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Data: 20/12/2011
1 Introdução
Não há como negar que o legislador vem promovendo esforços para criar situações de
tratamento favorecido para as empresas de pequeno porte.
Tal iniciativa resultou na criação da Secretaria da Pequena e Média empresa, com status
de Ministério.
Sem entrar no mérito do aumento do Estado por meio a criação de novos ministérios e a
busca por poder e cargos políticos, a discussão demonstra que o assunto referente às
empresas de pequeno porte ainda merece atenção, considerando a importância dessas
empresas para o desenvolvimento econômico e social do país.
Contudo, é cediço que a maioria das empresas de pequeno porte possuem faturamento
inferior ao previsto na Lei Complementar nº 123/06.
2 Caso Concreto
Para o desenvolvimento do presente texto, será utilizada uma situação concreta muito
comum no dia a dia empresarial: micro empresário, proprietário de uma padaria aberta,
após muito custo, no início de 2006, com 4 empregados.
Uma das empregadas, confeiteira, há 3 anos não quer mais trabalhar, mas também não
quer pedir demissão, já que deseja efetuar o saque do FGTS e receber o seguro
desemprego.
Seu empregador, não pode e não pretende simplesmente demitir a empregada em razão
de dificuldades para encontrar outra profissional para o cargo.
Além disso, sua situação financeira não é favorável, sendo-lhe impossível, no momento,
efetuar o pagamento integral das verbas rescisórias e da multa de 40% do FGTS,
decorrente de rescisão do contrato sem justa causa.
Apesar de verificar que a empregada está trabalhando em ritmo mais lento, sem a
costumeira atenção às funções como outrora, não há motivo para demissão por justa
causa.
O que a empregada quer é que seja efetuada a rescisão contratual por iniciativa da
empresa, situação que expõe abertamente para seu empregador.
Dessa forma, a empregada que pretendia sair do emprego consegue o que queria e o
empresário encontra uma "saída" para sua situação, sem prejudicar seu negócio.
Persistindo do exemplo.
Mesmo invocando a Constituição que assegura o acesso à justiça, e a que a lei não
excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça de Direito (alíneas, XXXIV
e XXXV da CF/88), além de previsão de tratamento favorecido a ser dado às empresas
de pequeno porte (art. 170, IX da CF/88), o recurso é considerado deserto.
Em poucos meses, iniciada a execução que culmina em penhora de máquinas da
propriedade e posterior encerramento das atividades.
Resultado: empresa fechada, impostos não recolhidos, postos de trabalho que não mais
existem, empreendedor que não possui mais poder econômico para reabrir o negócio.
Mais uma microempresa entra para a triste estatística de encerramento das atividades,
juntando-se a quase 40% das microempresas estabelecidas no país que não passam de
quatro anos de atividade 2.
É certo que a Constituição reconhece que a propriedade exercerá sua função social, e
muito se tem escrito sobre a função social da empresa.
Na lição de Eros Grau, a empresa que, doravante, deve pautar sua atividade em
benefício de outrem, e não apenas, não o exercer em prejuízo de outrem 4.
Contudo, o discurso de que a empresa deverá cumprir com sua função social, na maioria
das vezes, descamba na figura do empresário como aquele que busca apenas o lucro ou
que não respeita direitos dos empregados.
Parafraseando Winston Churchill que disse que "a democracia é o pior sistema de
governo, à exclusão de todos os demais", o capitalismo, pode ser considerado ruim,
mas, à exclusão dos demais, é o único sistema que se mostra apto a promover o
desenvolvimento.
Existe, assim, uma grande separação entre a realidade vivida pelas empresas e a norma
constitucional.
Como lecionada Lenio Luiz Streck 5:
"Com efeito, a Constituição nasce como um paradoxo porque, do mesmo modo que
surge como exigência para conter o poder absoluto do rei, transforma-se em um
indispensável mecanismo de contenção do poder das maiorias."
Já Monoreo Pérez 7, ensina, com precisão que o direito do trabalho obedece a uma
dupla exigência de racionalização jurídica na regulação das relações sociais: facilitar o
funcionamento da economia e assegurar a melhoria das condições de trabalho e de vida
dos trabalhadores.
A legislação pátria autoriza que os trabalhadores que desempenham suas tarefas sob
certas condições recebam tratamento diferenciado.
Verifica-se que as empresas muito embora possuam inúmeras diferenças entre si, não
mereceram até hoje um cuidado especial por parte do legislador.
Como exemplo, no Brasil é gasto um tempo muito elevado para efetuar a preparação e o
pagamento de impostos sobre o trabalho e contribuições previdenciárias.
O projeto Doing Business, elaborado pelo Banco Mundial, foi lançado em 2002 com o
objetivo de examinar pequenas e médias empresas nacionais e analisa as
regulamentações aplicadas a elas durante seu ciclo de vida.
O estudo concluiu que no Brasil são gastas em média 2600 horas para preparar arquivar
e pagar imposto sobre valor agregado e contribuições previdenciárias 8.
Na lição do Professor Carlos Roberto Claro 10, o Estado, por vezes, não dá o devido
apoio ao pequeno empreendedor, preferindo beneficiar grandes corporações. Nesse
sentido, afirma que o mesmo empreendedor bem sabe qual é o custo para manter a
atividade econômica no mercado competitivo. Então, há um verdadeiro dualismo: de
um lado há o empreendedor interessado abrir as portas do negócio, investindo recursos
para que ocorra pleno desenvolvimento, e de outro, o Estado, que contempla tal
hipótese, mas, por outro prisma talvez não saiba manejar corretamente os instrumentos
de fiscalização, e principalmente os de incentivo e planejamento da atividade. O Estado
possui constitucionalmente todos os mecanismos para normatizar, conceder, permitir
etc., mas o braço de ferro também continua firme quando se trata da expansão dos
negócios empresariais. Esse mesmo braço de ferro nem sempre estende a mão a fim de
socorrer as pequenas e médias empresas e, por outro lado, há uma certa inclinação em
pôr os olhos só em direção dos grandes empreendimentos, o que se mostra incorreto e
desencorajador.
Para Gilmar Mendes 12, os princípios da Ordem Econômica, garantidos pela CRFB/88,
surgem como um direito especial da economia, em que o Estado, embora não se
substitua ao mercado, intervém nas suas disputas, através de normas e/ou institutos que,
embora assegurem o direito de propriedade, a liberdade de empresa e a liberdade de
trabalho como direitos fundamentais econômicos, não permite abusos no seu exercício.
Ao estabelecer que a ordem econômica deve atentar para o princípio da função social da
propriedade, a CRFB/88, por certo, atingiu a empresa que, doravante, deve pautar sua
atividade em benefício de outrem, e não apenas, não o exercer em prejuízo de outrem
13.
De um lado existe uma grande empresa com o poder de conceder incentivos pecuniários
a seus empregados, como alimentos, transporte e vestuário, mesmo com eventual risco
de consideração em juízo de natureza salarial de tais benefícios.
Não é raro em empresas de pequeno porte elevado informalismo nas relações com seus
empregados, com acordos verbais e sem negociação prévia quanto a jornadas
excedentes sendo compensadas e onde impera a informalidade.
Além disso, as negociações coletivas feitas por grandes empresas, com poderio
econômico e força política, são impostos sem piedade às empresas de pequeno porte,
muitas vezes inviabilizando a atividade empresarial.
Ainda, não raro, dificuldades financeiras tolhem das empresas de pequeno porte o
direito constitucional de acesso ao judiciário e ao duplo grau de jurisdição, conforme já
exposto no caso concreto alhures, ante a imposição de preparo de recursos de elevado
valor 14, hoje no valor de R$ 6.290,00 para Recurso Ordinário e R$ 11.780,00 para
Recurso de Revista.
Dessa forma a empresa cumpre sua função social, propiciando, inclusive o nascimento
de outras empresas e oportunidade de crescimento econômico do país.
"Na resolução dos problemas jurídico-constitucionais deve dar-se primazia aos critérios
ou pontos de vista que favoreçam a integração política e social e o reforço da unidade
política."
4 Considerações Finais
Obviamente não há como eximir o empregador de seus deveres para com o trabalhador,
sob pena de incorrer em retrocesso social, o que não é aceitável.
Como sugestões que auxiliariam, e muito, a manutenção das empresas de pequeno porte
e, por consequência, milhares de empregos, é possível expor:
5 Referências Bibliográficas
ALEXY, Robert. Teoria dos direitos fundamentais. 5. ed. Tradução Virgílio Afonso da
Silva. São Paulo: Malheiros, 2008.
BITTAR, Carlos Alberto, Direito civil constitucional. 3. ed. rev. e atual. São Paulo: RT,
2003.
CANOTILHO J.J.G., Direito Constitucional e teoria da Constituição, 6. Edição,
Coimbra: Almedina 1993.
CLARO, Carlos Roberto, In: GUNTER, Luiz Eduardo e SANTOS, Willians Franklin
Lira, Tutela dos direitos da personalidade na atividade empresarial, v. 2 Curitiba:
Juruá, 2009, p. 108.
LEITE, Eduardo de Oliveira, Monografia Jurídica, 7. ed. São Paulo: RT, 2006.
NASCIMENTO, A. M. Curso de Direito do Trabalho, 16. ed. São Paulo: Saraiva, 1999.
Sites Consultados:
www.ibge.gov.br
www.sebrae.com.br
http://portugues.doingbusiness.org/data/exploreeconomies/brazil/#paying-taxes
www.trt9.jus.br
Notas
1 SOUZA, Tecris de. Disponível em: http://exame.abril.com.br/pme/noticias/novo-
ministerio-e-prioridade-para-pmes-em-2011-diz-sebrae.Acesso em: 03 jan. 2011.
3 PETTER, Lafayete Josué. Direito econômico. Porto Alegre: Verbo Jurídico, 2006. p.
92-94.
8 Disponível em:
http://portugues.doingbusiness.org/data/exploreeconomies/brazil/#paying-taxes. Acesso
em: 17 dez. 2010.
9 ALEXY, Robert. Teoria dos direitos fundamentais. 5. ed. Tradução Virgílio Afonso
da Silva. São Paulo: Malheiros, 2008, p. 410.