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ULBRA - Motores de Combustão Interna – Prof.

Luiz Carlos Gertz

Sincronismo do Motor de Combustão Interna


Giuliano Massarani

1 – FUNCIONAMENTO DE UM MOTOR À A válvula de admissão está interligada ao


COMBUSTÃO INTERNA coletor de admissão, que por sua vez, aloja o carburador
ou corpo de borboleta (sistema de injeção eletrônica).
Um motor de combustão é uma máquina, capaz de A válvula de escape está interligada ao coletor
transformar a energia química do combustível em trabalho. de escape e ao escapamento.
Os motores podem trabalhar segundo dois ciclos: Para que sejam efetuados os quatro tempos do
mecânicos e térmicos. motor, são necessários duas voltas da árvore de
Os ciclos mecânicos podem ser de dois ou quatro manivelas e quatro cursos do êmbolo.
tempos, onde, cada tempo equivale a meia volta da árvore de 1 tempo = 1 curso do êmbolo = 1/2 volta da árvore de
manivelas ou 180 graus de giro. Nos ciclos mecânicos são manivelas ou 180 graus de giro.
estudados os movimentos mecânicos das peças móveis do Portanto:
motor e seu posicionamento, como: válvulas de admissão e 4 tempos = 4 cursos do êmbolo = 2 voltas da
escape, árvore de manivelas e os êmbolos (pistões). árvore de manivelas ou 720 graus de giro
Nos ciclos térmicos analisa-se a transformação da Durante o funcionamento, o motor exerce
energia química em calor e sua preparação, não importando quatro funções importantíssimas que são: admissão,
a posição das peças móveis, apenas. Neste trabalho o objeto compressão, combustão-expansão e escape.
é apresentar o funcionamento dos ciclos mecânicos a quatro
tempos. 1.1 Primeiro tempo – admissão
Num motor de combustão interna existem peças
fixas (cabeçote, bloco de cilindros, cilindros, carter, etc) e O êmbolo, partindo do PMS para o PMI
peças móveis (êmbolo, biela, árvore de manivelas) além do (movimento descendente) gera uma diminuição de
mecanismo de distribuição mecânica (árvore de comando, pressão. A pressão externa mais elevada empurra a
válvulas, etc), que são responsáveis pelo sincronismo do mistura ar combustível para o interior do cilindro. Neste
motor. instante a válvula de admissão esta aberta e a de escape
fechada.
Na figura 1.2, pode-se ver o ar penetrando pelo
coletor de admissão e a válvula de injeção pulverizando
o combustível na massa de ar. A válvula de admissão
permanece aberta durante todo o curso descendente do
êmbolo. Quanto o êmbolo atingir o PMI, foi realizado
um curso (e meia volta da árvore de manivelas), ou seja,
um tempo.

Figura 1.1. Corte de um motor 4 tempos

Êmbolos: São peças móveis que se deslocam dentro dos


cilindros do motor. Cada movimento do êmbolo, de um
extremo ao outro, é denominado curso. Os pontos extremos
(alto e baixo) são chamados de PMS (Ponto Morto Superior)
e PMI (Ponto Morto Inferior).
Árvore de manivelas: Também chamado de virabrequim ou
girabrequim, tem por função, transformar os movimentos
alternados dos pistões em movimentos circulares contínuos.
A haste de ligação entre o êmbolo e a árvore de Figura 1.2: Admissão
manivelas é chamada de biela.
Os êmbolos trabalham dentro dos cilindros, que na
maior parte dos motores estão alojados em um bloco, 1.2 Segundo tempo – compressão
denominado "bloco de cilindros".
Na parte superior do motor, no cabeçote encontram- No segundo tempo, o êmbolo partirá do PMI
se as válvulas de admissão e de escape. Num motor a quatro para o PMS (movimento ascendente). As válvulas de
tempos, há no mínimo duas válvulas por cilindro. Neste admissão e escape ficam fechadas. Desta forma a mistura
caso, um motor de quatro cilindros possui oito válvulas. ar/combustível é comprimida pelo êmbolo no interior do
cilindro.

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Para um motor a gasolina, essa compressão fará


com que o volume fique 8 a 10 vezes menor que o seu
volume na admissão.

Figura 1.5: Escape

2 PARTES DO MOTOR

Figura 1.3: Compressão O motor é constituído basicamente por duas


grandes partes: a inferior, que contém o conjunto da
árvore de manivelas, pistões, bielas e carter, é conhecida
1.3 Terceiro tempo – combustão e expansão como bloco.
A parte superior é o cabeçote do motor, ou
No final do segundo tempo, através do sistema de cabeçote de cilindros, onde normalmente encontramos as
ignição, é produzida uma centelha elétrica pelos eletrodos válvulas e o comando de válvulas (existem motores nos
da vela. Com isso, inicia-se o processo de combustão dos quais o comando de válvulas fica localizado no bloco).
gases. Com a combustão ocorrerá o aumente de temperatura
e conseqüentemente o aumento da pressão no interior do 2.1 O Bloco
cilindro, provocando a impulsão do êmbolo novamente para O bloco de cilindros é uma peça única de ferro
o PMI. fundido ou alumínio. Normalmente, ele é a maior e mais
Durante todo o tempo de combustão, as duas intrincada peça de todo o automóvel. Sua função
válvulas se manterão fechadas. O terceiro tempo também principal é formar a estrutura do motor. Quase todos os
pode ser chamado de tempo motor, pois, é o único que componentes do motor estão fixados nele, direta e
realiza trabalho. indiretamente. No bloco encontramos os alojamentos
tubulares (cilindros) para o funcionamento dos pistões,
condutos para circulação e resfriamento da água e os
condutos para o óleo lubrificante. Na sua parte inferior,
encontramos o Carter ou depósito do óleo lubrificante. O
Bloco é normalmente construído de metais (acima
citados), de alta resistência mecânica, pois devem
suportar os fortes efeitos de torção e flexão, gerados pelo
funcionamento do motor.
Atualmente existem blocos construídos com outros
materiais, como plástico e até cerâmica, com alta rigidez
estrutural e sempre buscando a redução de massa do
motor.

Figura 1.4: Explosão e Expansão

1.4 Quarto tempo – escape

Ao atingir o PMI, a válvula de escape começará a


abrir-se e o êmbolo voltará para o PMS. Com isso, os gases
queimados poderão sair do cilindro, sendo capturados pelo
coletor de escape.
No quarto tempo, somente a válvula de escape
ficará aberta. Quando o êmbolo atingir o PMS, a válvula de
escape estará fechada e a de admissão iniciará sua abertura.
A partir daí o que ocorre é uma repetição e um novo ciclo se
iniciará.
Figura 2.1: Bloco.
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2.2- Êmbolos, Bielas e Árvores de Manivela 2.2.3- Árvore de Manivelas ou Virabrequim


Pistões, bielas e árvore de manivelas são as partes Através da ação das bielas, transforma o
móveis no interior do bloco de cilindros. movimento alternativo de pistões em movimento
rotativo, gerando o torque do motor (que é transmitido às
2.2.1- Êmbolos rodas por meio do sistema de transmissão).
Os pistões têm a função de transformar a energia Normalmente é uma peça construída em aço forjado ou
térmica gerada pela queima da mistura ar/combustível em ferro fundido. O virabrequim pode ser dividido em três
energia cinética que faz girar o virabrequim. Também têm a partes básicas: mancais de apoio, mancais das bielas e
função de comprimir a mistura. Têm formato cilíndrico e se contra-pesos. No caso dos motores de quatro cilindros,
movimentam para cima e para baixo dentro dos cilindros, normalmente existem 4 mancais das bielas e 5 mancais
onde alojam-se com uma folga calibrada que permite seu de apoio, sendo dois nas extremidades e três
movimento. Normalmente são peças feitas de alumínio internamente. Estes têm a importante função de impedir
fundido ou forjado, pois este material, além de ser leve, é que eixo sofra empenamento. De fato, o virabrequim
excelente condutor de calor. Possuem ranhuras próximas do funciona como manivela, apoiada pelas duas
topo, onde estão encaixados normalmente três anéis: de extremidades. Quando os pistões não fornecem qualquer
vedação, raspador e coletor de óleo. A sua parte superior, é impulso motor (por exemplo, nos "tempos mortos" de
também conhecida como cabeça do êmbolo e pode ser ciclo do quatro tempos), é o volante, que já adquiriu
plana, convexa, côncava em um dos muitos tipos, com previamente movimento de rotação, que restitui uma
desenhos para promover a adequada turbulência da mistura parte dessa energia, para que o virabrequim continue
ar-combustível com o objetivo de melhorar a qualidade da girando com uniformidade. É apoiado no bloco do motor
mistura e da combustão. pelas extremidades, ou coxins. Nas "curvas" do
virabrequim, existem pequenos eixos, chamados pinos
2.2.2- Bielas das manivelas, onde se articulam os “pés” das bielas.
As bielas ligam os pistões ao virabrequim e Normalmente, cada biela é articulada em um pino, mas
transformam o movimento linear dos pistões (subida e no caso dos motores em V, articulam-se duas em cada
descida) em movimento rotativo no virabrequim. Estão pino. Para se evitar as vibrações de torção, o virabrequim
ligadas na sua parte superior ao êmbolo, através de pinos, pode ser apoiado em outros pontos intermediários, e não
possibilitando o movimento relativo entre eles. Na parte apenas nas extremidades; e quando o motor possui
inferior, as bielas estão ligadas diretamente ao virabrequim muitos cilindros, não bastam esses apoios intermediários.
através de mancais, dotados de elementos de desgaste É preciso usar-se um amortecedor especial, constituído
chamados bronzinas. As bielas são feitas, em sua maioria, de por pequenos volantes, para absorver as vibrações do
aço forjado de alta resistência. Em uma das extremidades da movimento. Esses volantes do amortecedor neutralizam
árvore de manivela nós vamos encontrar o volante do motor, as forças da inércia com outras, de intensidade igual, que
que dá uniformidade e inércia aos impulsos motores de cada lhes são opostas. Os volantes funcionam assim: um,
cilindro movido pelos pistões. comandado pelo virabrequim, arrasta o outro por fricção;
quando se produz uma brusca variação de movimento, o
segundo volante pode, por inércia, sofrer um ligeiro
deslocamento angular em relação ao primeiro, o que é
suficiente para impedir as vibrações de torção que
possam provocar uma oscilação perigosa do
virabrequim. Além de transmitir o movimento às rodas,
o virabrequim fornece movimento à quase todos os
órgãos anexos ao motor: bomba de gasolina, dínamo,
distribuidor, ventilador, etc.

Figura 2.3: Virabrequim.

2.3- O Cabeçote
O cabeçote tem a função de cobrir os pistões e
vedá-los. Geralmente é de metal (ferro fundido ou
alumínio) fixado por parafusos sobre o bloco. É nele que
encontramos, dentre outros itens, as câmaras de
combustão, as velas e as válvulas. Entre ele e o bloco
existe a junta do cabeçote, responsável por manter a
Figura 2.2: Êmbolo, Biela,Virabrequim. vedação do conjunto e evitar perda de compressão.
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dois tempos, geralmente, não utilizam válvulas para


controlar o fluxo dos gases, mas sim janelas que abrem e
fecham de acordo com a posição do êmbolo. Neste caso
o êmbolo possui orifícios que, dependendo de sua
posição durante o curso entre o ponto morto superior e
inferior, coincidem com outros orifícios localizados no
cilindro. Esta justaposição permite a passagem dos gases.
Em um motor que gira a 4.000 rpm as válvulas
só se abrem durante um centésimo de segundo. Para que
isto ocorra as válvulas são empurradas por cames, que
são movidos pelo virabrequim; para retornar a posição
inicial, fechada, as molas são pressionadas por molas.

3.2- Comando de Válvulas


Figura 2.4: Cabeçote A função do comando de válvulas controlar a
abertura e o fechamento das válvulas, garantindo que
2.4- Câmara de Combustão ocorram no momento adequado. O comando de válvulas
Na câmara de combustão ocorre queima da mistura é um eixo com cames, movido pelo virabrequim, através
ar combustível. Localiza-se na parte superior do cilindro e de uma correia, corrente ou engrenagem. O eixo pode
compreende o volume entre a posição mais alta do êmbolo acionar as válvulas diretamente, no caso de comando no
(PMS - ponto morto superior) e o cabeçote. A forma mais cabeçote (OHC) ou indiretamente através de varetas,
comum da câmara de combustão é a hemisférica. quando o comando se localiza no bloco (OHV). O
comando dá meia volta para cada volta completa do
virabrequim. Ele está apoiado, geralmente, por mancais.
No virabrequim existe um volante, que acumula
energia durante o ciclo motor, que é utilizada para
conservar o movimento do sistema durante os outros três
tempos. A árvore de comando abre e fecha as válvulas.
Os comandos de válvulas podem ser
basicamente de 3 tipos:
Figura 2.5: Êmbolo no PMS e
câmara de combustão.
3.2.1- Comando de válvulas no bloco OHV (overhead
2.5- Velas de Ignição valve)
No comando de válvulas no bloco as válvulas
A vela é um dispositivo alojado na câmara de combustão são montadas no cabeçote, sobre a câmara de combustão,
(cabeçote) de um motor, sendo responsável pela ignição da enquanto que o eixo-comando está no bloco e aciona as
mistura ar-combustível. De um modo geral, existe 1 vela válvulas por meio de varetas. Este foi o tipo de comando
para cada cilindro. O processo se inicia na bobina de mais largamente usado nos motores por ter um
ignição: um transformador elétrico que aumenta a tensão funcionamento mais simples e pela proximidade do
normal do sistema elétrico do veículo de 12 volts para virabrequim. O acionamento do comando pode ser feito
tensões aproximadas de 20.000 volts que, quando aplicada à por corrente ou engrenagem.
vela, gera uma centelha capaz de percorrer o ar através da Ainda é usado, por exemplo, no Endura E de 1 e
abertura calibrada entre os eletrodos. 1,3 litro dos Ford Ka, Fiesta e Courier, bem como em
muitos motores norte-americanos atuais como os V6 de
Chevrolet Blazer/S10 e Ford Explorer/Ranger.

Figura 2.6: Vela

3 – SINCRONISMO DO MOTOR

3.1- Válvulas
As válvulas são dispositivos, normalmente
fabricados com ligas de aço de alta resistência mecânica que
controlam a entrada da mistura ar-combustível e saída dos
gases queimados. As válvulas de admissão liberam a entrada
da mistura nova e as válvulas de escape permitem a saída
dos gases queimados pelo coletor de exaustão. Em um motor
de quatro tempos, cada cilindro tem, no mínimo, uma Figura 3.1: Comando de válvulas no bloco (OHV).
válvula de admissão e uma válvula de escape. Já os motores
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3.2 Comando de válvulas no cabeçote - OHC (overhead 3.4 Comando Roletado


camshaft) No comando roletado o acionamento dos
A árvore de comando é montada sobre o cabeçote e balancins é feito de forma indireta, por meio de roletes.
aciona as válvulas sem o intermédio das varetas. A Podemos observar na figura 3.4 que o sistema não trouxe
vantagem deste tipo de comando é a eliminação das varetas muitas mudanças em relação ao convencional. Houve
e balancins, sujeitas a folgas e deformações. Outra vantagem apenas a adição de uma roldana no balancim, assim, o
é a diminuição da massa deste sistema o que permite que o câme ou ressalto do comando pressiona a roldana, que
motor trabalhe em rotações mais elevadas. Desse modo, no gira livre. Esta por sua vez, aciona o balancim que
tipo OHC, o comando atua diretamente sobre o balancim e pressiona as molas para que se abram. Neste caso o atrito
os tuchos. entre ressalto do comando e o tucho é menor que no
Para um ajuste automático das folgas das válvulas, sistema convencional. Outra vantagem é que este
podemos adotar os tuchos hidráulicos que, ao contrário dos rolamento permite que o came seja confeccionado com
mecânicos, não exigem uma regulagem periódica das perfil mais acentuado, gerando mair aceleração, tendo
folgas. Este tipo de comando já era usado desde 1898 e como resultado a otimização da abertura das válvulas.
pode ser utilizado em qualquer motor, independente do tipo Ou seja, mais torque e potência.
de comando.

Figura 3.4: Comando Roletado

3.5 Motores Multiválvulas


Nos motores convencionais, temos duas
válvulas para cada cilindro do motor, uma válvula de
admissão e uma de escapamento. Quando o motor
Figura 3.2: Comando de válvulas no cabeçote (OHC). admite o ar junto com o combustível pela válvula de
admissão e expele os gases queimados pela válvula de
descarga.
3.3 Comando duplo de válvulas (DOHC - double Para que o motor aspire mais e melhor
overhead camshaft) adicionamos mais uma válvula de admissão (e outra de
Os comandos do tipo DOHC têm a mesma escape) à cada cilindro. Existem outras variações de
configuração do tipo de comandos OHC, porém, são dois motores multiválvulas como, por exemplo, os motores
eixos de comando, dispostos paralelamente sobre o com 5 válvulas por cilindro, sendo 3 de admissão e 2 de
cabeçote. De um modo geral, este tipo de comando é escapamento.
utilizado nos motores com mais de duas válvulas por
cilindro. Desta forma, utiliza-se um eixo para acionar as
válvulas de admissão e o outro para as válvulas de escape. É
importante observar que, embora seja comum empregá-los
em conjunto, o duplo comando e o cabeçote multiválvula
são soluções independentes. Há motores de duplo comando
e duas válvulas por cilindro como o do Tempra 8V e o do
antigo Alfa Romeo 2300, bem como motores multiválvula
de comando único, caso do Honda Accord.

Figura 3.5: Cilindro com duas válvulas de


admissão e duas de escape.

REFERÊNCIAS
OBERT - Motores de Combustão Interna, Ed Globo,
1977.
OLIVEIRA, Paulo,
http://geocities.yahoo.com.br/prcoliveira2000/motor
esaexplosao.htm, acessado em 15/05/2004.
Milani, Marcos,
http://www.webmecanica.hpg.ig.com.br/motor.html,
acessado em 23/05/2004.
Webmecauto,
http://www.webmecauto.com.br/comofunciona/cf08
Figura 3.3: Duplo-Comando de válvulas (DOHC). _01motor.asp, acessado em 15/06/2004

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