Você está na página 1de 4

Vinicius Deocleciano Morais da Silva

N°USP 9827694 Diurno

Principais pontos de A Crise na Educação, de Hannah Arendt

Em tempos de tantos absurdos e malabarismo discursivos e retóricos, refletir sobre


respeitar tradições e conservar ideias se mostra, numa impressão rudimentar, algo
reacionário. Da mesma forma, ler críticas negativas sobre ações adjetivadas como
progressistas desperta o pressentimento que irão se manifestar as desculpas
neoliberais para impedir o avanço em áreas importantes para a sociedade - no caso,
a Educação.

Contudo, não é o que se lê no capítulo Entre o Passado e o Futuro, do livro A Crise


na Educação, de Hannah Arendt. Na tentativa de uma síntese do capítulo, pode-se
afirmar que a autora defende como a tradição é uma resposta forte e resistente à
crise na educação como procedente de uma crise política, principalmente no
desenvolvimento de crianças.

De saída, na primeira parte do texto, a autora apresenta quais os mecanismos que


revelam o afloramento de uma crise. O primeiro deles é o desaparecimento de
preconceitos. Substantivo tomado no sentido geral de conhecimentos prévios
comuns, sem necessariamente o viés de violência. A “perda de respostas”
obriga-nos, assim, a aprimorar os julgamentos, seja por respostas novas ou velhas.
O que não se pode é continuar defendendo pré-julgamentos. Como exemplo,
elementos da formação da sociedade norte-americana (termo genérico; não o
conceito) está bem enraizada na crise educacional.

O segundo mecanismo tem haver com uma força maior que impõe uma igualdade
entre os indivíduos. Os EUA são por natureza um país de imigrantes. Porém, há
uma ideologia de raízes profundas, oriunda dos fundadores, que perfazem a
consciência política e “psíquica” do país que vai de encontro a essa característica.
Daí depreende-se a concepção de “equívoco” aplicado pela autora. Enquanto líder
de uma nova ordem mundial, em que a pobreza não existe e reinam a paz e a
justiça, a nação tem a educação como instrumento da política e a política como
forma de educação. Os novos integrantes da sociedade, sejam crianças sejam
imigrantes, acabavam recebendo “coerção sem o uso da força” travestida de
educação. Até porque a política trata com adultos e educar adultos não bem visto na
política, de acordo com a autora.

Em destaque, as crianças penam a ditadura dos adultos, em que o mundo que elas
desabrocham exige que elas aprendam o velho. Não lhe é permitido ser o novo. Há
uma “ilusão” e o “contínuo histórico” falha em criar uma nova ordem. Assim, a
esperança de um país que lideraría a nova ordem mundial apenas reproduz o velho.

Das causas, assim, a autora apresenta duas: a exigência de uma sociedade de


massa e a educação progressista. Os efeitos, pressionados pela exigência de uma
sociedade de massa, lê-se sobre o advento de teorias modernas dos métodos
progressos de ensino, queda de tradições, inclusive com comparações com as
práticas européias.

Detalhando melhor a ideia do problema de igualdade nos Estados Unidos, Arendt


considera isso um fator agravante. A defesa da igualdade chega a confrontar um
elemento de direito cívico inalienável: a liberdade.

Assim, o que torna a crise educacional na


América particularmente aguda é o temperamento
político do país, que espontaneamente peleja para
igualar ou apagar tanto quanto possível as diferenças
entre jovens e velhos, entre talentosos e pouco
talentosos, entre crianças e adultos e, particularmente,
entre alunos e professores. É óbvio que um
nivelamento desse tipo só pode ser efetivamente
consumado às custas da autoridade do mestre ou às
expensas daquele que é o mais talentoso, dentre os
estudantes. (Arendt, xxx, p. 265)

Na segunda seção, ocorre a reflexão de pressupostos para explicar as medidas


desastrosas na educação norte-americana, em boa parte fundamentada em
conceitos que negam a tradição e que ao formularem ações destrutivas e
“reformulações desesperadas”.

O primeiro pressuposto é uma abstração hipotética. Arendt traz a imaginação “um


mundo e sociedade formado e governado” por crianças e o seu possível desfecho.
Nesse mundo tirânico, os adultos apenas auxiliam. Inclusive, os adultos não
suportam tirania da maioria. A “criança” não se rebela, mas quando cresce deriva
para delinquência ou conformismo.

No pressuposto seguinte,a autora afirma que a ciência do ensino se emancipa da


“matéria efetiva a ser ensinada”, favorecendo o negligenciamento, e deixando os
alunos dependentes de si mesmos, pois os professores não necessitam mais serem
especialistas. O professor como autoridade e fonte legitimada de determinada área
do conhecimento não existe mais.

Já o terceiro pressuposto é semelhante a ideia atual de substituição do


conhecimento pela técnica, na discussão de Arendt, a troca do saber pelo
aprendizado.

O motivo por que não foi atribuída nenhuma importância ao


domínio que tenha o professor de sua matéria foi o desejo de
levá-la ao exercício contínuo da atividade aprendizagem, de
tal modo que ele não transmitisse, como se dizia,
‘conhecimento petrificado’, mas, ao invés disso, demonstrasse
constantemente como o saber é produzido. p. 268

Na penúltima divisão há a resposta de duas questões feitas anteriormente. A


primeira, aqui posta resumidamente, indaga quais são os motivos reais que geraram
contradições com o senso comum; na segunda pergunta, o que se pode aprender
com a essência da educação.

Destacando a segunda questão, Arendt declara e sintetiza o papel da educação e a


posição da criança:
“Exatamente em benefício daquilo que é novo e revolucionário
em cada criança é que a educação precisa ser conservadora;
ela deve preservar essa novidade e introduzi-la como algo
novo em um mundo velho, que, por mais revolucionário que
possa ser em suas ações, é sempre, do ponto de vista da
geração seguinte, obsoleto e rente à destruição. “p. 280

A educação conservadora, nesse sentido, é aquela que mantém a autoridade do


professor e além disso a responsabilidade que este ente deve ter com o mundo e
com as crianças, como se representasse todos os adultos. Arend sendo direta
afirma: “ Qualquer pessoa que se recuse a assumir a responsabilidade coletiva pelo
mundo não deveria ter crianças, e é preciso proibi-la de tomar parte em sua
educação.”

Para finalizar o texto A crise na Educação, oferece soluções, como uma postura de
separação de diversas esferas, como a pública e a política, para se cercar de uma
autoridade adequada e uma posição diante de passado sem generalizações. E para
aperfeiçoar, Arendt diz

A educação é, também, onde decidimos se amamos nossas


crianças o bastante para não expulsá-las lie nosso mundo e
abandoná-las a seus próprios recursos, e tampouco arrancar
de suas mãos a oportunidade de empreender alguma coisa
nova e imprevista para nós, preparando-as em vez disso com
antecedência para a tarefa.

Você também pode gostar