Você está na página 1de 2

Six Of Crows: Sangue e Mentiras

Resenha por Carolina Cardoso


Six of Crows é o primeiro livro da duologia de mesmo nome escrita por Leigh
Bardugo. A história ambienta-se no universo grisha ao qual o leitor pode ou não
ter sido apresentado ao ler a triologia anterior da autora (Sombra e Ossos).
Todavia, o livro atual conta com suficiente contextualização do universo
fantástico criado pela autora para garantir uma boa experiência imersiva e
evitar eventuais flutuações e confusões referentes as regras que regem o
grishaverso. Sangue e Mentiras traz uma emocionante história de assalto,
reunindo um grupo improvável formado pelos mais distintos estereótipos que
encontram uns nos outros caos e confusão, mas também amizade e
cumpliciddade.
Somos introduzidos inicialmente a figura de Kaz Brekker, o temido líder dos
Dregs, uma poderosa gangue que comanda o submundo da cidade mercante
de Ketterdam situada na Ilha Kerch. O Barril, como é chamado nosso ambiente
inóspito, configura-se entorno de casas de aposta, bares e bordeis, todos
comandados por gangues sanguinárias que disputam constantemente entre si.
Bardugo faz um excelente trabalho em criar a atmosfera criminosa e ao mesmo
tempo magnética do lugar cujo ponto central é o próprio Clube do Corvo,
propriedade de Kaz. Em seguida, apresentados, ao dilema inicial, a proposta
de um “trabalho” ou assalto, como preferir. O Conselho Mercante precisa de
alguém para fazer o trabalho sujo e recuperar a fonte de algo que pode destruir
o mundo grisha. Brekker e seus corvos não aceitariam o trabalho pela simples
fama de heróis, mas a recompensa monetária estimulou o senso patriótico dos
nossos heóris.
Com um objetivo em mente, Kaz precisa montar sua equipe. Priemeiro, a
Espectro, Inej Ghafa, a garota suli vendida para um bordel que com suas
habilidades de espionagem e luta foi capaz de conquistar seu lugar nos Dregs
e quem sabe até no amargurado coração de Kaz, se é que ele tem um. Inej é
ainda, apesar de seu passado duro, uma das almas mais esperançosas com a
qual o leitor vai se deparar nessas páginas, sua fé e confiança contrastam bem
com o ceticismo de Brekker. Em seguida, Jesper, o pistoleiro, o terceiro
membro faz parte desse círculo íntimo principal que já existia a priori antes da
história que nos é contada começar, ele nos serve com seu charme e jeito leve
e divertido, sendo na maior parte do tempo um alivio cômico muito bem-vindo
diante da trama de morte, sangue e mentiras que vemos se desenrolar. Temos
ainda Wylan, uma pobre e inocente alma que se vê envolvida com esse bando
de criminosos, tendo suas habilidades como perito em explosivos requisitada
por Kaz, que o ajuda a sobreviver a sua situação complicada recente, apesar
de um passado de privilégios, Wylan, como todos nesse bando tem seus
próprios demônios. Finalmente somos apresentados a dois dos principais
motores desse livro, Nina e Mathias, ela, a grisha sangradora refugiada que foi
por muitos anos uma espiã e soldado do exército ravkano e ele um membro da
ordem fjerdana dos Drüskelle. Inimigos naturais, esses dois nasceram
destinados a se odiarem e cumpriram muito bem seus papeis até que por
influência do destino se apaixonassem anos antes, o que teria sido uma incrível
história de amor teve um fim trágico, com a prisão de Mathias e o renascimento
do ódio entre ambos.
Formada essa conturbada equipe, somos enviados junto deles na aventura
motriz, no assalto a uma fortaleza congelada em busca de um químico cujas
habilidades produziram uma droga capaz de criar o mais poderoso exército já
visto. As dificuldades no caminho são muitas, é uma missão extrema, não
existe meio termo, é a recompensa ou a morte, um caminho sem volta. Os
perigos da missão, bem como os atritos igualmente alarmantes entre o próprio
grupo alimentam o clima de tensão latente durante todo o livro. Cada
personagem vai ganhando força e profundidade a medida que a trama avança
e podemos vê-los sobreviver, sobreviver as intempéries, as lutas, ao passado e
seus demônios, a si mesmos e uns aos outros. A equipe improvável constrói
cumplicidade, um grupo de estranhos constitui família e ao leitor resta se
desesperar e torcer para que os planos mirabolantes e escusos de Kaz Brekker
levem todos para casa sãos e salvos, ou melhor, sem mortes e sem funerais,
gostamos de manter as expectativas baixas por aqui. Esse é o melhor que o
grishaverso tem a oferecer, é uma trama eletrizante de assalto e fantasia com
personagens profundos e cativantes, diálogos espertos e irônicos e um mundo
complexo e interessante cheio de culturas e regras a serem aprendidas e
desvendadas, é uma aventura só de ler.

Você também pode gostar