Você está na página 1de 42

Thalía Christiane Rezende dos Santos - thaliarezende@hotmail.com - CPF: 131.233.

916-04
Caio Cesar Nader Quintella
Vice-Presidente da 1ª Seção do CARF
Conselheiro Titular da 1ª Turma da CSRF
Mestre – PUC/SP
Advogado licenciado
Prof. Conferencista IBET
Prof. Convidado PUC/SP, FGV/SP, INSPER/DF, CONFEB e IBDT
Palestrante, Autor e Coautor de artigos e livros jurídicos

Thalía Christiane Rezende dos Santos - thaliarezende@hotmail.com - CPF: 131.233.916-04 CN


Qual a Importância do Planejamento Tributário na Carreira de um

Tributarista?

- Cada empresa e suas operações (e as pessoas físicas também) estão sujeitas a uma carga tributária, englobando
obrigações principais e acessórias, própria e específica nas 3 (três) esferas federativas do Poder de Tributar (União, 27
Estados e 5.570 municípios).
- Geralmente os ônus tributários operacionais são conhecidos.
- Desafios: mitigar o impacto fiscal das atividades, dentro da estrita observância da Lei, gerando o mínimo de contencioso.
Defender o contribuinte quando autuado. Não existem boas fórmulas prontas – trabalho caso-a-caso.

Conhecimentos mais valiosos:


- Os Limites da Legalidade.

- O Entendimento da Fazenda Pública.

- A Jurisprudência dos Tribunais Administrativos e do Poder Judiciário.

Thalía Christiane Rezende dos Santos - thaliarezende@hotmail.com - CPF: 131.233.916-04 CN


“Dai a César o que é de César”
- Ok, mas então, o que é de César?

Controvérsias sobre Planejamento Tributário: frutos da constante tensão entre


Estado e Particular na determinação da medida de penetração do público no
patrimônio privado – pretensões antagônicas.

Thalía Christiane Rezende dos Santos - thaliarezende@hotmail.com - CPF: 131.233.916-04 CN


Busca pelas Vias Legais com Menor Tributação

Thalía Christiane Rezende dos Santos - thaliarezende@hotmail.com - CPF: 131.233.916-04 CN


Planejamento Tributário: conjunto racional e organizado de decisões
negociais e jurídicas dos contribuintes, tomadas com base nas normas
tributárias vigentes, voltado à minimizar o ônus tributário dentro das
variações quantitativas que se apresentam – Elisão Tributária.

Mas toda Economia Fiscal se dá por Planejamento Tributário?


- Não.

Outras Figuras relevantes:


Desoneração e Renúncias
Opções Fiscais
Evasão

Thalía Christiane Rezende dos Santos - thaliarezende@hotmail.com - CPF: 131.233.916-04 CN


Desoneração e Renúncias Fiscais: o ato jurídico deliberado do Ente
tributante (União, Estado ou Município) quando abre mão ou reduz, de
maneira direcionada, tributo de sua competência.
Exemplos:
- Isenções.
- Crédito presumido/prêmio.
- Zonas Francas.
Aqui, o contribuinte, induzido por tais desonerações, busca por realizar atividade,
negócios, transações ou se adequar aos eventuais requisitos impostos como condições
das renúncias instituídas, reduzindo sua carga tributária.

Thalía Christiane Rezende dos Santos - thaliarezende@hotmail.com - CPF: 131.233.916-04 CN


Opções Fiscais: faculdade, objetiva e expressamente prevista em
determinada norma, que confere tratamento tributário que pode implicar
em menor tributação.
Exemplos:
- Regimes do Lucro Presumido e do SIMPLES Nacional.
- Métodos de Preço de Transferência.
- Atribuição de Valor Histórico ou de Mercado em Doações.

A Legislação oferece, objetivamente, escolhas, que podem ou não neutralizar, reduzir ou


retardar o momento do pagamento dos tributos devidos.

Thalía Christiane Rezende dos Santos - thaliarezende@hotmail.com - CPF: 131.233.916-04 CN


Evasão: é a conduta dolosa de praticar ilícito, civil e/ou criminal, visando à
indevida supressão ou redução de tributos.
Exemplos:
- Subfaturamento e adulteração de registro de valores de produtos e
operações.
- Estabelecimentos fantasmas.
- Utilização de interpostas pessoas (laranjas).
A economia de tributos por meio da prática de ilícitos geralmente implica em Crime
contra a Ordem Tributária, gerando representação penal e sanções pecuniárias fiscais que
ultrapassam do valor do próprio tributo.

Thalía Christiane Rezende dos Santos - thaliarezende@hotmail.com - CPF: 131.233.916-04 CN


Evolução do Entendimento da RFB e da
Jurisprudência do CARF
2002

Prevalência da Substância sobre a Forma

Propósito Negocial e Motivação Extratributária – Abuso no Planejamento Tributário

Suporte Doutrinário, Práticas Internacionais e LC nº 104/2001 – Par. Ún. do Art. 116

Thalía Christiane Rezende dos Santos - thaliarezende@hotmail.com - CPF: 131.233.916-04 CN


Cada Estado possui o seu próprio hidrômetro de
(in)tolerância ao Planejamento Tributário, tendo em vista
as suas tradições, necessidades e experiências – Prof. LFN

Desonerações e Opções Fiscais

Planejamento Tributário

Planejamento Tributário abusivo

Evasão fiscal

Thalía Christiane Rezende dos Santos - thaliarezende@hotmail.com - CPF: 131.233.916-04 CN


Fundamento para Desconsideração de
Operações pelo Fisco

Ilícito

Vantagem Tributária

Vício Negociais

Thalía Christiane Rezende dos Santos - thaliarezende@hotmail.com - CPF: 131.233.916-04 CN


Ilícitos
Fraude
• Hipótese do arts. 158 CC/2002.
• Emprego de ardil e artifício.
• Def. STJ e Doutrina: conduta dolosa, de má-fé, visando ao engano de terceiro, para provocar-lhe
dano ou obter para si vantagem indevida.
• Correspondência expressa no art. 149, inc. VII, do CTN – lançamento de ofício.
Simulação
• Hipótese do art. 167 CC/2002.
- aparentar conferir ou transmitir direitos a pessoas diversas daquelas às quais realmente se conferem,
ou transmitem;
- contiverem declaração, confissão, condição ou cláusula não verdadeira;
- os instrumentos particulares forem antedatados ou pós-datados.
- Correspondência expressa no art. 149, inc. VII, do CTN – lançamento de ofício.

Em ambos os tipos: Abordagem Voluntarista da Validade do Negócio – Já previstos no CC/1916.


Thalía Christiane Rezende dos Santos - thaliarezende@hotmail.com - CPF: 131.233.916-04 CN
Ilícitos
Abuso de Direito (Elusão – A.A. Becker)
• Hipótese do Art. 187 CC/2002:
Também comete ato ilícito o titular de um direito que, ao exercê-lo, excede manifestamente
os limites impostos pelo seu fim econômico ou social, pela boa-fé ou pelos bons costumes.
• Ex.: aquele que constrói chaminé de tamanho descomunal em sua casa, com o manifesto
objetivo de lançar sombra no quintal de seu vizinho.
• Nova Abordagem Causalista da Validade do Negócio – Ausente no CC/1916 – Duplicidade de
correntes de Dir. Civil.
• Sem menção expressa no CTN (recepção pelos art. 149 e art. 116 do CTN? Pode isso?)
• Na Area Tributária justificaria a exigência de razões econômicas ou negociais? Qual o limite
do direito de economizar tributos? Influência do modelo francês.
• Oposição à ideia de legalidade estrita.
• Forte debate Doutrinário e Jurisprudencial na Área Tributária
Thalía Christiane Rezende dos Santos - thaliarezende@hotmail.com - CPF: 131.233.916-04 CN
Vícios de Validade Negocial (sem regulação legal própria e zona cinzenta com ilícitos)
Abuso de Formas
• Figura originalmente de Direito Alemão. Exploração da textualidade da Lei e da sua remissão às formas e aos tipos jurídicos.
• Ex.: o moribundo que faz VGBL em favor de seus filhos, poucos antes de morrer. VGBL, tecnicamente, é seguro e seu
recebimento teoricamente não é hipótese de ITCMD. (Simulação?)
Ausência de Propósito Negocial
• Figura desenvolvida no Direito Estadunidense (business porpose test). Também se baseia numa ótica causalista dos negócios
para a sua validade.
• Oposição ao princípio da Legalidade Estrita. Fim do “fiz porque quis e não era proibido”.
• Ex.: Casa-e-Separa. Ao invés de comprar e vender bens e direito, as partes ficam sócias, integralizam capital e depois
reduzem capital, trocando aquilo que foi conferido. (Simulação?)
Dissimulação
• Termos mencionado no Par. Ún. do art. 116 do CTN:
A autoridade administrativa poderá desconsiderar atos ou negócios jurídicos praticados com a finalidade de dissimular a
ocorrência do fato gerador do tributo ou a natureza dos elementos constitutivos da obrigação tributária, observados os
procedimentos a serem estabelecidos em lei ordinária.
• Sem definição, conceituação e regulamentação em qualquer outro diploma. O que é dissimular?
• Qual a abrangência e Aplicação do Par. Ún. do art. 116 do CTN? Antievasão? Antielisão?
• Precisa mesmo ser regulado para ser aplicado?
• Forte Celeuma e Enfrentamento no CARF. ADI 2.446 no STF.

Thalía Christiane Rezende dos Santos - thaliarezende@hotmail.com - CPF: 131.233.916-04 CN


INVEST INVEST + JCP/Dividendos
Aumento de
Capital Social
Empréstimo
Exterior

Brasil
Novas quotas
Juros

HOLD 1 HOLD 1

Incorporação Incorporação
Aquisição Aquisição

NACIONAL NACIONAL

Thalía Christiane Rezende dos Santos - thaliarezende@hotmail.com - CPF: 131.233.916-04 CN


Exemplo CARF: Acórdão nº 1302.001.945, de 22/08/2016
ASSUNTO: IMPOSTO SOBRE A RENDA DE PESSOA JURÍDICA - IRPJ
Ano-calendário: 2009, 2010
SIMULAÇÃO. NÃO CONFIGURADA. GLOSA DE DESPESA FINANCEIRA. INDEVIDA.
É legítimo que a investidora no exterior pudesse optar entre adquirir diretamente a participação em
sociedade brasileira ou então aportar recursos em uma subsidiária brasileira, para que esta adquirisse a
participação desejada. Afasta a acusação de simulação a constatação de que: se os valores
emprestados à subsidiária brasileira tivessem nela ingressado como aumento de capital, não existiria as
despesas financeiras com juros de empréstimo questionadas na autuação, mas teria sido aumentada a base
de cálculo dos juros sobre capital próprio e, consequentemente, poder-se-ia ter despesas maiores de JCP, in
casu, em valores próximos aos juros dos empréstimos pagos. (...)
Esse ponto levantado pelo recorrente enfraquece qualquer alegação de que a despesa não fosse
necessária, pois, ainda que tivesse sido feito um aumento de capital, a recorrente poderia gerar
despesa com JCP.
Ressalte que tanto os juros dos empréstimos como o JCP gerariam recolhimento de IRRF na remessa,
razão pela qual também não se vislumbra, neste ponto, qualquer ardil.
(mesmo entendimento, Acórdão 1402.002.443, de 03/05/2017)

Thalía Christiane Rezende dos Santos - thaliarezende@hotmail.com - CPF: 131.233.916-04 CN


Embalagens
Cia. de Plásticos Reciclagem Cia. de Plásticos
Fabri. Insumos

Faturamento em 2007: Cisão Parcial


R$ 146 Milhões Lucro Real

Cia. de Embalagens Cia. de Plásticos

Produção de Embalagens Reciclagem


(Lucrativo) Fabri. Insumos
(deficitário)

Lucro
Lucro Real
Presumido

Thalía Christiane Rezende dos Santos - thaliarezende@hotmail.com - CPF: 131.233.916-04 CN


Exemplo CARF: Acórdão nº 1302.003.290, de 12/12/2018
ASSUNTO: IMPOSTO SOBRE A RENDA DE PESSOA JURÍDICA - IRPJ
Ano-calendário: 2008, 2009, 2010, 2011
PLANEJAMENTO TRIBUTÁRIO. PROPÓSITO NEGOCIAL. LICITUDE.
O legislador tributário não desconsidera o fato de o contribuinte buscar uma maneira menos onerosa de
conduzir seus negócios, seja por motivos tributários, societários, econômicos ou quaisquer outros,
desde que o faça licitamente. A reestruturação societária perpetrada pelo contribuinte, por si só,
não desfigura a operação, notadamente quando a fiscalização não demonstra a ocorrência dolo, fraude
ou simulação. (...)
Como se sabe, tal lei jamais foi criada [regulamentação do P.Ú. do Art. 116 do CTN]. Esse fato gera grande
insegurança jurídica, tanto para os contribuintes quanto para a Administração Pública, deixando
importantes questões relacionadas à arrecadação tributária à mercê de subjetividades. Com o intuito de
minorar tal dano, a doutrina e jurisprudência do CARF tem tentado conferir
critérios mais objetivos aptos a determinar quando uma operação tributária é abusiva ou não. (...)
Estando, o ato administrativo, estritamente aprisionado aos quadrantes da lei, não cabe à Administração
adentrar na motivação do particular em proceder conforme os ditames legais. A alegação de que as
operações realizadas não tiveram real propósito negocial advém de construção jurisprudencial
estrangeira que não encontra validade no nosso Ordenamento Jurídico, justamente por
conflitar com uma gama de princípios, como o da Legalidade Tributária, descrito acima, além de outros
princípios como a livre de iniciativa, estes últimos provenientes da Ordem Econômica.
(mesmo entendimento, Acórdão 1401.002.650, de 18/07/2018)
Thalía Christiane Rezende dos Santos - thaliarezende@hotmail.com - CPF: 131.233.916-04 CN
Cachaça S/A Sócios Cachaça S/A Sócios
PF PF

Tributação na
Pessoa Física:
27,5% do ganho
Ações Ações
Tributação no
FIP:
15% do ganho

Comprador Comprador
FIP

Thalía Christiane Rezende dos Santos - thaliarezende@hotmail.com - CPF: 131.233.916-04 CN


Exemplo CARF: Acórdão nº 2301.005.933, de 14/03/2019
ASSUNTO: IMPOSTO SOBRE A RENDA DE PESSOA FÍSICA - IRPF
Data do fato gerador: 09/08/2012, 21/02/2013, 09/11/2015, 07/10/2016
FIP. AUSÊNCIA DE FINALIDADE NEGOCIAL.
Desprovido de finalidade negocial o Fundo de Investimento em Participação FIP, constituído por uma única
investidora, com um único investimento ao qual não foi aportado qualquer investimento adicional ou
ato de gestão visando seu crescimento/desenvolvimento ou saneamento e cuja permanência no FIP
durou alguns dias. FIP. (...)
Não é o conteúdo formal do negócio jurídico (causa típica) consubstanciado
na declaração de vontade que irá determinar a incidência tributária, mas sim sua causa objetiva (propósito).
É preciso verificar a função a que se destina a operação dentro do
empreendimento econômico, e não somente a prática de atos baseados em dispositivos legais
(princípio da estrita legalidade em matéria tributária).
Assim, não se faz suficiente a licitude dos atos realizados, tampouco a máxima argumentativa da liberdade
empresarial de auto-organização, para legitimar as alternativas escolhidas em uma reestruturação societária,
pois estas devem estar providas de causa econômica, de modo que o motivo da reorganização não seja único
ou predominantemente de economizar tributos. (...) No decorrer do presente procedimento fiscal não
restou claramente demonstrado o motivo e a finalidade negocial das operações societárias.
Thalía Christiane Rezende dos Santos - thaliarezende@hotmail.com - CPF: 131.233.916-04 CN
Tributação no
Fundo Estrang.:
Ações
Mineradora X ISENTO
FIP
EUA (Delaware)
Tributação na
Pessoa Jurídica:
34% do ganho

Controladora X Controladora X
Ações

Comprador Comprador

Thalía Christiane Rezende dos Santos - thaliarezende@hotmail.com - CPF: 131.233.916-04 CN


Exemplo CARF: Acórdão nº 9101.003.447, de 06/03/2018
ASSUNTO: IMPOSTO SOBRE A RENDA DE PESSOA JURÍDICA - IRPJ
Ano-calendário: 2007
NORMA GERAL ANTIELISIVA. EFICÁCIA.
Perfeita a decisão recorrida, ao discorrer que o art. 116, parágrafo único, do CTN requer, com vistas a sua
plena eficácia, que lei ordinária estabeleça os procedimentos a serem observados pelas autoridades
tributárias dos diversos entes da federação ao desconsiderarem atos ou negócios jurídicos abusivamente
praticados pelos sujeitos passivos. Na esfera federal, há na doutrina nacional aqueles que afirmam ser
ineficaz a referida norma geral antielisiva, sob o argumento de que a lei ordinária regulamentadora ainda
não foi trazida ao mundo jurídico.
Por outro lado, há aqueles que afirmam ser plenamente eficaz a referida norma, sob o argumento de que o
Decreto nº 70.235/72, que foi recepcionado pela Constituição de 1988 com força de lei ordinária,
regulamenta o procedimento fiscal. Dentre as duas interpretações juridicamente possíveis deve ser adotada
aquela que afirma a eficácia imediata da norma geral antielisiva, pois esta interpretação é a que melhor se
harmoniza com a nova ordem constitucional, em especial com o dever fundamental de pagar tributos, com o
princípio da capacidade contributiva e com o valor de repúdio a praticas abusivas.
(mesmo entendimento, Acórdão 9101.002.953, de 03/07/2017)

Thalía Christiane Rezende dos Santos - thaliarezende@hotmail.com - CPF: 131.233.916-04 CN


Veículo Veículo

Itália Itália

Base de
Veículos Impor. Base de Veículos Impor. Cálculo
Cálculo
Ltda. IPI-Import. Ltda. IPI-Import.
menor em
Igual ao valor de
transação
final venda
intragrupo
Veículo

Veículo
Autos Luxo Ltda.
Cliente
Cliente Veículo

Thalía Christiane Rezende dos Santos - thaliarezende@hotmail.com - CPF: 131.233.916-04 CN


Exemplo CARF: Acórdão nº 3401.005.228, de 27/08/2018
ASSUNTO: NORMAS GERAIS DE DIREITO TRIBUTÁRIO
Período de apuração: 01/02/2011 a 31/12/2011
PLANEJAMENTO TRIBUTÁRIO. DESCONSIDERAÇÃO DE ATOS E NEGÓCIOS JURÍDICOS. FALTA DE
REGULAMENTAÇÃO DO PARÁGRAFO ÚNICO DO ART. 116 CTN. ERRO DE FUNDAMENTAÇÃO.
O parágrafo único do art. 116 do CTN, introduzido pela Lei Complementar nº 104/2001, trata-se de regra anti
dissimulação, e prevê a possibilidade de desconsideração de atos ou negócios jurídicos praticados com a
finalidade de dissimular a ocorrência do fato gerador do tributo ou a natureza dos elementos constitutivos da
obrigação tributária, observados os procedimentos a serem estabelecidos em lei ordinária que até o momento
não foi editada, não podendo, portanto, ser utilizado como fundamento da decisão. (...)
O Congresso Nacional rejeitou a Medida Provisória nº 66/2002, impossibilitando a aplicação do parágrafo
único do art. 116 do Código Tributário Nacional. (...).
Não deve olvidar o julgador administrativo que integra o Poder Executivo no exercício de função
jurisdicional atípica. Assim, caso decida pela eficácia e consequente aplicação de dispositivo que o
Congresso Nacional rejeitou mais de uma vez, estará a incorrer em usurpação de competência do Poder
Legislativo e, logo, afronta direta à separação dos poderes e do próprio Pacto Federativo.

Thalía Christiane Rezende dos Santos - thaliarezende@hotmail.com - CPF: 131.233.916-04 CN


Pessoa Jurídica Pessoa Jurídica

$ Tributação do ganho $
de capital Pessoa
Jurídica 34%.
Redução de Capital a
Venda valor Contábil – art.
22 da Lei nº
9.249/95.

Sócio
$ Comprador
Comprador
$ $
Tributação do ganho
de capital Pessoa
Física 15% (até
22,5%).

Thalía Christiane Rezende dos Santos - thaliarezende@hotmail.com - CPF: 131.233.916-04 CN


Exemplo CARF 1: Acórdão nº 1401-004.045, de 10/12/2019
GANHO DE CAPITAL. REORGANIZAÇÃO SOCIETÁRIA. REDUÇÃO DA TRIBUTAÇÃO. SIMULAÇÃO
SUBJETIVA. INOPONÍVEL AO FISCO
A transferência das participações societárias detidas pela pessoa jurídica aos seus sócios, por meio
de reorganização societária consistindo em cisões do patrimônio, com o objetivo de reduzir a
tributação sobre o ganho de capital decorrente das vendas daquelas participações por pessoas
físicas, com aplicação da alíquota de 15% ao invés de 34%, constitui planejamento tributário
inoponível ao Fisco, por meio da simulação subjetiva.
REDUÇÃO DE CAPITAL. ENTREGA DE BENS E ATIVOS AOS SÓCIOS E ACIONISTAS. INEXISTÊNCIA DE
NORMA INDUTORA.
O artigo 22 da Lei nº 9.249/95 não é um dispositivo legal que autoriza o contribuinte alterar a
realidade fática do negócio, por meio de redução de capital e transferência de ativos e bens, tão
somente para permitir a tributação do ganho de capital na pessoa física do sócio, e não na pessoa
jurídica.

Thalía Christiane Rezende dos Santos - thaliarezende@hotmail.com - CPF: 131.233.916-04 CN


Exemplo CARF 2: Acórdão nº 9101-004.709, de 21/02/2020
REDUÇÃO DE CAPITAL. ENTREGA DE BENS E DIREITOS DO ATIVO AOS ACIONISTAS. VALOR CONTÁBIL.
FACULDADE. LEI 9.249/1995, ART. 22. LEGALIDADE.
Os artigos 22 e 23 da Lei nº 9.249, de 1995, adotam o mesmo critério, tanto para integralização de capital
social, quanto para devolução deste aos sócios ou acionistas, conferindo coerência ao sistema jurídico.
O artigo 22 prevê que os bens e direitos do ativo da pessoa jurídica, que forem entregues ao titular ou a sócio
ou acionista, a título de devolução de sua participação no capital social, poderão ser avaliados pelo valor
contábil ou de mercado. É lícita, portanto, a devolução de bens e direitos aos acionistas pelo valor contábil.(...)
DV Edeli Bessa:
Concluo, do exposto, que as operações realizadas foram consideradas inválidas porque teve como resultado
final a tributação do ganho de capital auferido na alienação no âmbito do imposto de renda devido pelo sócio
Flávio Ognibene Guimarães. Contudo, não foram reunidas evidências no sentido de que a pessoa jurídica
autuada, e não referido sócio, teria iniciado negociações para esta alienação, de modo a indicar a sua
pretensão de alterar a sujeição passiva da incidência daí decorrente. E, existindo a faculdade expressa no art.
22 da Lei nº 9.249/95 seu exercício não pode ser tomado por abusivo se há um motivo para a realização das
operações questionadas, consistente no dissídio entre os sócios da fiscalizada quanto à manutenção do
investimento para a execução de suas atividades

Thalía Christiane Rezende dos Santos - thaliarezende@hotmail.com - CPF: 131.233.916-04 CN


Controladora Grupo

Empresa 1 Empresa 2
Aquisição
E Incorporação

Empresa 3 (1+2)
Amort. Desp. Ágio
Redução IRPJ e CSLL

Thalía Christiane Rezende dos Santos - thaliarezende@hotmail.com - CPF: 131.233.916-04 CN


Ágio:
componente do custo de aquisição de participações
societárias, referente à monta da diferença positiva
em relação ao seu valor contábil correspondente.
Ágio

Preço da
Registro Aquisição
PL

Lei nº 9.532/95, Art. 7º: A pessoa jurídica que absorver patrimônio de outra, em virtude de
incorporação, fusão ou cisão, na qual detenha participação societária adquirida poderá
amortizar o ágio, percebido com base em expectativa de rentabilidade futura.

Thalía Christiane Rezende dos Santos - thaliarezende@hotmail.com - CPF: 131.233.916-04 CN


Exemplo CARF: Acórdão nº 9101-002.388, de 13/07/2016 - Gerdau
Assunto: Imposto sobre a Renda de Pessoa Jurídica - IRPJ
Ano-calendário: 2005, 2006, 2007, 2008
Ementa:
AMORTIZAÇÃO DE ÁGIO INTERNO.
Deve ser mantida a glosa da despesa de amortização de ágio que foi gerado internamente ao
grupo econômico, sem qualquer dispêndio, e transferido à pessoa jurídica que foi incorporada.
Recurso Especial do Procurador Provido
(...)
E aqui cumpre esclarecer que quando a Fiscalização diz que o ágio é artificial, e glosa a sua
amortização, ela não o faz pelo simples fato de ser em operações envolvendo sociedades sob
controle comum, mas sim porque, em razão de ser entre empresas sob o mesmo controle, não ter
havido aquisição, não ter havido dispêndio.

Thalía Christiane Rezende dos Santos - thaliarezende@hotmail.com - CPF: 131.233.916-04 CN


Esfera Estadual: matéria extremamente escassa
Tribunal de Impostos e Taxas (TIT) do Estado de São Paulo
De maio de 2016 a maio de 2021:
Nenhuma ementa com o termo “planejamento”
- Fazenda Pública estadual volta-se muito ao combate de fraude e simulação.
Acórdão DRT 06 4119870-0/2019
Ementa:
ICMS. Infração I.1. Emitir notas fiscais de Produtor Rural consignando declaração falsa quanto
ao estabelecimento de destino. Simulação de existência do estabelecimento de destino.
Imposto, antes ao abrigo do diferimento, cobrado do emitente por “quebra” de diferimento.
Alegação de Boa-fé. Verificação dos requisitos comprobatórios da boa-fé da empresa
emitente. Não satisfação dos requisitos exigíveis. Recurso Ordinário Conhecido e Não Provido.
Thalía Christiane Rezende dos Santos - thaliarezende@hotmail.com - CPF: 131.233.916-04 CN
Esfera Municipal: matéria também escassa
Município de São Paulo regulou as figuras do propósito negocial e
do abuso de forma
Art. 19 O titular de cargo de Auditor-Fiscal Tributário Municipal, no exercício de suas funções, terá livre acesso a qualquer órgão ou
entidade pública ou empresa estatal, estabelecimento empresarial, de prestação de serviços, comercial, industrial, imobiliário,
agropecuário e instituições financeiras para vistoriar imóveis ou examinar arquivos e equipamentos, eletrônicos ou não, documentos,
livros, papéis, bancos de dados, com efeitos comerciais ou fiscais, e outros elementos que julgue necessários ao desenvolvimento da
ação fiscal ou ao desempenho de suas atribuições, podendo fazer sua apreensão.

§ 1º O Auditor-Fiscal Tributário Municipal, dentro das suas áreas de competência e circunscrição, terá precedência sobre os demais
setores da Administração.
§ 2º Para desconsiderar ato ou negócio jurídico simulado que visem a reduzir o valor do tributo, a evitar ou postergar seu pagamento
ou a ocultar os verdadeiros aspectos do fato gerador ou a real natureza dos elementos constitutivos da obrigação tributária, dever-se-á
levar em conta, entre outras, a ocorrência de:
I - falta de propósito negocial; ou
II - abuso de forma.
§ 3º Considera-se indicativo de falta de propósito negocial a opção pela forma mais complexa ou mais onerosa, para os envolvidos,
entre duas ou mais formas para a prática de determinado ato.
§ 4º Para o efeito do disposto no inciso II do § 2º, considera-se abuso de forma a prática de ato ou negócio jurídico indireto que
produza o mesmo resultado econômico do ato ou negócio jurídico dissimulado.

Thalía Christiane Rezende dos Santos - thaliarezende@hotmail.com - CPF: 131.233.916-04 CN


Exemplo CMT/SP: Proc nº 6017.2020/0027396-0, de 07/10/2020

ISS – DESCONSIDERAÇÃO DE ESTABELECIMENTO. Provas inequívocas da existência de simples


estrutura operacional mediante locação de escritório virtual em Município adjacente e de efetiva
estrutura empresarial no Município de São Paulo
ARBITRAMENTO DA BASE DE CÁLCULO. Providência decorrente do não fornecimento de
informações fiscais requisitadas nas intimações 02, 03 e 04. Aceitação do demonstrativo de
receitas unificado e arbitramento apenas da receita dos estabelecimentos não desconsiderados.
Eleição de critério que adotou o entendimento mais favorável ao contribuinte. Segregação da base
de cálculo dos valores retidos pelos tomadores de serviço situados nesse Município e dos serviços
prestados com alíquotas diversas.
DECADÊNCIA. Inaplicabilidade do art. 150, § 4º do CTN em hipóteses de simulação. Suposta
declaração em favor do Município desconsiderado que não induz presunção do Município de São
Paulo

Thalía Christiane Rezende dos Santos - thaliarezende@hotmail.com - CPF: 131.233.916-04 CN


Poder Judiciário: matéria escassa
Movimento de desjudicialização, até os últimos anos
– Prof. Luís Eduardo Schoueri

Debate focado no CARF e muitas Autuações pagas pelo REFIS.


Pronunciamentos pontuais do Supremo Tribunal Federal, em Ações
de controle concentrado (ADI, ADC, etc).
Ações Anulatórias debatendo Planejamentos Tributários de
relevância, em casos em que o Contribuinte perdeu no CARF, são
muito recentes e não chegaram ainda nos Tribunais Superiors.

Thalía Christiane Rezende dos Santos - thaliarezende@hotmail.com - CPF: 131.233.916-04 CN


Exemplo da ADC nº 66 no STF – Prestação de Serviços Personalíssimos
por Pessoa Jurídica

Lei 11.196/2005 – “Lei do Bem”

Art. 129. Para fins fiscais e previdenciários, a prestação de serviços intelectuais, inclusive os de
natureza científica, artística ou cultural, em caráter personalíssimo ou não, com ou sem a
designação de quaisquer obrigações a sócios ou empregados da sociedade prestadora de serviços,
quando por esta realizada, se sujeita tão-somente à legislação aplicável às pessoas jurídicas, sem
prejuízo da observância do disposto no art. 50 da Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002 - Código
Civil.

Uma regulamentação da chamada “pejotização”.

Thalía Christiane Rezende dos Santos - thaliarezende@hotmail.com - CPF: 131.233.916-04 CN


Exemplo da ADC nº 66 no STF, Acórdão publicado em 19/03/2021
EMENTA: AÇÃO DECLARATÓRIA DE CONSTITUCIONALIDADE. REGIME JURÍDICO FISCAL E PREVIDENCIÁRIO
APLICÁVEL A PESSOAS JURÍDICAS PRESTADORAS DE SERVIÇOS INTELECTUAIS, INCLUINDO OS DE NATUREZA
CIENTÍFICA, ARTÍSTICA E CULTURAL. COMPATIBILIDADE CONSTITUCIONAL. LIVRE INICIATIVA E VALORIZAÇÃO
DO TRABALHO. LIBERDADE ECONÔMICA NA DEFINIÇÃO DA ORGANIZAÇÃO EMPRESARIAL. AÇÃO JULGADA
PROCEDENTE.
1. A comprovação da existência de controvérsia judicial prevista no art. 14 da Lei n. 9.868/1999 demanda o
cotejo de decisões judiciais antagônicas sobre a validade constitucional na norma legal. Precedentes.
2. É constitucional a norma inscrita no art. 129 da Lei n. 11.196/2005. (...)
O receio sobre a eficácia das escolhas empresariais e a dúvida sobre os limites dos compromissos assumidos
comprometeria a segurança jurídica, mais ainda, o equilíbrio das relações firmadas, sem o que não se tem
como garantido o livre exercício da atividade empresarial e o pleno desenvolvimento econômico. A norma
do art. 129 da Lei n. 11.196/2005 harmoniza-se com as diretrizes constitucionais, especialmente com o inc.
IV do art. 1º da Constituição da República, pelo qual estabeleceu a liberdade de iniciativa situando-a como
fundamento da República Federativa do Brasil. Dessa liberdade econômica emanam a garantia de livre
exercício de qualquer trabalho, ofício ou profissão e o livre exercício de qualquer atividade econômica,
consagrados respectivamente no inc. XIII do art. 5º e no parágrafo único do art. 170 da Constituição da
República.

Thalía Christiane Rezende dos Santos - thaliarezende@hotmail.com - CPF: 131.233.916-04 CN


Exemplo da ADI nº 2.446 no STF (par. ún. do art. 116 CTN) não encerrado
Voto Min. Carmen Lúcia
Tem-se, pois, que a norma impugnada visa conferir máxima efetividade não apenas ao princípio da
legalidade tributária mas também ao princípio da lealdade tributária.
Não se comprova também, como pretende a autora, retirar incentivo ou estabelecer proibição ao
planejamento tributário das pessoas físicas ou jurídicas. A norma não proíbe o contribuinte de buscar, pelas
vias legítimas e comportamentos coerentes com a ordem jurídica, economia fiscal, realizando suas
atividades de forma menos onerosa, e, assim, deixando de pagar tributos quando não configurado fato
gerador cuja ocorrência tenha sido licitamente evitada. (...)
De se anotar que elisão fiscal difere da evasão fiscal. Enquanto na primeira há diminuição lícita dos valores
tributários devidos pois o contribuinte evita relação jurídica que faria nascer obrigação tributária, na
segunda, o contribuinte atua de forma a ocultar fato gerador materializado para omitir-se ao pagamento da
obrigação tributária devida.
A despeito dos alegados motivos que resultaram na inclusão do parágrafo único ao art. 116 do CTN, a
denominação “norma antielisão” é de ser tida como inapropriada, cuidando o dispositivo de questão de
norma de combate à evasão fiscal. Pelo exposto, voto pela improcedência do pedido apresentado na
presente ação.

Thalía Christiane Rezende dos Santos - thaliarezende@hotmail.com - CPF: 131.233.916-04 CN


Ex.: da Apelação nº 5058075-42.2017.4.04.7100 no TRF4 – Ágio Gerdau
Como se vê, com o advento da Lei 12.943/2014, as premissas que escoram o lançamento
tributário no caso dos autos passaram a dispor de fundamentação na legislação tributária. Ou
seja, apesar de amparadas em ensinamentos contábeis já existentes, somente com a vigência da
Lei 12.973/2014 houve a aproximação expressa entre o conceito de ágio na contabilidade e no
direito tributário”.
É incontroverso que o grupo econômico que abrange a embargante utilizou-se de operação
societária também com o objetivo de reduzir seu passivo fiscal e produzir lucro, porém isso é
inerente ao exercício de qualquer atividade econômica e chancelado pelo modelo capitalista
adotado constitucionalmente a partir de 1988, com respeito à liberdade e à propriedade.
(...)
A pessoa jurídica, antes da vigência da Lei 2.973/14, que absorver patrimônio de outra em virtude
de incorporação ou cisão, na qual detenha participação societária adquirida com ágio, baseado
em rentabilidade futura, ainda que o aumento do capital social que deu origem ao ágio tenha sido
integralizado com ações de sociedade do mesmo grupo econômico, juntamente com capital de
terceiros, poderá amortizá-lo na forma prevista no artigo 7º, III, da Lei 9.532/97.

Thalía Christiane Rezende dos Santos - thaliarezende@hotmail.com - CPF: 131.233.916-04 CN


Reflexões e Desafios
• Escassa Regulamentação e alta abstração das normas.
• Celeuma da importação do Propósito Negocial e na aplicação do
Parágrafo Único do Art. 116 do CTN.
• Livre Iniciativa x Combate às praticas abusivas (Erosão – BEPS/OCDE)
• Por décadas assunto ficou confinado no CARF. Judiciário fez
apreciação também muito abstrata e poucos precedentes.
• Como fica o contribuinte?
• Não mexe em nada? Norma Geral Antielisiva? Ou mais Normas
Específicas Antielisivas?

Thalía Christiane Rezende dos Santos - thaliarezende@hotmail.com - CPF: 131.233.916-04 CN


Exercício Prático:
Papel A
Rend. = 10% a.a. Liquido 8,5%
Fernanda Tributação:
15%

Papel B
A Fernanda cometeu algum Rend. = 9% a.a.
Tributação:
Liquido 9%

ilícito? Isento

Thalía Christiane Rezende dos Santos - thaliarezende@hotmail.com - CPF: 131.233.916-04 CN


Thalía Christiane Rezende dos Santos - thaliarezende@hotmail.com - CPF: 131.233.916-04

Você também pode gostar