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Logística na Assistência Farmacêutica Hospitalar

A importância da farmacoterapia no processo assistencial cresce a cada dia

em virtude das pesquisas clínicas que determinam a inserção de um número

elevado de novos fármacos no arsenal terapêutico. Em consequência do avanço

tecnológico da indústria farmacêutica, os fármacos são lançados em novas formas

farmacêuticas e sistemas de liberação sendo necessária, uma avaliação criteriosa

da segurança, efetividade e custo .

Neste contexto, as ações da farmácia hospitalar se tornam mais importantes

e devem assegurar o desenvolvimento de uma assistência farmacêutica integral

que atenda ao perfil assistencial do hospital e as necessidades individuais dos

doentes. Dentro da visão da integralidade do cuidado, a farmácia hospitalar além

das atividades logísticas tradicionais passa a realizar atividades assistenciais e

técnico-científicas buscando contribuir para a qualidade e racionalidade do

processo de utilização dos medicamentos no âmbito hospitalar.

O objetivo central deste modelo de assistência é a implementação de

práticas farmacêuticas que contribuam para resultados farmacoterápicos capazes

de melhorar a saúde e qualidade de vida dos indivíduos reduzindo o tempo de

internação e o custo da assistência.

A logística farmacêutica tem como foco a aquisição, controle e armazenamento

de medicamentos e produtos para saúde. Na dinâmica hospitalar contemporânea o

impacto dos preços dos medicamentos nos gastos assistenciais é muito grande,

impondo uma gestão de estoques de controle rígido, capaz de obter, coordenar e

analisar fatos, para tomar decisões corretas a tempo e a hora visando redução dos

custos sem prejuízo da assistência ao paciente. A seção administrativa deve emitir

mensalmente relatórios à diretoria administrativa contendo informações sobre o

gasto com medicamentos por centro de custo, o valor financeiro do estoque, valor

das aquisições e outros indicadores que possam ser úteis à direção do hospital.

Torna-se imprescindível a implantação de um sistema de logística farmacêutica

bem estruturado, com um controle de estoque adequado, para que a continuidade


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do cuidado seja assegurada e não haja ruptura do estoque. Esse rigor é

necessário para garantir o atendimento da demanda das prescrições médicas,

evitando eventos adversos, falhas terapêuticas e prolongamento do tempo de

internação

Central de Abastecimento Farmacêutico(CAF)

A Central de Abastecimento Farmacêutico(CAF) é a unidade de assistência

farmacêutica que serve para a guarda de medicamentos e produtos farmacêuticos,

onde são realizadas atividades quanto a sua correta recepção , armazenamento e

distribuição. Deve contar com os seguintes ambientes:

• Recepção e Inspecção - destinada ao recebimento e conferência dos

produtos entregues na CAF.

• Distribuição- para atendimento de requisições internas da farmácia e

de outros setores do hospital.

• Área de Soluções Parenterais- destina- se a instalação de pallets e

porta pallets para armazenamento de soluções parenterais de grande

volume e algumas de pequeno volume de alto consumo.

• Área de Formas Farmacêuticas Diversas- destina-se a instalação de

prateleiras para armazenamento destes medicamentos.

• Área de Saneantes – destina-se a instalação de pallets para

armazenamento deste grupo de produtos.

• Área de Material Médico – Hospitalar- é necessária apenas quando a

farmácia é responsável por este tipo de material.

• Área de Matéria Prima e Embalagens- é necessária quando o

hospital dispõe de laboratório de manipulação.

• Área de Medicamentos Mantidos sob Refrigeração - reservada para a

instalação de refrigeradores que devem ser colocados em local ao abrigo do

sol, deixando um espaço entre a parte posterior e a parede para permitir que

o calor se disperse.

• Área para Inflamáveis - destinado ao armazenamento de inflamáveis,

principalmente álcool.
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• Área de Quarentena- reservada ao armazenamento de produtos cuja

utilização está proibida devido a problemas técnicos ( alteração físico

químico, desvio de qualidade etc ) administrativos ( documentação

inadequada, entrega errada e outros ) e sanitários ( interdição do

medicamento pela Vigilância Sanitária ).

• Área Administrativa – para realização de tarefas relacionadas ao

planejamento e gestão de estoques .

• Área de Citotóxicos - para armazenamento destes medicamentos em

prateleiras especiais que protejam contra acidentes pois o derramamento

dos mesmos ocasiona riscos ocupacionais.

• Área de Medicamentos para Ensaio Clínico- deve ser prevista uma

área , caso o hospital desenvolva ou participe de pesquisas clínicas.

• Área de Medicamentos Sujeitos a Controle Especial – a Portaria Nº

344/98 exige área própria ou armários específicos para guarda destes

medicamentos

No planejamento da construção CAF deve ser observado os aspectos que

contribuam para a prevenção de acidentes e segurança contra roubos e

furtos.

Aspectos Construtivos da CAF de uma Farmácia Hospitalar

Empregar materiais adequados para o revestimento de paredes, resistentes à

lavagem e ao uso de desinfetantes.

A norma ABNT NBR 13534 define sobre os requisitos de segurança para

estabelecimentos assistenciais de saúde e classifica os equipamentos em função

do tempo de reestabelecimento da energia em caso de interrupção do

fornecimento. Na farmácia hospitalar a área de refrigeração da CAF é classificada

como classe > 15. Nessa classe estão os equipamentos eletro-eletrônicos não

ligados diretamente a pacientes, que admitem um chaveamento automático ou


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manual para a fonte de emergência em um período superior a 15 segundos,

devendo garantir o suprimento por no mínimo 24 horas (Brasil, 2002).

O farmacêutico deve repassar ao engenheiro elétrico as características de

todos os equipamentos para subsidiar a elaboração do projeto elétrico.

A instalação de ar condicionado para fins de conforto nas dependências da

farmácia hospitalar deve seguir as normas da ABNT NBR 6401 (Brasil, 2002) .

A CAF é classificada como unidade de risco especial para incêndio pois os

medicamentos implicam em carga significativa de incêndios. Em função da

dimensão a mesma é classificada em baixo risco ( menor que 200m 3 ) , médio

risco ( 200 a 400 m 3) alto risco ( maior que 400 m 3) (Brasil, 2002).

Os setores de risco especial, como a CAF, devem ser alto suficientes em

relação a segurança contra incêndio, isto é devem ser compartimentados

horizontal e verticalmente de modo a impedir a propagação do incêndio para outro

setor ou resistir ao fogo do setor adjacente (Brasil, 2002).

Nos diversos setores da farmácia a instalação de extintores de incêndios é

necessária, sendo recomendável que a mesma seja realizada sob a supervisão do

serviço de medicina do trabalho e comissão e prevenção de incêndios-CIPA.

Gestão de Recursos Materiais na Farmácia Hospitalar

O medicamento é o principal recurso material da assistência farmacêutica, cujo

controle envolve todos os elementos participantes no processo de utilização de

medicamentos. A gestão dos recursos materiais deve ser executada pela

seção administrativa do serviço de farmácia e supervisionada pelo farmacêutico.

Na dinâmica hospitalar contemporânea o impacto dos preços dos

medicamentos nos gastos assistenciais é muito grande, impondo uma gestão de

estoques de controle rígido, capaz de obter, coordenar e analisar fatos, para tomar

decisões corretas a tempo e a hora visando redução dos custos sem prejuízo da

assistência ao paciente.

A seção administrativa deve emitir mensalmente relatórios à diretoria


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administrativa contendo informações sobre o gasto com medicamentos por centro

de custo, o valor financeiro do estoque, valor das aquisições e outros indicadores

que possam ser úteis a direção do hospital.

Torna-se imprescindível a implantação de um sistema bem estruturado, em

todas as fases do processo de controle de estoque, para que a continuidade do

processo de assistência farmacêutica seja assegurada e não haja ruptura do

estoque garantindo o atendimento da demanda das prescrições médicas (.

Aquisição ,Controle e Armazenamento de Medicamentos e Produtos

Farmacêuticos

A aquisição é uma atividade técnico-administrativa que visa suprir as necessidades

de medicamentos, saneantes e produtos para a saúde e outros produtos

farmacêuticos, observando as suas especificidades e os prazos exigidos pelo

processo assistencial. Essa atividade é de responsabilidade da farmácia

hospitalar, sendo essencial para assegurar a regularidade da assistência ao

paciente.

O desabastecimento de medicamentos é um problema que pode comprometer a

qualidade, segurança e custo da assistência. A falta regular de um determinado

medicamento pode implicar na modificação de um protocolo de tratamento,

dificultando o alcance dos objetivos terapêuticos. Nesse sentido, o serviço de

farmácia deve estabelecer diretrizes, a serem seguidas pelas unidades

assistenciais, voltadas para a prevenção ou minimização dos efeitos do

desabastecimento e sistematização das ações a serem executadas diante de sua

instalação. Devido à complexidade da cadeia logística de medicamentos, os

serviços de saúde no Brasil devem estar preparados para enfrentar situações de

desabastecimento. Geralmente, não é possível prever quando vai ocorrer, a

intensidade e duração da falta do medicamento no mercado. Entretanto, não é

aceitável o desabastecimento em virtude de planejamento inadequado, sendo que

a reposição de estoques deve ser monitorada pela instituição de forma criteriosa e

contínua.
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A qualidade dos produtos farmacêuticos é fundamental para que os objetivos

terapêuticos esperados sejam alcançados oferecendo segurança para o paciente e

para os profissionais de saúde. Portanto, é essencial a participação do

farmacêutico na emissão dos pareceres para aquisição de medicamentos. Um

parecer de aquisição de medicamentos deve ser fundamentado em conhecimentos

de tecnologia farmacêutica, controle de qualidade, estabilidade de medicamentos,

terminologia de fármacos, farmacoterapia. Além de observar os aspectos técnicos

o parecer deve ser embasado na legislação sanitária, na Farmacopeia Brasileira e

nos códigos farmacêuticos internacionais, reconhecidos pela Anvisa. A emissão de

pareceres para aquisição deve ser uma prática a ser realizada tanto em hospital

público como privado.

Nos hospitais públicos a aquisição de medicamentos e produtos farmacêuticos é

realizada por licitação em observância a Lei 8666/93 e suas atualizações. O

farmacêutico deve supervisionar o processo de elaboração das solicitações de

aquisição para certificar se as especificações estão adequadas empregando a

denominação comum brasileira e propiciando uma identificação exata do

medicamento em relação ao fármaco, forma farmacêutica , dose e dispositivo de

administração ( quando pertinente). Para o êxito do julgamento de uma licitação é

essencial que o farmacêutico elabore exigências técnicas fundamentadas nas

ciências farmacêuticas e na legislação sanitária para qualificar o processo de

julgamento. Outra medida essencial é a participação do farmacêutico na emissão

dos pareceres durante a fase de julgamento da licitação.

Após a recepção dos produtos farmacêuticos adquiridos pelo hospital, eles devem

ser armazenados adequadamente, o mais breve possível, para que sua

estabilidade e sua qualidade sejam preservadas. Devem ser observadas as

particularidades de armazenamento de cada produto, conforme as recomendações

dos códigos farmacêuticos e do fabricante. Os produtos devem ser protegidos

contra riscos de alterações físico-químicas e microbiológicas.

O armazenamento dos produtos farmacêuticos deve ser realizado na central de

abastecimento farmacêutico (CAF). As instalações físicas e o mobiliário devem ser


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adequados para viabilizar a organização e a segurança, bem como assegurar a

localização dos produtos de forma pronta, ágil e inequívoca. O acesso a essa área

deve ser restrito.

O ambiente deve ser seco e bem ventilado. O controle de temperatura favorece a

estabilidade dos medicamentos, sendo necessária a instalação de equipamentos

de ar condicionado para evitar temperaturas excessivas. Os parâmetros de

temperatura para conservação de medicamentos preconizados pela Farmacopeia

Brasileira 6 edição devem ser seguidos.

Bibliografia

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