Você está na página 1de 25

 H U M 03034 .

Oficina de leitura e escrita de textos históricos

2020/I . turma d .
Professor Anderson Zalewski Vargas.

Comentários sobre o texto:


PROST, Antoine. Doze lições sobre a História. Belo
Horizonte: Autêntica, 2012 (1996). Introdução (p.
7-11); Cap. XII – A História se escreve (p. 235-252).

1
INFORMAÇÕES PRELIMINARES

1. A obra, originalmente, era um conjunto de aulas oferecidas na Sorbonne; portanto, pode


apresentar marcas da oralidade.

2. Data de publicação original: 1996

3. “ANTOINE PROST SEGUIU UMA FORMAÇÃO CLÁSSICA: CURSO PREPARATÓRIO NO LICEU DU


PARC EM LYON, ESCOLA NORMAL SUPERIOR DE PARIS E AGREGAÇÃO DE HISTÓRIA. ELE
DEFENDEU SUA TESE EM 1975: LES ANCIENS COMBATTANTS ET LA SOCIÉTÉ FRANÇAISE
(1914-1939). “

4. Para que serve a leitura? Tema: O TEXTO HISTÓRICO!!!!

2
H U M 03034 . Oficina de leitura e escrita de textos históricos . 2020/I . Turma d
INFORMAÇÕES PRELIMINARES

5. A estrutura do texto:
1) (Introdução)

2) As características do texto histórico


1) Um texto saturado
2) Um texto objetivado e digno de crédito
3) Um texto manuseado

3) Os problemas da escrita no âmbito da história


1) O pensado e a experiência vivida
2) Exprimir-se corretamente com palavras
3) Exprimir-se corretamente com palavras falsas
3
H U M 03034 . Oficina de leitura e escrita de textos históricos . 2020/I . Turma d
INFORMAÇÕES PRELIMINARES
Outros artigos

4
H U M 03034 . Oficina de leitura e escrita de textos históricos . 2020/I . Turma d
INFORMAÇÕES PRELIMINARES
(a partir da bibliografia citada)

RANCIÈRE, J> Histoire et récit

5
H U M 03034 . Oficina de leitura e escrita de textos históricos . 2020/I . Turma d
INFORMAÇÕES PRELIMINARES . (a partir da bibliografia citada)

6
H U M 03034 . Oficina de leitura e escrita de textos históricos . 2020/I . Turma d
INFORMAÇÕES DA INTRODUÇÃO

p.7

7
H U M 03034 . Oficina de leitura e escrita de textos históricos . 2020/I . Turma d
INFORMAÇÕES DA INTRODUÇÃO
P. 8-10
Na França, o ensino de historiografia é uma tradição secular, mas frágil e ameaçada,
porque foi considerada INÚTIL por muitos séculos ;
1. L. Fébvre: era o equivalente a filosofar, um “crime capital” do hístor;
2. P.Chaunu: “uma tentação a ser afastada”
1. Nova postura, em nova conjuntura:
1. fracasso das tentativas de síntese; hegemonia de microhistórias e monográficas
temáticas;
2. crise da pretensão científica (de Seignobos e cia) sob os efeitos do
SUBJETIVISMO “q. incorpora a hist. à literatura;
3. A pretensão de uma HIST. TOTAL levou à uma crise de identidade.
4. PÚBLICO ALVO: estudantes universitários de “primeiro ciclo”
5. Alterações: ordenação, aprimoramentos e citações
6. OBJETIVO: modesta reflexão com objetivo de ser útil; reencontrar a postura do
8
H U M 03034 . Oficina de leitura e escrita de textos históricos . 2020/I . Turma d
INFORMAÇÕES DA INTRODUÇÃO

1. PÚBLICO ALVO: estudantes universitários de “primeiro ciclo”

2. OBJETIVOS:

• ser modesta reflexão com objetivo de ser útil;

• reencontrar “a postura do artesão que explica o ofício aos


aprendizes” (ideia muito apreciada pelos hístores franceses)

9
H U M 03034 . Oficina de leitura e escrita de textos históricos . 2020/I . Turma d
1. (introdução)
CAP. XII – A HISTÓRIA SE ESCREVE
1. Sobre a diferença entre HISTÓRIA E JORNALISMO

A “HISTÓRIA ERUDITA” possui MARCAS d’HISTORICIDADE (POMIAN, 1989)


que são:
• o sinal tangível d’ARGUMENTAÇÃO, de que o hístor recusa o
ARGUMENTO DE AUTORIDADE;
• um “programa de controle”, pq indicam a intenção de verificação pelo
leitor.

1. APARATO CRÍTICO remetem o leitor para fora do texto, para a


REALIDADE EXTRATEXTUAL do PASSADO
2. NOTAS DE RODAPÉ

10
H U M 03034 . Oficina de leitura e escrita de textos históricos . 2020/I . Turma d
1. (introdução)

11
H U M 03034 . Oficina de leitura e escrita de textos históricos . 2020/I . Turma d
1. (introdução)

A presença ou ausência das MARCAS DE HISTORICIDADE,


ou a sua colocação no final do livro dependem
do público-leitor visado!!!

12
H U M 03034 . Oficina de leitura e escrita de textos históricos . 2020/I . Turma d
AS CARACTERÍSTICAS DO TEXTO HISTÓRICO
[OBS: a citação DE CERTEAU (1975, 113), na p. 240/241, resume as seções “Um texto saturado e
“Um texto OBJETIVADO e digno de crédito”]

O DISCURSO HISTÓRICO:

• funciona com um “discurso didático” - dissimula [seu lugar de fala]

- se apresenta sob a forma de um


DISCURSO REFERENCIAL (é o REAL q se
exprime

- APARECE narrando e não


argumentando (não se discute uma
narrativa)

- Se adapta à situação dos leitores,


mas se diferencia pelo uso correto
dos modos de expressão [o português
correto”] 13
H U M 03034 . Oficina de leitura e escrita de textos históricos . 2020/I . Turma d
AS CARACTERÍSTICAS DO TEXTO HISTÓRICO
O DISCURSO HISTÓRICO (ainda):
• não deixa escapatória pq é - “semanticamente saturado” ~(não há vazios de
inteligibilidade)

- “apressado”

São FIGURAS de REPETIÇÃO - conciso – uma rede ANÁFORAS e CATÁFORAS


assegura incessantes chamadas do tx a ele mesmo como
uma “totalidade orientada”

Anáfora: repetição de palavras ou sintagmas no início de orações ou versos – “Diverti-os o ódio,


soberba, divertia-os a autoridade(....).” (FONTE: FIORIN, José Luiz. Figuras de retórica. São Paulo:
Contexto, 2016. p. 118)
Catáfora: “uso de um termo ou locução ao final de uma frase para especificar o sentido de
outro termo ou locução anteriormente expresso (p.ex.: A noite resumiu-se nisto: comer, beber e
conversar) [No texto, tem função catafórica ger. o que se segue a uma pergunta, e tb.
expressões como, p.ex., isto é, ou seja, a saber etc., e, na escrita, o que vem após os dois-
pontos.]” (Fonte: Dicionário do Microsoft WORD) 14
H U M 03034 . Oficina de leitura e escrita de textos históricos . 2020/I . Turma d
AS CARACTERÍSTICAS DO TEXTO HISTÓRICO
O DISCURSO HISTÓRICO (ainda):
• Tem uma estrutura interna - que se serve da ARGÚCIA

- produz um certo tipo de leitor: “um destinatário citado,


identificado e ensinado pelo próprio fato de estar colocado
na situação da crônica diante de um saber”
São FIGURAS de REPETIÇÃO
- conciso – uma rede ANÁFORAS e CATÁFORAS
assegura incessantes chamadas do tx a ele mesmo como
uma “totalidade orientada”
Anáfora: repetição de palavras ou sintagmas no início de orações ou versos – “Diverti-os o ódio,
soberba, divertia-os a autoridade(....).” (FONTE: FIORIN, José Luiz. Figuras de retórica. São Paulo:
Contexto, 2016. p. 118)
Catáfora: “uso de um termo ou locução ao final de uma frase para especificar o sentido de
outro termo ou locução anteriormente expresso (p.ex.: A noite resumiu-se nisto: comer, beber e
conversar) [No texto, tem função catafórica ger. o que se segue a uma pergunta, e tb.
expressões como, p.ex., isto é, ou seja, a saber etc., e, na escrita, o que vem após os dois-
pontos.]” (Fonte: Dicionário do Microsoft WORD)

H U M 03034 . Oficina de leitura e escrita de textos históricos . 2020/I . Turma d


15
AS CARACTERÍSTICAS DO TEXTO HISTÓRICO

Qto à saturação do texto histórico

. É um texto “pleno” por causa da sua “construção” e não pela criação de enredo
[referência a HAYDEN WHITE]

. O próprio sumário é parta de sua ARGUMENTAÇÃO e das teses a demonstrar


porém: isso não é sua exclusividade do tx histco.

. O que o distingue são os FATOS e as “PRECISÕES” [definições?], a justificativa de tudo


o que afirma [argumentação?]

no entto: EXISTEM IMPERFEIÇÕES que ou não


são percebidas por serem ínfimas ou ....... são esmaecidas ou mesmo ocultadas pelo
HÍSTOR!!!!!!

H U M 03034 . Oficina de leitura e escrita de textos históricos . 2020/I . Turma d


16
AS CARACTERÍSTICAS DO TEXTO HISTÓRICO

Artifícios argutos de ocultamento dos “remorsos do hístor”:

. Afirmar que são desimportantes

. Afirmar que são lacunas a serem superadas em pesquisas posteriores, lamentando não
ter tido tempo para fazê-lo ou não haver fontes para tto

são “LUGARES COMUNS da profissão, comuns nas apresentações de pesquisas a


serem defendidas e nos finais dos prefácios

[“Lugar comum é noção da retórica desde


os tempos de Aristóteles!]

H U M 03034 . Oficina de leitura e escrita de textos históricos . 2020/I . Turma d


17
[“LUGARES” ou tópoi, nome de importante revista da área, pode ser entendido como:

1. “Argumento-tipo”, isto é, uma argumento pronto, em geral memorizado, a ser


usado no momento adequado

2. Em sentido mais técnico, é um tipo de argumento que pode ganhar conteúdos os


mais diversos, por exemplo: “argumento de direção” – “este acontecimento não está
de acordo com os tempos que vivemos” ou “como é possível em pleno século.....”

3. Outro sentido técnico: o lugar é uma questão típica que possibilita encontrar
argumentos e contra-argumentos:

• Estado de conjectura: aconteceu realmente?


• Estado de definição: foi revolução ou golpe?
• Estado de qualidade: se foi um golpe, o que pode atenuar ou agravar o ato?
• Estado de recusa: quem tem condições de condenar o acontecido? Stalinistas
podem condenar nazistas?]

Adaptado de REBOUL, Olivier. Introdução à retórica. São Paulo Martins Fontes,


18
1998 (1991). P. 50-53.
AS CARACTERÍSTICAS DO TEXTO HISTÓRICO

Qto à “um texto objetivado e digno de crédito

. 2ª característica notável do texto histórico: EXCLUSÃO DA PERSONALIDADE DO HÍSTOR,


daquele que afirma que A é B, [que isso aconteceu, de certa forma e com
determinado(s) sentido(s)]
Para desrespeitar estas regras, é preciso
O hístor: tempo, carreira, autoridade...

. aparece raramente e em locais específicos (início/fim de cap., em notas, em


discussões com colegas
. usa formas atenuadoras como o “´nós” ou o impessoal
. Evita comprometer-se tomando partido, indignando-se, manifestando emoções,
mesmo de apoio

Resultado: OBJETIVIDADE Um discurso anônimo, um enunciado sem enunciação

[“[A HISTÓRIA”, frequentemente referida como “tribunal” ]

H U M 03034 . Oficina de leitura e escrita de textos históricos . 2020/I . Turma d


19
AS CARACTERÍSTICAS DO TEXTO HISTÓRICO

Qto à “um texto objetivado e digno de crédito

. A relação com o leitor: de alguém que sabe e explica, um “professor”, com alguém
que deseja aprender, um “aluno”
RANCIÈRE: o público pode ser o “leitor-aluno”
[ôps:] ou os leitores “tagarelas-ineptos”

“Por outros palavras, qqr hístor é, em maior ou menor grau, um professor: ele trata seus
leitores, de maneira mais ou menos agressiva, como se fossem alunos” (p. 240. [O
destque é meu])
Há um hístor que oferecer marcas de
Há uma dupla historicidade que capacitam o leitor a conferir
representação suas afirmações (“não sou eu que estou
ou “papel”: dizendo...[são os fatos]...”)

Há um hístor que usa as marcas de historicidade como


indícios de “CIENTIFICIDADE” – “ARGUMENTO DE
AUTORIDADE
H U M 03034 . Oficina de leitura e escrita de textos históricos . 2020/I . Turma d
20
AS CARACTERÍSTICAS DO TEXTO HISTÓRICO

Qto à “um texto objetivado e digno de crédito

. O hístor pode:

. manipular o aparato crítico para intimidar o leitor, mostrando seu saber frente
ao néscio

Usar “notas supérfluas” para antecipar críticas de colegas, o que pode tb ser
um sinal de insegurança

H U M 03034 . Oficina de leitura e escrita de textos históricos . 2020/I . Turma d


21
AS CARACTERÍSTICAS DO TEXTO HISTÓRICO

Qto à “um texto manuseado”, a 3ª característica

. Há dois discursos no texto histórica::

. o do próprio hístor: contínuo, estruturado e controlado

o das citações, que conferem um “EFEITO DE VERDADE” e um “EFEITO DE


REALIDADE” – que, contudo, pode se insurgir contra o texto próprio do hístor

Instaura a dialética do “mesmo e do outro” [Paul Ricoeur], uma relação que pode
ser de vários tipos

H U M 03034 . Oficina de leitura e escrita de textos históricos . 2020/I . Turma d


22
OS PROBLEMAS DA ESCRITA NO ÂMBITO DA HISTÓRIA

1) O pensado e a experiência vivida

a) O texto do hístor é da ordem do conhecimento: “A história se faz refletindo e


escrevê-la é uma atividade mental” (p. 244)

As palavras devem ser a verdadeira expressão da realidade (Ranciére); mas o leitor


precisa ter condições de compreendê-las

b) O hístor precisa fazer com que o leitor represente o objeto estudado, ou seja,
precisa apelar à EMOÇÃO, mencionando detalhes, usando cores locais [mediante
citações] e tempos verbais

H U M 03034 . Oficina de leitura e escrita de textos históricos . 2020/I . Turma d


23
OS PROBLEMAS DA ESCRITA NO ÂMBITO DA HISTÓRIA

2) Exprimir-se corretamente com palavras

O hístor precisa escrever bem e corretamente e com elegância ( segundo Langlois,


Marrou...).

“Um grande livro de história inclui sempre o prazer da linguagem e do estilo.” (p. 248)
Exs. Lucien Fébvre, Fernand Braudel, March Bloch..[só franceses!]

A história só pode ser feita com palavras [será]..mas o que são palavras corretas?

Problema: há denotação
e conotação; todas as palavras são impregnadas de cultura (ex do
“stock de professores”

H U M 03034 . Oficina de leitura e escrita de textos históricos . 2020/I . Turma d


24
OS PROBLEMAS DA ESCRITA NO ÂMBITO DA HISTÓRIA

3) Exprimir-se corretamente com palavras falsas

o problema insolúvel falamos do passado com nossas palavras.

questões:

. como ser correto e garantir a apreensão do passado qdo “operário” é


usado para designar realidades diversas? Como evitar o ANACRONISMO?

. Usando a palavra do outro?

. Explicando as nossas palavras?

NÃO HÁ SOLUÇÃO – [E ISSO DEVE SER CONSIDERADO PARA A COMPREENSÃO


DO QUE É HISTÓRIA, OBJETIVDADE, CIENTIFICIDADE]

H U M 03034 . Oficina de leitura e escrita de textos históricos . 2020/I . Turma d


25

Você também pode gostar