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Identificação
Empreendedor
Prefeitura Municipal de Belém
Secretaria Municipal de Urbanismo (SEURB)
Endereço: Avenida Governador José Malcher N° 1622 Bairro: Nazaré
CEP: 66060-230
Telefone: (91) 3039-3700
Apoio Institucional
Museu Paraense Emílio Goeldi
Av. Perimetral N° 1901 Bairro: Terra Firme
CEP: 66077-830
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Lista de Figuras
Figura 1: Praça Dom Pedro II e o Palácio Antônio Lemos ao fundo. Fonte: Haroldo
Baleixe Blogspot . ............................................................................................................ 9
Figura 2: Imagem recente do Palácio Antônio Lemos com as árvores da Praça Dom
Pedro II. Fonte: Agência Belém ......................................................................................11
Figura 3: Localização do Palácio Antônio Lemos. Fonte: Google Maps ....................... 14
Figura 4: Esquerda: local onde ocorreu a escavação. Direita: área que já tinha sido
aberta. Embaixo: retirada das pedras de lioz. ................................................................. 15
Figura 5: Vestígios coletados na região da fossa ............................................................ 17
Figura 6: Área da fossa na profundidade que aparece material arqueológico ................ 17
Figura 7: Imagens do solo na região da fosso e perfil estratigráfico .............................. 18
Figura 8: Desenho do perfil estratigráfico de toda a área escavada. Desenho: Gabriela
Mauriti ............................................................................................................................ 19
Figura 9: Presença abundante de água na área do purificador e do filtro ....................... 20
Figura 10: Segundo piso de lioz encontrado .................................................................. 21
Figura 11: Setas verdes apontando para a barreira entre a área da fossa e o restante da
escavação ........................................................................................................................ 22
Figura 12: Vestígios arqueológicos encontrados embaixo do piso de lioz ..................... 23
Figura 13: Galeria pluvial ............................................................................................... 24
Figura 14: Desenho da galeria pluvial. Vista superior. Desenho: Gabriela Mauriti ....... 25
Figura 15: Vista superior do local da escavação ............................................................. 27
Figura 16: Canaletas escavadas na área interna do palácio e fragmento de faiança fina
encontrado ...................................................................................................................... 28
Figura 17: Sala destinada para as atividades de curadoria da arqueologia ..................... 29
Figura 18: Atividade de limpeza e catalogação dos fragmentos .................................... 30
Figura 19: Faiança simples, porcelana e faiança fina encontradas na escavação da
estação de tratamento...................................................................................................... 35
Figura 20: Morfologias encontradas: tampa, pires, tigela e base, respectivamente ....... 36
Figura 21: Técnicas decorativas: transffer printed, superfície modificada e outras ....... 38
Figura 22: Base com selo ............................................................................................... 41
Figura 23: Fragmentos e peças de grés coletados no Palácio Antônio Lemos ............... 44
Figura 24: Direita: garrafas de grés “brillantina” de Buenos Aires. Fonte: Schávelson, p.
159, 2018. Esquerda: garrafa de grés coletada no Palácio Antônio Lemos ................... 45
Figura 25: Foto de cima: fragmentos de grés coletados no Palácio Antônio Lemos. Foto
debaixo: garrafas de grés coletadas no Solar da Beira. Fonte: Seabra, p. 78, 2020 ....... 46
Figura 26: Base de grés com a gravação “YS ATE LONDON”..................................... 47
Figura 27: Direita: alças coletadas no Palácio Antônio Lemos. Esquerda: Garrafas
inteiras coletadas no Solar da Beira. Fonte: Seabra, p. 78, 2020.................................... 47
Figura 28: Cerâmicas coletas na estação de tratamento ................................................. 49
Figura 29: Morfologias dos vidros ................................................................................. 52
Figura 30: Garrafa de vidro inteira ................................................................................. 53
Figura 31: Cores encontrada nos vidros: transparente, verde escuro, branco leitoso e
variações de verde, respectivamente. ............................................................................. 55
Figura 32: Técnicas de acabamento. Retângulo verde são applied finish. Retângulo rosa
são os tooled finish. ........................................................................................................ 57
Figura 33: Gravação mais comum encontrada nos fragmentos coletados no Palácio
Antônio Lemos. Letras identificadas: C e B .................................................................. 58
Figura 34: Ossos coletados na escavação da estação de tratamento............................... 59
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Figura 35: Publicação na rede social sobre o trabalho de arqueologia no Palácio Antônio
Lemos ............................................................................................................................. 61
Figura 36: Imagens da palestra de arqueologia .............................................................. 63
Lista de Gráficos
Gráfico 1: Quantidade de fragmentos por nível ............................................................. 32
Gráfico 2: Total de vestígios encontrados na escavação da estação de tratamento ........ 33
Gráfico 3: Quantidade de faianças por nível .................................................................. 34
Gráfico 4: Quantidade de faianças finas, simples e porcelanas ...................................... 34
Gráfico 5: Gráfico com as diferentes morfologias encontrada nas louças ..................... 36
Gráfico 6: Esmaltes identificados nas louças ................................................................. 37
Gráfico 7: Técnicas decorativas encontradas nas louças ................................................ 38
Gráfico 8: Estilos decorativo das louças......................................................................... 39
Gráfico 9: Cores encontradas nas louças ........................................................................ 40
Gráfico 10: Motivos decorativo das louças .................................................................... 41
Gráfico 11: Morfologias do grés..................................................................................... 43
Gráfico 12: Cores do grés ............................................................................................... 43
Gráfico 13: Morfologia da cerâmica histórica ................................................................ 49
Gráfico 14: Quantidade de fragmentos de vidro por nível ............................................. 51
Gráfico 15: Morfologia dos vestígios em vidro ............................................................. 52
Gráfico 16: Cores identificadas no vidro ........................................................................ 54
Gráfico 17: Técnicas de produção de vidro .................................................................... 56
Gráfico 18: Fragmentos que possuíam algum tipo de gravação ..................................... 57
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Sumário
1. Introdução ................................................................................................................. 6
2. Contexto histórico .................................................................................................... 6
3. Contexto Arqueológico ............................................................................................11
4. Localização ............................................................................................................. 13
5. Escavação arqueológica .......................................................................................... 14
5. Atividade de curadoria, conservação e catalogação ............................................... 28
5.1. Análise das louças ................................................................................................ 33
5.2. Análise do Grés .................................................................................................... 42
5.3. Análise da Cerâmica histórica ............................................................................. 48
5.4. Análise do material vitreo .................................................................................... 50
5.5. Análise dos Ossos ................................................................................................ 58
6. Arqueologia Pública ............................................................................................... 60
7. Conclusão ............................................................................................................... 63
8. Referência Bibliográfica ......................................................................................... 66
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1. Introdução
Este relatório irá apresentar metodologias, curadoria, análise e resultados obtidos
do Projeto de Arqueologia na obra de restauro o Palácio Antônio Lemos, Belém/PA,
realizado durante a restauração do Palácio Antônio Lemos, localizado no Praça Dom
Pedro II, s/n, bairro Cidade Velha, ocorrido no período de 8 de maio até 28 de junho de
2023.
Para o funcionamento correto do Palácio, se fez necessário a construção de uma
estação de tratamento (fossa, purificador e filtro) próximo aos banheiros de visitantes,
pela área externa do edifício. Esse tipo de construção causa alterações irreversíveis no
solo da região, portanto, se fazia necessário o acompanhamento arqueológico. Além
disso, o bairro da cidade velha possui tombamento a nível federal e municipal.
2. Contexto histórico
A cidade de Belém se desenvolveu em área cercada por água, entre o rio, a baía e
o igarapé do Piri. O principal ponto para o avanço da cidade foi o forte do Presépio, assim,
as linhas seguiram em direção norte e sul. Em um primeiro momento, a cidade se
desenvolve no entorno do forte, cercada por uma paliçada, tendo algumas construções:
uma Ermida e a Rua do Norte, a primeira a ser construída. Este era o núcleo Cidade, onde
ficavam localizados os principais edifícios públicos e as casas dos portugueses e algumas
igrejas (Zenkner, 2002).
Em seguida, do outro lado do igarapé piri, começa a ocupação de uma outra parte
do território, o núcleo Campina, com a construção do convento dos Mercedários e a
abertura da Estrada de Santo Antônio (atual Rua Conselheiro João Alfredo e Rua Santo
Antônio). Essa parte da cidade ficou mais voltada para a área comercial e também função
religiosa, pela presença do convento. Esses dois núcleos eram interligados por uma ponte
de madeira (Zenkner, 2002). Assim, a cidade foi crescendo, seguindo as direções do rio e
da baía, com o igarapé separando:
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Mercadores (rua da Cadeia e atualmente Conselheiro João Alfredo) e
rua Santo Antônio.” (Ribeiro 2009).
De acordo com Zenkner (2002), próximo ao forte existiam duas áreas abertas que
se transformaram em duas praças distintas: a da Sé e a do Palácio. Normalmente, as praças
surgiam em frente as igrejas e em Belém foi dessa maneira que surgiram a Praça da Sé
(atual Praça Frei Caetano Brandão), o Largo dos Mercedários (atual Praça da Mercês),
entre várias outras.
A praça da Sé nasce em um espaço vazio que existia entre o Colégios dos Jesuítas
(atual Museu de Arte Sacra), que separava a cidade do forte, Igreja Matriz (Igreja da Sé),
Casa de Câmara e Cadeia. Essa praça foi se moldando aos poucos, mas não tem uma
forma geométrica perfeita. A Praça do Palácio (atual Praça Dom Pedro II) surge por conta
da construção da Casa do Governador ou Casa de Residência, o Palácio Lauro Sodré, que
foi construído entre 1676 e 1680. Essa praça era a única, nesse período, que possuía uma
característica geométrica e foi planejada, seguindo modelos eruditos (Biblioteca do
IBGE1, Zenkner 2002).
Apesar da existência dessa praça desde o século XVII, foi somente no século
XVIII que ela foi pensada e construída. A sua obra foi concluída no ano de 1772, porém,
foi somente no ano de 1882 que ocorreu a sua inauguração oficial, durante o governo de
José Coelho Gama Abreu. De acordo com a biblioteca do IBGE2 o objetivo de criação
dessa praça ocorreu para fazer a ligação entre diferentes pontos da cidade: o mercado do
1
https://biblioteca.ibge.gov.br/biblioteca-catalogo?id=42518&view=detalhes
2
https://biblioteca.ibge.gov.br/index.php/biblioteca-catalogo?id=42493&view=detalhes
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Ver-o-Peso em direção à avenida Presidente Vargas e do forte do Presépio até a praça do
Carmo.
Foi nesta praça que ocorreram vários eventos importantes para a história do nosso
Estado, assim, a partir de cada acontecimento, um nome diferente era dado a essa local.
Em um primeiro momento foi nomeada de Largo do Palácio, por estar ali situado o
Palácio do Governador, depois Largo da Constituição porque foi ali que foi proclamada
a adesão do Pará a constituição portuguesa no ano de 1821. No ano de 1823 se chamava
Largo da Independência, por ter sido palco do movimento nacionalista que aderiu o Pará
ao Estado Brasileiro (Biblioteca do IBGE). Infelizmente, não encontramos informações
dizendo em que ano e por qual motivo esse espaço passa a ser denominado de Praça Dom
Pedro II.
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Entre os anos de 1879 e 1881 foi Presidente da Província, depois, entre 1891 e 1894 foi o primeiro
intendente de Belém.
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Teodoro Braga foram alguns dos responsáveis por acrescentar revestimento, além de
móveis e objetos seguindo a moda europeia (IPHAN4, Biblioteca do IBGE5 e O Liberal6).
Figura 1: Praça Dom Pedro II e o Palácio Antônio Lemos ao fundo. Fonte: Haroldo Baleixe
Blogspot .
Ainda de acordo com a biblioteca do IBGE, o Palacete Azul, ao longo dos anos,
abrigou a Junta Comercial, Conselho Municipal, Câmara dos deputados e Tribunal de
Relações. No início dos anos 1990, esse mesmo prédio recebeu mais uma reforma e foi
nesse período que passou a abrigar o Museu de Arte de Belém, um departamento da
Fundação Cultural do Município de Belém (FUMBEL). Além desse museu, neste mesmo
espaço está, atualmente, o Gabinete do Prefeito e a Coordenadoria de Comunicação
Social.
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http://portal.iphan.gov.br/pagina/detalhes/1217/
5
https://biblioteca.ibge.gov.br/biblioteca-
catalogo.html?id=42408&view=detalhes#:~:text=O%20Pal%C3%A1cio%20Ant%C3%B4nio%20Lemos
%20foi,e%20a%20C%C3%A2mara%20de%20Deputados.
6
https://www.oliberal.com/estudio/prefeitura-de-belem/prefeitura-de-belem-investe-r-26-milhoes-em-
reforma-e-restauracao-do-palacio-antonio-lemos-1.575672
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fachada, existe três estátuas representando deuses gregos: Minerva, Hermes e Héfesto. O
piso se caracteriza por ser em mosaico ornamentados (Prefeitura de Belém7).
Ao longo de sua existência, até o início da década de 1990, esse palácio passou
por várias reformas que acabaram descaracterizando a sua arquitetura. No entanto, no ano
de 1994 foi novamente inaugurado depois de uma grande reforma que havia recebido,
que teria recuperado o seu primeiro estilo arquitetônico e obtendo as características que
podem ser vistas atualmente. Foi nesse mesmo ano em que o Museu de Arte de Belém
(MABE) foi transferido para esse palácio, estando lá até os dias atuais.
No ano de 1977, o Palácio Antônio Lemos e a Praça Dom Pedro II foram incluídos
no Conjunto Arquitetônico e Paisagístico “Ver-o-peso” e áreas adjacentes (Praça D. Pedro
II e Boulevard Castilhos França). Sendo inscrito nos seguintes livros do tombo8: Livro do
tombo histórico, pelo seu valor histórico para o município de Belém e Estado do Pará
(Volume: 1 - Folha: 077 - Nº da inscrição: 460 - Data: 09/11/1977); Livro do Tombo de
Belas Artes, pelo seu valor artístico (Volume: 1 - Folha: 096 - Nº da inscrição: 525 - Data:
09/11/1977) e Livro do Tombo Arqueológico, Etnográfico e Paisagístico, pelo seu valor
paisagístico (Volume: 1 - Folha: 16 - Nº da inscrição: 069 - Data: 09/11/1977). Alguns
anos depois, essa mesma região é tombada na esfera estadual e municipal.
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https://mabe.belem.pa.gov.br/o-palacio/
8
Informações obtidas no Sistema Integrado de Conhecimento e Gestão (SICG):
https://sicg.iphan.gov.br/sicg/bem/visualizar/780#&panel1-18
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Figura 2: Imagem recente do Palácio Antônio Lemos com as árvores da Praça Dom Pedro II.
Fonte: Agência Belém
3. Contexto Arqueológico
De acordo com Sistema Integrado de Conhecimento e Gestão (SICG), no Estado
do Pará existem 2.449 sítios arqueológicos cadastrados e na cidade de Belém apenas dois,
são eles: PA-BB-10 Val-de-Cãs que seria as ruínas de um antigo engenho, mas se encontra
completamente destruído e o PA-1501402-BA-ST-00002 Fazenda Embrapa, localizado
no terreno da Embrapa, com evidências de material cerâmico. Além desses dois sítios, o
Forte do Presépio está cadastrado como bem arqueológico do tipo acervo. A Coleção
arqueológica e etnográfica do Museu Paraense Emílio Goeldi é outro bem tombado a
nível federal de natureza de bem móvel ou integrado do tipo coleção.
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Outras obras ocorridas em Belém que tiveram acompanhamento arqueológico
foram as seguintes: Cais do Porto – Projeto Estação das Docas (1998/1999); Projeto Feliz
Lusitânia (2001/2002); Sesc Boulervad (2006/2019); Golf Marina – Marituba (2007),
Parque de Ciência e Tecnologia do Guamá (2010); Cemitério da Soledade (2009); Obras
do BRT (2013); Igreja do Rosário dos Homens Brancos; Projeto de Arqueologia histórica
no Memorial do Livro da UFPA (2017/2018); Belém Porto do Futuro (2018) 9; Projeto de
Arqueologia nas obras de restauro do Solar da Beira (2019/2020), Reforma do Mercado
de Peixe (2010), Projeto Arqueológico para as obras de requalificação da Rua João
Alfredo, Bairro da Campina, Belém/PA (2020).
4. Localização
O Palácio Antônio Lemos está localizado na Praça Dom Pedro II, no bairro da Cidade
Velha. No mesmo perímetro estão localizados o Palácio Lauro Sodré e o Fórum, ficando
entre as ruas Padre Champagnat, Cel. Fontoura e João Diogo. Na figura 01 pode ser vista
a praça em frente ao palácio, as ruas que estão no entorno, o Palácio Lauro Sodré está à
esquerda e o Fórum atrás deste e o Palácio Antônio Lemos está destacado com o círculo
na cor vermelha.
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Informações obtidas na palestra “Arqueologia Urbana: Desafios, Possibilidades e Experiências”
proferida pela arqueóloga Glenda Consuelo durante o Ciclo de Palestras Conversas Pai D’égua: falando
sobre patrimônio promovido pelo IPHAN no dia 29 de Março de 2019.
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Figura 3: Localização do Palácio Antônio Lemos. Fonte: Google Maps
5. Escavação arqueológica
Após conversa com o encanador que seria responsável pela construção, optamos
por abrir uma área de 2,50 m de largura com espaço de 1 m entre os reservatórios para a
passagem do encanamento, assim, os reservatórios entrariam com facilidade e o
trabalhador teria espaço para se locomover para a realização do serviço. Além disso, foi
informado que piso de lioz existe na atualidade seria colocado novamente, assim, optei
por escavar até a profundidade de 2 metros. Essa profundidade também foi escolhida para
se ter o conhecimento do solo da região.
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Para esta escavação, a metodologia adotada foi camadas artificias de 20 cm, pois,
considerei que abaixo do piso de lioz existiria, aproximadamente, entre 30 e 40 cm de
aterro ou alterações recentes. Assim, a partir dessa profundidade começaria a contagem
das camadas artificiais até encontrar o material arqueológico. Porém, como será visto nos
próximos parágrafos, foi encontrada apenas uma camada de 20 cm com material
arqueológico e logo abaixo dela já se encontra solo argiloso. Portanto, após finalizar a
escavação da área da fossa, o sistema de camadas artificiais foi descartado e optei por
seguir as camadas naturais do terreno.
Ao chegar no local da escavação (figura 02) a área ainda não estava limpa, assim,
no primeiro dia ocorreu apenas a retirada dos materiais construtivos e pedras de lioz que
ocupavam o espaço. Ademais, já tinha sido aberto uma parte do espaço ao lado do palácio
para saber se ainda estavam ali o encanamento do banheiro e para fazer a ligação da água
para o contêiner/vestiário.
Figura 4: Esquerda: local onde ocorreu a escavação. Direita: área que já tinha sido aberta.
Embaixo: retirada das pedras de lioz.
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As pedras de lioz tinham aproximadamente entre 10 e 20 cm de espessura, abaixo
existe uma areia vermelha, típica de aterro que é utilizado na atualidade, com 20 cm de
espessura. Embaixo dela já tinha uma areia branca misturada com um pouco de argila. A
partir de 30 cm de profundidade, nesta parte especificamente, apareçam quatro hastes de
fio terra do palácio, bem centralizados, que seguiram até os 2 metros de profundidade
escavados e seguiam um pouco mais, porém, foi somente nessa profundidade que os
funcionários conseguiram retirar elas sem a necessidade de chegar até o final. Estas hastes
tinham 3,40 m de comprimento.
A região onde foi escavada a fossa se caracterizou por ter sido uma área que já
tinha sofrido bastante alteração. Entre 30 e 60 cm de profundidade, o solo não apresentou
uma característica única, tinha a aparência de um local bastante revolvido. Por exemplo,
nessa profundidade parecia que tinham utilizado terra de diferentes áreas escavadas,
acrescentado de vários materiais construtivos, como tijolos e telhas quebrados. Essa
prática de aterro com sobras e/ou quebras de materiais construtivos é muito comum. Aqui
em Belém já foi encontrado essa prática durante a pesquisa realizada no edifício histórico
do Solar da Beira e também na Av. Portugal (durante a execução do projeto referente a
rua João Alfredo) (Seabra, 2020 e 2022).
Neste primeiro momento, acreditei que tinha sido utilizado terra das camadas mais
profundas desse mesmo terreno e apenas tinham acrescentado materiais construtivos
quebrados. Porém, com o avanço da escavação, que será apresentado mais em frente, essa
hipótese não se confirmou.
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aparecendo apenas as faianças finas (figura 03). Esta camada se caracteriza por ser mais
escura, contudo, também aparece um pouco de argila.
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A partir de 80 cm de profundidade apareceu uma camada grande de argila amarela
com 30 cm de tamanho. Provavelmente, esta argila é o latossolo amarelo distrófico, típico
da região da cidade de Belém. Ele se caracteriza:
Abaixo dessa camada de argila amarela, aparece uma camada de argila mosqueada
devido à presença de ferro oxidado (branca e vermelha), provavelmente, plintossolo
argilúvico, que segue até a profundidade de 2 metros. Assim, a estratigrafia dessa área se
caracteriza por ser: pedra de lioz, aterro vermelho, areia branca, terra escura com material
arqueológico, argila amarela e argila branca e vermelha. Este desenho pode ser visto nas
figuras 05 e 06. Esse perfil estratigráfico vai seguir igual em toda a área escavada, por
isso que nesse desenho aparece o perfil de uma galeria pluvial encontrada no outro
extremo escavado.
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Figura 8: Desenho do perfil estratigráfico de toda a área escavada. Desenho: Gabriela Mauriti
Além dos fios terra e vestígios arqueológicos, foi encontrado nessa região um muro
de 1 metro de largura que, de acordo com o engenheiro da obra, foi feito para a proteção
da tubulução que passa ao lado. Esse muro, segue aparecendo em toda a área escavada e
provavelmente, deve seguir até o final da calçada onde está localizado o Palácio Antônio
Lemos. Junto a esse muro apareceu outro fio terra que, de acordo com o eletricista, ainda
estava em funcionamento e rodeava todo o palácio (figura 05). Provavelmente, o solo
misturado e revirado encontrado entre 30 e 60 cm de profundidade deve ser consequência
da construção desse muro, colocação desse encanamento e instalação do fio terra que
rodeia o palácio.
Diferentemente do que ocorreu na área da fossa, não foi possível atingir os 2 metros
de profundidade devido à grande quantidade de água que apareceu em toda essa área. A
junção da água como solo argiloso dificultou bastante atingir a profundidade exigida,
assim, a profundidade máxima atingida foi de 1,90 m. Nesta parte da estação de
tratamento a água começou a aparecer a partir de 1,10 m de profundidade. Talvez, o
motivo para isso tenha sido a grande quantidade chuva que caiu em Belém nos dias que
ocorreram essa escavação (figura 07).
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A largura nesta parte é maior do que na área da fossa por causa das pedras de lioz. Era necessário retirar
a pedra inteira, sem quebrar, assim, a área fica maior, porém a parte escavada é reduzida.
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do piso atual, outro piso de lioz apareceu, composto por 12 pedras, como pode ser visto
na figura 10. Este segundo piso, aparentemente, segue em direção a praça Dom Pedro II
e provavelmente, ocupava toda essa região. Nesta escavação, ao total, foram retiradas 81
pedras lioz.
Figura 11: Setas verdes apontando para a barreira entre a área da fossa e o restante da escavação
Na área entre a fossa até o segundo piso de lioz, as características do solo são as
mesmas que encontramos durante a escavação da fossa. O aparecimento do material
arqueológico ocorreu com 60 cm de profundidade até 80 cm, porém com em mais
quantidade. Como era suspeitado, embaixo do piso de lioz foi a área onde mais apareceu
material arqueológico, na mesma profundidade de toda a área escavada e com duas
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garrafas inteiras, uma de vidro e outra de grés (figura 12). As faianças também
apareceram, mas em menor quantidade e muito mais fragmentada, a maior quantidade de
vestígios foi de vidro e em seguida o grés. Abaixo dessa camada com vestígios
arqueológicos já começou a aparecer o latossolo amarelo e em seguida o plintossolo
argilúvico, seguindo o mesmo padrão encontrado durante a escavação da fossa.
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Figura 14: Desenho da galeria pluvial. Vista superior. Desenho: Gabriela Mauriti
Ao escrever o projeto para essa obra, a minha hipótese era que nesta região da
cidade poderia encontrar o solo natural de Belém. De acordo com a pesquisa histórica
realizada, foi informado que esta parte da cidade era uma área alagadiça que demorou
algum tempo até ser urbanizada. Porém, ainda tinha dúvidas se essa área precisou de
aterro e se o aterro iria se comportar da mesma maneira que em outros pontos da cidade,
como o Solar da Beira e a Av. Portugal, por exemplo. A partir disso, não tinha segurança
em afirmar se iria aparecer material arqueológico e se encontraria o solo natural da cidade.
Além disso, tinha conhecimento de que o igarapé do piri, que foi aterrado no século
XVIII, passava ao lado, na rua 16 de novembro, porém, não tenho informações do seu
tamanho e até que ponto ele poderia ter influenciado essa parte onde o palácio está
construído.
A segunda dúvida referente a essa região da cidade era sobre a existência ou não
de aterro. Como já foi informado anteriormente, as camadas a cima do solo argiloso se
caracterizam como sendo de aterro, principalmente na profundidade onde o material
arqueológico está presente. Está camada se parecia muito com as primeiras camadas
encontradas durante a escavação do Solar da Beira: pouco material arqueológico e bem
fragmentado (Seabra, 2020).
A partir das faianças, é possível estimar que o aterro colocado é da segunda metade
do século XIX e está mais relacionado com os hábitos de consumo gerais da população
belenense, do que com o cotidiano do palácio. Além disso, precisa se considerar que este
palácio sempre pertenceu a esfera pública municipal, com a presença de órgãos públicos
e não recebeu funções de residência.
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Figura 15: Vista superior do local da escavação
27
essas escavações seriam realizadas dentro do palácio, portanto, não foram incluídas no
projeto de arqueologia entregue, mas acompanhei até onde foi possível.
Figura 16: Canaletas escavadas na área interna do palácio e fragmento de faiança fina
encontrado
29
Figura 18: Atividade de limpeza e catalogação dos fragmentos
30
Como foi informado durante a descrição da escavação, o material arqueológico se
concentrou em uma camada de 20 cm, entre 60 e 80 cm de profundidade, porém, ele
aparece com mais frequência na profundidade entre 70 e 80 cm. Além disso, os primeiros
fragmentos encontrados se caracterizam por serem muito pequenos, as faianças, por
exemplo, estavam com menos de 5 cm de tamanho e/ou eram brancas e sem morfologia
específica. Neste caso, esse tipo de material, normalmente, não é guardado para analise,
apenas é quantificado e logo em seguida deixado no mesmo local.
Além disso, nos vestígios em vidro optei apenas por coletar as bases de garrafas,
pescoço, anel, boca ou fragmentos grandes que fossem trazer mais informações do que
apenas a cor do fragmento. Essa escolha ocorreu pelo motivo de que a partir de bases e/ou
gargalos de garrafas é possível fazer uma melhor análise do material que foi descartado
neste aterro. Ademais, a partir dessas partes especificas é possível averiguar a quantidade
de material descartado.
Na análise dos materiais vítreos, considera-se que cada fragmento coletado seja
de uma peça. Na análise das louças já foi necessário considerar o número mínimo de
indivíduos (NMI), pois, alguns vestígios coletados tinham fragmentos com as mesmas
características, porém, davam o indicativo de ser um conjunto de fragmento, assim,
existindo mais de uma peça.
Por tanto, a numeração dos fragmentos ocorreu da seguinte forma, 2997 foi
utilizado para os fragmentos coletados entre 60 e 70 cm; e 2998 para os fragmentos que
foram coletados entre 70 e 80 cm (gráfico 02). Apesar de ser uma única área, alguns
vestígios arqueológicos apareceram mais no primeiro nível e outros no segundo. Por
exemplo, os fragmentos em grés só começaram a aparecer a partir de 70 cm de
31
profundidade e somente na parte que estava embaixo do segundo piso de lioz. Enquanto
que as louças e vidros aparecem em toda a camada de 20 cm.
Nível
66
Nível 1 (2997)
Nível 2 (2998)
229
Essa coincidência deve ocorrer por vários motivos, porém, o principal pode ser o
fato de que a organização da área urbana de Belém, principalmente nos bairros da
campina e cidade velha, ter sido planejada e colocada em prática no mesmo período, a
partir do final da segunda metade do século XVIII e se estendendo por todo o século XIX.
Assim, tem-se que a região da Av. Boulevard Castilhos França começou a ser aterrada na
virada do século XVIII – XIX. A construção do Palácio Antônio Lemos e a preparação da
Praça Dom Pedro II ocorrendo também no século XIX.
32
Total de vestígios coletados
4
Faiança fina
109
126 Faiança simples
Porcelana
Grés
Cerâmica
Vidro
Ossos
6
25 23
2
Nos próximos tópicos desse capítulo será apresentada as análises individuais para
cada vestígio coletado. Apesar de serem diferentes, algumas informações na ficha de
análise são comuns para todos: número da caixa em que o material está armazenado, nome
do sítio, número de cadastro dentro da instituição de guarda, número da peça ou
fragmento analisado, número de fragmentos e natureza/morfologia do que está sendo
analisado. Em seguida, é apresentado informações específicas de cada tipo de material.
Como foi informado anteriormente, esse foi o tipo de vestígio mais encontrado
durante a escavação da estação de tratamento, como, também, foi encontrado uma parte
de base durante a escavação de uma canaleta para a passagem dos tubos de ar-
condicionado e sistema de incêndio no interior do palácio. Além disso, esse foi o tipo de
vestígio arqueológico mais encontrado no primeiro nível, com 54 fragmentos e 97 no
segundo (gráfico 03). Entre essas variações, a faiança fina é a mais presente neste
contexto, com 126 fragmentos, faiança simples com 23 e porcelana apenas com 2
33
fragmentos (gráfico 04). O número mínimo de indivíduos para este tipo de vestígio foi de
86.
A faiança surgiu na Itália, na cidade Faenza, no ano de 1460, tendo dois tipos de
pastas a amarela ou vermelha que eram revestidas com esmalte. Esse revestimento
poderia ser transparente, que ocorre quando se tem a utilização de chumbo ou branco
quando se utiliza estanho. Apesar do seu surgimento na Itália, foi Portugal quem se
destacou, até o século XVI, na produção das faianças. A faiança fina surgiu na Inglaterra,
na segunda metade do século XVIII e se estendeu até o final século XIX. A produção de
Faiança Fina no Brasil começou nas primeiras décadas do século XX, em São Paulo
(Symanski 1996, Tocchetto 2001, Thiesen 2005).
Nível
54 Nível 1 (2997)
97
Nível 2 (2998)
Pasta
23
Faiança fina
Faiança simples
Porcelana
126
34
Figura 19: Faiança simples, porcelana e faiança fina encontradas na escavação da estação de
tratamento
11
No gráfico essa informação aparece apenas como “fragmentos”.
35
morfologias diferentes. Por último, foi coletado um (1) fragmento de cada morfologia
apresentada a seguir: tampa, alça, xícara e prato (gráfico 05).
1
7
Morfologia
27
Fragmento
Fragmento de alça
35 1
Fragmento de base
Fragmento de borda
7
Fragmento de malga
Fragmento de pires
Fragmento de prato
1 Fragmento de xícara
1 Fragmento de tigela
8
34 Fragmento de tigela e prato
Fragmentos de tigela/prato
22
36
O próximo atributo observado é o esmalte. Ele é utilizado para a
impermeabilização da louça, sendo aplicado na sua parte interna e externa quando é
levada ao forno. O esmalte creamwere deixa uma coloração amarelada, por causa da
utilização do óxido chumbo, o seu surgimento ocorreu por de 1763, na Inglaterra. Depois,
em 1818, a técnica foi melhorada e ocorreu a criação do pearlware, de coloração azulada
pela utilização do óxido de cobalto. A utilização desse esmalte foi comum até o ano de
1840, quando ocorreu o aparecimento do whiteware, esmalte branco. Esse esmalte é o
mais utilizado, seguindo até os dias atuais (Thiesen 2005).
Esmalte
7
23
Creamware
Pearlware
Whiteware
56
12
No gráfico esses fragmentos foram identificados como “não se aplica”.
37
Técnica decorativa Borrão azul
11
6 Borrão azul/ royal rim
5 Decalco
28
Não se aplica
Pintado a mão
Superfície modificada
Superfície modificada/
28
Borrão azul
4 Superfície modificada/
transffer printed
6
1 Transffer printed
Estilo decorativo
3 2 Branco e azul
16
Não foi possível identificar
1
Não se aplica
4
Produção insdustrial
Simples
Vinoso
54
39
2 1 2 1 Cor
3
2 Amarelo
1 4 Azul
Azul e verde
Azul e vinho
7 Branco
Marrom
1 Policrômico
3 Preto
53 Rosa
Verde
Verde e rosa
Vinho
11 1
4
2 1 3 Motivo decorativo
2
3 2 Abstrato
Carimbado
5 Chinoiseire
Clássico
Faixa
Faixas e frisos
Floral
20 Flores
Folha
Geométrico
Geométrico/ Floral
Geométrico/ Romântico
27 Não foi possível identificar
Não se aplica
2 Pastoral
3 1 Romântico
1
Shell Edged/ Royal rim
1 Trigal
40
Gráfico 10: Motivos decorativo das louças
41
Figura 20: Fragmentos que foi possível identificar como pertencendo a mesma
peça
42
uma alça com lábio e três fragmentos (gráfico 11). A pasta identificada em todas peças e
fragmentos é o grés branco e três cores foram identificadas: três bege, um marrom e seis
avermelhado. Essas cores se caracterizaram por serem bem comum desse tipo de material
(gráfico 12 e figura 22).
Uma garrafa de grés foi encontrada inteira, porém, durante a palestra com os
funcionários da obra, incluindo o engenheiro, mestre de obra, operários, administração e
estagiários de arquitetura e engenharia, a boca da dessa garrafa se partiu e ficou separada
do restante do objeto. Apesar desse infeliz acontecimento, não ocorreu perda maior da
peça e nem informação que ela possa gerar no futuro. Além disso, é possível fazer a
colagem da peça, sem nenhum tipo de prejuízo.
Morfologia
Garrafa fragmentada
Garrafa quebrada
3 3
Garrafa inteira
Alça
Alça e lábio
1 1 Base
Fragmentos
1 1
1
Cor
1
Marrom
3 Bege
6 Avermelhado
43
Figura 23: Fragmentos e peças de grés coletados no Palácio Antônio Lemos
44
Figura 24: Direita: garrafas de grés “brillantina” de Buenos Aires. Fonte: Schávelson, p. 159,
2018. Esquerda: garrafa de grés coletada no Palácio Antônio Lemos
De todos os vestígios coletados durante este projeto, este é o que mais possui
gravações que dão indicação de origem e do fabricante, ao total três peças possuíam
alguma gravação. Nas peças n° 2998.5.2 está a gravação das seguintes letras: “ND
FOCKINK ‘TERDAM” e a peça n° 2998.5.5 tem as seguintes letras: “KINK AM” (figura
25). Essas letras são referentes a marca holandesa: “WYNAND FOCKINK-
AMSTERDAM”.
45
Figura 25: Foto de cima: fragmentos de grés coletados no Palácio Antônio Lemos. Foto
debaixo: garrafas de grés coletadas no Solar da Beira. Fonte: Seabra, p. 78, 2020
A outra gravação encontrada foi na peça n° 2998.4, uma base de garrafa, divididas
em duas partes, nela é possível observar, com um pouco de dificuldade, as seguintes
letras: “YS ATE LONDON” (figura 25). Porém, não foi possível encontrar nenhuma
informação ou marca relacionada a essa gravação específica. O que pode ser
compreendido é que essa garrafa foi produzida na Inglaterra. Normalmente, as garrafas
de grés produzidas nesse país estão relacionadas a cerveja, porém, com a pouca
informação, não é possível afirmar que esta base encontrada era para armazenamento
deste produto.
46
Figura 26: Base de grés com a gravação “YS ATE LONDON”
Figura 27: Direita: alças coletadas no Palácio Antônio Lemos. Esquerda: Garrafas inteiras
coletadas no Solar da Beira. Fonte: Seabra, p. 78, 2020
47
encontrados fragmentos e garrafas inteiras parecidos. Como também, na exposição
arqueológica da Estação das Docas e do Museu do Encontro é possível encontrar peças
de grés inteiras com características semelhantes.
13
Descrição mais detalhada desse vestígio pode ser lido em sua ficha de análise.
48
Morfologia
1 1
2 2
Esse material também segue o padrão que aparece em outros sítios arqueológicos
da cidade de Belém, o diferencial, é a baixa quantidade desse tipo de vestígio nessa região.
Em outros projetos realizados nessa cidade, esses vestígios também aparecem em menor
quantidade, quando comparados a outros, como a faiança fina, por exemplo. Porém, neste
contexto, a sua presença é mais baixa que o padrão. Talvez, essa baixa quantidade pode
49
estar relacionada com o tamanho da área escavada, como também com o fato de ser uma
área que já tinha sofrido alterações no solo na década de 1990.
Por exemplo, a partir de uma garrafa de bebida é possível saber onde foi
produzida, a técnica de produção utilizada, com essas primeiras informações a datação
relativa pode ser realizada. Além disso, é possível também analisar a bebida que foi
armazenado dentro dela, modo de produção da bebida e materia-prima utilizada. Juntando
essas informações, pode-se fazer uma análise de qual classe social consumia aquele
produto, por qual motivo e em quais ocasiões (Zanettinni e Camargo 2011).
14
Associação Brasileira das Indústrias de Vidro https://epuroevidro.com/historia-do-vidro/
50
Diferentemente das louças, esse tipo de vestígio apareceu em maior quantidade
no segundo nível de escavação, com 101 fragmentos e apenas oito no primeiro nível
(gráfico 11). Apesar dessa grande diferença, ele está presente em toda a área escavada.
Esse diferença deve ocorrer pelo fato, de como já foi informado, a área já ter sido alvo de
obras em anos anteriores, provavelmente sem acompanhamento arqueológico, o que pode
ter resultado em uma diminuição na quantidade de vestígios em alguns pontos escavados.
Nível
101
Nível 1 Nível 2
51
Mofologia Vidro
1 Anel
7 2 3 Borda
Base de garrafa
14 Base de taça
Copo
Fragmento
2 36 Garrafa quebrada
Garrafa inteira
Lábio
12
Lábio e anel
Lábio e pescoço
Lábio, anel e pescoço
1 5 Pescoço
1 Pescoço e anel
19 11
52
Durante a escavação foi possível fazer a coleta de uma garrafa inteira (figura 30),
que estava localizada na parte que ficava embaixo do segundo piso de lioz, área da
escavação onde mais vestígios foram encontrados. Ela estava encaixada no limite da área
escavada e foi retirada com bastante cuidado. Essa garrafa possui o formato e a cor mais
comum de garrafas que foram encontradas em outras escavações realizadas em Belém
(Solar da Beira, João Alfredo e Sesc Ver-o-peso). Ela, provavelmente, deveria ser uma
garrafa para armazenamento de cerveja ou de alguma outra bebida que sofresse
fermentação, o seu lábio e anel dão a indicação de que seu fechamento era com rolha. No
fundo da sua base tinha a seguinte gravação: C & J, que deve ser referente ao fabricante.
O seu lábio e anel estão parcialmente quebrado.
De acordo com Gordenstein (2014), esse tipo de garrafa eram os mais comuns e
mais apreciadados no comercio interno brasileiro para reutilização de garrafas de vidro.
Durante um período, em nosso país, era comum os comerciantes e várias outras pessoas
venderem garrafas de vidro que não tivessem nenhum rótulo ou gravação com o nome do
fabricante tão visivel e que fossem verde escuro.
Porém, o que foi mais chamativo ao analisar as cores dos vestígios coletados na
estação de tratamento foi o fato da pouca variedade. Foram identificadas apenas seis
cores, sendo que três delas são variações do verde. Assim, a cor mais presente foi o verde
oliva em 50 fragmentos, 30 eram de verde escuro, 15 branco leitoso, 2 verde água, 2
transparentes e 1 âmbar (gráfico 16 e figura 31).
1
Cor
15
2 Vidro
2
Âmbar
50
Branco leitoso
Transparente
Verde água
35
Verde escuro
Verde oliva
55
utilizaram o molde triplo, três com molde junto com applied finish e dois com o uso de
molde triplo e applied finish (gráfico 17).
Técnica de Produção
Vidro
7
Applied finish
22
Molde
Molde duplo
Molde triplo
5
Molde triplo/ applied finish
3 1 Molde/ applied finish
48
Não foi possível identificar
3 2
Tooled finish
56
Figura 32: Técnicas de acabamento. Retângulo verde são applied finish. Retângulo rosa são os
tooled finish.
O último atributo observado nesta análise dos vestígios em vidro foi a existência
de algum tipo de gravação, principalmente na parte inferior da base. Assim, em 69
fragmento foi possível encontrar a gravação de letras, que pode estar relacionado ao nome
do fabricante das garrafas. E em 22 não apareceu nenhum tipo de gravação (gráfico 18).
A gravação mais comum encontrada entre esse fragmento foi a seguinte: linhas cortando
na horizontal e vertical e a utilização de duas letras, normalmente a letra C° está gravada
junto com outras letras como o J, B e/ou W (figura 33).
Gravação
22 Vidro
Sem gravação
69
Com gravação
57
Figura 33: Gravação mais comum encontrada nos fragmentos coletados no Palácio Antônio
Lemos. Letras identificadas: C e B
Outro vestígio comum em sítios arqueológicos são os ossos, que dão indicativo
de qual era a alimentação de um determinado período. Porém, durante essa escavação foi
possível encontrar apenas quatro ossos que pertenciam a essas partes anatômicas: rádio,
metatarso e duas rótulas (figura 34). Não foi possível identificar a espécie de animal que
cada parte anatômica pertence, porém, talvez esses ossos possam ser de cervídeos ou
suínos.
Essas partes anatômicas são bem comuns em Belém, sendo encontrado em maior
quantidade em outros acervos arqueológicos, como o Solar da Beira e na Av. Portugal,
durante a escavação de drenagem profunda da rua João Alfredo. A diferença e a
informação importante que pode ser obtida com esse vestígio é a sua baixa presença nessa
região. Talvez, essa diferença ocorra pelo motivo de que as regiões do Solar da Beira e
da Av. Portugal, no passado, eram a Baía do Guajará e Igarapé do Piri, respectivamente.
Logo, para ocupar essa parte da cidade, era necessário a utilização muito maior de aterro.
6. Arqueologia Pública
A Arqueologia é uma ciência que fascina muitas pessoas, desde as crianças até
os idosos. Todos querem fazer uma descoberta incrível, diferente, que marque a história
da sua cidade e/ou região. Muitos pensamentos fantásticos e fantasiosos de como é o
trabalho giram ao nosso entorno e essa fantasia é muito importante para que ocorra a
difusão do conhecimento gerado. Porém, ao mesmo tempo esse pensamento fantasioso
ultrapassa os limites e acabam inventando realidades que não existem.
60
Figura 35: Publicação na rede social sobre o trabalho de arqueologia no Palácio Antônio Lemos
A atividade presencial com os funcionários, considero que seja uma das mais
importante, pois é preciso que as pessoas que estão ajudando na reforma de um bem
público entendam a importância dele para sociedade e o porquê da presença de diferentes
profissionais na obra. Essa palestra demorou para ocorrer, pois, apesar de ter avisado e
solicitado ao engenheiro responsável pela obra uma data e hora para a realização dessa
atividade no decorrer de todo o trabalho no palácio, o mesmo demorou bastante para
marcar a palestra. Essa atividade só foi realizada no dia 29 de junho, duas semanas depois
do fim do trabalho de curadoria e um dia após o vencimento da portaria.
Apesar da demora, a atividade foi realizada de maneira mais simples, sem uma
apresentação em power point, mas como uma conversa com os funcionários. Durante essa
conversa, falei primeiramente o motivo de ter uma arqueóloga acompanhando a
escavação, informei, em um primeiro momento, a legislação que envolvia o Palácio
Antônio Lemos e os bairros da Campina e Cidade Velha. Depois, expliquei que
escavações como a realizada nesta obra causavam alterações irreversíveis no solo, local
61
onde normalmente encontramos os vestígios arqueológico. Assim, era importante a
presença de um arqueólogo acompanhando as escavações.
Como a palestra foi realizada após a finalização do trabalho, não é possível fazer
uma avaliação mais detalhada do quanto foi captada da mensagem transmitida. Porém,
ao longo de todo o trabalho, foi possível conversar com alguns funcionários e explicar
com um pouco mais de detalhe o trabalho arqueológico e as respostas deles após a palestra
dão um indicativo de que realizar esse tipo de atividade, por mais simples e rápida que
seja, é de extrema importância. Além de mostrar respeito com o outro profissional que
trabalha no mesmo ambiente, o conhecimento é gerado para ser compartilhado e não ficar
apenas com um grupo de pessoas.
62
Figura 36: Imagens da palestra de arqueologia
Essas foram as duas atividades pontuais propostas para esse projeto, porém,
durante o cotidiano de uma obra ocorre uma troca de conhecimento entre as equipes.
Assim, nesta obra, muita conversa e explicação de como funciona o trabalho arqueológico
e a legislação brasileira para esta área ocorreu com a equipe de consultoria de conversão
e restauro da arquiteta e restauradora Tainá Arruda. Como a sala foi dividida com eles,
então, todos os dias era explicado cada fase do trabalho e os estagiários, de conservação
e restauro e arquitetura, acompanharam a escavação, curadoria e análise dos vestígios
coletados.
7. Conclusão
Essa grande de água dificultou a escavação, pois, não era apenas a água que
brotava do solo que acabava enchendo a área escavada, mas, também, tinha a água da
chuva que ficava armazenada ali. Assim, foi difícil atingir os 2 metros de profundidade
na área onde será instalado o filtro. Após a finalização da escavação, aproximadamente,
dois dias depois, essa área escavada já se encontrava seco. Esse período pós escavação se
caracterizou com pouca quantidade de chuva na cidade. Assim, posso concluir que apesar
das mudanças realizadas ao longo dos séculos nessa região, ela continua sendo uma região
alagadiça.
A partir dessa realidade, tinha uma dúvida se encontraria aterro nesta região e
qual seria a quantidade presente. Durante a escavação foi possível observar que o aterro
utilizado, apesar de pequeno, quando comparado com a região do Ver-o-Peso, segue é
64
semelhante ao que foi encontrado em outros pontos da cidade. Uma terra um pouco
escura, com presença de louças, vidros, cerâmicas e ossos. A identificação e análise dos
vestígios arqueológico coletados demonstram que o aterro desse espaço coincide com o
período de construção do palácio, o século XIX.
O que mais chamou atenção na realização desse trabalho foi a pouco quantidade
de vestígios encontrados. Esta comparação, ocorre, novamente, com o acervo gerado
durante as obras do Solar da Beira, Sesc Ver-o-Peso, Estação das Docas e Forte do
Presépio. Porém, essa comparação tem que ser feita com cuidado, pois, a área escavada
no Palácio Antônio Lemos foi menor do que nesses outros locais. Além disso, como foi
informado, a área de aterro com material arqueológico é menor.
65
8. Referência Bibliográfica
66
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