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UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DA AMAZÔNIA

INSTITUTO CIBERESPACIAL
NÚCLEO AMAZÔNICO DE ACESSIBILIDADE, INCLUSÃO E TECNOLOGIA
PROGRAMA DE CURSOS LATO SENSU.
ESPECIALIZAÇÃO EM EDUCAÇÃO ESPECIAL E INCLUSÃO SOCIOEDUCACIONAL

ALINE MONTEIRO DA SILVA

AVALIAÇÃO DO PROTOCOLO VB-MAPP PARA A CONSTRUÇÃO DO PEI DE UMA


CRIANÇA COM TEA NO ENSINO INFANTIL

BELÉM
2022
ALINE MONTEIRO DA SILVA

AVALIAÇÃO DO PROTOCOLO VB-MAPP PARA A CONSTRUÇÃO DO PEI DE


UMA CRIANÇA COM TEA NO ENSINO INFANTIL

Artigo apresentado à Universidade Federal Rural


da Amazônia, como parte dos requisitos exigidos
para obtenção do Título de Especialista em
Educação Especial e Inclusão Socioeducacional.
Orientadora: Profa. Dra. Ana Cleide Vieira
Gomes Guimbal de Aquino.

BELÉM
2022
ALINE MONTEIRO DA SILVA

AVALIAÇÃO DO PROTOCOLO VB-MAPP PARA A CONSTRUÇÃO DO PEI DE


UMA CRIANÇA COM TEA NO ENSINO INFANTIL

Artigo apresentado à Universidade Federal Rural da Amazônia, como parte dos requisitos
exigidos para obtenção do Título de Especialista em Educação Especial e Inclusão
Socioeducacional Orientadora: Profa. Dra. Ana Cleide Vieira Gomes Guimbal de Aquino.

Data de Aprovação: 16 de maio de 2022

BANCA EXAMINADORA:

_______________________________________________
Profa. Dra. Ana Cleide Vieira Gomes Guimbal de Aquino - Orientadora.
Universidade Federal Rural da Amazônia - UFRA

______________________________________________
Profa. Dra. Ana Paula de Andrade Sardinha
Universidade Federal Rural da Amazônia - UFRA

_____________________________________________
Profa. Ma. Scheilla de Castro Abbud Vieira
Universidade do Estado do Pará - UEPA

BELÉM/PA
2022
AVALIAÇÃO DO PROTOCOLO VB-MAPP PARA A CONSTRUÇÃO DO PEI DE
UMA CRIANÇA COM TEA NO ENSINO INFANTIL

Aline Monteiro da Silva1


Orientação: profa. Dra. Ana Cleide Vieira Gomes Guimbal de Aquino 2

RESUMO: Pesquisas recentes revelam que o número de crianças com Transtorno do


Espectro Autista (TEA) vem crescendo nas salas de aulas comuns e que a formação continuada
dos professores que estão recebendo esses alunos está em desvantagem ao se levar em
consideração a porcentagem de alunos matriculados. O objetivo desse trabalho é elaborar um
Plano Educacional Individualizado (PEI) para uma criança com TEA inserida no ensino infantil
regular utilizando como instrumento o protocolo VB-MAPP, que nada mais é do que um
instrumento de avaliação dos marcos de desenvolvimento para crianças de 0 à 4 anos de idade.
Trata-se de um estudo de caso com uma criança de 3 anos que estava matriculada em uma
escola particular na cidade de Belém do Pará. O estudo foi concluído em 6 sessões onde: a 1ª
sessão foi uma Entrevista Familiar Exploratória Situacional, a 2ª sessão foi uma Anamnese
respondida pela mãe, da 3ª a 5 ª sessão foi feita a avaliação utilizando o protocolo VB-MAPP
com a criança e a 6ª avaliação foi feito uma devolutiva para a mãe da criança. Os resultados
mostraram alguns déficits na área de linguagem e nas habilidades sociais do aluno.
Palavras-chave: TEA, PEI, VB-MAPP

ABSTRACT: Recent research reveals that the number of children with Autism Spectrum
Disorder (ASD) has been growing in common classrooms and that the continuing education of
teachers who are receiving these students is at a disadvantage when taking into account the
percentage of students enrolled. The objective of this work is to develop an Individualized
Educational Plan (IEP) for a child with ASD inserted in regular early childhood education using
the VB-MAPP protocol as an instrument, which is nothing more than an instrument for
evaluating developmental milestones for children from 0 to 4 years old. This is a case study

1 Associate of Arts Degree, Licenciatura em Pedagogia, Especialização em Psicopedagogia, Pós-Graduanda em


Educação Especial e Inclusão Socioeducacional, Pós-Graduanda em Intervenção ABA para Autismo e Deficiência
Intelectual. dasilva.aba@gmail.com
2 Doutora em Linguistica e Língua Portuguesa (UNESP). Mestre em Neurociências e comportamento (UFPA).

Mestre em Estudos linguísticos (UFPA). Líder do grupo de pesquisa Estudos de Línguas Orais e Sinalizadas -
ELOS (UFRA/CNPq). Docente efetiva da Universidade Federal Rural da Amazônia - UFRA/Belém, E-mail:
ana.guimbal@ufra.edu.br
with a 3-year-old child who was enrolled in a private school in the city of Belém do Pará. The
study was concluded in 6 sessions where: the 1st session was a Situational Exploratory Family
Interview, the 2nd session was an Anamnesis answered by the mother, from the 3rd to 5th
session the evaluation was carried out using the VB-MAPP protocol with the child and the 6th
evaluation, a feedback was made to the child's mother. The results showed some deficits in the
language area and in the student's social skills.
Keywords: ASD, IEP, VB-MAPP

1 INTRODUÇÃO

Dados do Censo Escolar de 2021 revelam que a porcentagem de alunos com


deficiência, transtornos do espectro autista (TEA) ou altas habilidades matriculados em classes
comuns tem aumentado gradualmente. Com exceção da Educação de Jovens e Adultos (EJA),
mais de 90% dos alunos foram incluídos em classes comuns na educação básica no ano de 2021
(BRAZIL, 2022). Ainda de acordo com o Censo Escolar o percentual de docentes com pós-
graduação subiu de 36,2% para 44,7% de 2017 a 2021. Esse aumento é bom, porém quando
comparado com o aumento de alunos matriculados que necessitam de profissionais capacitados,
esse número ainda é inferior, segundo o Censo Escolar de 2021.
De acordo com esse cenário e a desigualdade que existe no ensino regular, faz-se
necessário a utilização de um Plano Educacional Individualizado (PEI) 3 para os alunos com
deficiência, TEA, TDAH e altas habilidades matriculados em salas de aulas comuns.
O objetivo deste trabalho será apresentar um PEI para um aluno com TEA em processo
de escolarização na educação infantil, sendo especificamente utilizado como instrumento para
o plano educacional o protocolo VB-MAPP (Verbal Behavior: Milestones Assessment and
Placement Program).
Segundo Pereira e Nunes (2018), o PEI pode ser identificado da seguinte forma:

“Trata-se de recurso pedagógico, centrado no aluno, que estabelece metas acadêmicas


e funcionais para os educandos com deficiência (SMITH, 2008). Concebido como um
mapa educacional, o PEI descreve, essencialmente, o nível atual de desempenho do
aluno e os objetivos educacionais de curto e de longo prazo, pareados com o currículo
destinado ao ensino regular. O alcance dos objetivos escolares é favorecido pelo uso
de formas alternativas e individualizadas de ensino e avaliação, que se adéquam às
especificidades cognitivas, sensoriais, sociocomunicativas e comportamentais do
educando. Vale destacar que o referido instrumento trata da oferta de serviços
educacionais específicos, além da maneira com que o desempenho do aluno será
mensurado.”

3 Alguns autores ao invés de utilizarem esse termo, utilizam o termo Plano de Desenvolvimento Individual (PDI).
2 FUNDAMENTO TEÓRICO

Em 7 de julho de 2015, foi publicada a Lei Ordinária n° 13.146/2015, que Institui a Lei
Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência (Estatuto da Pessoa com Deficiência), que no
contexto escolar, através de seu capítulo IV, passou a assegurar a educação como direito da
pessoa com deficiência, incumbindo ao poder público e às instituições privadas de qualquer
nível e modalidade de ensino, assegurar, criar, desenvolver, implementar e incentivar, dentre
outros critérios estabelecidos no Art. 28, um sistema educacional inclusivo em todos os níveis
e modalidades, bem como o aprimoramento desse sistema, visando condições de acesso,
permanência, participação e aprendizagem, por meio da oferta de serviços e de recursos de
acessibilidade que eliminem as barreiras e promovam a inclusão plena.
Através dessa legislação as instituições públicas e privadas devem modificar os
materiais de ensino, as atividades, provas, métodos de ensino e o que mais for necessário para
que haja a inclusão da pessoa com deficiência, sem qualquer custo para os alunos. Com isso,
pais e professores vêm ganhando forças para lutar por uma qualidade de ensino melhor para
crianças com deficiência.
A Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva –
MEC/2008 tem como público-alvo da Educação Especial as pessoas com deficiência,
transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades/superdotação (BRASIL, 2008).
Sendo as pessoas com autismo inclusas nesse público-alvo.
O TEA, também conhecido como autismo, é um transtorno de desenvolvimento que
geralmente aparece nos três primeiros anos de vida e compromete as habilidades de
comunicação e interação social. Há também a apresentação de comportamentos estereotipados
e repetitivos, rituais, problemas sensoriais e interesses limitados. Segundo Teixeira (2016),
essas características são essenciais para que ocorra o diagnóstico de TEA, estando presentes em
todos os indivíduos com o transtorno.
O “Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders V” (DSM), publicado pela
American Psychiatric Association (APA, 2013), define o transtorno Autista como a presença
de um desenvolvimento comprometido ou acentuadamente anormal da interação social e da
comunicação, e um repertório muito restrito de atividades e interesses. As manifestações do
transtorno podem variar, dependendo do nível de desenvolvimento e da idade cronológica do
indivíduo.
Um dos protocolos mais utilizados para avaliar as habilidades de uma criança autista é
o protocolo VB-MAPP - Verbal Behavior: Milestones Assessment and Placement Program,
conforme esclarece Sundberg (2008), tem como objetivo avaliar os marcos do desenvolvimento
de indivíduos com autismo e atrasos de linguagem, considerando habilidades verbais e sociais.
O instrumento é baseado na teoria de aprendizagem da análise do comportamento de Burrhus
Frederic Skinner, mais particularmente no Comportamento verbal.
De acordo com Skinner (1957), a linguagem diz respeito ao comportamento verbal e o
processo de aprendizagem é adquirido similarmente a outros tipos de comportamento, como
chorar, escrever e sentar, etc. Inclui todas as formas de comunicação, tais como: linguagem de
sinais, troca de figuras, linguagem escrita, gestos ou qualquer outra forma que uma resposta de
comunicação possa adquirir. Neste sentido, de acordo com Barros (2003, p. 03) o
comportamento verbal se constitui de boa parte da complexidade do comportamento humano e
é classificado em categorias de operantes verbais elementares (quadro 1).

Quadro 1- Descrições dos Operantes Verbais Elementares.

Operantes Verbais
Descrições Exemplos
Elementares

Pedir ou recusar alguma Dizer: “Eu quero a boneca”, quando se


Mando
coisa quer uma

Dizer “boneca” quando se pergunta “o


Tato Nomear algo
que é isso?”

Responder perguntas ou Qual o seu brinquedo preferido?


Intraverbais
conversar sobre algo “boneca”

Seguir instruções ou Aponte para a boneca, a pessoa aponta


Ouvinte
atender a um mando para boneca

Ecoíco Repetir o que se ouviu Diga boneca a pessoa repete boneca

Copiar os movimentos
Ver alguém fazer a boneca pular e a
Imitação motores de uma outra
pessoa também faz a boneca pular
pessoa

Textual Ler palavras escritas Ler a palavra boneca

Escrever uma palavra que Ver a palavra boneca em um livro e


Copiar um Texto
viu copiar no papel

Soletrar palavras faladas de A professora fala boneca e a aluna


Transcrição
maneira escrita escreve boneca.
Fonte: A autora (2022).

Neste sentido, o VB-MAPP é utilizado para determinar níveis basais de repertório do


indivíduo para posterior intervenção (MATOS; MATOS, 2018). O protocolo é dividido em
Avaliação dos Marcos do Desenvolvimento, além dos fatores que possam interferir na
aprendizagem (Avaliação de Barreiras) e o formato de ensino mais adequado ao repertório da
criança (Avaliação de Transições), contudo para esta avaliação apenas avaliação dos marcos do
desenvolvimento foi utilizado. Para maiores informações sobre a estrutura completa do
protocolo, vide Sundberg (2008). As avaliações de barreiras e transições foram feitas durante
as sessões de intervenções, pois notou-se uma necessidade de um tempo maior para avaliar
essas áreas, pois o tempo que foi proposto para a avaliação de desenvolvimento do PEI não foi
suficiente para a avaliação completa do VB- MAPP para essa criança em específico.
A avaliação dos marcos do desenvolvimento está dividida em três níveis: o nível 1,
abarcando crianças de 0 a 18 meses; nível 2, abarcando crianças de 18 a 30 meses; e nível 3,
quando são avaliadas as habilidades de crianças de 30-48 meses. Neste sentido, são avaliados
os seguintes operantes verbais em cada nível: Nível 1 - são avaliados habilidades de pedir e
recusar (Mando); habilidade de nomear objetos, pessoas e eventos (Tato); habilidade de
selecionar itens e compreender comandos (Resposta de Ouvinte); na habilidade de
categorização (Percepção Visual e Pareamento); na Habilidade de Brincar Independente,
Comportamento Social e Brincar Social; Imitação Motora; Ecoico; Habilidades de repetir sons
e palavras (Comportamento Vocal Espontâneo).

No nível 2, além das habilidades do nível anterior, adiciona-se Resposta de Ouvinte por
Função, Característica e Classe; habilidade de responder perguntas e fazer comentários
(Intraverbal); Rotina de Sala de Aula e Habilidades de Grupo; Estrutura Linguística. No nível
3, além das habilidades dos níveis anteriores, adiciona-se habilidades de Leitura, Escrita e
Matemática.
Nesta direção, este instrumento configura-se como um bom recurso para desenvolver
habilidades básicas de aprendizagem para crianças e outros indivíduos em faixas etárias
diversas. Justificando-se então no uso com pessoas que apresentam dificuldades de
aprendizagem, pouco sensíveis a outros tipos de avaliação.
Considerando as informações acima expostas, foi realizado uma investigação e
descrição da utilização do protocolo VB-MAPP (Verbal Behavior: Milestones Assessment and
Placement Program) como ferramenta de avaliação e construção de PDI para crianças com
TEA no ensino infantil, sendo este o protocolo mais utilizado para indivíduos com atraso na
linguagem, sendo realizado um estudo de caso, com descrição de uma metodologia, relatando
o uso do instrumento VB-MAPP e sua respectiva intervenção para crianças com TEA no ensino
infantil.
Segundo Hudson e Borges (2020), o PDI constitui-se em um roteiro de avaliação e
intervenção pedagógica para alunos que frequentam a Sala de Recursos Multifuncional (SRM),
em que nesse artigo na primeira parte do plano consta uma avaliação na qual foi utilizado o
protocolo do VB-MAPP e na segunda parte uma intervenção pedagógica que são as habilidades
que serão trabalhadas no PEI.
No estudo de caso, o aluno não irá frequentar a SRM, pois não apresenta dificuldades
na área de habilidades acadêmicas e sim na área de habilidades sociais.

3 MÉTODO

Trata-se de uma pesquisa participativa de abordagem qualitativa, com formato de estudo


de caso clínico. De acordo com Ventura (2007), o estudo de caso clínico tem origem nas
pesquisas médicas e psicológicas com a análise de modo detalhado de um caso individual, que
explica a dinâmica de uma dada condição. Apesar de ter sido inaugurada no âmbito destas duas
áreas de investigação, pode ser utilizada em qualquer área que se disponha a traçar os mesmos
objetivos, como é o caso da Educação Especial.

Esta pesquisa segue o roteiro de apresentação proposto por Weiss (1994), no qual é
iniciado com a entrevista de anamnese, uma vez que a criança analisada apresentava um atraso
na linguagem, sendo deste modo importante conhecer as suas habilidades e dificuldades através
de uma entrevista com a mãe, a fim de que se pudesse organizar os tipos de testes necessários
para se chegar as habilidades que precisam ser trabalhadas no PDI.

Através desse método temos que a 1ª sessão de avaliação consiste de Entrevista Familiar
Exploratória Situacional (EFES) e já na 2ª sessão é realizada a anamnese, na 3ª sessão se realiza
atividades lúdicas centradas na aprendizagem para crianças, na 4ª sessão é realizada uma
complementação com provas e testes (isto quando for necessário), na 5ª sessão se faz uma
Síntese Diagnóstica-Prognóstico e na 6ª sessão conclui-se com a devolução e metas para serem
trabalhadas ao longo do semestre.

3.1 Estudo de caso

A criança deste estudo se refere a X, um menino de 5 anos que foi encaminhado por
um médico pediatra, para uma avaliação psicopedagógica devido à dificuldade de
aprendizagem e atraso de linguagem. No período em que foi realizada a avaliação, X estava
com aproximadamente 4 anos de idade, morava com os seus pais e a irmã, frequentava uma
escola de ensino regular, sem acompanhamento de mediadora escolar. A criança possui um
diagnóstico de autismo nível 1, com dificuldade na comunicação e na interação social.

3.1.1 Ambiente de realização do estudo

A pesquisa foi realizada na residência do aluno com uma psicopedagoga e no


ambiente escolar com a participação da professora, coordenadora e psicóloga da escola.

3.1.2 Instrumentos e Técnicas utilizadas

A avaliação da criança foi constituída com os seguintes instrumentos:

Quadro 2 - Instrumentos e Técnicas utilizados.

Instrumentos/Técnica Objetivo

A) Entrevista de Anamnese Realizar uma investigação da história clínica


e de desenvolvimento da criança,
corroborando para a os apontamentos que
irão contribuir para se chegar a um currículo
de ensino

B) Entrevista Familiar Exploratória Tem por objetivo compreender a queixa nas


Situacional (EFES) dimensões familiares; as relações e
expectativas familiares com relação à
aprendizagem e ao terapeuta.

C) Visita escolar Permite conhecer aspectos importantes dos


valores e da relação com a escola e com a
aprendizagem. Possibilita ainda avaliar a
metodologia, a organização e as estratégias
de ensino utilizadas pelos professores da
criança

D) Protocolo VB-MAPP Avaliação de marcos do desenvolvimento e


atrasos de linguagem, além de verificar
fatores de interferência na aprendizagem e o
formato de ensino dado à determinada
criança.

Fonte: A autora (2022).

3.1.3 Procedimento de Avaliação Diagnóstica


A coleta das informações para o presente estudo foi realizada por meio de cinco sessões
de atendimentos. A ordem e os objetivos de cada uma delas estão descritos na sequência.
A primeira sessão teve o objetivo de realizar uma entrevista de anamnese com a genitora
da criança. Apesar dos autores que seguem a linha da epistemologia convergente de (Visca,
1987) sugeriram que esta entrevista seja feita após o contato com a criança, optou-se por realizar
no primeiro momento uma vez que a queixa clínica da criança era a de atraso de linguagem, o
que poderia prejudicar uma exploração mais direta com a própria criança.
Durante a segunda sessão foi feita uma entrevista familiar exploratória situacional. Na
terceira sessão foi feita uma visita à escola da criança e na quarta e quinta sessões foram
realizados os testes com o instrumento de avaliação do protocolo do VB-MAPP.

4 RESULTADO E DISCUSSÃO

4.1 Anamnese

A mãe relatou não ter tido uma gravidez tranquila. Com 32 semanas houve diminuição
do líquido amniótico, ficou de repouso para chegar até 38 semanas. A criança teve um
desenvolvimento motor normal, alcançou todos os marcos no tempo esperado, como: sentar,
engatinhar, ficar em pé e andar. A queixa principal foi o atraso na fala e a dificuldade na
interação social.

4.2. EFES

Foi observado durante a entrevista familiar exploratória situacional que a mãe e a babá
estão constantemente estimulando e reforçando a fala da criança. Os objetivos que a mãe espera
alcançar é que ele conte o que ele fez ou o que aconteceu, que ele se apresente para outras
pessoas e que ele possa falar sobre si, que tenha interesse por outras crianças e que ele aprenda
a dividir os brinquedos.

4.3 Visita Escolar

Durante a visita escolar notou-se que X tem algumas dificuldades de se comunicar e de


se socializar com alguns pares e adultos. Notou-se também uma dificuldade em seguir a rotina
escolar. Esses resultados estão mais bem detalhados nos resultados do protocolo do VB-MAPP
apresentados no tópico abaixo.

4.4 Protocolo VB-MAPP


4.4.1 Avaliação dos Marcos do Desenvolvimento

Os resultados da avaliação das habilidades verbais e sociais de X demonstraram áreas


com bastante potencial, porém houve áreas com déficits quando comparadas a um
desenvolvimento de uma criança da mesma idade, principalmente aquelas relacionadas às
habilidades sociais e à comunicação, como mando e Intraverbal. As habilidades foram descritas
individualmente abaixo, seguidas dos objetivos de intervenção para os seis meses seguintes
após a realização da avaliação, e representadas na tabela a seguir:

Quadro 3 - Formulário de Pontuação da Avaliação de Marcos do VB MAPP.

Nome: xxxxxxxx

Data de nascimento: xxxxxxxx

Idade na testagem 1 3A 2 3 4

Chave: Pontuação Data Cor


Avaliador

1.o teste 68 Fev/20 Aline

2.o teste:

3.o teste

4.o teste

VP/
Mando Tato Ouvinte MTS Brincar Social Leitura Escrita LRFFC Intrav Grupo Ling Mat

15

14

13

12

11

Nível 3
Nível 2

Li
Mando Tato Ouvinte VP/MTS Brincar Social Imitação Ecóico LRFFC Intrav Grupo
ng

10

Nível 1

Mando Tato Ouvinte VP/MTS Brincar Social Imitação Ecóico Vocal

Fonte: Martone e Goyos (2016).

4.4.1.1 Mando (habilidade de pedir e recusar)


X apresentou comportamentos funcionais para pedir itens (brinquedos ou atividades) de
interesse, usando o nome dos itens e objetos, mesmos diante do objeto quanto na ausência;
pediu para as pessoas executarem ações, como “me dá” e “abre”; tentou utilizar frases para
formular os pedidos, como por exemplo “eu quero”. Em algumas situações X ainda tentou
alcançar na mão do terapeuta sem pedir. X também emite palavras de recusa para sinalizar o
não desejado.

Objetivos de intervenção:
- Demonstrar uma alta frequência de mandos (15 em um período de 5 minutos);
- Pedir para outros emitirem 5 diferentes ações ou ações que estão faltando e são necessárias
para desfrutar de uma atividade desejada. Exemplo: abrir, fechar, empurrar, etc.;
- Emitir 5 mandos diferentes que contenham 2 ou mais palavras (não incluindo eu quero).
Exemplo: vai rápido, minha vez, serve o suco.

4.4.1.2 Tato (habilidade de nomear objetos, pessoas e eventos)

No decorrer da avaliação, X conseguiu nomear diversos objetos e figuras (animais,


cores, brinquedos, formas, frutas, roupas, móveis), porém teve dificuldades em nomear ações
usando verbo no gerúndio, como “comendo, estudando, bebendo”, e em descrever uma imagem
com sentenças de duas ou mais palavras, p. ex. “lendo o livro”, “pescando o peixe”, assim como
não conseguiu descrever a função dos objetos. Exemplo: o que você faz com a tinta? “eu pinto”.

Objetivos de intervenção:
- Tatear 10 ações diferentes quando perguntado, Exemplo: “O que eu estou fazendo?”;
- Tatear 50 combinações de dois componentes verbo-substantivo, ou substantivo-verbo, a partir
de uma lista de tatos conhecidos com dois componentes;
- Tatear 5 categorias ou classes. Exemplo: animais, bebidas ou brinquedos;
- Tatear a função de 25 itens. Exemplo: mostre à criança um lápis e pergunte “O que você faz
com isso?”.

4.4.1.3 Resposta de Ouvinte (habilidade de selecionar itens e compreender comandos)

X demonstrou potencialidade nesta área, ele conseguiu atender ao nome quando


chamado; selecionar diversos itens (animais, frutas, brinquedos, roupas, letras, números, cores,
formas geométricas, partes do corpo) e eventos relacionados às ações em figuras estáticas,
quando questionado, por exemplo, “onde está a maçã?” e ele aponta a figura da maçã ou “cadê
a pessoa comendo?” e ele aponta corretamente. Outra habilidade em potencial foi atender
comandos. X executou várias ações motoras simples e complexas com deslocamento, quando
solicitado, por exemplo, “bate palma”, “pega o trem vermelho”, “pega no nariz e levanta o
braço”, “pega o dinossauro na outra sala”. Na tarefa de identificar o animal correspondente ao
som produzido, ele executou corretamente, porém teve dificuldades em identificar algumas
categorias, como “aponta a roupa e ele sinaliza o short”, “cadê o animal e ele aponta para o
cavalo”, e outras categorias, como móvel, calçado e transporte. Teve dificuldade ainda na
compreensão da função de alguns objetos, por exemplo, “você corta com a... e ele aponta para
uma faca”, “o que você usa para escovar os dentes? E ele identifica a escova de dentes”. No
entanto, essa habilidade precisa ser ampliada e outras desenvolvidas, como seguir instrução
contendo preposições, advérbio e pronomes, por exemplo.

Objetivos de intervenção:
- Seguir instruções envolvendo 6 preposições diferentes. Exemplo: Fique atrás da cadeira; e 4
pronomes diferentes. Exemplo: Toque meu ouvido;
- Selecionar 4 pares de adjetivos relativos. Exemplo: grande-pequeno, longo-curto; e
demonstrar ações baseado em 4 pares de advérbios relativos. Exemplo: silencioso-barulhento,
rápido-devagar;
- Selecionar o item de um conjunto de 8 para 15 classes. Exemplo: móvel, calçado, material
escolar;
- Selecionar o item de um conjunto de 8 para 25 funções. Exemplo: você senta... você dorme
na...

4.4.1.4 Percepção Visual e Pareamento (habilidade de categorização)

X, ao longo da avaliação, demonstrou habilidades de rastrear estímulos em conjunto


extenso e desorganizado; atentar para um brinquedo por no mínimo 30 segundos; empilhar
blocos, encaixar objetos; parear itens idênticos por meio de figuras. Porém teve dificuldades
em agrupar figuras semelhantes, como dois cachorros ou duas uvas diferentes; e organizar as
figuras pela categoria (animal, fruta, móvel, roupa).

Objetivos de intervenção:
- Agrupar figuras não idênticas;
- Agrupar itens relacionados a 5 categorias diferentes de acordo com um modelo. Exemplo:
roupas, animais;
- Montar blocos de 4 peças de acordo com um modelo 3D, para 4 modelos;
- Colocar 3 conjuntos de itens em ordem por tamanho (seriação).

4.4.1.5 Brincar Independente

X demonstrou habilidades de brincar funcional com a facilitação de um adulto, explorou


o ambiente usando vários brinquedos, porém devido à dificuldade de fala, ainda teve
dificuldades em brincadeiras de faz de conta. Essa habilidade precisa ser desenvolvida melhor
em casa e na escola.

Objetivos de intervenção:
- Engajar-se, independentemente, em brincadeiras simbólicas de faz de conta;
- Engajar-se, independentemente, em atividades de arte e ofício por 5 minutos. Exemplo:
colorir, pintura, colagem).

4.4.1.6 Comportamento e Brincar Social

Esta área foi avaliada no contexto escolar. X apresentou atenção compartilhada com o
adulto, aceitou contato físico, apresentou contato visual com bastante frequência para o adulto
e para outras crianças. No entanto, apresentou dificuldades em imitar outra criança e iniciar
interação com os pares, compartilhar um brinquedo, além da dificuldade em fazer pedidos para
os colegas e responder aos pedidos dos outros. Na maioria das vezes, tentou puxar o brinquedo
do colega.

Objetivos de intervenção:
- Compartilhar brinquedos;
- Emitir, espontaneamente, mando aos colegas 5 vezes. Exemplo: minha vez, empurre-me, olhe!
Venha;
- Engajar em brincadeira social continuada com colegas por 3 minutos sem dicas de adultos ou
reforçamento. Exemplo: cooperativamente cria um jogo de peças, brincar com bonecos;
- Responder, espontaneamente, a mandos de colegas 5 vezes. Exemplo: puxe-me no carrinho.
Eu quero o trem.

4.4.1.7 Imitação Motora


X apresentou bom desempenho nesta habilidade. Ele conseguiu imitar movimentos
grossos simples e em sequência de duas e três etapas em um contexto natural, como para usar
um determinado brinquedo ou mesmo em um contexto de teste, onde se pediu um movimento
e ele conseguiu executar. Porém, essa área ainda está em desenvolvimento.

Objetivos de intervenção:
- Imitar 10 diferentes sequências de ações de três componentes quando fornecida dica, “faça
isso”.

4.4.1.8 Vocal Espontâneo e Ecoico (habilidade de repetir sons e palavras)

X apresentou bom desempenho na repetição de palavras e frases curtas. Está habilidade


será de extrema relevância para que ele adquira outras habilidades de falante.

4.4.1.9 Intraverbal (habilidade de responder perguntas e fazer comentários)

X apresentou habilidades iniciais desse repertório, como produzir onomatopeias diante


de perguntas para alguns animais e objetos; fornecer o seu nome e completar e cantar músicas.
Apresentou dificuldade em completar algumas frases envolvendo a função de um objeto.
Exemplo: “na cama, você... dorme”; e responder algumas perguntas com pronomes
interrogativos (o que, onde, quem) e fazer comentários do que acontece ao seu redor.

Objetivos de intervenção:
- Responder 25 questões “o que” “qual” diferentes. Exemplo: O que você gosta de comer? Qual
seu brinquedo favorito?;
- Responder 25 diferentes questões “quem” e “onde”. Exemplo: Quem são seus amigos? Onde
está o travesseiro?;
- Emitir, espontaneamente, 20 intraverbais em forma de comentário. Exemplo: o pai diz eu
estou indo para o carro e a criança espontaneamente diz eu quero dar uma volta!

4.4.1.10 Rotina de Sala de Aula e Habilidades de Grupo

Esta área foi avaliada no contexto escolar. X encontra-se bem adaptado na rotina escolar,
sem problemas de transições, ele segue comandos verbais dados pelas professoras, em algumas
ocasiões precisa de ajuda física. Ele presta bastante atenção na hora da explicação, a professora
faz uso constante de materiais concretos, o que ajuda na compreensão. Lanchou de forma
independente. Usou o banheiro com um pouco de ajuda. A sala de aula possui uma rotina visual,
o que ajuda o X saber o que vai acontecer. As professoras não fazem pelo X o que ele é capaz
de fazer, porém estão sempre atenciosas verificando se ele precisa de ajuda.

Objetivos de intervenção:
- Transitar entre as atividades de salas, somente com uma dica gestual ou verbal.
- Sentar em um pequeno grupo por 5 minutos sem comportamento inadequado ou tentar sair do
grupo;
- Trabalhar o comportamento usando historinhas sociais.

4.4.1.11 Linguística

X conseguiu se comunicar, mas ainda apresentou muita dificuldade na organização das


sentenças, frases de duas ou mais palavras com uso de modificadores (adjetivos, preposições,
pronomes).

Objetivos de intervenção:
- Emitir 10 diferentes frases nominais contendo pelo menos 3 palavras com 2 modificadores
(adjetivos, preposições, pronomes). Exemplo: Eu quero sorvete de chocolate.

4.4.1.12 Leitura

X consegue identificar o seu nome na plaquinha da escola. Ele ainda vai iniciar o
processo de alfabetização e letramento.

Objetivos de intervenção:
- Identificar e tatear letras do alfabeto;
- Parear palavras às figuras correspondentes;
- Atentar e responder às perguntas de um texto lido para ele;
- Ler o próprio nome.

4.4.1.13 Escrita

X consegue pintar uma figura de forma independente. A professora mostrou um trabalho


em que ele desenhou um círculo de forma independente.

Objetivos de intervenção:
- Traçar, independentemente, 5 formas geométricas diferentes dentro de 1/4 de polegada das
linhas. Exemplo: círculo, quadrado, triângulo, retângulo, estrela;
- Copiar 10 letras ou números legíveis.

4.4.1.15 Matemática

Nesta área, X conseguiu reconhecer e nomear, quando solicitado, os números de 0 a 10;


assim como conseguiu contar e quantificar até, pelo menos, 10.

Objetivos de intervenção:
- Identificar 8 comparações diferentes envolvendo medidas. Exemplo: grande-pequeno, cheio-
vazio.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Através do protocolo VB-MAPP foi possível avaliar de maneira detalhada as


habilidades e dificuldades que o aluno X tinha. Dessa forma foi possível formular um PEI com
objetivos específicos de acordo com os marcos de desenvolvimento que o aluno ainda não tinha.
Para essa autora os objetivos principais da educação infantil é desenvolver uma boa linguagem
e habilidades de socialização, o que foi possível construir um plano com essas especificações
para o aluno aqui apresentado.
Para futuros estudos seria interessante fazer a comparação entre treinos de habilidades
sociais com pessoas do mesmo grupo e pessoas de um grupo de diversidades.

REFERÊNCIAS

ACAMPORA, B. Psicopedagogia Clínica: O Despertar das Potencialidades. 2ª Edição. Rio de


Janeiro: Wak: 2013.

BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília: Imprensa Oficial, 1988.

BRASIL. Declaração de Salamanca e linha de ação sobre necessidades educativas


especiais. Brasília: UNESCO,1994.

BRASIL. Ministério da Educação. Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Anísio Teixeira


(INEP). Censo Escolar 2021: notas estatísticas. Brasília, 2022.

DSM-V: Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, Editora Artes Médicas,


Porto Alegre, 2014.
HUDSON, Bruna Cristina da Silva; BORGES, Adriana Araújo Pereira. A utilização do Plano
de Desenvolvimento Individual por professores em Minas Gerais. Revista Educação
Especial, vol. 33, pp. 1-26. Universidade Federal de Santa Maria, 2020.

MARTONE, M. C. C. Tradução e adaptação do Verbal Behavior Milestones Assessment


and Placement Program (VB-MAPP) para a língua portuguesa e a efetividade do treino
de habilidades comportamentais para qualificar profissionais. São Carlos, Disponível em:
<https://repositorio.ufscar.br/handle/ufscar/9315>. Acesso em: 19 de junho de 2019.

PEREIRA, Debora Mara; NUNES, Débora Regina de Paula. Diretrizes para a elaboração do
PEI como instrumento de avaliação para educando com autismo: um estudo interventivo.
Revista Educação Especial, v. 31, n. 63, p. 939-960, Santa Maria, 2018. Disponível em:
<https://periodicos.ufsm.br/educacaoespecial>. Acesso em: 30 abr. 2022.

SKINNER, B. F. (1957/1978). O comportamento verbal. São Paulo: Cultrix.

SUNDBERG, M. L. VB-MAPP: Verbal behavior milestones assessment and placement


program. Concord, CA: AVB Press. 2008.

TEIXEIRA. G. Manual do Autismo: Guia dos pais para o tratamento completo. 1ª Ed. Rio
de Janeiro: Best Seller. 2016.

VISCA, Jorge. Clínica Psicopedagógica. Epistemologia Convergente. Porto Alegre, Artes


Médicas, 1987.
APÊNDICES

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