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2 CICLOS OPERATIVOS DOS MOTORES OTTO E DIESEL

Ao final desta unidade de ensino o aluno deverá ser capaz de:

explicar o princípio de funcionamento do motor Otto de quatro


tempos;
descrever o funcionamento do motor Otto de dois tempos;
explicar o princípio de funcionamento do motor diesel de quatro
tempos; e
descrever o funcionamento do motor diesel de dois tempos.

2.1 Princípio de funcionamento do motor Otto de 4 tempos


A palavra ciclo deve ser entendida como o conjunto de transformações que se
sucedem na mesma ordem, obedecendo a uma lei periódica. No interior de cada
cilindro do motor, ocorre a evolução da massa de ar e gases da queima do
combustível, com variações de volume, pressão e temperatura. Assim, com o motor em
funcionamento, ele realiza um ciclo atrás do outro em cada cilindro. Logicamente,
quanto maior for a velocidade do motor, maior será o número de ciclos realizados num
determinado tempo.
O Ciclo Otto, que como sabemos é o ciclo do motor de inflamação por
centelha, teve sua origem nos trabalhos publicados por Beau de Rochas. Todavia, o
primeiro motor funcionando segundo esse ciclo foi construído em 1862. Do ponto de
vista termodinâmico, a principal característica do ciclo Otto teórico é que a combustão
se processa a volume constante.
Mas antes da descrição do ciclo de funcionamento do motor Otto de 4 tempos,
devemos entender que, sendo uma máquina alternativa de combustão interna, o
êmbolo efetua um movimento retilíneo alternado no interior do cilindro, parando sempre
em dois pontos extremos para inverter seu movimento. São os chamados pontos
mortos. Assim, para facilitar a compreensão do funcionamento do motor podemos
adiantar que:
O PMS, ou ponto morto superior, é a posição extrema que o êmbolo
alcança no interior do cilindro mais próxima do cabeçote. Por sua
vez, o PMI, ou ponto morto inferior, é a posição extrema que o
êmbolo alcança no interior do cilindro, mais afastada da tampa ou
cabeçote do cilindro. Por outro lado, o caminho que o êmbolo
percorre entre esses dois pontos mortos denomina-se curso do
êmbolo.

Passemos agora à descrição do ciclo de funcionamento do motor otto de 4


tempos atentando para a figura 2.1.

Figura 2.1 - Ciclo operativo do motor otto de 4 tempos.

Aspiração nesse primeiro curso, com a válvula de aspiração abrindo, o


êmbolo desloca-se do seu ponto morto superior (PMS) para o seu ponto morto inferior
(PMI), aspirando a mistura de ar e combustível.

Compressão no curso de compressão, o êmbolo desloca-se do PMI para o


PMS. Pouco depois do início desse curso, a válvula de aspiração fecha e o êmbolo
começa a comprimir a mistura de ar e combustível no cilindro. O volume da carga fica
reduzido a uma fração do volume que havia no princípio do curso. Esta fração é a
inversa da taxa de compressão.

Explosão e expansão no final do curso de compressão, uma centelha


elétrica é deflagrada pela vela de ignição no interior da câmara de combustão dando
início à queima da mistura comprimida. Então a temperatura dos gases cresce
rapidamente, aumentando a pressão no interior da câmara. A força expansiva dos
gases em expansão empurra energicamente o êmbolo para baixo, rumo ao seu PMI. É
o chamado tempo de trabalho útil.
Descarga um pouco antes de o êmbolo atingir o PMI, a válvula de descarga
abre e, por efeito da pressão nos gases, uma boa parte dele é evacuada
espontaneamente. Finalmente, com o deslocamento do êmbolo do PMI para o PMS, os
gases restantes são descarregados para a atmosfera.

2.2 Princípio de funcionamento do motor Otto de 2 tempos


A figura 2.2 refere-se ao ciclo do motor Otto com compressão no cárter. O
referido motor é dotado de janelas de admissão e janelas de descarga ao invés de
válvulas, e seu funcionamento resume-se no seguinte:

Figura 2.2 Ciclo operativo do motor Otto de 2 tempos.


Fonte: adaptado de HTTP:// upload.wikimedia.org/wikimedia.com. Acesso em maio/2010.

1º Tempo Próximo do seu PMI, as janelas de descarga e de admissão são


abertas e a mistura de ar e combustível comprimida no cárter penetra no cilindro
realizando as fases de lavagem e carga. Assim que o êmbolo cobre as janelas de
admissão e de descarga começa a fase de compressão. Observa-se que nesse
movimento do êmbolo em direção ao seu PMS a sua parte inferior atua como o de uma
bomba alternativa e aspira a mistura de ar e combustível para o interior do cárter.

2º Tempo Próximo do PMS, uma centelha elétrica é deflagrada entre os


eletrodos da vela, inflamando a mistura de ar e combustível, originando um aumento de
pressão. A força dos gases em expansão empurra energicamente o êmbolo para baixo.
A mistura de ar e combustível, anteriormente admitida no cárter, é então comprimida
pela parte inferior do êmbolo. Antes de chegar ao seu PMI, o êmbolo descobre as
janelas de descarga fazendo com que a maior parte dos gases deixe o cilindro por
causa da diferença de pressão. Continuando seu caminho em direção ao PMI, o
êmbolo descobre as janelas de admissão e a mistura comprimida no cárter passa para
o interior do cilindro para realizar outra vez a lavagem e a carga do cilindro.
2.3 Princípio de funcionamento do motor Diesel de 4 tempos

Figura 2.3 Ciclo operativo do motor diesel de 4 tempos.

A figura 2.3 mostra os quatro cursos do ciclo que são: aspiração, compressão,
expansão e descarga, sendo que entre o de compressão e o de expansão ocorre a
injeção e queima do combustível misturado com o ar. Vejamos então a descrição
completa do ciclo.

Aspiração nesse primeiro curso, com a válvula de aspiração abrindo, o


êmbolo desloca-se do seu ponto morto superior (PMS) para o seu ponto morto inferior
(PMI), aspirando somente ar.

Compressão no curso de compressão, o êmbolo desloca-se do PMI para o


PMS. Pouco depois do início desse curso, a válvula de aspiração fecha e o êmbolo
começa a comprimir o ar no cilindro. Devido à forte compressão, o ar sofre um grande
aumento de temperatura e pouco antes de atingir o seu PMS começa a fase de injeção
e queima do combustível.

Expansão a força expansiva dos gases da combustão empurra fortemente o


êmbolo para baixo em direção ao seu PMI. É o chamado tempo de expansão, ou de
trabalho útil.

Descarga um pouco antes de o êmbolo atingir o PMI, a válvula de descarga


abre e, por efeito da pressão nos gases, uma boa parte dele é evacuada
espontaneamente. Finalmente, com o deslocamento do êmbolo do PMI para o PMS, os
gases restantes são descarregados para a atmosfera.

No motor diesel de quatro tempos, o êmbolo efetua quatro cursos


para a realização do ciclo, o que equivale a dois giros completos
(720º) do eixo de manivelas.
2.4 Princípio de funcionamento do motor Diesel de 2 tempos
Em todos os motores diesel de 2 tempos, o ar é previamente comprimido antes
de ser admitido no cilindro. Vários são os métodos utilizados para elevar a pressão
desse ar de alimentação. Entretanto, o método mais moderno e eficaz é o que utiliza
uma unidade turbocompressora, que será estudada mais adiante.
Do ponto de vista construtivo, os motores diesel de dois tempos podem se
apresentar com janelas de admissão e janelas de descarga, ou com janelas de
admissão e válvula de descarga na cabeça. O primeiro deles, apesar de estar caindo
em desuso, ainda é bastante encontrado nos navios mercantes mais antigos. Por isso
mesmo, vejamos o seu princípio de funcionamento atentando para as figuras 2.4 A, B e
C.
Como indica a figura 2.4 A, deslocando-se do PMI para o PMS o êmbolo cobre
primeiramente as janelas de admissão (figura 2.4 B), interrompendo o suprimento de ar
para o cilindro. Entretanto, continua saindo ar pelas janelas de descarga, que ainda se
encontram abertas como indica a figura 2.4 C.

Figura 2.4 Ciclo operativo do motor diesel de 2 tempos com janelas de descarga.
Fonte: DPC. Noções Gerais de Máquinas. EACF. Rio de Janeiro, RJ: 2008.

Prosseguindo o seu caminho em direção ao PMS, o êmbolo cobre as janelas de


descarga, como indica a figura 2.4 C, iniciando dessa maneira a fase de compressão.
Em seu movimento para cima o êmbolo, comprime cada vez mais o ar, até que próximo
do PMS o combustível é injetado, inflamando-se por causa da elevada temperatura do
ar. A força expansiva dos gases empurra então o êmbolo para baixo. Antes de chegar
ao PMI, o êmbolo descobre as janelas de descarga como mostra a figura 2.4. D e, em
virtude da considerável pressão ainda reinante nos gases, a maior parte é
descarregada para o exterior. Continuando o seu caminho para baixo, o êmbolo
descobre as janelas de admissão permitindo que o ar fresco seja admitido no cilindro
para realizar a lavagem e a carga do mesmo, conforme indica a figura 2.4 A.
Atentando agora para a figura 2.5 A, B e C, vejamos o ciclo diesel de dois
tempos realizado por um motor dotado de janelas de admissão e válvula de descarga
na cabeça.
Com o êmbolo no seu PMI e com as janelas de admissão e a válvula de
descarga abertas, (figura 2.5 A), o ar sob pressão é admitido no cilindro realizando a
lavagem e a carga.

Figura 2.5 Fases do ciclo operativo do motor de 2 tempos com válvula de descarga na cabeça.
Fonte: adaptado de Seagull - Computer Training Module Norway.

Com a subida do êmbolo (figura 2.5 B) e após o fechamento das janelas de


admissão e da válvula de descarga, inicia-se a compressão do ar. Um pouco antes de
o êmbolo atingir o PMS, o combustível é injetado, ocorrendo a combustão. A força dos
gases da combustão (figura 2.5 C) empurra o êmbolo para baixo realizando o tempo de
expansão. Um pouco antes de chegar ao PMI, a válvula de descarga abre e os gases
que já trabalharam começam a sair espontaneamente. Continuando seu caminho até o
PMI, o êmbolo descobre as janelas de admissão e a carga de ar fresco é admitida no
cilindro para fazer a lavagem e a carga do mesmo. Este é, sem dúvida alguma, o ciclo
de funcionamento dos motores de propulsão utilizados nos navios mercantes de médio
e grande porte da atualidade.

O ciclo do motor diesel de dois tempos é realizado em apenas dois


cursos do êmbolo e, portanto, uma volta completa (360º) do eixo de
manivelas.

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