE). Infelizmente, não encontramos informações
dizendo em que ano e por qual motivo esse espaço passa a ser denominado de Praça Dom
Pedro II.

Na segunda metade do século XVIII, as repartições públicas municipais estavam


instaladas em prédios alugados e espalhados pela cidade, assim, era importante a
existência de uma edificação que acomodasse todas essas repartições em um único local.
Portanto, José Coelho da Gama Abreu3, o mesmo que participou da elaboração da praça
Dom Pedro II, planejou e construiu o Palácio Antônio Lemos, também conhecido como
Palacete Azul. Este senhor, além do Palácio, foi o responsável por construir algumas das
edificações mais emblemáticas que existem até os dias atuais em nossa cidade: Bosque
Rodrigues Alves e o Teatro da Paz (Fleury, 2020).

A construção do Palácio Antônio Lemos se iniciou no ano de 1860 para abrigar as


funções públicas municipais. Porém, três anos depois ela foi paralisada e assim ocorreu
várias vezes até ser oficialmente inaugurado no ano de 1883, nomeado de “Paço
Municipal e Provincial” (Fleury 2020). De acordo com as informações existente no site
biblioteca do IBGE, no mesmo ano em que foi inaugurado, esse espaço recebeu algumas
alterações do arquiteto Antônio Landi, provavelmente, no mesmo período em que esse
arquiteto fazia a reforma do Palácio Lauro Sodré e da praça Dom Pedro II. No ano de
1911 o Palacete Azul passou por mais uma reforma e, assim, Capranesi, De Angelis e

3
Entre os anos de 1879 e 1881 foi Presidente da Província, depois, entre 1891 e 1894 foi o primeiro
intendente de Belém.
8
Teodoro Braga foram alguns dos responsáveis por acrescentar revestimento, além de
móveis e objetos seguindo a moda europeia (IPHAN4, Biblioteca do IBGE5 e O Liberal6).

Figura 1: Praça Dom Pedro II e o Palácio Antônio Lemos ao fundo. Fonte: Haroldo Baleixe
Blogspot .

Ainda de acordo com a biblioteca do IBGE, o Palacete Azul, ao longo dos anos,
abrigou a Junta Comercial, Conselho Municipal, Câmara dos deputados e Tribunal de
Relações. No início dos anos 1990, esse mesmo prédio recebeu mais uma reforma e foi
nesse período que passou a abrigar o Museu de Arte de Belém, um departamento da
Fundação Cultural do Município de Belém (FUMBEL). Além desse museu, neste mesmo
espaço está, atualmente, o Gabinete do Prefeito e a Coordenadoria de Comunicação
Social.

A arquitetura desse palácio é estilo neoclássico tardio, chamado de imperial


brasileiro, possui colunas toscanas, triângulos e simetria em sua fachada. Ainda na sua

4
http://portal.iphan.gov.br/pagina/detalhes/1217/
5
https://biblioteca.ibge.gov.br/biblioteca-
catalogo.html?id=42408&view=detalhes#:~:text=O%20Pal%C3%A1cio%20Ant%C3%B4nio%20Lemos
%20foi,e%20a%20C%C3%A2mara%20de%20Deputados.
6
https://www.oliberal.com/estudio/prefeitura-de-belem/prefeitura-de-belem-investe-r-26-milhoes-em-
reforma-e-restauracao-do-palacio-antonio-lemos-1.575672
9
fachada, existe três estátuas representando deuses gregos: Minerva, Hermes e Héfesto. O
piso se caracteriza por ser em mosaico ornamentados (Prefeitura de Belém7).

Ao longo de sua existência, até o início da década de 1990, esse palácio passou
por várias reformas que acabaram descaracterizando a sua arquitetura. No entanto, no ano
de 1994 foi novamente inaugurado depois de uma grande reforma que havia recebido,
que teria recuperado o seu primeiro estilo arquitetônico e obtendo as características que
podem ser vistas atualmente. Foi nesse mesmo ano em que o Museu de Arte de Belém
(MABE) foi transferido para esse palácio, estando lá até os dias atuais.

No ano de 1977, o Palácio Antônio Lemos e a Praça Dom Pedro II foram incluídos
no Conjunto Arquitetônico e Paisagístico “Ver-o-peso” e áreas adjacentes (Praça D. Pedro
II e Boulevard Castilhos França). Sendo inscrito nos seguintes livros do tombo8: Livro do
tombo histórico, pelo seu valor histórico para o município de Belém e Estado do Pará
(Volume: 1 - Folha: 077 - Nº da inscrição: 460 - Data: 09/11/1977); Livro do Tombo de
Belas Artes, pelo seu valor artístico (Volume: 1 - Folha: 096 - Nº da inscrição: 525 - Data:
09/11/1977) e Livro do Tombo Arqueológico, Etnográfico e Paisagístico, pelo seu valor
paisagístico (Volume: 1 - Folha: 16 - Nº da inscrição: 069 - Data: 09/11/1977). Alguns
anos depois, essa mesma região é tombada na esfera estadual e municipal.

7
https://mabe.belem.pa.gov.br/o-palacio/
8
Informações obtidas no Sistema Integrado de Conhecimento e Gestão (SICG):
https://sicg.iphan.gov.br/sicg/bem/visualizar/780#&panel1-18
10
Figura 2: Imagem recente do Palácio Antônio Lemos com as árvores da Praça Dom Pedro II.
Fonte: Agência Belém

3. Contexto Arqueológico
De acordo com Sistema Integrado de Conhecimento e Gestão (SICG), no Estado
do Pará existem 2.449 sítios arqueológicos cadastrados e na cidade de Belém apenas dois,
são eles: PA-BB-10 Val-de-Cãs que seria as ruínas de um antigo engenho, mas se encontra
completamente destruído e o PA-1501402-BA-ST-00002 Fazenda Embrapa, localizado
no terreno da Embrapa, com evidências de material cerâmico. Além desses dois sítios, o
Forte do Presépio está cadastrado como bem arqueológico do tipo acervo. A Coleção
arqueológica e etnográfica do Museu Paraense Emílio Goeldi é outro bem tombado a
nível federal de natureza de bem móvel ou integrado do tipo coleção.

As ruínas e a Capela de Nossa Senhora da Conceição do Engenho Murutucu estão


cadastradas como bem de natureza imóvel, do tipo edificação, localizado no bairro do
Curió-Utinga, região mais afastado do centro histórico da cidade. Desde o início da
década de 1990 este engenho, que utilizava a força da maré para o seu funcionamento, é
alvo de atividades de arqueologias promovidas pelo Museu Paraense Emílio Goeldi e pela
Universidade Federal do Pará (UFPA). O primeiro foco de estudo dentro desse engenho
foram os vestígios arquitetônicos da casa grande e da capela.

A partir do ano de 2014, é desenvolvido o projeto Sítio Arqueológico Histórico


Engenho do Murutucu, coordenado pelo professor Dr. Diogo Menezes Costa, vinculado
a UFPA. Várias teses e dissertações já foram desenvolvidas a partir desse projeto,
abordando diferentes áreas dentro da arqueologia, como por exemplo, estudo sobre vidros
lascados desenvolvida por Everaldo Junior, intitulada de “Objetos sobre vidros lascados
em contexto de senzala na Amazônia oriental brasileira: uma proposta metodológica de
macro e microanálise” (2017) e atividades com a comunidade local, memória e a relação
da população atual com um sítio arqueológico desenvolvida por Sabrina Fernandes,
intitulada de “Memórias e esquecimentos na ‘Fazenda Velha’: O sítio arqueológico
histórico Engenho do Murutucu” (2019).

Ainda fora do centro histórico da cidade, no âmbito de licenciamento ambiental,


no ano de 2008 foi executado o “Projeto de Salvamento Arqueológico na Área do Parque
de Ciência e Tecnologia do Guamá – UFPA”, localizado no terreno da Universidade
Federal do Pará, sob coordenação da Dra. Denise Schaan, onde ocorreu o salvamento do
11
sítio arqueológico Guamá. Este sítio se caracterizou por ser multicomponencial,
apresentou fragmentos de vasilhas de cerâmica, com antiplástico de areia, caraipé e caco
moído.

No contexto de pesquisas acadêmicas, existe um Trabalho de Conclusão de Curso


e uma dissertação que vão abordar o passado pré-colonial de Belém. A arqueóloga Branda
Bandeira para concluir seu curso de ciências sociais na UFPA realizou a seguinte
pesquisa: “Arqueologia Pré-Colonial de Belém: O caso do sítio Guamá”. Para a obtenção
do título de mestre em antropologia com área de concentração em arqueologia, a pesquisa
foi: “Tradição Tupiguarani na Bacia Guamá-Moju? Uma Análise a partir do Sítio
Arqueológico Guamá.” Até o presente momento, essas são as únicas pesquisas que temos
conhecimento que analisam o período anterior a chegada dos portugueses em Belém.

Retornando para o centro histórico da cidade, no âmbito acadêmico, existem mais


algumas pesquisas desenvolvidas de arqueologia. Como exemplo, podemos citar a
pesquisa de Rhuan Carlos Lopes, intitulada “O Melhor sítio da terra’: Colégio e Igreja
dos Jesuítas e a Paisagem da Belém do Grão Pará – Um estudo de Arqueologia da
Arquitetura” (2013). Esse complexo arquitetônico estava no localizada, no período
colonial, no núcleo da cidade, onde também se encontravam a Casa de Câmara, o Palácio
do Governo e o Forte do Presépio. Além disso, por muito anos, foi a construção mais
marcante na paisagem de Belém. A partir desse contexto, Lopes busca compreender, a
partir da Arqueologia da Arquitetura, como essas construções configuraram uma
paisagem de poder dentro da cidade.

Outro exemplo é a dissertação e tese escritas por Glenda Consuelo. A primeira


pesquisa desenvolvida foi na praça do Carmo, intitulada “Um Buraco No Meio Da Praça”:
Múltiplas Percepções Sobre Um Sítio Arqueológico Em Contexto Urbano Amazônico –
O Caso De Belém, Pará”. A outra pesquisa foi desenvolvida na Capela Pombo, no bairro
da Campina, intitulada “Arqueologia contemporânea e suas possibilidades: o caso da
Capela Pombo em Belém-PA”. Essas pesquisas abordam mais a arqueologia no período
contemporâneo, o que ajuda a entender como a população atual compreende os sítios
arqueológicos urbanos, podendo auxiliar na gestão desses bens.

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Outras obras ocorridas em Belém que tiveram acompanhamento arqueológico
foram as seguintes: Cais do Porto – Projeto Estação das Docas (1998/1999); Projeto Feliz
Lusitânia (2001/2002); Sesc Boulervad (2006/2019); Golf Marina – Marituba (2007),
Parque de Ciência e Tecnologia do Guamá (2010); Cemitério da Soledade (2009); Obras
do BRT (2013); Igreja do Rosário dos Homens Brancos; Projeto de Arqueologia histórica
no Memorial do Livro da UFPA (2017/2018); Belém Porto do Futuro (2018) 9; Projeto de
Arqueologia nas obras de restauro do Solar da Beira (2019/2020), Reforma do Mercado
de Peixe (2010), Projeto Arqueológico para as obras de requalificação da Rua João
Alfredo, Bairro da Campina, Belém/PA (2020).

Saindo da área urbana de Belém, na ilha de Cotijuba, foi desenvolvida a pesquisa


em arqueologia da arquitetura, intitulada “Arquitetura disciplinar na Amazônia: o
Educandário Dr. Nogueira de Faria – Ilha de Cotijuba – Belém – Pará”. Nesta pesquisa,
analiso a organização espacial do antigo educandário e presídio que existiu na ilha no
início do século XX, buscando identificar como o poder, o controle e a disciplina se
materializaram na arquitetura dessas instituições. Até este momento, só tenho
conhecimento dessa pesquisa arqueológica realizada na região das ilhas.

4. Localização
O Palácio Antônio Lemos está localizado na Praça Dom Pedro II, no bairro da Cidade
Velha. No mesmo perímetro estão localizados o Palácio Lauro Sodré e o Fórum, ficando
entre as ruas Padre Champagnat, Cel. Fontoura e João Diogo. Na figura 01 pode ser vista
a praça em frente ao palácio, as ruas que estão no entorno, o Palácio Lauro Sodré está à
esquerda e o Fórum atrás deste e o Palácio Antônio Lemos está destacado com o círculo
na cor vermelha.

9
Informações obtidas na palestra “Arqueologia Urbana: Desafios, Possibilidades e Experiências”
proferida pela arqueóloga Glenda Consuelo durante o Ciclo de Palestras Conversas Pai D’égua: falando
sobre patrimônio promovido pelo IPHAN no dia 29 de Março de 2019.
13
Figura 3: Localização do Palácio Antônio Lemos. Fonte: Google Maps

5. Escavação arqueológica

No dia 8 de maio de 2023 se iniciou o acompanhamento arqueológico para a


construção da estação de tratamento, sendo encerrada no dia 1 de junho, totalizando 20
dias. Está localizada à direita do palácio, pelo lado de fora, entre o edifício e o tapume.
Para a construção dessa estação de tratamento, a empresa optou por fazer com
reservatórios de água de fibra que continham as seguintes medidas: fossa: 2,30 m X 2,30
m X 1,60 m; purificador: 0,70 m X 0,70 m X 1 m; filtro: 1 m X 1 m X 1,60 m. Assim, era
necessário fazer a abertura de uma área maior que os reservatórios de água.

Após conversa com o encanador que seria responsável pela construção, optamos
por abrir uma área de 2,50 m de largura com espaço de 1 m entre os reservatórios para a
passagem do encanamento, assim, os reservatórios entrariam com facilidade e o
trabalhador teria espaço para se locomover para a realização do serviço. Além disso, foi
informado que piso de lioz existe na atualidade seria colocado novamente, assim, optei
por escavar até a profundidade de 2 metros. Essa profundidade também foi escolhida para
se ter o conhecimento do solo da região.

14
Para esta escavação, a metodologia adotada foi camadas artificias de 20 cm, pois,
considerei que abaixo do piso de lioz existiria, aproximadamente, entre 30 e 40 cm de
aterro ou alterações recentes. Assim, a partir dessa profundidade começaria a contagem
das camadas artificiais até encontrar o material arqueológico. Porém, como será visto nos
próximos parágrafos, foi encontrada apenas uma camada de 20 cm com material
arqueológico e logo abaixo dela já se encontra solo argiloso. Portanto, após finalizar a
escavação da área da fossa, o sistema de camadas artificiais foi descartado e optei por
seguir as camadas naturais do terreno.

Ao chegar no local da escavação (figura 02) a área ainda não estava limpa, assim,
no primeiro dia ocorreu apenas a retirada dos materiais construtivos e pedras de lioz que
ocupavam o espaço. Ademais, já tinha sido aberto uma parte do espaço ao lado do palácio
para saber se ainda estavam ali o encanamento do banheiro e para fazer a ligação da água
para o contêiner/vestiário.

Figura 4: Esquerda: local onde ocorreu a escavação. Direita: área que já tinha sido aberta.
Embaixo: retirada das pedras de lioz.

15
As pedras de lioz tinham aproximadamente entre 10 e 20 cm de espessura, abaixo
existe uma areia vermelha, típica de aterro que é utilizado na atualidade, com 20 cm de
espessura. Embaixo dela já tinha uma areia branca misturada com um pouco de argila. A
partir de 30 cm de profundidade, nesta parte especificamente, apareçam quatro hastes de
fio terra do palácio, bem centralizados, que seguiram até os 2 metros de profundidade
escavados e seguiam um pouco mais, porém, foi somente nessa profundidade que os
funcionários conseguiram retirar elas sem a necessidade de chegar até o final. Estas hastes
tinham 3,40 m de comprimento.

A região onde foi escavada a fossa se caracterizou por ter sido uma área que já
tinha sofrido bastante alteração. Entre 30 e 60 cm de profundidade, o solo não apresentou
uma característica única, tinha a aparência de um local bastante revolvido. Por exemplo,
nessa profundidade parecia que tinham utilizado terra de diferentes áreas escavadas,
acrescentado de vários materiais construtivos, como tijolos e telhas quebrados. Essa
prática de aterro com sobras e/ou quebras de materiais construtivos é muito comum. Aqui
em Belém já foi encontrado essa prática durante a pesquisa realizada no edifício histórico
do Solar da Beira e também na Av. Portugal (durante a execução do projeto referente a
rua João Alfredo) (Seabra, 2020 e 2022).

Neste primeiro momento, acreditei que tinha sido utilizado terra das camadas mais
profundas desse mesmo terreno e apenas tinham acrescentado materiais construtivos
quebrados. Porém, com o avanço da escavação, que será apresentado mais em frente, essa
hipótese não se confirmou.

O solo revirado nesta profundidade não é apenas da intervenção realizada para a


colocação dos fios, pois, de acordo com o eletricista da obra, para coloca-los, foi
necessário apenas a retiradas das pedras de lioz, escavar, aproximadamente, 20 cm e
depois ir martelando as hastes até ficar apenas uma parte suficiente para fazer a ligação
delas.

A partir de 60 cm começou a aparecer o material arqueológico, seguindo até 80


cm de profundidade. Em um primeiro momento, os vestígios se caracterizam por se
principalmente de faiança fina que pertenciam ao mesmo conjunto, mas também apareceu
um osso e alguns fragmentos de vidro. Quando se aproxima de 80 cm, continua

16
aparecendo apenas as faianças finas (figura 03). Esta camada se caracteriza por ser mais
escura, contudo, também aparece um pouco de argila.

Figura 5: Vestígios coletados na região da fossa

Figura 6: Área da fossa na profundidade que aparece material arqueológico

17
A partir de 80 cm de profundidade apareceu uma camada grande de argila amarela
com 30 cm de tamanho. Provavelmente, esta argila é o latossolo amarelo distrófico, típico
da região da cidade de Belém. Ele se caracteriza:

“ (...) por apresentar perfil profundo de baixa


fertilidade natural. Trata‐se de solo envelhecido,
ácidos a fortemente ácidos. Ocorrem em áreas de
relevo plano a suave ondulado, sob vegetação de
floresta tropical sempre verde pluvial tropical e
também vegetação secundária. São originários
de sedimentos argilo‐arenosos do Quaternário.”
(Anuário 2020 Prefeitura de Belém)

Abaixo dessa camada de argila amarela, aparece uma camada de argila mosqueada
devido à presença de ferro oxidado (branca e vermelha), provavelmente, plintossolo
argilúvico, que segue até a profundidade de 2 metros. Assim, a estratigrafia dessa área se
caracteriza por ser: pedra de lioz, aterro vermelho, areia branca, terra escura com material
arqueológico, argila amarela e argila branca e vermelha. Este desenho pode ser visto nas
figuras 05 e 06. Esse perfil estratigráfico vai seguir igual em toda a área escavada, por
isso que nesse desenho aparece o perfil de uma galeria pluvial encontrada no outro
extremo escavado.

Figura 7: Imagens do solo na região da fosso e perfil estratigráfico

18
Figura 8: Desenho do perfil estratigráfico de toda a área escavada. Desenho: Gabriela Mauriti

Além dos fios terra e vestígios arqueológicos, foi encontrado nessa região um muro
de 1 metro de largura que, de acordo com o engenheiro da obra, foi feito para a proteção
da tubulução que passa ao lado. Esse muro, segue aparecendo em toda a área escavada e
provavelmente, deve seguir até o final da calçada onde está localizado o Palácio Antônio
Lemos. Junto a esse muro apareceu outro fio terra que, de acordo com o eletricista, ainda
estava em funcionamento e rodeava todo o palácio (figura 05). Provavelmente, o solo
misturado e revirado encontrado entre 30 e 60 cm de profundidade deve ser consequência
da construção desse muro, colocação desse encanamento e instalação do fio terra que
rodeia o palácio.

Outra caracteristica da área da fossa foi a ausência da influência da água. Para a


cidade como Belém, cercada e cortada por rios e igarapés, a não presença de água em
uma escavação de 2 metros de profundidade, próxima a baía do guajará é chamativo.
Além dessa proximidade da baía, esta região do palácio está localizado ao lado do igarapé
do Piri, que foi aterrado no século XVIII. A ausência de água pode ser consequência da
baixa quantidade de chuva nos dias que a escavação ocorreu.
19
Após a finalização da escavação da fossa, foi iniciada a escavação da área onde
serão instalados o purificador e o filtro. Para esta parte decidi escavar a área toda, sem
fazer a divisão da área onde será colocado cada do reservatório. Assim, foi escavado uma
área de 5 X 2,70 X 1,90 metros10.

Diferentemente do que ocorreu na área da fossa, não foi possível atingir os 2 metros
de profundidade devido à grande quantidade de água que apareceu em toda essa área. A
junção da água como solo argiloso dificultou bastante atingir a profundidade exigida,
assim, a profundidade máxima atingida foi de 1,90 m. Nesta parte da estação de
tratamento a água começou a aparecer a partir de 1,10 m de profundidade. Talvez, o
motivo para isso tenha sido a grande quantidade chuva que caiu em Belém nos dias que
ocorreram essa escavação (figura 07).

Figura 9: Presença abundante de água na área do purificador e do filtro

O solo na área do purificador e do filtro não se comportou de maneira diferente do


que apareceu na fossa, porém a sequência estratigráfica é a mesma. A principal diferença
entre essas duas escavações é que a região da fossa estava muito mais alterada por obras
recentes, do que a do purificador e do filtro. Isso é perceptível pelo fato de ter aparecido
mais material arqueológico, principalmente vidro, e pela presença do segundo piso de
lioz. Assim que os auxiliares começaram a retirar o aterro vermelho que existe embaixo

10
A largura nesta parte é maior do que na área da fossa por causa das pedras de lioz. Era necessário retirar
a pedra inteira, sem quebrar, assim, a área fica maior, porém a parte escavada é reduzida.
20
do piso atual, outro piso de lioz apareceu, composto por 12 pedras, como pode ser visto
na figura 10. Este segundo piso, aparentemente, segue em direção a praça Dom Pedro II
e provavelmente, ocupava toda essa região. Nesta escavação, ao total, foram retiradas 81
pedras lioz.

Figura 10: Segundo piso de lioz encontrado

A partir do aparecimento deste segundo piso, podemos concluir que,


provavelmente, durante a última grande reforma do Palácio Antônio Lemos, no início da
década de 1990, a calçada no entorno do palácio foi refeita e, por isso, a existência de
dois pisos. Além disso, o fato da região da fossa está bastante revirada e não aparecer esse
outro piso, deve ter sido pela colocação dos fios terra, construção do muro pequeno para
o encanamento que vinha do banheiro. De acordo com o engenheiro da obra, a suspeita é
que em algum momento, entre o ano de 1994 e o presente, houve a tentativa de se
construir uma fossa para o banheiro nesta mesma área, porém ao invés de fazerem a queda
21
da água em direção a baía do Guajará, tentaram fazer no sentindo oposto, em direção a
praça Felipe Patroni.

No decorrer da escavação, optei em um primeiro momento as pedras do segundo


piso não foram retiradas, pois suspeitava que embaixo delas o solo estaria menos alterado,
assim, queria acompanhar com mais atenção a escavação. Entre a área da fossa e do
purificador precisei deixar um espaço de 1 metro sem escavar (figura 09), pois, essa
abertura ficava cheia de água por conta da chuva, assim, era importante deixar uma
barreira para que essa água não viesse para o outro lado que estava mais seco. Além disso,
gostaria de saber se o perfil estratigráfico seria o mesmo ou se teria alguma alteração.

Figura 11: Setas verdes apontando para a barreira entre a área da fossa e o restante da escavação

Na área entre a fossa até o segundo piso de lioz, as características do solo são as
mesmas que encontramos durante a escavação da fossa. O aparecimento do material
arqueológico ocorreu com 60 cm de profundidade até 80 cm, porém com em mais
quantidade. Como era suspeitado, embaixo do piso de lioz foi a área onde mais apareceu
material arqueológico, na mesma profundidade de toda a área escavada e com duas

22
garrafas inteiras, uma de vidro e outra de grés (figura 12). As faianças também
apareceram, mas em menor quantidade e muito mais fragmentada, a maior quantidade de
vestígios foi de vidro e em seguida o grés. Abaixo dessa camada com vestígios
arqueológicos já começou a aparecer o latossolo amarelo e em seguida o plintossolo
argilúvico, seguindo o mesmo padrão encontrado durante a escavação da fossa.

Figura 12: Vestígios arqueológicos encontrados embaixo do piso de lioz

Além de aparecer a maior quantidade de vestígios arqueológicos, deste mesmo


lado, na diagonal, com 1,10 m de profundidade, apareceu uma galaria pluvial construída
com técnica e material construído antigos: tijolo maciço e barro amarelo. Esta galeria tem
as seguintes medidas: 64 de comprimento, 50 de largura, 6 cm de “margem” e uma parede
lateral de, aproximadamente, 40 cm. Não foi possível precisar o tamanho completo desta
parede, porque ela segue aparecendo em profundidades superiores à 1,90 m (figuras 13 e
14).

Como foi informado anteriormente, a grande quantidade de água presente junto


com o solo argiloso dificultou o prosseguimento da escavação até 2 metros ou mais. Além
23
disso, esta galeria estava quebrada, então, acredita-se que ela já tenha sido abandonada.
De acordo com uma diretora da Secretaria Municipal de Urbanismo de Belém, esse tipo
de galeria já não é mais utilizado em nossa cidade.

As galerias pluviais pertencem ao sistema de drenagem de águas pluviais,


normalmente presente em áreas urbanas como ruas e estacionamentos, por exemplo, e
servem para drenar a água das chuvas para rios, canais, córregos ou lagos. A captação da
água da chuva ocorre por meio de diferentes equipamentos: bocas de lobo, poços de
visitas, aduelas e tubulação.

Figura 13: Galeria pluvial

24
Figura 14: Desenho da galeria pluvial. Vista superior. Desenho: Gabriela Mauriti

Ao escrever o projeto para essa obra, a minha hipótese era que nesta região da
cidade poderia encontrar o solo natural de Belém. De acordo com a pesquisa histórica
realizada, foi informado que esta parte da cidade era uma área alagadiça que demorou
algum tempo até ser urbanizada. Porém, ainda tinha dúvidas se essa área precisou de
aterro e se o aterro iria se comportar da mesma maneira que em outros pontos da cidade,
como o Solar da Beira e a Av. Portugal, por exemplo. A partir disso, não tinha segurança
em afirmar se iria aparecer material arqueológico e se encontraria o solo natural da cidade.
Além disso, tinha conhecimento de que o igarapé do piri, que foi aterrado no século
XVIII, passava ao lado, na rua 16 de novembro, porém, não tenho informações do seu
tamanho e até que ponto ele poderia ter influenciado essa parte onde o palácio está
construído.

Após a finalização da escavação, posso concluir que a minha primeira hipótese,


de que aqui já poderia existir o solo natural da cidade, se confirmou. Outra confirmação
que ocorreu é de que aqui ainda continua sendo um terreno alagadiço, ou seja, que fica
alagado de acordo com a precipitação da chuva. Os dias em que ocorreu a escavação da
25
fossa foram mais secos, talvez, esse tenha sido o motivo para a não presença de água
durante essa escavação. Porém, durante a escavação da área do purificador e do filtro, a
chuva já esteve presente na maior parte dos dias e em grande quantidade. Portanto, a
escavação e a visibilidade do terreno ficaram mais prejudicadas.

A segunda dúvida referente a essa região da cidade era sobre a existência ou não
de aterro. Como já foi informado anteriormente, as camadas a cima do solo argiloso se
caracterizam como sendo de aterro, principalmente na profundidade onde o material
arqueológico está presente. Está camada se parecia muito com as primeiras camadas
encontradas durante a escavação do Solar da Beira: pouco material arqueológico e bem
fragmentado (Seabra, 2020).

A pouca presença de vestígios arqueológicos se deve a dois fatores. O primeiro é


que o aterro realizado nessa região, provavelmente, deve se estender no sentido
horizontal, com a intenção de preparar o terreno para a construção do palácio e também
para a urbanização do espaço. Por ter o solo mais firme, então não precisaria de um aterro
tão profundo, assim, o material arqueológico se encontra mais espalhado, fragmentado e
não concentrado em um único local. Diferentemente do Solar da Beira e da Av. Portugal
que estão localizados em cima da baía do Guajará e igarapé do piri, respectivamente. Essa
característica exige muito mais aterro. (Seabra 2020, Seabra 2022). O segundo motivo foi
o fato da área da fossa já ter sido alterada em obras recentes.

A partir das faianças, é possível estimar que o aterro colocado é da segunda metade
do século XIX e está mais relacionado com os hábitos de consumo gerais da população
belenense, do que com o cotidiano do palácio. Além disso, precisa se considerar que este
palácio sempre pertenceu a esfera pública municipal, com a presença de órgãos públicos
e não recebeu funções de residência.

26
Figura 15: Vista superior do local da escavação

Ao total foram coletados 295 vestígios arqueológicos, divididos em: cerâmica


histórica, louça (faiança fina, simples e porcelana), vidro, ossos e grés. Outra
característica desse aterro foi a falta de vestígios metálicos de qualquer tipo. Não foram
encontrados moedas, cravos, parafusos, ferraduras e nenhum outro tipo de objeto dessa
natureza. Porém, havia algum vestígio desse material, pois uma parte de uma borda de
cerâmica e uma base de garrafa de vidro quebrada foram encontrados com resquícios de
metal. Também não foi encontrado vestígio plástico de nenhum tipo.

Apesar da escavação ter ocorrido de maneira separada (fossa do purificador e


filtro), não ocorreu separação do material coletado entre eles, pois, todos foram coletados
na mesma profundidade e o solo em que eles aparecem é igual. Essa divisão ocorreu
apenas para melhor encaixar o ritmo de trabalho da arqueologia com a obra e para ter um
conhecimento de como era o solo da região. Toda essa área escavada foi considerada
apenas uma, pois não existe mudanças entre uma e outra.

No decorrer do trabalho, outras escavações foram realizadas na área interna do


palácio, para a passagem do encanamento de água para o sistema de incêndio e também
para a passagem da tubulação do ar-condicionado. Não informaram anteriormente que

27
essas escavações seriam realizadas dentro do palácio, portanto, não foram incluídas no
projeto de arqueologia entregue, mas acompanhei até onde foi possível.

Essas escavações tinham entre 30 e 40 cm de profundidade e 20 cm de largura, se


estendendo pelos pátios internos do palácio. A terra que aparece embaixo se caracteriza
por ser a típica utilizada para aterro, a vermelha. Durante essa escavação foi encontrado
um fragmento de base de louça com decoração interna e tubulação de cerâmica (figura
16).

Figura 16: Canaletas escavadas na área interna do palácio e fragmento de faiança fina
encontrado

5. Atividade de curadoria, conservação e catalogação

Para as atividades curadoria a empresa responsável pela obra disponibilizou uma


sala, de uso da equipe de consultoria em restauro, feita de compensado pintado de branco,
com estante e mesas do mesmo material, como pode ser visto na figura 17. Nesta estante
o material arqueológico era colocado para secar por, aproximadamente, dois dias.
Transcorrido esse tempo e tendo a confirmação que o fragmento estava seco, eles eram
armazenados em sacos plásticos perfurados, seguindo a orientação da instituição de
guarda.
28
As atividades de curadoria iniciaram no momento em que o material arqueológico
foi coletado, por ser uma região com muita presença de argila, os vestígios estavam bem
sujos. Caso a terra que estava presa neles secasse, era mais difícil de fazer a limpeza, pois
estaria dura. Assim, os vidros, as faianças e grés foram lavados com água corrente. Os
ossos e as cerâmicas, por serem mais frágeis e, também, seguindo a orientação da
instituição de guarda, foram os únicos que sofreram limpeza a seco com pincel de cerdas
macias e palito de madeira.

Figura 17: Sala destinada para as atividades de curadoria da arqueologia

29
Figura 18: Atividade de limpeza e catalogação dos fragmentos

Após a limpeza do material, teve início a atividade de catalogação dos vestígios.


Para essa etapa segui as orientações e números repassados pela instituição de guarda, o
Museu Paraense Emílio Goeldi. De acordo com a organização interna deste museu, cada
sítio arqueológico recebe um nome e uma sigla, assim, para este projeto a sigla foi PA-
BB-33: Palácio Antônio Lemos e o número de cadastro foi 2997. Ainda de acordo com
as regras desta instituição, o número 2997 é dado quando ocorrem coletas em superfície
ou no primeiro nível. Caso a área escavada tenha mais de um nível, então, a peça coletada
terá a numeração 2998 e assim sucessivamente.

Para a catalogação foram utilizados os seguintes materiais: esmalte base da marca


colorama, marcador permanente na cor preta ponta fina (0.4) da marca acrilex, caneta
pena e tinta nankin branca da marca acrilex. O marcador permanente foi utilizado nos
fragmentos de louças, grés e cerâmica, a tinta nankin foi utilizada apenas nos vidros. Os
ossos não receberam numeração direta, receberam uma etiqueta adesiva no saco plástico
em que estão armazenados.

30
Como foi informado durante a descrição da escavação, o material arqueológico se
concentrou em uma camada de 20 cm, entre 60 e 80 cm de profundidade, porém, ele
aparece com mais frequência na profundidade entre 70 e 80 cm. Além disso, os primeiros
fragmentos encontrados se caracterizam por serem muito pequenos, as faianças, por
exemplo, estavam com menos de 5 cm de tamanho e/ou eram brancas e sem morfologia
específica. Neste caso, esse tipo de material, normalmente, não é guardado para analise,
apenas é quantificado e logo em seguida deixado no mesmo local.

Além disso, nos vestígios em vidro optei apenas por coletar as bases de garrafas,
pescoço, anel, boca ou fragmentos grandes que fossem trazer mais informações do que
apenas a cor do fragmento. Essa escolha ocorreu pelo motivo de que a partir de bases e/ou
gargalos de garrafas é possível fazer uma melhor análise do material que foi descartado
neste aterro. Ademais, a partir dessas partes especificas é possível averiguar a quantidade
de material descartado.

Assim, uma base ou um gargalo dão o indicativo de uma garrafa e, podemos


averiguar o uso que foi dado a ela, se era de vinho, cerveja, água, espumante e entre outras
opções. Os fragmentos pequenos e sem forma especifica de ser identificada não foram
considerados pois, corria o risco de coletar vários fragmentos pequenos de uma mesma
garrafa. Ao coletar apenas as bases e gargalos esse risco ainda é existente, porém ele é
menor.

Na análise dos materiais vítreos, considera-se que cada fragmento coletado seja
de uma peça. Na análise das louças já foi necessário considerar o número mínimo de
indivíduos (NMI), pois, alguns vestígios coletados tinham fragmentos com as mesmas
características, porém, davam o indicativo de ser um conjunto de fragmento, assim,
existindo mais de uma peça.

Por tanto, a numeração dos fragmentos ocorreu da seguinte forma, 2997 foi
utilizado para os fragmentos coletados entre 60 e 70 cm; e 2998 para os fragmentos que
foram coletados entre 70 e 80 cm (gráfico 02). Apesar de ser uma única área, alguns
vestígios arqueológicos apareceram mais no primeiro nível e outros no segundo. Por
exemplo, os fragmentos em grés só começaram a aparecer a partir de 70 cm de

31
profundidade e somente na parte que estava embaixo do segundo piso de lioz. Enquanto
que as louças e vidros aparecem em toda a camada de 20 cm.

Nível

66
Nível 1 (2997)
Nível 2 (2998)

229

Gráfico 1: Quantidade de fragmentos por nível

Como já foi informado anteriormente, foram coletados 295 vestígios, divididos


em: faiança fina, simples, porcelana, grés, cerâmica histórica, vidro e ossos. Destes
materiais, o que apareceu em maior quantidade foi a faiança fina, com 126 fragmentos e
em seguida está o vidro com 109 fragmentos e uma garrafa inteira (gráfico 02). Estes dois
tipos de vestígios são os mais comuns encontrados também em outras regiões da cidade,
como o Solar da Beira, Av. Portugal (referente ao projeto da rua João Alfredo) e Sesc Ver-
o-peso (Gomes et all, 2021; Seabra, 2020; Seabra, 2022).

Essa coincidência deve ocorrer por vários motivos, porém, o principal pode ser o
fato de que a organização da área urbana de Belém, principalmente nos bairros da
campina e cidade velha, ter sido planejada e colocada em prática no mesmo período, a
partir do final da segunda metade do século XVIII e se estendendo por todo o século XIX.
Assim, tem-se que a região da Av. Boulevard Castilhos França começou a ser aterrada na
virada do século XVIII – XIX. A construção do Palácio Antônio Lemos e a preparação da
Praça Dom Pedro II ocorrendo também no século XIX.

Além das faianças finas e vidros, foram encontrados 25 fragmentos/peças de grés,


23 faianças simples, 6 cerâmicas históricas e 4 ossos (gráfico 02). Como já foi informado
anteriormente, essa região já tinha sido bastante alterada, como consequência de obras
que ocorreram, provavelmente, pós década de 1990.

32
Total de vestígios coletados
4

Faiança fina
109
126 Faiança simples
Porcelana
Grés
Cerâmica
Vidro
Ossos
6
25 23
2

Gráfico 2: Total de vestígios encontrados na escavação da estação de tratamento

Nos próximos tópicos desse capítulo será apresentada as análises individuais para
cada vestígio coletado. Apesar de serem diferentes, algumas informações na ficha de
análise são comuns para todos: número da caixa em que o material está armazenado, nome
do sítio, número de cadastro dentro da instituição de guarda, número da peça ou
fragmento analisado, número de fragmentos e natureza/morfologia do que está sendo
analisado. Em seguida, é apresentado informações específicas de cada tipo de material.

5.1. Análise das louças

Neste projeto as louças foram divididas em faiança fina, simples e porcelana.


Para esta análise, além das informações em comum que existe em todas as fichas de
análises, foram considerados os seguintes atributos: material (faiança, faiança fina ou
porcelana), esmalte, técnica decorativa, estilo decorativo, cor, motivo decorativo, selo e
descrição da peça.

Como foi informado anteriormente, esse foi o tipo de vestígio mais encontrado
durante a escavação da estação de tratamento, como, também, foi encontrado uma parte
de base durante a escavação de uma canaleta para a passagem dos tubos de ar-
condicionado e sistema de incêndio no interior do palácio. Além disso, esse foi o tipo de
vestígio arqueológico mais encontrado no primeiro nível, com 54 fragmentos e 97 no
segundo (gráfico 03). Entre essas variações, a faiança fina é a mais presente neste
contexto, com 126 fragmentos, faiança simples com 23 e porcelana apenas com 2
33
fragmentos (gráfico 04). O número mínimo de indivíduos para este tipo de vestígio foi de
86.

A faiança surgiu na Itália, na cidade Faenza, no ano de 1460, tendo dois tipos de
pastas a amarela ou vermelha que eram revestidas com esmalte. Esse revestimento
poderia ser transparente, que ocorre quando se tem a utilização de chumbo ou branco
quando se utiliza estanho. Apesar do seu surgimento na Itália, foi Portugal quem se
destacou, até o século XVI, na produção das faianças. A faiança fina surgiu na Inglaterra,
na segunda metade do século XVIII e se estendeu até o final século XIX. A produção de
Faiança Fina no Brasil começou nas primeiras décadas do século XX, em São Paulo
(Symanski 1996, Tocchetto 2001, Thiesen 2005).

Nível
54 Nível 1 (2997)
97
Nível 2 (2998)

Gráfico 3: Quantidade de faianças por nível

Pasta

23
Faiança fina

Faiança simples

Porcelana
126

Gráfico 4: Quantidade de faianças finas, simples e porcelanas

34
Figura 19: Faiança simples, porcelana e faiança fina encontradas na escavação da estação de
tratamento

A morfologia mais encontrada nesse vestígio foi de tigela, com 35 fragmentos.


Esse caso especifico é um conjunto de fragmentos, com mesmas características que
parecem pertencer a mesma peça, mas não foi possível fazer uma remontagem. Em
seguida, a borda foi a segunda morfologia mais encontrada com 34 fragmentos.
Normalmente, neste tipo de vestígio é comum fazer coletas de fragmento mesmo sem
identificação de uma parte especifica (por exemplo, borda, base ou alça), que tenham
mais de 5 cm de tamanho, por ter outras informações que são relevantes na decoração
e/ou na sua cor. Assim, foram coletados 27 fragmentos “sem forma”11 (gráfico 05).

Além das morfologias apresentadas no parágrafo anterior, foi possível identificar


que 22 eram fragmentos de malga, 8 fragmentos de pires, 7 bases, 7 fragmentos de
tigela/prato. Estes últimos informados pertencem a um mesmo conjunto, pois possuem a
mesma decoração, mas os fragmentos deles indicam que existem, pelo menos, duas

11
No gráfico essa informação aparece apenas como “fragmentos”.
35
morfologias diferentes. Por último, foi coletado um (1) fragmento de cada morfologia
apresentada a seguir: tampa, alça, xícara e prato (gráfico 05).

1
7
Morfologia
27
Fragmento
Fragmento de alça
35 1
Fragmento de base
Fragmento de borda
7
Fragmento de malga
Fragmento de pires
Fragmento de prato
1 Fragmento de xícara
1 Fragmento de tigela
8
34 Fragmento de tigela e prato
Fragmentos de tigela/prato
22

Gráfico 5: Gráfico com as diferentes morfologias encontrada nas louças

Figura 20: Morfologias encontradas: tampa, pires, tigela e base, respectivamente

36
O próximo atributo observado é o esmalte. Ele é utilizado para a
impermeabilização da louça, sendo aplicado na sua parte interna e externa quando é
levada ao forno. O esmalte creamwere deixa uma coloração amarelada, por causa da
utilização do óxido chumbo, o seu surgimento ocorreu por de 1763, na Inglaterra. Depois,
em 1818, a técnica foi melhorada e ocorreu a criação do pearlware, de coloração azulada
pela utilização do óxido de cobalto. A utilização desse esmalte foi comum até o ano de
1840, quando ocorreu o aparecimento do whiteware, esmalte branco. Esse esmalte é o
mais utilizado, seguindo até os dias atuais (Thiesen 2005).

Durante a escavação da estação de tratamento, as louças encontradas se


caracterizaram por ter a utilização do pearlware (56 fragmentos), creamware (22) e
whiteware (7). Considerei que o esmalte de todas as faianças simples foi o creamware,
por ser o mais antigo e esse tipo de faiança também (gráfico 06).

Esmalte
7
23
Creamware
Pearlware
Whiteware
56

Gráfico 6: Esmaltes identificados nas louças

Em seguida, o outro atributo observado é a técnica decorativa. Neste atributo,


foram constatadas oito técnicas decorativas distintas, sendo o tranffer printed e a pintura
a mão as mais identificadas, estando presente em 28 fragmentos, cada. Em seguida, em
seis fragmentos foi aplicada a técnica do borrão azul. Nesta mesma quantidade está a
técnica de superfície modificada. Em cinco fragmentos não foi identificada nenhuma
técnica12, em quatro foram identificados a junção de duas técnicas decorativas: superfície
modifica e transffer printed. Por último, com o aparecimento em apenas um fragmento
cada, foram identificadas essas técnicas: borrão azul com royal rim, decalco e superfície
modifica com borrão azul (gráfico 07).

12
No gráfico esses fragmentos foram identificados como “não se aplica”.
37
Técnica decorativa Borrão azul
11
6 Borrão azul/ royal rim

5 Decalco
28
Não se aplica

Pintado a mão

Superfície modificada

Superfície modificada/
28
Borrão azul
4 Superfície modificada/
transffer printed
6
1 Transffer printed

Gráfico 7: Técnicas decorativas encontradas nas louças

Figura 21: Técnicas decorativas: transffer printed, superfície modificada e outras

O outro atributo observado é o estilo decorativo e foram identificados quatro: 16


brancos e azul, referente principalmente as faianças simples; 54 produção industrial,
38
referente as faianças finas; três simples e dois vinosos. Porém, em quatro fragmentos esse
tipo de análise não se aplicava e em apenas um não foi possível fazer a identificação
(gráfico 08).

Estilo decorativo
3 2 Branco e azul
16
Não foi possível identificar

1
Não se aplica

4
Produção insdustrial

Simples

Vinoso
54

Gráfico 8: Estilos decorativo das louças

As cores foi o segundo atributo que mais apresentou diversidade entre as


faianças coletadas, foram identificadas 12 cores diferentes, sendo que o azul foi o mais
presente, aparecendo em 53 fragmentos. Em seguida foi o branco com sete fragmentos,
depois foram identificados quatro fragmentos policrômicos (três ou mais cores), três
rosas, três azul e verde, dois pretos, dois vinhos, dois verdes, um amarelo, um marrom,
um verde e rosa e um azul e vinho (gráfico 09).

39
2 1 2 1 Cor
3
2 Amarelo
1 4 Azul
Azul e verde
Azul e vinho
7 Branco
Marrom
1 Policrômico
3 Preto
53 Rosa
Verde
Verde e rosa
Vinho

Gráfico 9: Cores encontradas nas louças

O motivo decorativo foi o atributo com mais variedade encontrado, porém,


apesar desta diversidade, na maioria dos fragmentos, 27 ao total, não foi possível fazer a
identificação e em 5 não tinha nenhum motivo decorativo. Entre os que foi possível
reconhecer que o floral foi o mais comum, estando presente em 20 fragmentos, em
seguida são quatro românticos, três pastoral, três abstrato, três geométricos, dois tinham
apenas faixa, dois eram faixas e frisos, dois shell edge/royal rim e 2 folha. Os próximos
motivos relatados apareceram apenas um fragmento: carimbado, chinoiseire, clássico,
flores, geométrico/floral, geométrico/romântico e trigal (gráfico 10).

11 1
4
2 1 3 Motivo decorativo
2
3 2 Abstrato
Carimbado
5 Chinoiseire
Clássico
Faixa
Faixas e frisos
Floral
20 Flores
Folha
Geométrico
Geométrico/ Floral
Geométrico/ Romântico
27 Não foi possível identificar
Não se aplica
2 Pastoral
3 1 Romântico
1
Shell Edged/ Royal rim
1 Trigal

40
Gráfico 10: Motivos decorativo das louças

Normalmente, nas louças é comum ter o selo da empresa fabricante do objeto.


Ele é um marcador temporal de excelente qualidade, dando o indicativo do período, tipo
de produção, origem e, também, valor econômico. Porém, nas louças coletadas durante a
escavação da estação de tratamento, apenas um fragmento tinha selo, contudo, não foi
possível fazer a leitura, como pode ser observado na figura 22:

Figura 22: Base com selo

Os vestígios de louças encontrados e coletados durante a escavação da estação


de tratamento se caracterizaram por serem de aterro, todos bastante fragmentados, com
grande variedade do motivo decorativo e a baixa possibilidade de remontagem. Somente
foi possível remontar parte de peças, ou seja, ao ser descartada aquela peça,
provavelmente, já estava quebrada e ao ser utilizada no aterro sofreu mais uma quebra.
Assim, apenas foi possível identificar a morfologia em três conjuntos de fragmentos: pires
(2998.12) e duas malgas (2998.7 e 2998.13), representados respectivamente na figura 20.

41
Figura 20: Fragmentos que foi possível identificar como pertencendo a mesma
peça

5.2. Análise do Grés

O grés é um tipo de cerâmica de granulação fina, sem impurezas, possuindo,


normalmente, uma característica vidrada, cozida em altas temperaturas que possui uma
tecnologia não muito avançada, porém, é um material de alta qualidade. Toda a sua
produção é feita com torno que deixam marcas no seu interior. É um produto tipicamente
europeu, que surgiu no meio do século XVI, principalmente no norte e centro desse
continente. Somente a partir da segunda metade do século XVII. Existem dois tipos de
pastas para o grés: a branca e a escura. A branca tem as seguintes características: som
vítreo, esmalte fundido a pasta, sem lustro e sem porosidade. A escura se caracteriza por
ter a pasta cinza, bege ou marrom e granulação mais fina e também tem o esmalte fundido
a pasta e é impermeável (Costa 2003, Schávelson 2018).

Durante a escavação da estação de tratamento esse vestígio apareceu somente no


segundo nível e na área embaixo do segundo piso de lioz. E seguindo o padrão de todos
os vestígios encontrados nesse projeto, eles estavam bastante fragmento, aparecendo
somente uma garrafa inteira. Ao total, foram coletados 25 fragmentos e peças em grés, o
número mínimo de indivíduos para esse material são 10, divididos nas seguintes
morfologias identificadas: três garrafas fragmentada, sendo 16 fragmentos; uma garrafa
inteira, uma garrafa quebrada, uma base de garrafa partida em dois fragmentos, uma alça,

42
uma alça com lábio e três fragmentos (gráfico 11). A pasta identificada em todas peças e
fragmentos é o grés branco e três cores foram identificadas: três bege, um marrom e seis
avermelhado. Essas cores se caracterizaram por serem bem comum desse tipo de material
(gráfico 12 e figura 22).

Uma garrafa de grés foi encontrada inteira, porém, durante a palestra com os
funcionários da obra, incluindo o engenheiro, mestre de obra, operários, administração e
estagiários de arquitetura e engenharia, a boca da dessa garrafa se partiu e ficou separada
do restante do objeto. Apesar desse infeliz acontecimento, não ocorreu perda maior da
peça e nem informação que ela possa gerar no futuro. Além disso, é possível fazer a
colagem da peça, sem nenhum tipo de prejuízo.

Morfologia
Garrafa fragmentada
Garrafa quebrada
3 3
Garrafa inteira
Alça
Alça e lábio
1 1 Base
Fragmentos
1 1
1

Gráfico 11: Morfologias do grés

Cor
1

Marrom
3 Bege
6 Avermelhado

Gráfico 12: Cores do grés

43
Figura 23: Fragmentos e peças de grés coletados no Palácio Antônio Lemos

A garrafa encontrada inteira se caracteriza por ter 20,5 cm de altura e 8,5 cm de


diâmetro, coloração clara com um corpo mais largo e gargalo fino e boca larga. De acordo
com as pesquisas de Daniel Schávelson em Buenos Aires (Argentina), esse modelo de
garrafa é chamado de “brillantina”, com uma datação ocorrendo entre 1870 e 1920, para
o contexto argentino. A “brillantina” era um produto muito comum entre os homens que
serviam para fixar o cabelo e os bigodes. Ainda de acordo com esse pesquisador, esses
modelos de garrafas se caracterizam por serem de tonalidades claras, boca larga e suas
medidas variam entre 9,7 e 20 cm de altura e diâmetro entre 4,3 e 7 cm. A figura 24
apresenta, à direita, as garrafas “brillantina” encontradas em Buenos Aires e à esquerda a
garrafa coletada no Palácio Antônio Lemos. A seta verde indica a garrafa argentina que
possui as mesmas características da garrafa belenense.

44
Figura 24: Direita: garrafas de grés “brillantina” de Buenos Aires. Fonte: Schávelson, p. 159,
2018. Esquerda: garrafa de grés coletada no Palácio Antônio Lemos

De todos os vestígios coletados durante este projeto, este é o que mais possui
gravações que dão indicação de origem e do fabricante, ao total três peças possuíam
alguma gravação. Nas peças n° 2998.5.2 está a gravação das seguintes letras: “ND
FOCKINK ‘TERDAM” e a peça n° 2998.5.5 tem as seguintes letras: “KINK AM” (figura
25). Essas letras são referentes a marca holandesa: “WYNAND FOCKINK-
AMSTERDAM”.

De acordo com Schávelson (2018) as garrafas de grés dessa marca eram


utilizadas, em um primeiro momento, para medicamento e podiam compartilhar a função
com garrafas de água mineral. Esse tipo de grés começou a ser produzido no século XVII,
tendo a Alemanha, Holanda, Inglaterra e Dinamarca como seus principais produtores.
Eram finas, compridas e tinham o formato cilíndrico, de coloração marrom, podem ser
mais claros ou mais escuros.

Infelizmente, durante a escavação na estação de tratamento para o Palácio


Antônio Lemos, só foi possível encontrar dois fragmentos pequenos dessa garrafa, porém,
em outro acervo arqueológico da cidade de Belém, é possível encontrar duas garrafas
inteiras dessa mesma marca que foram coletadas durante a escavação do prédio histórico
Solar da Beira, localizado na feira do Ver-o-Peso (Seabra, 2020) (figura 25).

45
Figura 25: Foto de cima: fragmentos de grés coletados no Palácio Antônio Lemos. Foto
debaixo: garrafas de grés coletadas no Solar da Beira. Fonte: Seabra, p. 78, 2020

A outra gravação encontrada foi na peça n° 2998.4, uma base de garrafa, divididas
em duas partes, nela é possível observar, com um pouco de dificuldade, as seguintes
letras: “YS ATE LONDON” (figura 25). Porém, não foi possível encontrar nenhuma
informação ou marca relacionada a essa gravação específica. O que pode ser
compreendido é que essa garrafa foi produzida na Inglaterra. Normalmente, as garrafas
de grés produzidas nesse país estão relacionadas a cerveja, porém, com a pouca
informação, não é possível afirmar que esta base encontrada era para armazenamento
deste produto.

46
Figura 26: Base de grés com a gravação “YS ATE LONDON”

As garrafas de grés normalmente possuem morfologias bem características e


comum, não existe uma grande variedade em suas formas, assim, a partir das duas alças
que foram encontradas, pode-se afirmar que elas pertenciam a garrafas cilíndricas, finas
e que, provavelmente, eram utilizadas para o armazenamento de água. Essas alças
coletadas poderiam pertencer as mesmas garrafas fragmentadas que foram encontradas
durante essa escavação.

Esta afirmação é possível, pois, novamente ao fazer uma comparação com o


acervo gerado pelo projeto arqueológico do Solar da Beira (Seabra, 2020), é possível
encontrar semelhanças entre os fragmentos coletados no Palácio Antônio Lemos com as
peças inteiras deste prédio. Assim, a figura 26 é uma montagem que mostra as
semelhanças entre as alças coletadas no Palácio Antônio Lemos e as alças ainda nas
garrafas que foram coletadas no Solar da Beira.

Figura 27: Direita: alças coletadas no Palácio Antônio Lemos. Esquerda: Garrafas inteiras
coletadas no Solar da Beira. Fonte: Seabra, p. 78, 2020

Os vestígios de grés seguiram o mesmo padrão encontrada para essa região


escavada, bastante fragmentado. Sinalizando, novamente, se tratar de vestígios utilizados
para o aterramento da região para a preparação da ocupação do solo. Além disso, o grés
seguiu também o padrão encontrado em outros sítios arqueológicos da cidade tanto no
provável formato dos fragmentos coletados, quanto nas gravações com os nomes dos
fabricantes. Principal exemplo utilizado neste relatório foi o acervo do Solar Beira, mas,
também, posso citar que no projeto arqueológico do SESC Ver-o-Peso também foram

47
encontrados fragmentos e garrafas inteiras parecidos. Como também, na exposição
arqueológica da Estação das Docas e do Museu do Encontro é possível encontrar peças
de grés inteiras com características semelhantes.

5.3. Análise da Cerâmica histórica

Nos sítios arqueológicos históricos é comum encontrar vestígios da cerâmica


histórica, que pode ser dividida em cerâmica indígena, africana e europeia. Cada uma
com características específicas de produção, porém, também pode ocorrer a mestiçagem,
quando duas ou mais técnicas são utilizadas para a produção de um artefato cerâmico. Na
cidade de Belém, ainda são escassas as informações a respeito desse tipo de vestígio,
assim, a partir dessa realidade, optei por fazer uma descrição mais geral das peças
coletadas13.

Durante a escavação na estação de tratamento foi possível coletar cinco


fragmentos e uma peça inteira, dividida nas seguintes morfologias: tampa, alça, dois
fragmentos de borda e dois de corpo (gráfico 13 e figura 27). Todo esse material coletado
possui características de cerâmica europeia, confeccionado com torno, quatro com
alisamento interno e duas sem. Um fragmento foi envernizado interna e externamente,
além disso, somente nesse fragmento é possível identificar o uso de rocha triturada como
antiplástico.

Somente em um fragmento de borda é possível observar a queima incompleta da


peça, porém, tem o uso de tinta e verniz no lado interno, sendo que do lado externo esse
tratamento já não está mais presente. Todas os outros fragmentos e peça encontrados
apresentam queima completa, indicando o controle do processo de produção da peça. A
partir de todas essas características pode-se dizer que essas cerâmicas foram feitas com
técnica europeia.

13
Descrição mais detalhada desse vestígio pode ser lido em sua ficha de análise.
48
Morfologia

1 1

2 2

Alça Borda Fragmentos Tampa

Gráfico 13: Morfologia da cerâmica histórica

Figura 28: Cerâmicas coletas na estação de tratamento

Esse material também segue o padrão que aparece em outros sítios arqueológicos
da cidade de Belém, o diferencial, é a baixa quantidade desse tipo de vestígio nessa região.
Em outros projetos realizados nessa cidade, esses vestígios também aparecem em menor
quantidade, quando comparados a outros, como a faiança fina, por exemplo. Porém, neste
contexto, a sua presença é mais baixa que o padrão. Talvez, essa baixa quantidade pode

49
estar relacionada com o tamanho da área escavada, como também com o fato de ser uma
área que já tinha sofrido alterações no solo na década de 1990.

5.4. Análise do material vitreo

A mistura de sílica, carbonato de sódio e de cálcio, com sua fusão ocorrendo


entre 1.400 – 1.600°C, para dar origem ao vidro, material encontrado com facilidade e
em abundância nos sítios arqueológicos históricos. Não se pode afirmar ao certo qual o
ano de surgimento dele, porém, acredita-se que tenham sido os fenícios. Porém, foi no
Egito antigo que a sua utilização começou a crescer (Costa 2003, ABIVIDRO14).

O vidro é um material que pode receber diferentes formatos e cores, dependendo


do uso que ele irá receber, um formato e uma cor são destinadas. Assim, ele pode ser
utilizado para fazer a cronologia de ocupação de um sítio arqueológico, como também é
possível fazer a análise exclusiva do artefato individualmente, até chegar aos hábitos de
consumo e de socialização de um grupo especifico e/ou sociedade em um determinado
período (Zanettinni e Camargo 2011).

Por exemplo, a partir de uma garrafa de bebida é possível saber onde foi
produzida, a técnica de produção utilizada, com essas primeiras informações a datação
relativa pode ser realizada. Além disso, é possível também analisar a bebida que foi
armazenado dentro dela, modo de produção da bebida e materia-prima utilizada. Juntando
essas informações, pode-se fazer uma análise de qual classe social consumia aquele
produto, por qual motivo e em quais ocasiões (Zanettinni e Camargo 2011).

O segundo vestígio mais encontrado durante a escavação na estação de


tratamento foram os vidro, com 109 fragmentos. Como já foi informado na introdução
deste capítulo, a coleta deste tipo de vestígio ocorreu de maneira bastante seletiva. Optei
por coletar os fragmentos e/ou peças que pudessem fornecer mais informações que apenas
a sua cor, portanto, fragmentos pequenos e sem forma especifica não foram coletados.
Assim, parte-se do principio de que cada fragmento e/ou peça coletada representa um
objeto.

14
Associação Brasileira das Indústrias de Vidro https://epuroevidro.com/historia-do-vidro/
50
Diferentemente das louças, esse tipo de vestígio apareceu em maior quantidade
no segundo nível de escavação, com 101 fragmentos e apenas oito no primeiro nível
(gráfico 11). Apesar dessa grande diferença, ele está presente em toda a área escavada.
Esse diferença deve ocorrer pelo fato, de como já foi informado, a área já ter sido alvo de
obras em anos anteriores, provavelmente sem acompanhamento arqueológico, o que pode
ter resultado em uma diminuição na quantidade de vestígios em alguns pontos escavados.

Nível

101

Nível 1 Nível 2

Gráfico 14: Quantidade de fragmentos de vidro por nível

A partir da opção de coleta para este vestígio, a maioria dos fragmentos


recolhidos fazem parte de garrafa: bases, gargalos, lábios, anéis e pescoços. Porém, alguns
fragmentos que foram recolhidos não pertenciam a esse tipo de objeto, como por exemplo
bordas e outros fragmentos sem formato especifico. Assim, foram identificados 14
morfologias distintas para esse vestígio: 36 são base de garrafas, 19 fragmentos sem
forma especifica, 14 gargalo (lábio, anel e pescoço), 12 são de apenas lábio e anel, 7
pescoço e anel, 5 garrafas quebradas (com 50% ou mais da peça), 3 bordas, 2 anel, 2 lábio
e pescoço, 1 garrafa inteira, 1 base de taça, 1 pescoço, 1 lábio e 1 copo (gráfico 12).

51
Mofologia Vidro

1 Anel
7 2 3 Borda
Base de garrafa
14 Base de taça
Copo
Fragmento
2 36 Garrafa quebrada
Garrafa inteira
Lábio
12
Lábio e anel
Lábio e pescoço
Lábio, anel e pescoço
1 5 Pescoço
1 Pescoço e anel
19 11

Gráfico 15: Morfologia dos vestígios em vidro

Figura 29: Morfologias dos vidros

52
Durante a escavação foi possível fazer a coleta de uma garrafa inteira (figura 30),
que estava localizada na parte que ficava embaixo do segundo piso de lioz, área da
escavação onde mais vestígios foram encontrados. Ela estava encaixada no limite da área
escavada e foi retirada com bastante cuidado. Essa garrafa possui o formato e a cor mais
comum de garrafas que foram encontradas em outras escavações realizadas em Belém
(Solar da Beira, João Alfredo e Sesc Ver-o-peso). Ela, provavelmente, deveria ser uma
garrafa para armazenamento de cerveja ou de alguma outra bebida que sofresse
fermentação, o seu lábio e anel dão a indicação de que seu fechamento era com rolha. No
fundo da sua base tinha a seguinte gravação: C & J, que deve ser referente ao fabricante.
O seu lábio e anel estão parcialmente quebrado.

De acordo com Gordenstein (2014), esse tipo de garrafa eram os mais comuns e
mais apreciadados no comercio interno brasileiro para reutilização de garrafas de vidro.
Durante um período, em nosso país, era comum os comerciantes e várias outras pessoas
venderem garrafas de vidro que não tivessem nenhum rótulo ou gravação com o nome do
fabricante tão visivel e que fossem verde escuro.

Figura 30: Garrafa de vidro inteira


53
A cor é o primeiro atributo que logo é observado assim que uma peça
arqueológica é encontrada. A cor original do vidro seria o verde, variando do mais claro
ao mais escuro, logo, não existe um vidro preto (Thiesen 2005). De acordo com Fike
(2006) não é aconselhado identificar a função de um objeto vitreo a partir da sua cor,
porque esses objetos, são facilmente utilizados para diferentes funções do que apenas
aquela em que um primeiro momento foi pensado.

Além disso, para fazer datações do sítio arqueológico também não é


recomendado, pois, como já foi dito, os objetos em vidro podem seguir sendo utilizados
mesmo após a finalização de sua produção. A variação na cor de um objeto vitreo vai
depender do uso de alguns elementos específicos, por exemplo, o uso do celenio
proporciona a tonalidade âmbar e o manganês o lilás (Thiesen 2005).

Porém, o que foi mais chamativo ao analisar as cores dos vestígios coletados na
estação de tratamento foi o fato da pouca variedade. Foram identificadas apenas seis
cores, sendo que três delas são variações do verde. Assim, a cor mais presente foi o verde
oliva em 50 fragmentos, 30 eram de verde escuro, 15 branco leitoso, 2 verde água, 2
transparentes e 1 âmbar (gráfico 16 e figura 31).

O fragmentos de vidro em branco leitoso, em um primeiro momento, pareciam


que pertenciam a mesma peça, porém, ao realizar uma análise mais atenta foi possível
perceber que se tratava de fragmentos, de pelo menos, duas peças distintas. Talvez, esses
fragmentos sejam de pratos ou pires.

1
Cor
15
2 Vidro
2
Âmbar
50
Branco leitoso
Transparente
Verde água
35
Verde escuro
Verde oliva

Gráfico 16: Cores identificadas no vidro


54
Figura 31: Cores encontrada nos vidros: transparente, verde escuro, branco leitoso e variações
de verde, respectivamente.

Outro atributo observado é a técnica de produção. De acordo com Zanettini e


Camargo (2011), as técnicas de produção de vidro podem ser: sopro humano livre, sopro
humano com auxílio de molde, semiautomática e automática. Além de observar a
produção do corpo e base, também é importante analisar a tecnologia aplicada para a
confecção dos gargalos, bocas e lábios. Essa parte é realizada por último, assim, recebe o
nome de “finalização” ou acabamento, que poderia ser: applied finish que é mais antiga,
mais massa vítrea era acrescentada na boca da garrafa e depois, com ferro de mariscar,
era torneado. Tooled finish é aplicado com o reaquecimento do gargalo da garrafa e em
seguida recebe o molde com o ferro de mariscar.

Como os vestígios coletados durante esta escavação encontravam-se bastante


fragmentos, foi difícil a identificação da técnica de produção, assim, busquei observar as
linhas deixadas pelo molde nos pescoços e em fragmentos que possuísse parte do corpo.
Portanto, em 48 fragmentos não possível fazer a identificação da técnica de produção
utilizada. A partir da coleta dos gargalos, foi possível identificar a técnica utilizada para
o acabamento, assim, 22 recebeu a finalização applied finish e sete tooled finish (figura
32). Além desses, cinco fragmentos foram identificados com apenas o uso de molde, três

55
utilizaram o molde triplo, três com molde junto com applied finish e dois com o uso de
molde triplo e applied finish (gráfico 17).

Técnica de Produção
Vidro
7
Applied finish
22

Molde
Molde duplo
Molde triplo
5
Molde triplo/ applied finish
3 1 Molde/ applied finish
48
Não foi possível identificar
3 2
Tooled finish

Gráfico 17: Técnicas de produção de vidro

56
Figura 32: Técnicas de acabamento. Retângulo verde são applied finish. Retângulo rosa são os
tooled finish.

O último atributo observado nesta análise dos vestígios em vidro foi a existência
de algum tipo de gravação, principalmente na parte inferior da base. Assim, em 69
fragmento foi possível encontrar a gravação de letras, que pode estar relacionado ao nome
do fabricante das garrafas. E em 22 não apareceu nenhum tipo de gravação (gráfico 18).
A gravação mais comum encontrada entre esse fragmento foi a seguinte: linhas cortando
na horizontal e vertical e a utilização de duas letras, normalmente a letra C° está gravada
junto com outras letras como o J, B e/ou W (figura 33).

Gravação
22 Vidro

Sem gravação
69
Com gravação

Gráfico 18: Fragmentos que possuíam algum tipo de gravação

57
Figura 33: Gravação mais comum encontrada nos fragmentos coletados no Palácio Antônio
Lemos. Letras identificadas: C e B

Esse vestígio, assim como as louças, se encontrava bastante fragmentado, dando


a indicação de que se trata de material utilizado apenas para aterro e não podendo ser
classificado como lixeira. Além disso, ele também esteve presente em toda a área
escavada. A diferença entre os vidros e as louças é que aqui não foi possível fazer a
remontagem de nenhum fragmento coletado, justamente pelo fato de estar bem
fragmentado. Um fato interessante que os vidros encontrados nessa escavação trouxeram
foi a baixa variedade de cores.

5.5. Análise dos Ossos

Outro vestígio comum em sítios arqueológicos são os ossos, que dão indicativo
de qual era a alimentação de um determinado período. Porém, durante essa escavação foi
possível encontrar apenas quatro ossos que pertenciam a essas partes anatômicas: rádio,
metatarso e duas rótulas (figura 34). Não foi possível identificar a espécie de animal que
cada parte anatômica pertence, porém, talvez esses ossos possam ser de cervídeos ou
suínos.

Durante o século XVIII e XIX a cidade de Belém sofreu com o abastecimento


de carne de qualidade, por conta do transporte irregular dos animais em caminhões.
58
Assim, a carne de qualidade ficou concentrada na elite e a população mais pobre se
abastecia da carne de animais que eram criados pelas próprias pessoas ou provenientes de
caça (Acosta, 2021). Os ossos coletados no Palácio Antônio Lemos são característicos
desse tipo de criação de animal. Além disso, eles não possuem marcas de cortes de serra
ou com alguma outra ferramenta mecânica.

Figura 34: Ossos coletados na escavação da estação de tratamento

Essas partes anatômicas são bem comuns em Belém, sendo encontrado em maior
quantidade em outros acervos arqueológicos, como o Solar da Beira e na Av. Portugal,
durante a escavação de drenagem profunda da rua João Alfredo. A diferença e a
informação importante que pode ser obtida com esse vestígio é a sua baixa presença nessa
região. Talvez, essa diferença ocorra pelo motivo de que as regiões do Solar da Beira e
da Av. Portugal, no passado, eram a Baía do Guajará e Igarapé do Piri, respectivamente.
Logo, para ocupar essa parte da cidade, era necessário a utilização muito maior de aterro.

A região do Palácio Antônio Lemos, como já foi informado no capítulo anterior,


se caracterizava por ser alagadiça, ou seja, somente com a presença da chuva a região
ficava alagada. Assim, quando ocorre a preparação para a ocupação dessa região, não foi
59
necessária a utilização de muito aterro. Além disso, ainda tem o fato dessa região já ter
sido alterada depois da década de 1990.

6. Arqueologia Pública

A Arqueologia é uma ciência que fascina muitas pessoas, desde as crianças até
os idosos. Todos querem fazer uma descoberta incrível, diferente, que marque a história
da sua cidade e/ou região. Muitos pensamentos fantásticos e fantasiosos de como é o
trabalho giram ao nosso entorno e essa fantasia é muito importante para que ocorra a
difusão do conhecimento gerado. Porém, ao mesmo tempo esse pensamento fantasioso
ultrapassa os limites e acabam inventando realidades que não existem.

Por isso, é muito importante que o arqueólogo faça a divulgação de suas


pesquisas para todas as pessoas possíveis, por meio de palestras, conversas no dia –a –
dia, publicações na internet e a melhor maneira que encontrar para fazer isso. Para este
projeto foram propostas duas maneiras distintas de divulgação, uma presencial e outra via
internet. A atividade presencial seria uma palestra com todos os funcionários da obra e a
virtual seria uma publicação na rede social Instagram, no perfil Arqueologia Belém.

O motivo da escolha dessas duas formas de divulgação do conhecimento


ocorreu, pois, a partir das redes sociais é possível atingir um número muito maior de
pessoas, tanto moradoras da cidade quanto habitantes de outros países. Esta publicação
foi feita de maneira simples e direta, apresentando rapidamente informações histórica
sobre o palácio, depois os livros do tombo em que ele está inscrito e as atividades de
arqueologia que foram desenvolvidas (figura 35).

60
Figura 35: Publicação na rede social sobre o trabalho de arqueologia no Palácio Antônio Lemos

A atividade presencial com os funcionários, considero que seja uma das mais
importante, pois é preciso que as pessoas que estão ajudando na reforma de um bem
público entendam a importância dele para sociedade e o porquê da presença de diferentes
profissionais na obra. Essa palestra demorou para ocorrer, pois, apesar de ter avisado e
solicitado ao engenheiro responsável pela obra uma data e hora para a realização dessa
atividade no decorrer de todo o trabalho no palácio, o mesmo demorou bastante para
marcar a palestra. Essa atividade só foi realizada no dia 29 de junho, duas semanas depois
do fim do trabalho de curadoria e um dia após o vencimento da portaria.

Apesar da demora, a atividade foi realizada de maneira mais simples, sem uma
apresentação em power point, mas como uma conversa com os funcionários. Durante essa
conversa, falei primeiramente o motivo de ter uma arqueóloga acompanhando a
escavação, informei, em um primeiro momento, a legislação que envolvia o Palácio
Antônio Lemos e os bairros da Campina e Cidade Velha. Depois, expliquei que
escavações como a realizada nesta obra causavam alterações irreversíveis no solo, local
61
onde normalmente encontramos os vestígios arqueológico. Assim, era importante a
presença de um arqueólogo acompanhando as escavações.

Junto a isso, também foi apresentada um pouco da história de Belém, para


explicar a ocupação do espaço onde está localizado o palácio. Para finalizar, foram
apresentados alguns vestígios arqueológicos coletados: as duas garrafas inteiras,
fragmentos do copo e fragmentos de louça. Foi explicada para eles quais informações
poderiam ser obtidas a partir de cada objeto apresentado e como isso ajuda na
compreensão sobre hábitos e costumes da sociedade belenense de um determinado
período.

Após a realização dessa palestra, algumas perguntas foram feitas. O principal


questionamento deles era em saber para onde vão os vestígios e o qual uso é dado para
eles. Foi informado que o material arqueológico ficará sobre a guarda do Museu Paraense
Emílio Goeldi e que poderá ter continuidade de pesquisa. Porém, as principais interações
ocorreram após a saída da sala onde a palestra foi ministrada. Na saída, alguns
funcionários vieram me procurar para falar que já tinham visto o material que foi
apresentado tanto na casa da avó, quanto no interior em casa de outros parentes. Além
disso, muitos se aproximaram para agradecer por ter explicado para eles o que realmente
estava fazendo lá, já que eles não compreendiam qual a importância de recolher aqueles
“cacos antigos”.

Como a palestra foi realizada após a finalização do trabalho, não é possível fazer
uma avaliação mais detalhada do quanto foi captada da mensagem transmitida. Porém,
ao longo de todo o trabalho, foi possível conversar com alguns funcionários e explicar
com um pouco mais de detalhe o trabalho arqueológico e as respostas deles após a palestra
dão um indicativo de que realizar esse tipo de atividade, por mais simples e rápida que
seja, é de extrema importância. Além de mostrar respeito com o outro profissional que
trabalha no mesmo ambiente, o conhecimento é gerado para ser compartilhado e não ficar
apenas com um grupo de pessoas.

62
Figura 36: Imagens da palestra de arqueologia

Essas foram as duas atividades pontuais propostas para esse projeto, porém,
durante o cotidiano de uma obra ocorre uma troca de conhecimento entre as equipes.
Assim, nesta obra, muita conversa e explicação de como funciona o trabalho arqueológico
e a legislação brasileira para esta área ocorreu com a equipe de consultoria de conversão
e restauro da arquiteta e restauradora Tainá Arruda. Como a sala foi dividida com eles,
então, todos os dias era explicado cada fase do trabalho e os estagiários, de conservação
e restauro e arquitetura, acompanharam a escavação, curadoria e análise dos vestígios
coletados.

7. Conclusão

Este projeto conseguiu atingir os seus objetivos, ocorreu um acompanhamento


da escavação para a construção da estação de tratamento, coleta, curadoria e análise do
material arqueológico. A partir da escavação, como foi informado ao longo de todo esse
relatório, foi possível ver como ocorreu a ocupação e uso do solo dessa região da cidade.
Foi possível observar as construções antigas e recentes que estavam presentes, como
também, as consequências de obras anteriores que foram realizadas sem o
acompanhamento arqueológico adequado.
63
Antes de iniciar esse projeto tinha dúvidas de que solo seria encontrado nessa
região, pois, até o momento só tinha realizado escavações em áreas que receberam uma
grande quantidade de aterro, pois é o avanço da cidade sob os elementos naturais da
cidade, a baía do Guajará e o igarapé do Piri. Além disso, a outra região que atuei, onde
poderia ter encontrado o solo real de Belém, foi uma rua que sofreu muitas e grandes
alterações em seu solo ao longo dos séculos.

A região da cidade onde o Palácio Antônio Lemos está construído, de acordo


com a literatura, é uma região que alagadiça, ou seja, sofre alagamentos a partir da
presença da chuva. Por isso, em um primeiro momento, ela não foi ocupada, ficando um
espaço aberto. Durante a escavação foi possível perceber essa realidade. A primeira
semana de escavação se caracterizou por ser um período com pouca precipitação, assim,
ao ir aumentando a profundidade, a água não apareceu. Esse acontecimento é bastante
chamativo em uma cidade como Belém, cercada e cortada por rios e igarapés.

A partir da segunda semana, a quantidade de chuva já foi aumentando, estando


presente em pouca ou grande quantidade, mas ocorrendo todos os dias. Assim, ao ir
atingindo profundidades com mais de 1 metro, a água já começa a aparecer e com o
decorrer dos dias ela foi se fazendo cada vez mais presente e em maior quantidade. Esses
dias chuvosos, provavelmente, acabaram aumentando o lençol freático da cidade e
deixando o solo mais molhado.

Essa grande de água dificultou a escavação, pois, não era apenas a água que
brotava do solo que acabava enchendo a área escavada, mas, também, tinha a água da
chuva que ficava armazenada ali. Assim, foi difícil atingir os 2 metros de profundidade
na área onde será instalado o filtro. Após a finalização da escavação, aproximadamente,
dois dias depois, essa área escavada já se encontrava seco. Esse período pós escavação se
caracterizou com pouca quantidade de chuva na cidade. Assim, posso concluir que apesar
das mudanças realizadas ao longo dos séculos nessa região, ela continua sendo uma região
alagadiça.

A partir dessa realidade, tinha uma dúvida se encontraria aterro nesta região e
qual seria a quantidade presente. Durante a escavação foi possível observar que o aterro
utilizado, apesar de pequeno, quando comparado com a região do Ver-o-Peso, segue é

64
semelhante ao que foi encontrado em outros pontos da cidade. Uma terra um pouco
escura, com presença de louças, vidros, cerâmicas e ossos. A identificação e análise dos
vestígios arqueológico coletados demonstram que o aterro desse espaço coincide com o
período de construção do palácio, o século XIX.

O que mais chamou atenção na realização desse trabalho foi a pouco quantidade
de vestígios encontrados. Esta comparação, ocorre, novamente, com o acervo gerado
durante as obras do Solar da Beira, Sesc Ver-o-Peso, Estação das Docas e Forte do
Presépio. Porém, essa comparação tem que ser feita com cuidado, pois, a área escavada
no Palácio Antônio Lemos foi menor do que nesses outros locais. Além disso, como foi
informado, a área de aterro com material arqueológico é menor.

Contudo, o que, provavelmente, mais contribuiu para a baixa quantidade


vestígios foram as alterações realizadas no solo após a década de 1990, data da última
grande reforma deste palácio. Como foi informado, foi encontrado o fio –terra que circula
todo o edifício, mureta de 1 metro que cerca o encanamento, além de um piso de lioz em
cima de outro piso lioz. Assim, a região embaixo do segundo piso de lioz foi onde mais
apareceu mais material arqueológico e se a escavação avançasse mais nessa direção,
provavelmente encontraríamos mais vestígios arqueológico, provavelmente até aparecer
outra intervenção recente. Assim, as intervenções recentes foram as que mais alteram o
registro arqueológico nessa região.

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8. Referência Bibliográfica

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Amanda Carolina de Sousa Seabra


Arqueóloga coordenadora geral

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