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UNIVERSIDADE DE LISBOA

Guia de manuseio à cannabis: o processo de extração via solvente.

Mahammad Ali et Jahrastakari

MAIO, 2017

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UNIVERSIDADE DE LISBOA

Guia de Manuseio a Cannabis: o processo de extração via solvente.

Mahammad Ali et Jahrastakari

“Eu só acredito em Deus e no dinheiro. “


Moradora da cracolândia em São Paulo

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1. Introdução

O uso, abuso, sugestão ou contribuição destas técnicas para a comercialização,

distribuição, doação e fornecimento de substância ilícita na legislação vigente do

país é considerado ilegal e imprudente. Todo o conhecimento oferecido aqui é

unicamente para fins acadêmicos e de fonte para inspiração na medicina.

O processo de extração de óleo essenciais advindos de cannabis está na cultura

da humanidade há séculos. Podemos citar processos que foram passados de

geração a geração por uma hereditariedade de técnicas e manuseios para extrair o

quê se deseja da erva marijuana. Podemos citar alguns haxixes que estão na história

de uma sociedade: pólen marroquino, resina afegã, incenso hindu, charas indiano,

cera nepalina e até mesmo haxixes tibetanos utilizados por monges.

Portanto, o conceito simplificado de extração da resina da cannabis nada mais é

que o processo físico ou químico em que se obtém, como resultado final, uma

solução, cera, material orgânico que contenha alto teor de Δ9-tetra-hidrocanabinol

(delta-9-tetra-hidrocanabinol), o THC. Tendo em vistas estas condições já bem

aceita e difundidas entre os extratores de resina, podemos agora prosseguir com

um pouco mais de conceitos a facilitar sua compreensão acerca do assunto.

1.1. Conceitos básicos da molécula

Antes de qualquer explicação é necessário ter em mente informações

importantes a respeito da molécula de THC. A primeira dela, é a sua estrutura. Os

efeitos do Δ9-THC devem-se sobretudo à sua ligação a receptores canabinóides

CB1, presentes em muitas áreas do cérebro. Estes receptores têm importância em

diversos processos fisiológicos, tais como regulação do metabolismo, dor,

ansiedade, crescimento ósseo e função imunitária.

Biodisponibilidade oral menor que por inalação (25-30%):

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ü Sofre efeitos de primeira passagem, sendo metabolizado no fígado;

ü Efeito demora 1~6 horas a instalar-se, mas tem maior duração;

ü Absorção lenta e contínua no intestino;

ü Distribui-se por todo o organismo;

ü Absorvido por inalação atravessa os alvéolos pulmonares, entra na

circulação e atinge o cérebro em minutos.

Uma vez absorvido para a corrente, as concentrações de THC diminuem

rapidamente devido ao metabolismo feito pelo fígado, onde a depuração

plasmática pode atingir 950 mL/min, ou à sequestração. Acumula-se

preferencialmente no tecido adiposo (devido à sua grande lipofília), atingindo o pico

de concentração em 4~5 dias. É depois lentamente liberado, atingindo outros

compartimentos como o cérebro. No cérebro é distribuído de diferentes formas,

alcançando concentrações mais elevadas nas áreas neocortical, límbica, sensorial e

motora. É metabolizado no fígado pela CYP 450 essencialmente a 11-hidróxi-THC

(potencialmente mais potente que o THC), mas existe uma enorme variedade de

metabólitos, com elevados tempos de meia-vida. Posteriormente o 11-hidroxi-THC

pode ainda ser substrato do álcool desidrogenase. Devido à sequestração, o tempo

de meia-vida do THC pode variar desde 20h até 10~13 dias. 25% dos metabolitos

são eliminados na urina sob a forma de éster de ácido glucurónico. A maioria é

liberada no intestino pelo fígado, e pode ser reabsorvido (circulação entero-

hepática), prolongando a sua ação, ou eliminado nas fezes onde se verifica a

predominância da forma não conjugada. A eliminação total pode demorar até 30

dias.

Devido à sequestração e à existência de metabolitos ativos, é difícil estabelecer uma

relação entre a concentração de THC no plasma ou urina e a intoxicação.

1.2. Temperatura e efeito

Δ-9-tetrahidrocanabinol (THC) - Ponto de ebulição: 157ºC / 314.6ºF

Propriedades: Euforizante, Analgésico, Antiinflamatório, Antioxidante,

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Antiemético

canabidiol (CBD) - Ponto de ebulição: 160-180ºC / 320-356ºF

Propriedades: Ansiolítico, Analgésico, Antipsicótico, Antiinflamatório,

Antioxidante, Antiespasmódico

Canabinol (CBN) - Ponto de ebulição: 185ºC / 365ºF

Propriedades: Oxidação mediante contato com ar e luz, produto da

degradação do THC, Sedativo, Antibiótico

canabicromene (CBC) - Ponto de ebulição: 220ºC / 428ºF

Propriedades: Antiinflamatório, Antibiótico, Antifúngico

canabigerol (CBG) - Ponto de ebulição: (desconhecido) Ponto de

Derretimento: 52ºC

Propriedades: Antiinflamatório, Antibiótico, Antifúngico

Δ-8-tetrahidrocanabinol (Δ-8-THC) - Ponto de ebulição: 175-178ºC / 347-

352.4ºF

Propriedades: Assemelha-se ao Δ-9-THC, Menos psicoativo, Mais estável,

Antiemético

tetrahidrocanabivarin (THCV) - Ponto de ebulição: < 220ºC / <428ºF

Propriedades: Analgésico, Euforizante

2. O processo de extração via solvente

Entre tantos processos existentes para a obtenção de um extrato da

cannabis, iremos discutir a respeito da extração via solvente que é um processo

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amplamente difundido e bem aceito entre as grandes companhias extratoras de

concentrados e pelos laboratórios de análise de qualidade.

Primeiro, é necessário conhecer os tipos de solventes que podem ser

utilizados para extração no material de maconha.

2.1. Gases em temperatura ambiente utilizados em extrações

I. Pentano

II. Hexano

III. Heptano

IV. Butano

V. Propano

Estre os cinco citados, os mais comuns são o Butano e o Propano.

Portanto, o tutorial abrangerá apenas extrações feitas com estes dois

tipos de gases solventes.

2.2. Butano

O butano é um hidrocarboneto saturado da família dos alcanos e de

fórmula C4H10. É obtido mediante o aquecimento lento do petróleo. É um

gás incolor, inodoro e altamente inflamável. Existe sob duas formas

isômeras: o n-butano e o isobutano ou 2-metilpropano. O butano está

presente no gás liquefeito de petróleo (GLP) (o nosso gás de cozinha,

fornecido via tubulação ou em botijões), que é uma mistura de gases, cujo

principal componente é o propano. Uma vez que o butano é inodoro, por

convenção - e para que possamos distingui-lo de outro gás - adiciona-se a

ele uma substância de cheiro específico (etanotiol). O vazamento de gás

butano pode produzir asfixia, por expulsar o oxigênio do ambiente, pois, ao

contrário da maioria dos gases, a densidade do butano corresponde a

aproximadamente o dobro da densidade do ar atmosférico. Historicamente,

o butano foi o combustível usado nos motores dos dirigíveis Zeppelin.

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Figure 21 Gás butano da marca Volcano

Este é o gás solvente mais acessível no Brasil e funciona muito bem

para as extrações caseiras. O custo médio deste pequeno bujão é de R$

22,00 e pode ser adquirido em tabacarias e por lojas on-line. Em altitudes

no nível do mar e em estado de 1 pressão atmosférica seu ponto de

ebulição é de -1 grau Celsius, portanto, muito volátil e temperatura

ambiente.

Apesar desta característica de volatilidade (muito evidente em outro

gases solventes), quando ocorre reações e misturas com o material orgânico

da cannabis, o butano fica “preso” em sua estrutura celular (as paredes

celulares da estrutura da planta) e dificulta sua evaporação.

2.3. Propano

Um alcano de três carbonos, propano é algumas vezes derivado de

outros produtos do petróleo, durante processamento de óleo ou gás natural.

Quando comburente vendido como combustível, ele também é chamado

de gás liquefeito de petróleo (GLP), que é uma mistura do propano com

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pequenas quantidades de propileno, butano e butileno, mais etanotiol como

odorizante para impedir que o normalmente inodoro propano deixe de ser

identificado quando em vazamentos. Ele é usado como combustível para

fogões e em motores de automóveis. Outro uso do propano é como

propulsor para sprays aerossóis, especialmente após o banimento dos CFCs.

Utilizado na mistura denominada MGR (mixed gas refrigerant), que é

fundamental para liquefação do gás natural (GNL) em processos industriais,

onde a refrigeração necessária é obtida por uma válvula Joule-Thomson.

Figure 2 – Butijão de propano da marca Coleman

Este gás solvente é um do mais recomendado pelos profissionais por

conta de seu ponto de ebulição (-42°C) que o permite evaporar com

facilidade em pressão atmosférica 1atm e somado a temperatura ambiente

(25°C). A compra deste tipo de gás pode ser feita em lojas especializadas

em paintball e Air Soft com a finalidade da manufatura de capsulas de

pressão.

3. Materiais e equipamentos

3.1. Tubo extrator de vidro

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Figure 3 - Tubo extrator de vidro

Figure 4 - tubo extrator com filtro e presilha

Os tubos extratores de vidro são amplamente aceitos tendo em vista sua

quase inexistente reação com solventes e sua capacidade de resistência à baixas

temperaturas. Podem ser adquiridos em lojas de cultura de cânhamo e em

tabacarias. Seu preço médio de R$ 55,00 em várias lojas na internet.

É importante comprar um tubo que seu volume seja capaz de armazenar o suficiente

para uma extração que você deseja e atentar-se para a espessura do vidro, procure

por vidros grossos para que você esteja seguro.

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3.2. Silicone (slick)

Figure 5 - Slick pad

Figure 6 - Slick bowl

Para coletar o líquido que foi extraído no tubo, é recomendado o uso de

potes ou bacias com um tapete de silicone para evitar perdas e também evitar

contaminação do concentrado. Encontra-se estes materiais em lojas de culinária,

que vendem formas de silicone e também em tabacarias.

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3.3. Termômetro a laser

Figure 7 - Termômetro a laser

É importante medir a temperatura durante todo o processo para evitar

perdas de substâncias canábicas que são muito sensíveis a temperatura. Tem que

ser levado em conta que o THC entra em vaporização a partir dos 190 graus

Celsius. A pistola de temperatura pode ser comprada em lojas on-line ou lojas de

eletrônicos. Seu custo médio de R$ 45,00

3.4. EPI’s e filtro

Figure 8 - Luvas de baixa temperatura

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Figure 9 - Tela de filtragem

Para evitar a contaminação do seu concentrado com folhagens do fumo,

utilize telas de aço inox ou filtro de café no bocal do tubo extrator. Nunca deixe de

utilizar luvas no momento de manusear o tubo de extração, este pode alcançar

temperaturas baixíssimas e provoca queimaduras.

3.5. Bomba a vácuo

Figure 10 - Bomba a vácuo

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Figure 11 - Bomba a vácuo manual

A bomba a vácuo é o equipamento mister para que possa ser feito Butane

Hony Oil. Este equipamento atua em reduzir a pressão dentro de um sistema,

puxando o ar e criando vácuo. Este processo de pressão negativa dentro de um

recipiente faz com quê todas as substância ali dentro tenha sua temperatura de

ebulição menores, ou seja, alcançadas com menos calor. Isso significa que todo o

conteúdo de solvente dentro da substância (óleo concentrado) será facilmente

retirado do sistema por ebulição, tendo em vista que se torna incrivelmente mais

volátil em um ambiente de vácuo. Além dos gases/solventes, a bomba a vácuo retira

umidade de dentro do sistema o quê permite variações de consistências, sendo a

consistência honey oil a mais viscosa e o shatter crystal a mais sólida. Os valores

variam de R$ 400,00 à R$ 900,00. Já as bombas a vácuo manuais, que não atingem

um vácuo tão profundo quanto as elétricas, variam entre R$ 150 à R$ 200.

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3.6. Câmara de vácuo

Figure 12 - Câmara de vácuo dissecadora

Figure 13 - Câmara com vacuômetro

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Figure 14 - Câmara a vácuo caseira

Afim ser feita a purificação (dissecação) do material para que não haja resíduo

de solventes, é necessário a implementação de um sistema de vácuo 100%

hermético, ou seja, sem vazamentos. Existem várias opções de câmaras, modelos

mais seguros e rebuscados podem ser encontrados na internet ou em loja de

química na seção de dissecadores. A instalação de um vacuômetro é necessária pois

medir a quantidade de vácuo é crucial para quê tenha certeza da capacidade

dissecadora do sistema e não ultrapassar o máximo recomendado e assim degradar

a substância concentrada (máximo recomendado: -28,5mmHg).

4. Procedimento

Agora já bem definidos os conceitos e os equipamentos podemos avançar para

o procedimento. Fotos demonstrativas serão utilizada para ilustrar o processo e

comentários pertinentes serão feitos embaixo da imagem.

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Figure 15 - Material orgânico dentro do tubo

Este momento do processo é necessário verificar se o material que será

utilizado como matéria prima para extração está 100% seco e sem resíduos de

sementes e preferivelmente sem galhos.

Figure 16 - Solução de butano com resina borbulhando

Nesta etapa, o gás butano foi despejado dentro do tubo (via orifício no tubo

extrator) e o butano líquido percorreu por todo o extrator e foi despejado no slick

pad ou no slick bowl, iniciando seu processo de vaporização

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Figure 17 - Solução borbulhando no banho maria

Aqui o banho maria acelera o processo de vaporização do solvente. A pistola

de temperatura monitora a temperatura do sistema. Nunca deixe que o sistema

atinja mais que 115 graus Fahrenheint.

Figure 18 - Solução vaporizando dentro da câmara a vácuo

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O produto forma uma bolha, que representa o solvente saindo de dentro do

sistema a vácuo a medida que é criada pressão negativa dentro da câmara.

Figure 19 – Dissecação

O produto começa atingir coloração translúcida e as bolhas tendem a

diminuir, o quê significa a redução de solventes voláteis no concetrado.

Figure 20 - Purificação quase completa

Após dias no processo de purificação, o concentrado adquire forma sólida

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Depois de concluída a purificação, o resultado é um cristal dourado e bem

perfumado.

5. Conclusão

A extração com solventes deve ser feita com muito cuidado e atenção, o

segredo para uma boa extração é paciência, técnica e bons equipamentos. Após

algumas tentativas o processo se tornará mais natural e menos trabalhoso te

permitindo um resultado de maneira ágil. Os rendimentos mínimos para um

fumo de qualidade ruim são de 5-7%, fumos de boa qualidade 10-15% e fumos

de altíssima qualidade 25-30%. Em outras palavras, a cada 100g gramas de um

fumo ruim, 5g será de óleo concentrado, 10g advindos de fumo de média

qualidade e 25g de um fumo de ótima qualidade, respectivamente. A

viscosidades do concentrado depende do tipo de material que foi utilizado

(fumos com cheiro muito acentuado tendem a ficar mais viscosos) e do tempo

dedicado a purificação no sistema a vácuo.

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