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Instituto Politécnico de Tomar

Escola Superior de Tecnologias de Tomar

Licenciatura em Conservação e Restauro

Conservação e Restauro 7 – Documentos Gráficos

Relatório da componente prática: Restauro de


uma Carta de Curso referente ao século XX do
Liceu Nacional Maria Amália Vaz de Carvalho

Docente: Professor Luís Pereira


Discente: Carolina Quaresma ‫ ׀‬Nº 21911 ‫ ׀‬Turma A

Ano Letivo 2021/2022


Relatório da componente prática: Restauro de
uma Carta de Curso referente ao século XX do
Liceu Nacional Maria Amália Vaz de Carvalho

Relatório das aulas práticas de Conservação e Restauro 7 –


Documentos Gráficos

Orientado por Luís Pereira


Realizado por Carolina das Chagas Canhenha Quaresma
Nº 21911 ‫ ׀‬Turma A

ESTT – IPT ‫ ׀‬Licenciatura em Conservação e Restauro


ÍNDICE

Introdução.................................................................................................................................... 5
1 Identificação do objeto ............................................................................................................. 6
2 Métodos de exame e análise efetuados.................................................................................... 7
3 Caraterização histórica ............................................................................................................ 7
4 Caraterização material e técnica do objeto ............................................................................ 9
4.1 Suporte ............................................................................................................................... 9
4.2 Materiais e técnicas de registo.......................................................................................... 9
5 Levantamento do estado de conservação ............................................................................. 10
5.1 Descrição .......................................................................................................................... 10
5.2 Mapeamento de marcas e processos de alteração ........................................................ 11
6 Objetivos da intervenção ....................................................................................................... 13
7 Proposta de intervenção......................................................................................................... 14
8 Intervenção de Conservação e Restauro .............................................................................. 15
9 Acondicionamento e recomendações no âmbito da conservação preventiva .................... 18
10 Mapa de Custos .................................................................................................................... 20
11 Conclusão .............................................................................................................................. 21
12 Bibliografia ........................................................................................................................... 22
ANEXOS .................................................................................................................................... 23
Registo fotográfico antes da intervenção............................................................................. 24
Patologias ............................................................................................................................... 27
Marcas .................................................................................................................................... 31
Intervenção ............................................................................................................................ 33
Depois da intervenção ........................................................................................................... 39
Índice de Figuras

Fig. - 1 Vista frente da Carta de Curso. ........................................................................................ 7


Fig. - 2 Liceu Nacional Feminino de Maria Amália Vaz de Carvalho......................................... 8
Fig. - 3 Mapeamento da parte da frente do documento. ............................................................. 11
Fig. - 4 Mapeamento do verso do documento. ........................................................................... 12
Fig. - 5 Vestígios de foxing. ....................................................................................................... 15
Fig. - 6 Processos de planificação. ............................................................................................. 15
Fig. - 7 Limpeza mecânica com borracha. ................................................................................. 16
Fig. - 8 Vestígios de ferrugem. ................................................................................................... 16
Fig. - 9 Processo de consolidação. ............................................................................................. 17
Fig. - 10 Sistema de acondicionamento - capilha....................................................................... 18
Fig. - 12 Registo fotográfico da parte frente antes da intervenção. ............................................ 24
Fig. - 13Registo fotográfico do verso antes da intervenção. ...................................................... 25
Fig. - 14 Estado inicial do documento........................................................................................ 26
Fig. - 15 Foxing na superfície. ................................................................................................... 27
Fig. - 16 Vincos e risco de destacamento. .................................................................................. 28
Fig. - 17 Vestígios deferrugem na parte do verso do documento. .............................................. 29
Fig. - 18 Vincos. ......................................................................................................................... 30
Fig. - 19 Selo de Portugal de trezentos escudos. ........................................................................ 31
Fig. - 20 Marca de água.............................................................................................................. 32
Fig. - 21 Limpeza mecânica por via seca. .................................................................................. 33
Fig. - 22 Remoção de ferrugem com bisturí............................................................................... 33
Fig. - 23 Risco de destacamento................................................................................................. 34
Fig. - 24 Consolidação com tilose a 4%. .................................................................................... 34
Fig. - 25 Processo de consolidação. ........................................................................................... 35
Fig. - 26 Processo de planificação - humidificação de papel mata-borrão. ................................ 35
Fig. - 27 Processo de planificação - papel reemay e mata-borrão. ............................................. 36
Fig. - 28 Processo de planificação com sympatex e placa de madeira. ...................................... 37
Fig. - 29 Planificação com prensa. ............................................................................................. 38
Fig. - 30 Depois da intervenção - frente. .................................................................................... 39
Fig. - 31 Depois da intervenção - verso. .................................................................................... 40
Introdução
O presente relatório consiste no estudo de uma intervenção efetuada no documento
gráfico denominado como Carta de Curso do século XX, mais propriamente referente à
data 29 de setembro de 1967 do Liceu Nacional de Maria Amália Vaz de Carvalho. A
intervenção a este documento foi realizada durante as aulas práticas de Conservação e
Restauro 7 – Documentos Gráficos do Instituto Politécnico de Tomar.

Para isto, este trabalho tem o objetivo de mencionar toda a intervenção realizada neste
documento, bem como desenvolver um pequeno trabalho de investigação falando sobre
a sua proveniência, isto é, referente à escola. Também vai estar mencionado, os materiais
utilizados na intervenção, bem como um capítulo de uma proposta de intervenção. Mais
para o final, vai constar um mapa de custos, acabando com uma conclusão e bibliografia
onde vai constar toda a informação retirada para a realização deste trabalho.
1 Identificação do objeto
1.1 Nome: Carta de Curso do 3º Ciclo – 7º ano

1.2 Tipologia: Carta de Curso Antiga do século XX (1967)

1.3 Data: 29 de setembro de 1967;

1.4 Proprietário: Maria Inês Cunha da Costa Pereira;

1.5 Autoria: Reitora Alice Costa Pinto de Andrade;

1.6 Instituição: Liceu Nacional de Maria Amália Vaz de Carvalho;

1.7 Dimensões: 51,7 cm x 41,7 cm (comprimento e altura, respetivamente);

1.8 Datação: 29 de setembro de 1967;

1.9 Concelho: Lisboa;

1.10 Matéria e técnica: Papel de gramagem baixa com tipografia digital a cor preta e
verde e tipografia física de cor azul-claro;

1.11 Marcas/Inscrições: Selo de cor avermelhada de Portugal e marca de água situados


na parte inferior central e esquerda do documento

1.12 Estado de Conservação: Bom;

1.13 Historial: Desconhecido.


Fig. - 1 Vista frente da Carta de Curso.

Própria elaboração

2 Métodos de exame e análise efetuados


Não foram realizados métodos de exames e análises ao documento pois, de uma forma
pessoal, por base de algum conhecimento geral na área, não haveria necessidade. Como
o documento se encontra num bom estado de conservação, não foi necessário retirar
amostras para serem analisadas ao microscópio, ou outro tipo de exames.

Assim sendo, depois de uma análise do documento vista desarmada passou-se para o
registo fotográfico onde se conseguiu retirar toda a informação necessária para o
preenchimento da ficha técnica do documento bem como a realização deste trabalho.

3 Caraterização histórica
O Liceu Nacional Feminino de Maria Amália Vaz de Carvalho está situado em Lisboa,
mais propriamente perto do Parque Eduardo VII, construído por Miguel Ventura Terra.
É um edifício que é constituído por quatro pavilhões quadrangulares, com funções
complementares, isto é perpendiculares à fronteira e articulados lado a lado, o que o torna
muito semelhante à estrutura do Liceu de Camões, em que o sistema construtivo tem
influência francesa dos Lycée, sendo a fronteira composta por cinco andares com torreões
laterais seguidos por uma corredor longitudinal que faz a ligação com o corredor central
onde se pode encontrar a porta principal onde constam três janelões.

Atualmente, o liceu é denominado como Escola Secundária Maria Amália Vaz de


Carvalho que teve a sua origem na Escola D. Maria Pia em que só poderiam frequentar o
género feminino. Foi criada no final do século XIX, mais propriamente em 1885 no Largo
do Contador-Mor, em que se converteu, em 1906, para o liceu feminino instituído em
Portugal. Cinco anos mais tarde, em 1906, como o Liceu D. Maria Pia já se encontrava
sobrelotado, este foi transferido para o Palácio Valadares no Largo do Carmo, onde se
mudou o nome para Liceu Nacional de Maria Pia e, mais tarde, mais propriamente em
1919 ficou denominado como Liceu Central de Almeida Garrett. Mas foi em 1926 que o
Largo do Carmo mudou de nome para Maria Amália Vaz de Carvalho, sendo este o nome
de uma escritora e poetisa que defendeu a criação de um liceu feminino em Portugal.

Desta forma, este Liceu foi o primeiro liceu a constituir turmas mistas, que derivam de
todas as mudanças causadas durante o 25 de Abril - Dia da Liberdade - e foi o primeiro a
ser construído de raiz, que através de Miguel Ventura Terra conseguiu fazer deste edifício
um exemplo das construções escolares femininas, em que, hoje em dia, é classificado, de
acordo com a DGPC1, património móvel integrado com categoria de proteção é um
edifício classificado como Monumento de Interesse Público.

Fig. - 2 Liceu Nacional Feminino de Maria Amália Vaz de Carvalho.

Retirado de: https://lisboadeantigamente.blogspot.com/2016/01/liceu-feminino-


de-maria-amalia-vaz-de.html
Assim sendo, o
documento gráfico em estudo, isto é a Carta de curso de 1967 ainda não constavam as
turmas mistas, só as turmas com o sexo feminino. Pois foi só depois de 1974 que as turmas
mistas foram aprovadas pelo estado. (Leite, 2015)

De acordo com um estudo sobre a organização pedagógica e a administração dos liceus,


Alice Costa Pinto de Andrade, a reitora que assinou a carta de curso em 1967 de Maria
Inês Cunha da Costa Pereira, em 1940 foi Vice-Reitora do Liceu e no resto dos anos, isto

1
DGPC – Direção Geral do Património Cultural.
é, no mandato de 1950 e no mandato de 1961 foi Reitora da escola, com 38 anos de
serviço e com 63 anos de idade. (Barroso, 1993)

4 Caraterização material e técnica do objeto


4.1 Suporte
Numa primeira análise, fez-se uma observação detalhada do documento a intervencionar,
identificando o tipo de papel. Neste caso conseguiu-se detetar que o tipo de papel deste
documento é o papel moderno, por ser um documento do século XX, mais propriamente
do ano 1967. Este papel é de gramagem mais grossa e compacta com uma tonalidade bege
esbranquiçada.

De acordo com a Associação da Indústria Papelaria, no oriente começou-se a fabricar


papel com os restos têxteis passando, então esta técnica a espalhar-se por todo o mundo
sempre melhorando e aperfeiçoando.

Em 1950 que a industrialização do papel obteve grandes mudanças. Desta forma, foi em
Portugal, no século XIV, que o papel começou a ser produzido, em que as primeiras
fábricas só terão aparecido nos finais do século XVIII, e foi também o primeiro país a
produzir pastas químicas de eucalipto. (Papelaria, 2015)

Para a fabricação de papel é necessário recorrer a árvores e a água. Depois de se obter


estes produtos é possível formar uma pasta de papel, onde se usam fibras virgens de
origem vegetal que são obtidas através de processos físicos e mecânicos, ou até mesmo
obtidas através das aparas, isto é, do aproveitamento de papeis recuperados.

Depois de obter esta pasta crua, recorre-se então ao processo de branqueamento em que
são utilizados vários produtos químicos. Seguidamente, com a pasta e branqueamento
terminados este processo é concluído com máquinas industriais. (Reis, 2018)

4.2 Materiais e técnicas de registo


A técnica de impressão que está empregue na Carta de curso é uma impressão industrial,
isto é, a máquina e também tinta azul, provavelmente de esferográfica, pois o seu traço é
mais grosso e mais instável. Em torno da Carta há vários traços de tonalidade verde-claro
que foi impresso.
Observa-se também na parte inferior da Carta uma marca de água, em que possui um
relevo. Esta marca foi transposta para o papel através da técnica de decalque de uma
máquina. Esta possui uma alavanca que na ponta da marca de água gravada no metal, de
seguida coloca-se o documento debaixo deste metal e depois exerce-se pressão. Ao lado
da marca de água encontra-se um selo de Portugal, de cor avermelhada.

Ao cimo do documento, na parte da frente na zona central, encontra-se uma inscrição


feita a máquina “República Portuguesa. Esta inscrição contém o símbolo da república e
todo o seu traço é ligeiramente mais grosso. O tipo de letra é mais reto.

5 Levantamento do estado de conservação


5.1 Descrição
A Carta de Curso do Liceu Nacional Feminino de Maria Amália Vaz de Carvalho é um
documento de 1967, em que se encontram algumas marcas de manuseamento, mas em
regra geral encontra-se num bom estado de conservação.

Numa primeira análise, ao Carta encontra-se em “rolo” e não plana. Este rolo pode ter
sido causado possivelmente para ser mais fácil de se transportar e de armazenar. Em toda
a sua superfície de ambos os lados, isto é, frente e verso, é possível verificar alguma
sujidade superficial que leva ao escurecimento do papel e também algumas manchas de
foxing2 que são causadas devido ao seu armazenamento. No canto superior esquerdo
pode-se observar alguma ferrugem, que possivelmente, poderá ter sido causada devido a
um clip de metal. Também se conseguem observar vincos que possivelmente são fatores
de descuido de manuseamento. Na parte inferior esquerda observa-se algumas fibras
quase em destacamento e outras já em destacamento.

No que respeita à parte da impressão e da escrita, estas também se encontram num bom
estado de conservação, podendo se notar na escrita um traço um pouco instável. A

2
Foxing – são manchas de dimensão reduzida circulares irregulares que podem ser encontradas
aleatoriamente sobre a superfície do papel. Estas variam de tonalidade entre o castanho avermelhado e
o castanho-amarelado. Papel com uma elevada percentagem de lenhina tende uma oxidação mais
rápida, não havendo aparecimento de foxing. (Matos)
assinatura da reitora do Liceu é realizada com uma caneta diferente. Esta tem o traço
menos grosso.

5.2 Mapeamento de marcas e processos de alteração


Um mapeamento não é nada mais nada menos do que um mapa dos danos que estão
presentes no objeto a restaurar. Para cada mapeamento devem existir várias cores, ou
símbolos, ou ambos que possam diferenciar de patologia para patologia. Para isto é criada
uma legenda que facilita na compreensão do mapeamento.

Para esta carta de curso foram criados dois mapeamentos, frente e verso, pois a mesma
encontrava várias patologias, em que a maior seriam os vincos e o foxing. Como as
manchas de foxing se encontram presentes em todo o documento em reduzido tamanho e
áreas, não foi possível mapeá-lo. Outra patologia que foi encontrada em toda a superfície
do documento foram os vincos.

Fig. - 3 Mapeamento da parte da frente do documento.


Fig. - 4 Mapeamento do verso do documento.

Legenda:
Risco de
destacamen
to
Vincos

Marca de água Manchas

A Texto
Vestígios de
ferrugem
6 Objetivos da intervenção
Esta intervenção tem o objetivo de realizar uma boa documentação do documento e para
assegurar que esta possa ser observada mais tarde, é preciso que haja um bom registo
fotográfico. Também o conservador restaurador tem o objetivo de assegurar este
documento gráfico consiga durar muitos mais anos de forma a preservar a história. Com
isto adaptasse várias técnicas, desde a limpeza por via seca até à laminação. O principal
objetivo deste trabalho é, ao fim ao cabo, demonstrar o que foi intervencionado e como,
para que mais tarde se saiba que materiais que foram utilizados, para saber se estes são
reversíveis ou não. À partida, um conservador e restaurador tem o dever de utilizar
materiais reversíveis para que numa futura intervenção esta se tornar menos complicada
de se realizar. Porventura, estes materiais não são agressivos, podendo haver uma ou outra
exceção.

Assim sendo, numa primeira fase do procedimento de intervenção é planificar o suporte,


só depois é que se irá passar para as próximas intervenções. De seguida, pretende-se
realizar uma limpeza por via seca e só depois tratar das zonas de destacamento no verso
do suporte. Provavelmente não se irá planificar os vincos do papel, pois estes não
prejudicam a leitura do documento.

Por fim, é realizado um bom acondicionamento, utilizando uma capilha feita de cartolina
em que tem o intuito de guardar o documento sem que este apanhe tantas poeiras e
também mantém o suporte planificado, tornando-se fácil de transportar sem o danificar.
7 Proposta de intervenção
Numa primeira fase, propõem-se uma planificação do documento para ser mais fácil de
trabalhar nele posteriormente. Para isto vai-se recorrer a uma prensa composta por duas
placas de metal, em que irá criar uma força deixando, após cinco/seis dias, o documento
totalmente planificado.

De seguida, a nível do suporte, vai-se realizar uma limpeza por via seca, com a Smoke
Sponge ou com uma borracha, em que se deve manusear em pequenas áreas e em
pequenos círculos, não proporcionando muita força para não danificar o papel. Esta
limpeza é realizada pois, como foi dito anteriormente, o papel encontra-se sujo com as
pequenas poeiras que andam no ar o que leva a um escurecimento gradual do papel e a
manchas de foxing. Não se vai realizar uma limpeza por via húmida, porque como no
papel se encontram inscrições realizadas a caneta normal esta poderia manchar o papel.

Depois disto é realizado um branqueamento ao documento, deixando mais claro, e


posteriormente seria realizado uma planificação húmida com as placas nos vincos do
papel deixando-o totalmente planificado.

Por fim, realiza-se uma capilha com cartolina que tem o intuito de acondicionar o nosso
documento para ser entregue devidamente ao proprietário.
8 Intervenção de Conservação e Restauro
Primeiramente realizou-se o registo fotográfico do documento. Neste registo, tirou-se
uma série de fotografias ao documento, em que se tirou primeiramente do documento
quando estava ainda em rolo. De seguida, com a ajuda de quatro pesos, conseguiu-se
fotografar frente e verso e, posteriormente de todos os detalhes, como os vincos,
ferrugem, as manchas de foxing, entre outros.

Fig. - 5 Vestígios de foxing.

Seguidamente realizou-se a planificação. Neste processo, com um borrifador, molhou-se


ligeiramente um papel mata-borrão maior que o documento, e, de seguida colocou-se por
cima sympatex que tem o intuito de humificar lentamente o documento, não o
danificando. Por fim foi colocada uma prancha de madeira por cima do mesmo e um peso.
Passado aproximadamente 30 minutos a uma hora, retirou-se este mata-borrão e
verificou-se que o documento ainda não se encontrava planificado. Posto isto, o
documento foi colocado na prensa onde ficou pelo menos sete dias.

Fig. - 6 Processos de planificação.


Já com o documento planificado, passou-se então para o passo seguinte desta intervenção,
a limpeza mecânica por via seca. Esta foi realizada com um lápis-borracha, em que se
exercia alguma pressão com movimentos circulares pequenos numa pequena área do
documento, até este estar todo completamente limpo. Este procedimento foi realizado na
parte da frente e do verso do documento. No canto superior esquerdo da parte da frente
verificou-se que tinha ferrugem. Para a limpeza da mesma, fez-se uma limpeza mecânica
seca com um bisturi, não conseguindo remover totalmente a ferrugem.

Fig. - 7 Limpeza mecânica com borracha.

Fig. - 8 Vestígios de ferrugem.

De seguida passou-se para a colagem de algumas fibras que se encontravam no canto


inferior esquerda do verso do documento. Esta foi realizada com um adesivo, denominado
por tilose a 4%, o que não a tornou muito espessa. Com a ajuda de um pincel, colocou-se
uma pequena quantidade nas fibras, e de seguida dispôs-se um pequeno papel reemay
sobre as mesmas e com a ajuda de uma espátula, com o movimento das fibras fez-se
pressão, seguindo de um mata-borrão e um peso sobre a área já intervencionada.
Fig. - 9 Processo de consolidação.

Para concluir esta intervenção, foi criado um sistema de acondicionamento para este
documento. Para isto foi utilizado uma capilha de cartolina. No fundo uma capilha é uma
capa para acondicionar documentos evitando que estes se estraguem no transporte até ao
proprietário.

Quero acrescentar que o branqueamento não foi efetuado porque quando se fez a limpeza
com via seca com a borracha, o papel ficou suficientemente branco, e o foxing não foi
retirado porque não prejudicava a leitura do documento.
9 Acondicionamento e recomendações no âmbito da
conservação preventiva
Cabe ao conservador restaurados depois de o documento estar todo intervencionado
acondicionar bem o documento antes de ser entregue ao proprietário. Para isto é criado
um sistema de acondicionamento, em que é constituído pela ficha técnica do documento
e neste caso, uma capilha de cartolina. Uma capilha não é nada mais e nada menos uma
capa, em que assegura que o documento fique bem planificado e resguardado de um
incorreto transporte do documento.

Fig. - 10 Sistema de acondicionamento - capilha.

Depois do documento estar corretamente acondicionado para ser dado ao proprietário, o


conservador restaurador tem o dever de aconselhar ao proprietário algumas medidas que
previnem que este volte ao estado inicial de degradação ou até pior. Estas medidas são
chamadas de conservação preventiva.

A conservação preventiva tem vários conceitos. Esta desenvolveu-se em meados do


século XX, em que consiste demostrar alguma importância da preservação do património.
Para Gäel de Guichen, a conservação preventiva consiste em retirar peças da insegurança
através de várias atitudes tomadas tanto pelo conservador restaurador e proprietário que
estão destinadas a salvaguardar um objeto um conjunto de objetos. Para isso é necessário
ter um bom senso comum, preservar a memória, ter intuição, ética e uma razão pela qual
é necessário ser realizada. A aplicação destas atitudes quando conjugados com termos
científicos permitem uma atuação correta dos objetos, pode ser direta ou indireta.
(Citaliarestauro)

Assim sendo, uma atuação direta sobre os objetos significa um controlo do espaço onde
vai constar o objeto, como o controlo da humidade relativa, luz, temperatura do espaço,
regulamento interno, realização de um plano de conservação preventiva, um plano de
segurança, definições de espaços e hierarquias, já a atuação indireta sobre os objetos
reflete nas tarefas realizadas a ele próprio.

Desta forma, com base na definição de Guichen para esta Carta de Curso do século XX,
pode-se aconselhar:

→Emoldurar o documento, com uma moldura à escolha com vidro para que se possa ver
o documento;

→Não deixar o documento num espaço em que apanhe luz direta solar, pois as cores
podem desvanecer, tornando difícil uma correta leitura do documento;

→Deixá-lo num espaço limpo, e não colocar pousado no chão, pois no chão pode haver
mais humidade ou infiltrações, podendo assim causar uma maior escala de probabilidade
de causar danos sobre o mesmo;

→Como foi restaurado recentemente, o mesmo deveria ser pelo menos, limpo por um
conservador restaurador de modo a prevenir a expansão de foxing e de escurecimento do
papel.
10 Mapa de Custos
Um mapa de custos significa orçamento, e um orçamento significa organizar e dar um
valor final de quanto vai custar a intervenção aquele objeto. Assim sendo, os valores
variam de trabalho para trabalho, também as horas gastas na intervenção variam,
concluindo assim que o valor de cada intervenção será diferente.

Desta forma, para a intervenção desta Carta de Curso, foi contado no orçamento tudo
aquilo que foi elaborado em laboratório, como todas as intervenções feitas, como os
materiais utilizados. Assim, o custo que vai ser dado ao proprietário referente à
intervenção realizada vai ter um valor de 1250,125 €. Neste valor estão incluídos o valor
total da mão de obra, os materiais, o total dos custos diretos, o ponto de equilíbrio, o lucro
e pro fim, o total dos custos indiretos.

Tabela 1 Mapa de custos.

Processo Tempo Custo/dia Mão de obra


Planificação 0,0625 80 5
Limpeza mecânica 0,1875 80 15
Consolidação 0,0625 80 5
Acondicionamento 0,125 80 10
Realização de relatório
5 80 400
de intervenção

Total de mão de obra 435


Materiais 65,25
Total custos diretos 500,25
P.equilbrio 150,075
Lucro 100,05
Total custos indiretos 250,125

Total do orçamento 1250,625


11 Conclusão
Em suma, conclui-se que, devido ao facto de o documento estar num bom estado de
conservação, não foi necessário fazer-se grande intervenção, uma boa limpeza, e uma
planificação correta foi o que praticamente bastou para este estar agora num melhor
estado do que alquilo que estava.

Num contexto mais pessoal, o trabalho realizado nesta unidade curricular conseguiu
alargar o vocabulário com novos conceitos, novos materiais, outros modos de se
intervencionar, neste agora, num “objeto” mais delicado, como o papel. Foi bastante
surpreendente intervencionar neste material, pois o papel parece ser um material muito
delicado, pois pode-se rasgar ou ganhar humidade muito facilmente, mas foram utilizados
materiais como bisturis, adesivo, entre outros que me surpreenderam pela positiva.

Salienta-se também que, como é um material, num modo geral, frágil, é necessário ter
muito cuidado da forma como é manuseado durante transportes, limpezas, etc.
12 Bibliografia
Barroso, J. J. (1993). A Organização Pedagógica e a administração dos Liceus (1836-1960).
Lisboa.

Citaliarestauro. (s.d.). Conservação Preventiva. Obtido em 18 de janeiro de 2022, de


https://citaliarestauro.com/o-que-e-conservacao-preventiva/

Leite, S. (2015). Direção-Geral do Património Cultural. Antigo Liceu Feminino de Maria Amália
Vaz de Carvalho, incluindo o património móvel integrado .

Matos, M. S. (s.d.). Foxing - um fenómeno recorrente e papéis de épocas e caraterísticas


morfológicas similares. Tratamentos e estudo. .

Papelaria, C. -A. (2015). História do Papel.

Reis, D. L. (2018). ANÁLISE DO PROCESSO DE FABRICAÇÃO DO PAPEL UTILIZANDO MATÉRIA.


Uberaba .
ANEXOS
I Registo fotográfico antes da intervenção

Fig. - 11 Registo fotográfico da parte frente antes da intervenção.


Fig. - 12Registo fotográfico do verso antes da intervenção.
Fig. - 13 Estado inicial do documento.
II Patologias

Fig. - 14 Foxing na superfície.


Fig. - 15 Vincos e risco de destacamento.
Fig. - 16 Vestígios deferrugem na parte do verso do documento.
Fig. - 17 Vincos.
III Marcas

Fig. - 18 Selo de Portugal de trezentos escudos.


Fig. - 19 Marca de água.
IV Intervenção

Fig. - 20 Limpeza mecânica por via seca.

Fig. - 21 Remoção de ferrugem com bisturí.


Fig. - 22 Risco de destacamento.

Fig. - 23 Consolidação com tilose a 4%.


Fig. - 24 Processo de consolidação.

Fig. - 25 Processo de planificação - humidificação de papel mata-borrão.


Fig. - 26 Processo de planificação - papel reemay e mata-borrão.
Fig. - 27 Processo de planificação com sympatex e placa de madeira.
Fig. - 28 Planificação com prensa.
V Depois da intervenção

Fig. - 29 Depois da intervenção - frente.


Fig. - 30 Depois da intervenção - verso.

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