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CABRAL, J. M. P. História Breve Dos Pigmentos 3 - Das Artes Grega e Romana
CABRAL, J. M. P. História Breve Dos Pigmentos 3 - Das Artes Grega e Romana
que os a rt istas a criaram. Nos monu- dos [1]. meiros que deram início à área hoje
mentos, por exemplo, aplicavam-se ele- designada por Arqueometria. O campo
Grande pa rt e dessa a rt e, sobretudo da
mentos decorativos às molduras a fim destes estudos veio a alargar-se apre-
pintura propriamente dita que se encon-
de as tornar mais evidentes e pintavam- ciavelmente com novas descobertas
trava em templos e outros edifícios e
-se os fundos dos baixos-relevos, geral- na Gália Romana (Vaison-la-Romaine,
decorava os muros interiores de pórticos
mente de azul ou vermelho, para os Vienne, Lero), Suíça, Alemanha e Ingla-
das cidades e santuários, acabou toda-
fazer sobressair. Por outro lado, nas terra. Quase todas estas pinturas são
via por se perder. Como aconteceu aos
estátuas de mármore, coloriam-se os frescos, i.e., feitas sobre argamassa de
enfeites de monumentos e estátuas, de
cabelos, os olhos e os lábios, pintavam- cal fresca, que, como se sabe, não tole-
tal pintura mural e da pintura sobre pai-
-se e ornamentavam-se as vestes com ram o uso de ce rt os pigmentos como o
néis restam actualmente apenas raros
motivos decorativos e, em certas épo- realgar e o auripigmento. Em contrapar-
vestígios (figura 1). Deste modo, para se
cas, cobriam-se também os corpos com tida, permitem uma magnífica conser-
fazer uma ideia da pintura grega torna-
uma fina camada de tinta. Mesmo nas vação da camada pictural, a qual fica
-se necessário recorrer à cerâmica pin-
estátuas de bronze, que como os már- praticamente selada por debaixo duma
tada (figura 2) [1].
mores eram postas quase sempre no camada transparente de carbonato de
exterior, enriquecia-se a sua superfície O tema do presente artigo não é, contu- cálcio que se forma no momento da
com dourados e incrustações de cobre do, a estética da pintura mas sim a sua secagem. Além disso, tanto a camada
que não impediu que novos pigmentos apontou as suas aplicações de acordo
viessem pouco a pouco enriquecer a com as respectivas características. Crê-
sua paleta. Devido a limitações de espa- -se que corresponderiam a minerais à
ço, daremos destaque somente a estes base de ferro — goetite (a-Fe00H), limo-
últimos. Uma vez, porém, que sobre nite (1), ocre amarelo, terra de Úmbria e
todos eles existem informações oriun- ce rt as margas. Tais pigmentos têm sido
das de textos de autores romanos [2, 3], detectados em pinturas murais romanas
procurar-se-á em todos os casos com- [6, 9], fazendo-se a distinção entre goeti-
parar essas informações com os resulta- te e ocre amarelo com base em geral
dos das referidas análises. num critério de pureza: no caso da goe-
tite, este mineral encontra-se mais ou
menos puro, ao passo que no caso do
2. Pigmentos amarelos
ocre aparece sempre uma certa percen-
De acordo com Vitrúvio e Plínio-o-Velho, tagem de argila. As margas foram detec-
os pintores romanos dispunham de um tadas apenas numa pintura de fachada
número apreciável de pigmentos ama- em Vallon (Suíça) e, neste mesmo sítio
figura 2 Pormenor de uma pintura sobre ce- relos nomeadamente os seguintes: um arqueológico, foram encontradas tam-
râmica, assinada pelo pintor-oleiro ateniense conjunto de pigmentos agrupados sob a bém num vaso ainda por utilizar.
Exékides, do 3.° quartel do séc. VI a.C., prove-
designação de sil ou ochra (do grego), o
niente de Vulci (Etrúria). O vaso pertence ao
Museu Etrusco Gregoriano do Vaticano. sil falso e o auripigmentum. Todos eles Segundo Vitrúvio, por vezes, falsificava-
já eram conhecidos antes. -se o sil ático mediante o uso de coran-
tes de origem vegetal, o que foi confir-
Plínio classificou os primeiros em função
de argamassa como a camada pictural mado analiticamente por Augusti numa
da origem (Ática, Gália, Siros, etc.) e
podem ser alisadas, o que confere à pintura de Pompeia [9].
pintura um aspecto brilhante que, no
caso por exemplo de algumas obras de
Pompeia e Herculano, se manteve até
figura 3 Chegada de Io a Canopo Fresco de Pompeia, conservado no Museu Arqueológico
ao presente. Nacional de Nápoles.
2.1 Massicote figura 4 Amantes na cama. Pormenor de um fresco de Herculano, conseruado no Museu
Arqueológico Nacional de Nápoles.
Ao novo pigmento amarelo, descobe rt o
por Augusti [9] em Pompeia, chamam
certos autores massicote, outros litargí- 3. Pigmentos vermelhos nas tem sido confirmada analiticamente
rio, havendo ainda alguns que conside- por Augusti [9] e Béarat et al. [6].
Tanto Vitrúvio como Plínio deixaram-nos
ram que estes dois nomes são sinóni-
diversas informações sobre pigmentos A rubrica e a sinopis são produtos à
mos. Gettens e Stout [10] fizeram notar,
vermelhos. Existem, todavia, algumas base de hematite (a-Fe 2 0 3 ). Vitrúvio
porém, que eles não têm exactamente o
divergências entre os dois autores. referiu-se apenas à primeira, indicando
mesmo sentido, o qual depende da
várias proveniências em particular a
Enquanto o primeiro menciona quatro
natureza da fonte donde deriva o óxido.
cidade de Sinope, o Egipto, as Baleares
pigmentos — minium, rubrica, sandara-
Massicote é o nome geralmente usado e a ilha de Lemnos. Plínio vai mais
ca e sandaraca a rt ificial —, o segundo
para designar o monóxido de chumbo longe, reconhecendo diferentes varieda-
refere, além destes, mais cinco designa-
— Pb0 — de cor de enxofre, obtido a pa rt ir des de rubrica consoante a sua origem
damente os seguintes: ochra artificial,
do branco-de-chumbo (ver a alínea 6.5) e qualidade — sinopis, cicerculum, pres-
sandaraca falsa, sandyx, sinopis e syri-
por aquecimento a cerca de 300 °C. siore sphragis. Da variedade sinopis (de
cum. Quase todos eles são pigmentos
Sinope) distingue três espécies — verme-
Litargírio é o nome normalmente utiliza- que já eram conhecidos em épocas lha, vermelha pálida e vermelha inter-
do para designar uma mistura de óxidos anteriores. média. Por outro lado, caracteriza a
de chumbo, de que fazem parte não só variedade pressior como vermelha
Com efeito, o minium é o mineral ciná-
o Pb0 como ainda o Pb 3 0 4 (vermelho- escura, acrescentando que custava o
brio (HgS) [8] o qual, segundo Plínio, se
-de-chumbo, ver alínea 3.1) e que se mesmo que a precedente e era usada
extraía de certos jazigos em Espanha,
obtém a partir do chumbo liquefeito por para pintar as zonas inferiores dos pai-
oxidação directa. Apresenta um tom ala- Cáucaso, Etiópia, Ásia Menor e Irão.
néis. Quanto à variedade sphragis, de
ranjado, em virtude da presença de Contava-se entre os pigmentos romanos
cor parecida com a do cinábrio e prove-
Pb 3 0 4 . Desde há muito que é também mais caros, não sendo por isso de estra-
niente de Lemnos, refere que era a mais
um subproduto da refinação da prata nhar que se encontre em regra associa- apreciada e que se utilizava para aplicar
pelo processo de copelação. Plínio cha- do a decorações de alta qualidade e/ou sub-camadas de vermelho antes da
mou-lhe escória de chumbo e ainda em edifícios sumptuosos (figura 6). A aplicação do minium. As análises efec-
espuma de prata. sua presença em pinturas murais roma- tuadas a diversas amostras de rubrica
60 I QUÍMICA
H
> =c 7
CI
NH
extracção, se separa juntamente uma processos de fabricação deste pigmento Baldo, que foi detectada unicamente
quantidade variável do seu isómero indi- e indicou algumas variedades — scolex, em Avenches, Bõsingen e Vallon. Verifi-
rubina (8 2 ' 3 -biindoline-2',3-diona), tam- santerna e hieracium —, anotando que cou-se, por outro lado, a presença de
bém chamado vermelho-índigo, cuja eram aplicadas não só em pintura como mais dois pigmentos — a malaquite e o
estrutura molecular está esquematizada ainda em medicina e em metalurgia. verdigris — mas cada um deles apenas
na figura 8B. No indigo de Bengala, por numa única amostra e, no caso do ver-
Segundo Vitrúvio, a creta viridis ou terra
exemplo, a percentagem de indirubina digris, misturado com uma terra verde e
verde existia em vários lugares mas a
no produto fabricado oscila normalmen- azul egípcio. O uso da malaquite em
melhor vinha de Esmirna. Este seu
te entre 2% e 4% [19]. pinturas murais romanas foi também
apontamento é normalmente interpreta-
comprovado por Augusti [91 e Guineau
0 indigo, quando purificado, é um pro- do como querendo referir-se à celadoni-
et al. [11], e o do verdigris por Augusti
duto azul escuro (figura 8) insolúvel na te de Chipre, a qual seria exportada
[9] e Delamare etal. [21].
água, álcool, éter e ácido clorídrico. Na através do porto de Esmirna. Julga-se,
presença de álcalis, pode ser reduzido todavia, que o termo creta viridis era uti-
por diversos agentes redutores a leuco- lizado para designar rochas ricas em 6. Pigmentos brancos
Indigo (2,2'-diindoxilo), solúvel, redução quaisquer minerais argilosos verdes,
Os pigmentos brancos citados por Vitrú-
esta que constitui um passo fundamen- i.e., não só em celadonite mas também
vio foram o paraetonium, o melinum e a
tal no processo usado nas tinturarias. em glauconite, clorite, etc.. É importan-
cerussa artificial, o último dos quais cor-
Com efeito, o corante é fixado pelas te notar que Plínio se referiu ainda a um
responderia ao produto conhecido hoje
fibras têxteis na sua forma reduzida,
pelo nome de branco-de-chumbo. Plí-
sendo depois transformado em indigo,
nio menciona ainda a cerussa natural,
insolúvel, por oxidação ao ar.
que corresponderia ao mineral cerussi-
Impo rt a registar que, em 1870, Baeyer te, e diversas variedades de cré como a
na Alemanha, por iniciativa da BASF. res ser apreciável, muitos analistas per-
sistiram em atribuir esta cor apenas a
três substâncias — cal apagada, carbo-
5. Pigmentos verdes nato de cálcio e calcite. Análises poste-
ções dadas por Vitrúvio e Plínio sobre os dadosas, realizadas por Augusti [91 e
pigmentos de cor verde. De facto, figura 9 Amostra de índigo natural, da Índia. Béarat [6], vieram todavia modificar tal
binação com outros pigmentos. Trata-se ções. É de notar que nas pinturas de Raras vezes, porém, se conseguiu
porém duma hipótese, dado que a sua Avenches, caracterizadas pela riqueza detectá-los, o que tem sido atribuído à
existência só pode deduzir-se através da dos pigmentos, nenhuma cré foi detec- sua instabilidade na pintura a água e/ou
não-identificação de quaisquer outros tada em motivos brancos o que sugere na pintura exposta a gases sulfurosos [9,
pigmentos brancos [6]. que ela talvez tivesse uma cotação rela- 10]. Apesar disso, conhecem-se algu-
tivamente baixa. mas obras onde se identificou a cerussi-
6.2 Aragonite
te, como por exemplo uma pintura
A creta anulare, mencionada por Plínio, grega [22] e uma pintura de Pompeia
A aragonite é outra forma mineral de
carbonato de cálcio, seja de origem era um derivado da cré, que se prepa- [6].
sedimentar marinha, fazendo parte dos rava juntando-lhe vidro moído. Foi iden-
Tanto Vitrúvio como Plínio descreveram
esqueletos fósseis de certos animais tificada numa amostra bruta de Pom-
como se preparava o branco-de-chum-
como corais, moluscos, equinodermes, peia e, excepcionalmente, em dois
bo com base na reacção do vinagre com
etc., seja de origem hidrotermal, for- motivos brancos de Avenches [61.
o chumbo. É interessante notar que o
mando espeleolitos diversos como tra-
6.4 Dolomite processo de preparação se manteve
vertinos, estalactites, etc.. É instável nas
praticamente inalterável na sua essên-
condições termodinâmicas de superfí- A dolomite é um carbonato duplo de
cia até quase aos nossos dias, variando
cie, transformando-se, mesmo esponta- cálcio e magnésio — CaMg(CO 3 ) 2 — es-
apenas umas vezes por outras no que
neamente, em calcite. sencialmente sedimentar e diagenético,
respeita a pequenos pormenores de
que se forma pela dolomização do cal-
Tem sido o pigmento mais frequente- ordem técnica [23].
cário (substituição parcial do cálcio pelo
mente detectado em motivos brancos
magnésio sob o efeito de água salina 6.6 Diatomite
de pinturas murais romanas, encontran-
do-se por vezes misturado com pigmen- rica neste último elemento) ou por pre- A diatomite, igualmente conhecida por
tos doutras cores — vermelho, verde e cipitação directa. É também um mineral terra de infusório, terra de diatomáceas,
amarelo — muitos dos quais são pig- de origem hidrotermal. farinha fóssil, etc., é uma rocha sedi-
mentos ditos caros, como o cinábrio, a mentar leve e porosa, formada sobretu-
Segundo Béarat [6], nas pinturas
malaquite e a folha de ouro, o que leva do por restos de esqueletos de radiolá-
murais da Suíça romana este pigmento
a crer que a aragonite fosse considera- rios e diatomáceas e constituída
parece ser tão frequente como a cré.
da o pigmento branco por excelência da essencialmente por sílica amo rfa.
Em Pompeia, parece ser igualmente tão
época romana.
vulgar como a aragonite, havendo sítios Esta rocha foi detectada por Augusti [9]
É curioso notar que o cinábrio puro não em que na mesma parede se aplicaram ao analisar uma amostra de material vio-
era aplicado directamente sobre a pre- a dolomite e a aragonite. Em Avenches, leta duma pintura de Pompeia, suposto
paração mas sim sobre uma camada de estes dois pigmentos foram usados pelo ser o purpurissum referido por Plínio. O
aragonite colocada em primeiro lugar. mesmo pintor para realizar decorações mesmo investigador verificou ainda que
No caso em que a preparação era bran- contrastadas. O mesmo se verificou a diatomite se achava nesse material
ca, a camada intermédia era composta numa casa de Pompeia, onde o pintor misturada com um corante orgânico de
por uma mistura de aragonite e ciná- composição complexa, o qual corres-
que a decorou utilizou ainda a cerussite
brio. ponderia à púrpura — o ostrum de que
e a cré anular. É possível, portanto, que
fala Vitrúvio — extraída de conchas de
Segundo Béarat [6], no branco de ara- a escolha dos pigmentos brancos pelos
moluscos mediterrâneos pertencentes à
gonite observam-se muitas vezes mi- pintores romanos se baseasse em crité-
família do múrice. Assim, Augusti, tendo
núsculas conchas de moluscos, inteiras rios físicos diferentes.
em conta que Plínio mencionara a creta
ou fragmentadas consoante a granulo-
A dolomite é o pigmento branco mais argentaria ao falar da preparação de
metria do produto. Como o único pig-
correntemente utilizado para a diluição pigmentos violeta, concluiu que o men-
mento contendo conchas, citado por
do azul. cionado produto seria diatomite, que ele
Plínio, é o paraetonium, aquele investi-
desempenharia a função de fixador do
gador sugeriu que esse pigmento cor- 6.5 Branco-de- chumbo
referido corante e que, portanto, o mate-
responderia à aragonite.
Dois pigmentos brancos à base de chum- rial violeta analisado não seria um pig-
6.3 Cré bo foram citados por Plínio: a cerussa arti- mento mas sim uma laca [24].
A cré já era usada como pigmento pelos ficial, também chamada psimithium, e a
Note-se que a púrpura é talvez um dos
egípcios [8]. Na pintura mural romana, cerussa natural, as quais corresponde- corantes mais célebres em tinturaria,
pelo menos em certas regiões [6], pare- riam, como se disse já, ao actual branco- devido ao facto de os imperadores
ce ter sido muito corrente, sendo -de-chumbo e à cerussite respectivamen- romanos terem reclamado para si o uso
empregada para pintar motivos, diluir e te. O primeiro é um carbonato básico de exclusivo de vestes tingidas com ela.
preparar outras cores — azul, amarelo, chumbo —2PbCO 3 .Pb(OH) 2 — e o segundo Nero chegou mesmo a ameaçar com a
verde, rosa e cinzento — e fazer prepara- um carbonato normal — PbCO3 . pena de morte todos aqueles que não
64 I QuíMICA
onde incluiu os derivados do osso e do de Santerre, H. Le Bonniec, Paris, Les Bel- G.S. Odin, em Pigments et Colorants de
ma rfim - elephantinum - . Quanto aos les Lettres, 1983. l'Antiquité et du Moyen Age, 1987, 103.
pigmentos naturais mencionou dois, que Pline l'Ancien, Histoire Naturelle, Livre XXXV, 22. A. Wallert, Sudies in Conservation, 40/3,
trad. J.-M. Croisille, Paris, Les Belles Lettres,
foram interpretados como vitríolos (sulfa- 177.
1985.
tos) de ferro e de cobre. Nenhuma refe- 23. R.J. Gettens, H. Kühn, W.T. Chase, em
Pline l'Ancien, Histoire Naturelle, Livre
rência foi feita, porém, pelos dois autores A. Roy (Editor), Artists'Pigments: A Hand-
XXXVI, trad. R: Bloch, com. A. Rouveret,
a ce rt os pigmentos naturais já usados no book of Their History and Characteristics,
Paris, Les Belles Lettres, 1981.
passado nomeadamente a grafite, piro- vol.2, 1993, 67.
4. M. Chaptal, Annales de Chimie 70 (1809)
lusite e magnetite.
22. 24. S. Augusti, Rend. Accad. Archeologia,
Análises realizadas a 52 amostras de 5. H. Davy, Philosophical Transactions of the Napoli, XXXVI (1961) 123.
pigmentos negros colhidas em diversas Royal Society 105 (1815) 97. 25. H. Van Olphen, Science, 154 (1966)
pinturas murais, existentes nalguns 6. H. Béarat, em H. Béarat„ M. Fuchs, M. 645.
Maggetti, D. Paunier (Editores), Roman Wall
sítios arqueológicos romanos localizados
Painting: Materials, Techniques, Analysis
na Suíça, e baseadas quer na mo rfologia
and Conservation, Institute of Mineralogy
dos grãos, quer na sua composição quí-
and Petrology, Fribourg, 1997, 11.
mica e/ou mineralógica, permitiram
7. J.M.P. Cabral, Química 62 (1996) 11. Notas
identificar três espécies: a fuligem, o car-
8. J.M.P. Cabral, Química 66 (1997) 17.
vão de madeira e o negro de osso [61. (1) Mistura natural complexa de óxidos e
9. S. Augusti, / Colori Pompeiani, De Luca
Mostraram, além disso, que o pigmento hidróxidos de ferro com algum carbonato.
Editore, Roma, 1967.
mais frequentemente utilizado foi sem (2) Curiosamente, o azul maia, que de acordo
10. R.J. Gettens, G.L. Stout, Painting Mate-
dúvida a fuligem, que se apresenta com com a sugestão de Van Olphen [25] teria sido
rials a Short Encyclopaedia, Dover Publica-
grão muito fino e parece ter sido aplica- tions Inc., 1966.
produzido aquecendo uma mistura de índigo
A primeira reacção oscilante foi observada em 1917 por William Bray preto. Será apenas nos anos 60 que um outro bioquímico russo, Ana-
quando estudava a decomposição catalítica de peróxido de hidrogénio toly Zhabotinsky, levará a sério os resultados obtidos por Belousov, e
por iodato de potássio, com produção de 0 2 e 1 2 . Mais tarde, em 1951, os reproduzirá experimentalmente de forma irrefutável. A impo rt ância
ao tentar preparar um meio que mimetizasse alguns dos aspectos do desta reacção será então reconhecida, passando a dar pelo nome de
processo metabólico que dá pelo nome de glicólise, o bioquímico reacção Belousov-Zhabotinsky ou reacção BZ. Quando a reacção BZ
russo Boris Pavlovitch Belousov descobriu que, em meio ácido, a oxi- é efectuada num reactor abe rt o alimentado em contínuo as oscilações
dação de ácido malónico por bromato de potássio catalizada por iões são regulares e podem manter-se indefinidamente. Actualmente, são
cério ou ferro dá origem a uma complexa mistura reaccional, na qual cada vez mais numerosos os trabalhos publicados que demonstram a
as concentrações de reagentes e produtos oscilam no tempo. Os tra- generalidade e importância dos sistemas não lineares, em áreas cien-
balhos de Belousov não tiveram qualquer reconhecimento por pa rt e tíficas tão diversas como, por exemplo, a Biologia [1,2], Geologia [3]
da comunidade científica. Eram de tal forma inesperados, que se pre- Meteorologia [4] e Demografia [4].
A reacção de Belousov-Zhabotinsky
HBrO 2 + HBr0 2 4 Br03 + HOBr + H +
2H + + Br03 + Br - 4 HBrO 2 + HOBr
4Ce 4+ + HOBr + 3CH2(COOH)2 + BrCH(COOH)2 + 3H20 4
HBrO 2 + H + + Br - 4 2H0Br
4Ce 3+ + 2Br + 4HOCH(COOH) 2 + 6H +
3H0Br + 3CH 2 (COOH) 2 4 3BrCH(COOH) 2 + 3H 2 0
Br03 + HOCH(COOH) 2 4 3CO 2 + Br - + 2H 2 0
HBrO 2 + 3H + + Br03 + 2Ce 3+ - ) 2HBr0 2 + 2Ce 4+ + H 2 0
4Br03 + 3CH 2 (000H) 2 4 9CO 2 + 4Br + 6H 2 0
Interesse da actividade
O estudo de sistemas longe do equílibrio tem aplicações práticas em a sua racionalização podem ser dadas a um nível muito elementar,
áreas científicas tão diversas como a das Ciências Naturais, as Ciên- por exemplo quando se introduz pela primeira vez o conceito de equi-
cias Sociais, a Física e a Química. Trabalhos recentes publicados em líbrio químico e se fala do Princípio de Le Chatelier. Neste caso podem
revistas de elevado impacto científico como Science e Nature são ser exploradas as diferenças entre os dois tipos de sistema, simplici-
disso exemplo. O estudo da Dinâmica Química de sistemas longe do dade versus complexidade, reversibilidade versus irreversibilidade,
equilíbrio permite a introdução de conceitos como complexidade e
tempo monótono versus flecha do tempo. Esta actividade pode facil-
irreversabilidade que, por sua vez, permitem a compreensão da
mente ser integrada numa cadeira, seminário ou workshop de Histó-
expressão "a flecha do tempo" criada por Ilya Prigogine. São concei-
ria da Química, não só pelo aspecto unificador do pensamento como
tos intelectualmente muito estimulantes, possíveis de ser explicados
pelas histórias científicas que traz, como a do russo Belousov. Pode
com o mesmo entusiasmo a um aluno de Química, Biologia, Geologia
ou Sociologia. As reacções oscilantes são um exemplo deste tipo de também ser estudada em toda a sua complexidade numa aula práti-
sistemas. Podem ser integradas em contextos muito diversos devido à ca de cinética em Química-Física, em que se desenvolvem as equa-
sua beleza e pelo surpreendente do aparecimento de padrões com- ções cinéticas do sistema e se simulam em computador para compa-
plexos, como uma espiral, a pa rt ir do nada. As reacções oscilantes e ração com os dados obtidos experimentalmente [5].
Acerca da actividade
Para que a reacção BZ decorra sem problemas não pode ser usado casos é possível observar a formação de espirais. A estruturação
um vidro de relógio em substituição da placa de Petri e o conteúdo espacial pode durar dezenas de minutos até que, finalmente, o con-
desta não deve ser agitado. A temperatura deve ser mantida entre os traste se apaga quando os reagentes iniciais são completamente con-
15°C e os 25°C e a inexistência de iões cloreto deve ser garantida pela sumidos.
adição de Triton X ou através de outro método (AgNO 3 ).
As oscilações azuis-vermelhas observadas correspondem à oscilação
2+
Os estudantes deverão observar a formação de pontos de germinação da concentração dos complexos [Fe °1 (fen) 3 1 3+ / [Fe ° (fen) 3 ] ou seja
azuis sobre o fundo vermelho, a pa rt ir de onde se começam a formar da razão das formas [oxidada] / [reduzida].
as oscilações azuis-vermelhas que atravessam a solução. Em alguns (nota: fen = 1,10-fenantrolina)