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Enquete Operária: Uma Genealogia


(6) | Passa Palavra
17-23 minutos

Por Asad Haider e Salar Mohandesi

Clique aqui para ler toda a série

Assim como o Pouvoir Ouvrier se viu afastar de seus objetivos


originais, Information et Liaisons Ouvrières também encontrou
algumas dificuldades. Ao contrário da maioria do Socialisme ou
Barbarie, que afirmava a necessidade de um partido formal,
integrado com um tipo de comitê central, a minoria do ILO tinha
defendido uma estrutura mais descentralizada, baseada em
células operárias autônomas, onde tudo poderia ser discutido
abertamente. O núcleo do grupo seriam essas células,
baseadas em várias empresas, e o papel do ILO. não seria
disseminar ideias vindas de cima, como o Pouvoir Ouvrier logo
faria, mas circular experiências, informação e ideias entre essas
várias células. Ele deveria ser algo como uma rede,
estabelecendo ligações entre diferentes trabalhadores, muito
nas linhas do Correspondence. Considerando que o Pouvoir
Ouvrier queria propagar o projeto socialista entre os
trabalhadores, o ILO, Lefort mais tarde relembrou, objetivava
“distribuir um boletim que fosse o mais não programático quanto
possível, tentando principalmente dar uma voz aos
trabalhadores e ajudar na coordenação de experiências na
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indústria – isto é, as experiências resultantes de tentativas de


luta autônoma”.[1]

Barbara Kruger – Sem título (I Shop Therefore I Am), 1987

Deve-se notar que a minoria que rompeu para formar o ILO era
menos unida por uma perspectiva comum e mais por uma
oposição geral à maioria que pressionava por um partido. Não é
uma surpresa, portanto, que este novo grupo de cerca vinte
membros em breve se depararia com suas próprias diferenças
internas. Uma fissura começou a aparecer entre os principais
animadores do grupo: Lefort, que desejava combinar a
autenticidade da voz operária com algum tipo de teoria, sentia
que Simon não apenas queria abandonar quaisquer sinais de
direção, orientação e linha partidária, mas mesmo de
interpretação e teoria. Ele depois refletiria:

O essencial era que essas pessoas falassem de suas


experiências na vida cotidiana. Em certo sentido [Simon] estava
absolutamente correto. Todos nós pensávamos que havia um
feitiço maléfico de Teoria separado da experiência e do
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cotidiano, concebido para mascará-los. Mas isso ainda era uma


questão de experiência enquanto experiência real e cotidiana,
não de banalidade. A experiência não é crua; ela sempre
implica um elemento de interpretação e se abre à discussão. O
discurso na vida cotidiana tacitamente ou explicitamente recusa
outro discurso e solicita uma resposta. Para Simon, o discurso
dos explorados, seja quem for, seja lá o que disser, era em
essência bom. Ele sabia, como todos nós, que a burguesia
dominante ou o discurso democrático pesa muito no discurso
dos explorados. Este conhecimento não enfraqueceu sua
convicção. O discurso dos explorados era suficiente por si só.
Essencialmente, ele disse que uma pessoa fala sobre o que ela
vê e sente; nós apenas temos que escutá-la ou, melhor ainda,
registrar suas observações em nosso boletim, que é nossa
raison d’êtrê.[2]

Lefort, que deixou o grupo em 1960 (levando-os a renomear a


si mesmos como Informations et Correspondance Ouvrières,
ICO), defendia que não importava o que fosse, algum tipo de
interpretação sempre resvalará na enquete, mesmo se apenas
na seleção de textos, na ordem em que eles serão publicados,
e assim por diante. Negar isso é iludir a si mesmo.

Em outras palavras, o projeto original de enquete operária


desmantelou em ambos os lados. Pouvoir Ouvrier se tornou
outro jornal vanguardista, indistinguível de um jornal trotskista,
tentando educar a classe trabalhadora através de versões
simplificadas de teorias esotéricas desenvolvidas sem
referência às experiências concretas da classe trabalhadora. Do
outro lado, o ICO se enrolou por ignorar o papel dos
intelectuais, apenas para encontrar-se imobilizado, perseguindo
alguma experiência proletária pura, sem a mácula da
interpretação teórica.
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Andy Warhol – Campbell Soup Cans, 1962

Quanto a Castoriadis, ele rompeu com seu próprio grupo em


1962. Suas reflexões sobre esses debates produziram um efeito
ainda mais drástico: Castoriadis tinha chegado à conclusão de
que o marxismo enquanto uma teoria tinha sido definitivamente
refutado. “Capitalismo Moderno e Revolução”, inicialmente
escrito entre 1959 e 1961, tinha sido publicado antes dele
deixar a declaração de que suas “ideias não são
necessariamente compartilhadas por todo o grupo Socialisme
ou Barbarie” (226). A partir do seu trabalho como economista
profissional para a OCDE, Castoriadis elaborou um balanço
devastador para a teoria marxista. No contexto do boom pós-
guerra, os marxistas continuavam a afirmar que o capitalismo,
através do desemprego estrutural e aumento da taxa de
exploração, estava empobrecendo e pauperizando o
trabalhador. Mas na realidade o sistema tinha produzido pleno
emprego e os salários estavam crescendo mais rapidamente do
que nunca, levando a uma massiva expansão do consumo que
proporcionou também uma fonte estável de demanda efetiva e
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representou um grande aumento no padrão de vida da classe


trabalhadora. Os militantes marxistas tinham se mostrado pior
do que inúteis; os sindicatos tinham se tornado “engrenagens
no sistema” que “negociavam a docilidade dos trabalhadores
em troca de maiores salários”, enquanto a política “realiza-se
exclusivamente entre especialistas”, os supostos partidos
operários dominados por burocratas (227).

Como o próprio Lefort tinha sugerido, a experiência proletária


que as enquetes do Socialisme ou Barbarie tinham tentado
alcançar teria que ser contraposta às determinações rígidas das
leis econômicas. “Para o marxismo tradicional’, escreveu
Castoriadis, “as contradições ‘objetivas’ do capitalismo eram
essencialmente econômicas e a incapacidade radical do
sistema em satisfazer as demandas econômicas da classe
trabalhadora fazia destas a força motriz da luta de classes”.
Mas por detrás desta premissa estava uma falácia “objetivista e
mecanicista” que reforçava a noção de que especialistas e
burocratas, que podiam entender as “leis objetivas” da história,
seriam responsáveis pela análise da sociedade capitalista e
pela “eliminação da propriedade privada e do mercado”. Presos
nesta falácia, os marxistas tradicionais não poderiam sequer
explicar suas próprias fixações; eles falharam em entender que
os salários tinham aumentado porque eles eram
verdadeiramente determinados pela luta de classes e que as
demandas propostas pelas lutas salariais poderiam ser
satisfeitas desde que não excedessem os aumentos de
produtividade (227).

Como a tendência Johnson-Forest, Castoriadis argumentou que


a contradição do capitalismo tinha que ser localizada na
“produção e no trabalho” e especificamente nos termos da
“alienação experimentada por todo trabalhador”. Mas ao
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contrário de seus vigorosos predecessores marxistas,


Castoriadis reconheceu que essa teoria era incompatível com a
linguagem do valor e rejeitou definições “econômicas” de
classe. A oposição entre diretores e executantes substituiu
completamente aquela entre proprietários dos meios de
produção e não proprietários. Isso tinha grandes implicações
para a visão do próprio desenvolvimento capitalista: a
“tendência ideal” do “capitalismo burocrático” seria “a
constituição de uma sociedade totalmente hierarquizada em
contínua expansão onde a crescente alienação das pessoas em
seus trabalhos seria compensada por um ‘crescente padrão de
vida’ e onde toda a iniciativa seria dada aos organizadores”
(229). Esse projeto, contudo, era propenso à contradição da
racionalidade burocrática, “a necessidade do capitalismo de
reduzir os trabalhadores ao papel de meros executantes e a
inabilidade desse sistema funcionar se ele conseguir alcançar
esse objetivo exigido”. A contradição, então, era que o
“capitalismo precisa realizar simultaneamente a participação e a
exclusão dos trabalhadores no processo de produção” (228).
Essa tendência inerente do capitalismo não poderia “nunca
prevalecer completamente”, desde que o “capitalismo não pode
existir sem o proletariado” e a luta contínua do proletariado para
mudar o processo de trabalho e o padrão de vida cumpria um
papel fundamental no desenvolvimento capitalista: “A extração
de ‘valores de uso da força de trabalho’ não é uma operação
técnica; é um processo de luta amarga em que metade do
tempo, por assim dizer, os capitalistas acabam sendo
perdedores” (248).

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Faile – The New York City Ballet Tower, 2013

A experiência dessa luta e a inadequação do reformismo dentro


dela tinham despojado os executantes de qualquer fé ilusória
nas contradições “objetivas” enquanto a garantia das
organizações burocráticas. Agora o proletariado finalmente
poderia reconhecer que o verdadeiro horizonte revolucionário
era a “gestão operária e a superação dos valores capitalistas de
produção e de consumo” (230).

Em outras palavras, as demandas desse movimento não


estariam no nível dos salários, que representavam um
substituto alienado para uma motivação movida pelo trabalho
criativo. A fonte de motivação necessária para coesão social
não estava mais em atividades “significantes”, mas apenas na
procura de renda. Mesmo o objetivo carreirista clássico de
promoção na hierarquia da burocracia levava, em última
instância, a uma renda maior (276). Mas visto que a renda
pessoal não pode levar à acumulação – ela não pode fazer dum
trabalhador um capitalista – “a renda, portanto, apenas tem
significado através do consumo que ela permite”. Visto que o
consumo não pode apenas firmar-se em necessidades
existentes, que estavam “no ponto de saturação, devido a
aumentos constantes na renda”, os capitalistas tinham que
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gerar novas necessidades através da introdução de novas


mercadorias e pela cultura alienada da propaganda que
incorporaram na vida cotidiana (277).

No entanto, o aumento no output que era necessário para um


nível constantemente crescente de consumo apenas poderia
ser assegurado através da automatização da produção, a
tentativa do capitalismo de “abolição radical de seus problemas
de relação laboral pela abolição do trabalhador” (283). E esse é
o contexto em que a “relação salarial se torna uma relação
intrinsecamente contraditória”, já que uma tecnologia em rápido
desenvolvimento, oposta à tecnologia estática de sociedades
anteriores, impediu a administração de determinar um meio
permanente para a “estabilização das relações de classe no
local de trabalho” e impediu “o conhecimento técnico de se
tornar cristalizado para sempre em uma categoria específica da
população trabalhadora” (260). Toda a história da luta de
classes dentro do modo de produção capitalista poderia ser
entendida nesses termos. A introdução do maquinário no
começo do século 19 foi de encontro com os atos primordiais
de sabotagem industrial. Apesar da derrota de seu princípio
ludista, a luta dos trabalhadores continuou dentro da fábrica,
levando a introdução do trabalho por peça e dos salários
baseados na produção. Agora que as “normas” de produção
eram a linha principal de luta, o capitalismo contra-atacou com
a administração científica taylorista das normas. A resistência
dos trabalhadores à administração produziu as respostas
ideológicas da psicologia e sociologia industriais, com seus
objetivos de “integrar” os trabalhadores em locais de trabalho
alienados. Mas era impossível, mesmo com essas medidas,
suprimir o antagonismo fundamental dos trabalhadores em
relação ao processo produtivo – de fato, nos países de
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capitalismo mais avançado, com os maiores salários e o


método mais “moderno” de produção e administração, o
“conflito diário no local de produção alcança proporções
incríveis” (264).

De acordo com Castoriadis, a tradicional concepção marxista


era incapaz de compreender esse processo histórico. Para o
marxismo, “os próprios capitalistas não agem – eles são
‘levados a agir’ por motivos econômicos que os determinam tal
como a gravitação governa o movimento dos corpos” (262).
Mas a história provou que a classe dominante adaptou suas
estratégias de acordo com sua experiência subjetiva da luta de
classes, aprendendo que os salários podem comprar a
docilidade dos trabalhadores, que a intervenção estatal pode
estabilizar a economia e que o pleno emprego pode impedir o
levante revolucionário que resultaria duma repetição de 1929
(269-90).

Banksy – Jesus Christ with Shopping Bags, 2005

Então a nova critica revolucionária da sociedade tinha que se


livrar da distração da teoria objetivista e denunciar diretamente
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os resultados irracionais e desumanos da administração


burocrática e do trabalho alienado. E o desenvolvimento
capitalista tinha tornado a superação da alienação
definitivamente possível, visto que no nível técnico “toda a
burocracia de planejamento já pode ser substituída por
calculadoras eletrônicas” e no nível social a irracionalidade da
organização burocrática da sociedade havia sido
completamente desvelada (299).

Assim como Castoriadis fez um balanço do “marxismo


tradicional”, nós podemos agora avaliar esse momento
particular de ruptura. A nova teoria de classe foi conveniente
para uma análise da economia planificada da União Soviéticas
como um “capitalismo burocrático”, formulada em diálogo com a
tendência Johnson-Forest. Castoriadis radicalizou as
afirmações deles de que o capitalismo surgiu das relações no
chão de fábrica, mais do que na propriedade dos meios de
produção.[3] O núcleo racional de sua teoria era claro: o
processo que começou com o entusiasmo bolchevique pelo
taylorismo, a adoção pela burocracia russa de formas pioneiras
de organização do processo de trabalho desenvolvidas pela
administração e sociologia capitalistas, arruinou a filosofia da
história da Segunda Internacional. O progresso das forças
produtivas, sejam elas de propriedade pública ou privada, tinha
se tornado um elemento da racionalidade que governava
formas cada mais complexas de estratificação social.

Contudo, a nova teoria de Castoriadis estava sujeita aos


mesmos pontos cegos de seus antecessores, incapaz de
explicar as relações de classe em sua unidade com as relações
de troca. A questão do próprio desenvolvimento tecnológico
coloca questões fundamentais sobre sua análise. Enquanto
Castoriadis critica corretamente a identificação do
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desenvolvimento das forças produtivas com o projeto político do


socialismo, ele não explicou como esse processo estava
situado dentro das relações sociais do capitalismo. O
desenvolvimento tecnológico era uma expressão da
racionalidade da administração; enquanto Castoriadis
brilhantemente delineou as contradições dessa racionalidade no
nível da empresa, as questões subjacentes à análise de Marx
sobre todo o sistema, das quais cada volume do Capital foi
dedicado, foram deixadas sem resposta. Se o desenvolvimento
tecnológico era um processo desperdiçador, por que uma
empresa à procura de lucro o realizaria? Como ela é capaz de
fazer grandes gastos em capital fixo, em maquinário caro, e
continuar reproduzindo suas condições vigentes de produção?
Na análise de Castoriadis, o desenvolvimento tecnológico é na
prática resultado de uma falta de motivação, que somente pode
ser superada pela expansão no consumo que é permitida pelo
desenvolvimento tecnológico e seu aumento de produção.
Faltam-nos agora os recursos teóricos para compreender por
que a produção se tornou a finalidade da existência humana ou
o que “produção máxima” significaria – como se o objetivo dos
capitalistas fosse possuir mais coisas e não fazer mais lucro.

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Dotmasters – High Roller

Igualmente fundamental foi a questão das pré-condições


básicas desse sistema. Enquanto Castoriadis explicou o
capitalismo como a expressão maior da alienação e reificação,
não ficou de modo algum claro de que modo estes fenômenos
eram específicos do capitalismo e o que eles tinham a ver com
as dinâmicas econômicas que ele se apressou em dispensar.
Por trás da tentativa da administração de direcionar a força de
trabalho para a produção máxima possível, estava o fato de que
a administração capitalista foi compelida a explorar a força de
trabalho na medida mais lucrativa – e que os trabalhadores
igualmente eram compelidos a vender sua força de trabalho em
troca de um salário. O que explica essa compulsão?

Se estas questões eram de algum modo incompatíveis com a


análise da empresa capitalista, isso não apenas invalidaria o
marxismo – isso faria a natureza capitalista da empresa
inexplicável. Mas ao começar pelas enquetes sobre a
transformação do processo de trabalho e mudando para uma
explicação histórica da lógica do desenvolvimento capitalista,
Socialisme ou Barbarie serviu como um fundamento
indispensável.

Referências

[1] “Interview with Lefort,” 179.


[2] “Interview with Lefort,” 183.
[3] Veja “The Relations of Production in Russia” em Political and
Social Writings, Volume 1, 1946-1955: From the Critique of
Bureaucracy to the Positive Content of Socialism, trans. and ed.
David Ames Curtis (Minneapolis: University of Minnesota Press,
1988), e nosso comentário em “ Deviations, Part 1: The
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Castoriadis-Pannekoek Exchange.”

Este artigo foi traduzido e dividido em nove partes pelo coletivo


Passa Palavra. A versão original está em Viewpoint Magazine.

Imagem Destaque:

Ron English – Super Supper, 2010

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