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A atuação na construção civil traz consigo uma inevitável responsabilidade técnica e jurídica pela
obra entregue.
Para além da Norma de Desempenho, sobre a qual já falamos aqui, algo que tira o sono dos
empreendedores são os popularmente chamados vícios construtivos, ou, na linguagem técnica,
manifestações patológicas da construção.
Se você atua com construção ou incorporação, certamente já sofreu ou conhece alguém que já foi
atingido com alegações infundadas e exageradas de existência de vícios construtivos.
Essa discussão, por si só, tendo ou não o condomínio/proprietário razão, já é capaz de causar
enorme dor de cabeça e prejuízo ao empreendedor, muito pela falta de conhecimento técnico
daqueles que se aventuram nessas ações, mas, principalmente, pela carência de
regulamentação específica sobre o tema.
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19/10/2022 16:34 Vícios construtivos: estratégias de defesa para construtoras
Nesse artigo, focaremos nos vícios construtivos, que, quando de fato existentes, normalmente
decorrem do não cumprimento das normas técnicas, abordando, também, os assuntos que
orbitam esse tema, inclusive as situações que podem blindar a responsabilização dos agentes
construtivos e, claro, do proprietário.
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Vício é toda anomalia que torna o uso de determinada coisa inadequada aos fins para os
quais ela se destina.
Desse modo, quando falamos em “vícios construtivos” estamos nos remetendo às falhas,
imperfeições e deformidades que podem vir a surgir na construção.
As infiltrações, fissuras, problemas com os revestimentos e nas tubulações, são exemplos claros
de vícios construtivos que costumam sobrevir após a entrega do imóvel pela construtora/
incorporadora, à medida que a edificação vai sendo usada pelos proprietários ao longo do tempo.
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Ocorre que muitos dos problemas anunciados como “vícios construtivos”, principalmente em
ações judiciais movidas por condomínios já no limiar de expiração do prazo legal de garantia, não
são, realmente, patologias relacionadas à construção,mas efeitos naturais do decurso do tempo
e do uso do imóvel (fim da vida útil de determinando componente ou desgaste causado por fatores
externos) ou problema advindos de mau uso ou falta de manutenção preventiva adequada.
Mas como essa perícia é elaborada? Quais são os parâmetros para sua realização?
Para responder a esse questionamento, façamos uma breve análise da NBR 13.752/96.
NBR 13.752/96
A NBR 13.752/96 fixa diretrizes, conceitos e critérios para realização de perícias de engenharia na
construção civil, padronizando os procedimentos e métodos a serem adotados nessas
diligências.
Por sua vez, a perícia é uma análise técnica feita por um profissional habilitado, que no caso dos
vícios construtivos será, preferencialmente, um engenheiro civil, escolhido ou designado para
avaliar a situação de determinada edificação para esclarecer fatos, identificar causas e sugerir
soluções dentre outros.
Foge ao escopo deste artigo, todavia, a análise pormenorizada do conteúdo da NBR 13.752/96,
não só por ela um documento eminentemente técnico, voltada para profissionais de engenharia,
mas porque muitos de seus conceitos já serão explorados nos tópicos a seguir.
Tipos de vícios
Conquanto a ideia de vícios construtivos seja clara para a maioria das pessoas, mormente pelo
seu diagnóstico restrito às construções, é preciso tecer alguns comentários sobre as suas
espécies e a forma como se manifestam.
Vícios aparentes
Os vícios aparentes, como o próprio nome já diz, são aqueles que podem ser percebidos a olho
nu, sem auxílio de ferramentas ou necessidade de conhecimento técnico aprofundado, por
qualquer pessoa.
São vícios aparentes, por exemplo, uma porta sem maçaneta, um revestimento trincado ou
quebrado e a falta de uma louça sanitária.
Vícios ocultos
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Ao contrário dos vícios aparentes, os vícios ocultos são aqueles que não podem ser
constatados a olho nu,geralmente por terem sido camuflados ou por surgirem apenas após
determinado tempo de uso da coisa.
No caso desses vícios, por vezes, o diagnóstico apenas acontece por uma pessoa com formação
técnica.
São exemplos de vícios ocultos o descolamento de revestimentos por mau assentamento, uma
má projeção de um quadro elétrico e um entupimento de tubulação.
Isso porque, de acordo com a doutrina e a jurisprudência, o conceito de solidez e segurança não
se vincula apenas ao risco de ruína ou desmoronamento da edificação, mas também a todos os
defeitos que podem tornar a construção perigosa de se habitar.
O estudo das patologias construtivas, realizado por peritos e espelhados em laudos, visam a
determinar as causas e as consequências dos problemas manifestados em uma construção.
Existem quatros tipos de patologias, discriminadas na NBR 13.752/96, que são caracterizadas
especialmente pelas suas origens. São elas: i) Patologia Endógena; ii) Patologia
Funcional; iii) Patologia Natural; e a iv) Patologia Exógena.
Patologia endógena
A Patologia Endógena é derivada de falhas internas na construção, como por exemplo, utilização
de materiais inadequados ou de qualidade questionável, erros no planejamento ou execução da
obra e inobservância das normas técnicas.
Patologia funcional
Já a Patologia Funcional, é aquele problema que decorre da realização de manutenção
inadequada no imóvel, ou, em alguns casos, até a ausência dela, reduzindo o tempo de vida útil
dos sistemas construtivos.
Na grande maioria das vezes, esse tipo de patologia é gerado pelos próprios usuários (moradores
ou proprietários) que não seguem as orientações de conservação da construção, o que se deve
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Garantias da construção
Como em todo produto ou serviço, a construção de um imóvel também precisa ser assegurada
pela construtora/incorporadora quanto ao uso do bem, por determinado tempo após a entrega,
sem que nele se manifestem eventuais perturbações ou riscos de inutilização.
Em se tratando de uma edificação, a garantia é inerente à própria coisa, vez que dela se espera
uma qualidade de funcionamento e desempenho muito maior do que em relação a outros bens
e serviços consumíveis no mercado.
Frisa-se que existem dois tipos de garantia: a decorrente da lei e a decorrente do contrato.
Por certo, toda garantia só pode ser exigível caso o bem adquirido tenha sido utilizado de maneira
correta pelo consumidor (morador/proprietário) e, mais, que todos os cuidados (manutenção) que
foram orientados pelo fornecedor (construtora/incorporadora) para conservação naquele período
tenham sido seguidos.
Não havendo o uso adequado ou os cuidados necessários para conservação pelo usuário,
ocorrerá a perda da garantia.
Garantia legal
A garantia legal de qualquer obra, que não se confunde com prazos de prescrição ou
decadência, está contida no artigo 618 do Código Civil:
Embora a lei não estabeleça com clareza o marco inicial do prazo de 5 (cinco) anos, já se
consolidou há muito o entendimento de que ele passa a fluir a partir da emissão do “habite-se”
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do empreendimento, que é o atestado formal e oficial de que determinada obra foi concluída de
acordo com o projeto arquitetônico previamente aprovado.
Durante esse prazo, a empresa responsável pela edificação tem culpa presumida em relação aos
vícios de solidez e segurança, ocorrendo aqui o que chamamos de responsabilidade objetiva
pela qualidade da obra, ou seja, que independe de comprovação de culpa.
Se um vício construtivo se manifestar em tal prazo (ou seja, uma patologia endógena), sem que
sua causa possa ser atribuída à culpa exclusiva do proprietário (culpa que se observa, por
exemplo, se a ausência de realização de uma manutenção preventiva deu origem à patologia), a
construtora será inevitavelmente responsável pelo reparo.
Não há clareza na lei nem em nenhuma norma técnica, todavia, sobre uma
possível renovação do prazo quando o reparo é realizado dentro da garantia.
Parece-nos razoável supor que, a não ser que uma nova manifestação patológica
esteja diretamente relacionada com o vício original, sugerindo um reparo deficiente ou
paliativo, não há renovação do prazo de garantia original.
Afinal, isso poderia gerar uma responsabilidade eterna da construtora pela obra, o que não se
admite por lei.
Como, depois de tal prazo, não há mais garantia legal, então se um reparo feito, por exemplo, no
2º ano depois da entrega do imóvel, for suficiente para solucionar aquela patologia até o 6º ano,
eventual reaparecimento não estaria coberto pela garantia, sendo seu reparo de
responsabilidade do proprietário.
Também é comum ocorrer dúvida a respeito da natureza do prazo previsto no artigo 618 do
Código Civil, que, como já dito, é de garantia e não prescricional.
É importante que isso fique claro e que não haja confusões, tendo em vista que são coisas
absolutamente diferentes.
A garantia, nesse caso, diz respeito ao tempo que a construtora/incorporada deve resguardar a
qualidade da obra, enquanto a prescrição é o prazo que os usuários dispõem para
pleitear, judicialmente, algum tipo de indenização ou qualquer outra pretensão.
Embora o Código Civil preveja, no inciso V do § 3º do artigo 206, que é de 3 (três) anos o prazo
de prescrição para a pretensão de reparação civil (que nada mais é do que a discussão de
indenização em virtude de determinada obrigação descumprida por uma das partes), infelizmente
o entendimento já pacificado no Superior Tribunal de Justiça é no sentido de se aplicar o prazo
geral de prescrição, que é de 10 (dez) anos, para a pretensão de reparo de vícios construtivos.
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Grosso modo, a decadência, embora tenha um efeito parecido com o da prescrição, dela difere
por atingir não a pretensão (ligada ao aspecto processual, ao direito de demandar), mas o
direito em si.
É o que diz, textualmente, o parágrafo único do artigo 618, que, pela sua relevância, merece ser
novamente transcrito:
Parágrafo único. Decairá do direito assegurado neste artigo o dono da obra que não
propuser a ação contra o empreiteiro, nos cento e oitenta dias seguintes ao aparecimento
do vício ou defeito.
O que isso quer dizer? Se um vício construtivo se manifestar dentro do prazo de garantia
(por exemplo, no 3º ano de vida da construção), e o proprietário não apresentar a
ação judicial nos 180 (cento e oitenta) dias seguintes ao conhecimento do defeito, ele
perderá o próprio direito de garantia, ainda que o prazo de 5 (cinco) anos não tenha
escoado por completo.
Embora a lei seja muito clara, lamentavelmente o Poder Judiciário, na grande maioria das vezes,
simplesmente ignora a existência do parágrafo único do artigo 618 do Código Civil, condenando
construtoras e incorporadoras a reparar vícios fora da garantia ou com decadência já
implementada, de forma superficial e ilegal.
Ademais, embora o prazo de 180 (cento e oitenta) dias seja gramaticalmente decadencial, a
doutrina e a jurisprudência não o tratam dessa forma.
Por isso, o entendimento é que, mesmo transcorrido o prazo de 180 (cento e oitenta) dias do
surgimento vício, o proprietário poderá ajuizar uma ação de indenização contra a
construtora/incorporadora, sujeito à já analisada prescrição de 10 (dez) anos.
A diferença, aqui, é que, pelo menos em tese, a construtora não poderá ser condenada
à obrigação de fazer, ou seja, não terá, ela própria, que providenciar o reparo, mas poderá (e
provavelmente será) ser condenada a indenizar o proprietário pelo valor do dano.
Garantia contratual
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Por ser “complementar”, a garantia contratual não pode regular um prazo menor do que o prazo
legal, que é obrigatório e inderrogável.
Nesse contexto, as partes contratantes são livres para estipularem (excetuada a diminuição do
prazo) o que bem entenderem, pelo que será exigível apenas aquilo estabelecido na cláusula ou
em contrato específico.
São denominados “agentes construtivos” toda figura que fez parte do planejamento e da
execução das obras. Os projetistas, engenheiros, arquitetos, fabricantes de materiais,
construtoras e incorporadoras são exemplos de agentes construtivos.
Aliás, esses são os que normalmente estão envolvidos em qualquer tipo de edificação, sendo
certo que, pela sua expertise e atuação, serão responsáveis pelos erros que eventualmente
cometerem no exercício da atividade, sobretudo quanto aos vícios construtivos.
Nessa análise, é preciso entender que, por mais que muitos vícios possam decorrer de falhas não
só da construtora ou da incorporadora, perante o consumidor (usuário) ela é a responsável pela
garantia da qualidade da edificação e, por isso, pode ser demandada ainda que o erro seja, por
exemplo, do fabricante de materiais.
Assim, fica demonstrada mais uma vez a importância de se ter bons profissionais alinhados ao
seu interesse e do seu negócio, para evitar problemas futuros e, caso eles venham a aparecer,
que você possua respaldo documental e legal para elidir maiores danos.
Nessa toada, embora não tenha força de lei, a Norma de Desempenho tem o condão de
fundamentar e orientar as atribuições dos agentes e as validades da garantia, ainda mais em meio
às controvérsias judiciais.
Por sua relevância técnica, é nessa normatização que se encontra o prazo de vida útil de cada
sistema construtivo (estruturais, de pisos, vedações, de coberturas e hidrossanitários), o que, em
meio a uma ausência regulatória legal, é primordial para aferição de direitos e deveres.
Em outras palavras, sempre que houver a reclamação de algum vício construtivo por parte dos
usuários é preciso, antes de tudo, atestar se tal vício se manifestou em um sistema que ainda está
com sua vida útil em curso.
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19/10/2022 16:34 Vícios construtivos: estratégias de defesa para construtoras
Por razões óbvias, não há como assegurar o funcionamento e o desempenho de algo cujo prazo
de vida útil já se escoou, sobretudo por não haver mais a expectativa do comportamento
satisfatório do sistema construído nesse sentido.
Se, por um lado, os agentes construtivos são responsáveis por assegurar o funcionamento
adequado do imóvel, sem a aparição de vícios durante o prazo de vida útil, por outro, os
usuários são responsáveis pelo uso adequado do bem e pela realização das manutenções
preventivas para sua conservação ao longo do tempo.
Todavia, em virtude de um equivocado “senso comum”, por vezes os cuidados em relação aos
sistemas construtivos do imóvel são totalmente negligenciados.
Em tempos que se fala muito em uma verdadeira indústria de ações judiciais que tratam de vícios
construtivos, é preciso discernir o que, efetivamente, são vícios decorrentes de erros de projeto ou
execução e o que são patologias funcionais causadas pelos próprios usuários (moradores/
proprietários).
A Norma de Desempenho também prevê tais responsabilidades dos usuários, que, se não
tomadas, ensejam (ou pelo menos deveriam ensejar) na perda da garantia.
Aqui, o desafio é com relação à educação dos moradores e, sobretudo do Poder Judiciário, que,
por vezes, desconhece essa necessidade vital para a garantia do uso do imóvel livre de vícios e
perturbações.
Afinal, por maior que seja a diligência da construtora/incorporadora em executar a obra, assim
como a qualidade dos materiais empregados na construção, uma boa construção não sobrevive
com desempenho adequado se não preservada por aqueles que a usam diariamente.
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Atualmente, pode-se afirmar que em grande parte das demandas a alegação de vícios
construtivos é apenas um pretexto cuja finalidade principal é o recebimento de indenizações
em desfavor das construtoras/ incorporadoras.
Nota-se, nas incontáveis ações que surgem diariamente, que o pleito dos reclamantes quase
nunca é a correção daquele vício em específico que surgiu, o que, na construção civil, é algo
completamente natural de acontecer, mas sim a busca clara por indenizações vultosas.
Esse tipo de conduta orquestrada não é nem de longe benéfica aos próprios usuários, uma vez
que, pela crescente judicialização desse tema, as empresas e empreendedores do ramo
imobiliário precisam calcular esse tipo de risco na formação do preço dos imóveis, impactando
diretamente no bolso do consumidor, além de se blindarem previamente com assessoria jurídica
adequada, cada vez mais preparada para o combate a esse tipo de caso.
Ajustes na construção sempre existiram e sempre vão existir, justamente por se tratar de um
produto que envolve uma infinidade de materiais e serviços para a montagem do seu objeto final e
que, assim como qualquer obra humana, não é eterno.
Após a entrega do imóvel, é normal que a empresa responsável tenha que dar assistência e
efetuar algumas correções, o que é algo inerente à atividade. O próprio assentamento da
construção no solo, um movimento natural e esperado, é capaz de causar pequenas fissuras e
imperfeições.
Ademais, deve-se lembrar que a construção civil é artesanal, feita com mão de obra
predominantemente humana, pelo menos enquanto a tecnologia não permitir que máquinas façam
o trabalho.
Todavia, embora a construção civil esteja muito bem alinhada quanto aos regramentos técnicos de
qualidade e desempenho, há um desconhecimento do Judiciário sobre assuntos específicos que
precisariam ser levados em consideração na hora dos julgamentos dos vícios e que, por ausência
de requisitos legais, são absolutamente ignorados.
Nesse ponto, a legislação sobre o tema é antiga e bem econômica, inexistindo uma classificação
dos vícios construtivos de acordo com seu grau de importância, fomentando ainda mais
julgados rasos e genéricos.
Embora a solidez e a segurança sejam de extrema importância, são questões básicas diante da
infinitude de vícios que podem existir ao longo do uso do imóvel. Se pensarmos bem, vícios de
acabamento, por exemplo, não geram nenhum risco à habitabilidade do imóvel e não estão
vinculados à estrutura e solidez do bem.
Entretanto, em muitos casos as decisões consideram o mesmo prazo de 5 (cinco) anos para
quaisquer vícios, por mínimos e irrelevantes que sejam. Ignora-se tanto o prazo decadencial
quanto o manual de garantias, além do fato de determinados componentes da construção terem
vida útil bastante reduzida, como, por exemplo, os silicones aplicados na vedação das
esquadrias e os rejuntes entre pedras e cerâmicas.
Um batente da porta que está torto não pode, obviamente, ser tratado com o mesmo grau de
importância de defeitos que abalem a estrutura e a estabilidade do imóvel. São situações
completamente diferentes e assim precisam ser tratadas.
Nesse sentido, uma mudança de entendimento do Judiciário se faz necessária para que se
enfrente de forma tecnicamente correta a discussão, aplicando prazos de garantia
compatíveis com os tipos de vícios reclamados, seja por analogia ou proporcionalidade,
com base em sugestões técnicas e na vida útil do produto.
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19/10/2022 16:34 Vícios construtivos: estratégias de defesa para construtoras
A ausência de regra legislativa clara não pode servir como benefício às diversas ações que vêm
sendo ajuizadas nesse sentido, que, como dito, almejam principalmente a obtenção de dinheiro e
não dos reparos efetivos, sendo esse outro ponto que merece atenção do Poder Judiciário.
Outro ponto que precisa ser mudado é a omissão do Poder Judiciário quanto aos deveres dos
usuários do imóvel, sobretudo com a demonstração do uso adequado do bem e realizações de
manutenções preventivas, conforme orientado pela empresa responsável pela construção.
Enfim, certo é que, como um importante ramo da economia, a construção não pode ficar refém
das obscuridades que assolam esse tema.
Embora já tenhamos falado, no tópico sobre a garantia legal, da prescrição e da decadência, pela
relevância de tais institutos na discussão, a abordagem será aprofundada.
Na prescrição, há a perda da pretensão, ou seja, o direito continua existindo, você só não pode
mais exigi-lo.
Por sua vez, a decadência é a perda do próprio direito pela ausência de seu exercício em
determinado prazo.
Nesse caso, por mais que a maioria das ações judiciais que envolvem vícios construtivos almejem
unicamente o pagamento de indenizações, e não de reparos ou qualquer outra solução fática do
problema, é de se ponderar os diversos tipos de pedidos e os prazos (prescricionais e
decadenciais) que os envolvem.
Há uma mistura de aplicações, nesse sentido, dos prazos previstos tanto na legislação civil,
quanto na consumerista, trazendo diversas possibilidades e correntes interpretativas, a depender
da relação entre as partes.
Veja-se as possibilidades:
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Esses quadros explicativos foram espelhados na doutrina de Carlos Del Mar Pinto, intitulado
“Direito na Construção Civil” (Editora Pini, 2015, p. 304 e 305).
Como se vê, os prazos são diferentes a depender dos vícios e da forma como se
manifestam.
Com base em tudo o que foi exposto nesse artigo, fica clara a nebulosidade que ainda circunda os
vícios construtivos, mormente por estarmos diante de um Poder Judiciário que ignora a obrigação
legal e contratual dos usuários de realizar as manutenções preventivas do bem imóvel.
É muito difícil para alguns, nesse cenário, informar e demonstrar que a inobservância do dever
dos usuários quanto às manutenções regulares causa uma degradação e uma queda na vida útil
da construção.
Todavia, certo é que algumas medidas podem ser adotadas para mitigar esses riscos.
Além de todo o dever de aplicação das normas, execução correta da obra e fornecimento das
orientações, os laudos periciais também exercem hoje um papel fundamental nessa blindagem
jurídica sobre o surgimento de eventuais vícios construtivos.
É por meio dos laudos que o construtor/incorporador buscará subsídios para demonstrar que a
sua função foi realizada de forma correta.
Uma questão fundamental, por exemplo, é realizar, antes do início das obras, um relatório de
vistoria de vizinhança ao entorno da construção, justamente para se resguardar de qualquer
reclamação posterior sobre vícios que já subsistiam naquela unidade (a chamada “vistoria
cautelar”).
Outro laudo imprescindível é o de conclusão de obra, que servirá para demonstrar que todas
as características dos sistemas construtivos da edificação estão regulares no momento da sua
entrega.
A produção desse laudo é hábil a demonstrar que o construtor não “fecha os olhos” após a
entrega da obra, deixando claro a sua ciência sobre a sua responsabilidade de prestar assistência
àquele condomínio ou edificação durante determinado período.
A elaboração de tais laudos, somada a uma boa execução da obra e uma consultoria
jurídica especializada, criam uma base documental e argumentativa muito sólida para a
construtora/ incorporadora, que terá um poder muito maior de esclarecimento dos fatos ao
Poder Judiciário, diminuindo os riscos de uma responsabilização injusta.
Ademais, esse tipo de ação também serve como medidor de alerta para os usuários (síndicos,
moradores etc.) sobre o que precisa ser feito, e acaba por servir como um instrumento
que promove a educação nesse sentido.
Isso, além da redução dos riscos, também diminui os gastos que seriam despendidos em eventual
lide e, sobretudo, mantém o bom nome da empresa no mercado.
Conclusão
Vício construtivo ainda é um tema bastante carente de regulamentações legislativas, o que gera
uma constante divergência de entendimentos do Poder Judiciário no julgamento de tais
demandas.
O que está ao alcance das construtoras e incorporadoras, podendo ser feito com uma mínima
gestão pós-obra, é exigir que tanto o condomínio quanto os proprietários de unidades autônomas
cumpram o plano de manutenção preventiva.
Essa cobrança pode ser feita, por exemplo, com o envio períodico de notificações extrajudiciais.
O trabalho também perpassa por uma mudança cultural sobre o modo que se enxerga um imóvel
e as considerações de todas as variáveis que orbitam uma construção, que invariavelmente
precisará de ajustes após a sua entrega, o que não significa que a construtora/ incorporadora será
responsável.
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