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“Analisar e criticar de forma científica o que havia

de mau no passado, de tal maneira que, no futuro,


o trabalho seja mais cuidadoso e melhor.”

Mao Tsetung
Índice
Por que escrevo isso?....................................................................................................4
Grupo enfraquecido pela falta de comunicação e feedbacks........................................5
“Utopia dos Sequelados”...............................................................................................6
Letargia de uma tarefa irrealista e inconsequente.......................................................7
O oportunismo do Mega................................................................................................7
A “dissolução final” foi vitória da linha vermelha, não o contrário..............................9
Por que escrevo isso?
Saudações!

Acontecimentos recentes motivaram a redação deste texto. Desde já,


noticio que, infelizmente, não abordarei aqui todas as questões com devida
riqueza de detalhes. Tal limitação se deve à privacidade das pessoas que
desejo preservar e, também, à falta de informações completas, o que me leva
a apresentar conclusões parciais, baseadas na minha experiência ao longo de
um largo período de tempo que estive no grupo, embora eu mesmo não tenha
participado das discussões que culminaram na “dissolução final”1.

Contudo, procurarei expor o essencial, ou seja, razões que fizeram a


Iniciativa Verdade Expressa acabar2. Ontem, em 20 de julho, após ter
reencontrado antigos companheiros do Verdade Expressa, no próprio Discord,
observei um grande descontentamento entre ex-membros ao tomarem
conhecimento dos motivos que levaram a Inciativa Verdade Expressa à sua
“dissolução final”. Denúncias e acusações de oportunismo, aventureirismo,
foquismo e falsificação foram atribuídas ao companheiro Mega, persona
bastante conhecida por todos e que, certamente, teve grande atuação em todo
o processo.

Meu objetivo aqui é simples, fazer uma análise honesta do porquê a


Iniciativa Verdade Expressa foi dissolvida e o que podemos tirar de lição disso.

"O único homem que nunca comete erros é aquele que nunca faz
nada."

Albert Eintein

1 Utilizarei a expressão “dissolução final” assim, entre aspas, por uma razão: o objetivo inicial sempre foi esse, que o
Verdade Expressa deixasse de existir. E foi o que aconteceu. No entanto, a atividade virtual persistiu, sob novas
formas, com uma nova plataforma (já não era o Discord). E nesta nova fase, a Direção desvirtuou interesses iniciais
do grupo. É para o término dessa indesejada sobrevida que dou o nome dissolução final.
2 Para fins didáticos, utilizarei “Verdade Expressa” para o período em que o grupo existia no Discord, e “Iniciativa”
para o período em que o grupo existiu pós-exclusão do servidor no Discord. Embora não seja perfeitamente preciso,
isso evitará ambiguidades.
Grupo enfraquecido pela falta de comunicação e
feedbacks
Assim que o grupo saiu do Discord em definitivo, isto é, assim que a
Iniciativa começou a caminhar, um problema muito grande se colocou diante
de todos: a comunicação. Todos se comunicavam de forma individual. Que isto
quer dizer? Havia um chat em que você se comunicava diretamente com uma
única pessoa. Em outras palavras, não havia grupos (canais de comunicação),
nem sequer a possibilidade de formar grupos . Na verdade existia um grupo,
mas apenas a Direção tinha acesso a esse recurso. Desse modo, nós, da base,
conversávamos com uma pessoa da Direção e ela tinha, a princípio, a
responsabilidade de ser a transportadora da mensagem para a Direção.

Não questiono a segurança deste método, é certamente um dos métodos


mais seguros que já conheci. No entanto, digo sem ressalvas, que esse método
praticamente matou a Iniciativa Verdade Expressa (IVE). Não havia mais
conversas regulares sobre política, as dúvidas sobre Marxismo, na verdade,
não havia mais conversas em geral.

Lembro que uma pessoa, que não pertencia à Direção, fez críticas a
Iniciativa. Como fiquei sabendo disso? Dias depois, 3 ou 5 dias talvez, foi
emitido um PDF compilado com as críticas dela. Demorou para que todos
ficassem sabendo. Nesse intervalo de tempo, a pessoa já havia desertado da
IVE.

As críticas que ela escreveu, no entanto, não valiam muita coisa.


Confesso que quando abri o documento fiquei enojado. Não eram críticas
construtivas para a IVE, o principal alvo das críticas nem era a IVE. O alvo
principal das críticas era a história do Movimento Comunista Internacional.
Eram comentários abertamente anti-comunistas, comentários que
questionavam a validez universal das ideias de Lenin. questionava ser o
leninismo realmente a segunda e superior etapa do Marxismo. O termo “seita”
foi usado repetidas vezes. Me espantei com isto. Inclusive, não parecia ser
comentários de um “ML” (revisionista) que usa o termo “seita”,
arbitrariamente, contra o maoísmo. Na verdade, aqueles argumentos,
transpareciam mais uma visão de mundo individualista de um anarquista ou
libcom qualquer que entrou na Iniciativa por acaso. Tratava-se de uma pessoa
confusa, cética e distante da linha que existia no VE.

Aquele documento significou uma coisa pra mim. Havia pessoas que não
faziam ideia do que era Maoísmo dentro da IVE. E pior, sem chances de serem
contestadas, porque nós, da base, nem sequer sabíamos que essas pessoas
existiam. É notório que a ausência de comunicação efetiva impediu críticas a
tempo e permitiu a sobrevivência de ideias assim.

“Utopia dos Sequelados”


Título cômico, mas foi uma expressão usada por um conhecido meu
quando ficou sabendo da IVE antes mesmo dela ser executada. Hoje percebo
que muitos dos membros, ainda no VE principalmente, eram só jovens
facilmente impressionáveis, que não haviam conhecimentos sólidos em
Marxismo, mas que se encantavam com memes e com argumentos de
maoístas.

Hora ou outra, via esses membros falando para não ler Hoxha, não ler
João Amazonas, não ler revisionistas, etc. Pode não parecer, mas com estas
posições não é a linha maoísta que se afirma, mas, pelo contrário, o que se
afirma é o dogmatismo e a degeneração ideológica.

Ora, foi o próprio presidente Mao que disse

“Um exército sem cultura é um exército ignorante, e um exército


ignorante não pode vencer o inimigo.”

Mao Tsetung, “A frente única no trabalho cultural”,


1944

Uma pessoa que foge de pontos de vista contrários não consegue, de


maneira alguma, defender suas posições. Irá, portanto, definhar e mudar de
cor assim que for, igualmente, facilmente convencida. É tão instável quanto as
ondas do mar em tempestade.

Fora isto, conforme informações novas que obtive recentemente. Sim,


digo recentemente, pois não fiquei sabendo dessas coisas na IVE. Tomei
conhecimento que havia uma pessoa que, claramente, deveria ter sido
expulsa. Esta pessoa, nutrida com pensamento lumpen, anti-massas e
transparecendo nada além de infantilidade e romantização da luta armada,
falava demasiadas vezes em comprar armas. Não só isto, postava fotos no
próprio Discord com armas, um comportamento completamente
inconsequente e problemático que ainda não havia sido percebido no VE.

Letargia de uma tarefa irrealista e inconsequente


Inicialmente, foi proposta uma atividade muito difícil de ser executada,
ultrapassava a dificuldade de qualquer atividade que organização séria e
consolidada costuma enfrentar. Era individualmente arriscada, aventureira,
que logo fez toda a IVE estagnar, parar, ninguém de fato havia cumprido a
tarefa.

Não parecia ser uma ideia proposta, ou consentida, pela Direção como
um todo. Parecia ser uma ideia de uma única pessoa, do Mega talvez. Digo
“parecia” e “talvez”porque não tenho provas para afirmar isto.

A tarefa fazia desnecessária e inconsequente menção a um partido. Qual


partido? O de 1922. O único digno do nome que tem. Mas só tomei ciência do
real problema disso após ouvir fortes críticas de organizações democráticas
sobre esse tipo de menção.

O oportunismo do Mega
Com o andamento da IVE, foi curiosamente lançado um documento
afirmando que os companheiros organizados não poderiam falar da IVE dentro
de suas respectivas organizações. Isto, evidentemente, é completamente
estranho. Essa restrição levantou questionamentos, uma vez que as
organizações em questão seguem a atual linha vermelha do MCI.

O que isto queria dizer, então? O objetivo não era lançar-se à prática?!
Por que membros organizados não poderiam falar abertamente sobre a IVE? O
correto então seria agir como agente duplo, um espião? Desrespeitar o
centralismo democrático da organização e fazer tarefas clandestinas por fora?
Qual era o objetivo da IVE com isto?

Aliás, dias antes, o Mega havia noticiado que a IVE havia recebido
“benção” de organizações da linha vermelha.

É nisto que reside o caminho oportunista tomado pelo Mega.

Apresentou dois pontos de vista que se excluem mutuamente.

Em vez de estimular a entrada em organizações já existentes, para que


fortalecessem núcleos locais, afinal esse era o objetivo (lançar-se à prática),
foi proposto a perpetuação da IVE, na forma de uma nova organização
nacional, em que cada militante passaria informações sobre sua situação em
cada região do Brasil.

O traço desse oportunismo está essencialmente no fracionismo. Os


dados levam a crer que o único motivo para que isso tenha ocorrido foi o mero
desejo em protagonismo, em criar, por capricho, uma nova organização de
caráter nacional, sendo que no Brasil já existem organizações assim.

Mais que isto, uma organização de caráter nacional mas que não havia
se desenvolvido localmente em lugar algum. Este é essencialmente o
problema e o real motivo da liquidação da IVE.

Noto, porém, que, no último dia, foi dada uma preocupação


superestimada ao fato do Mega, supostamente o Mega, estar usando um perfil
fake no Discord sob o nickname “realismosocialista”. Sobre isso, acho válido
intervir.

Antecedo ao leitor que não é esse o problema, em verdade. As pessoas


que atualmente estão usando isto para criticar o companheiro, não
entenderam os erros reais que fizeram a IVE acabar. Aliás, mesmo se for ele,
isto não tem nenhuma importância.
Nunca foi sobre combater o virtual em absoluto, mas sobre combater o
ativismo exclusivamente virtual.

Em saber que a internet não é um lugar a ser disputado, mas sim as


praças, escolas, paradas de ônibus, entre outros espaços reais, que são
lugares onde as massas estão.

Em saber que, na internet, não devemos comprometer nossa


integridade, nem a de nossos companheiros, em discussões fúteis, pois
sabemos que esse ambiente virtual não nos pertence, muito menos é nossa
verdadeira esfera de atuação.

A “dissolução final” foi vitória da linha vermelha, não o


contrário.
Alguns lamentam o fim da IVE. Não é o meu caso. A “dissolução final”,
em 11 de junho, aconteceu como resultado de uma luta de duas linhas entre a
linha proletária e a linha não-proletária; entre a linha de entregar-se de todo o
coração às massas e a linha da ambiguidade e hesitação.

Para exemplificar, diversos companheiros ingressaram na prática,


direcionaram-se para organizações já existentes e hoje estão em suas fileiras
atuando.

O problema da comunicação, citado no início, é o maior indicativo que,


mesmo com a melhor segurança que tenhamos, o virtual nunca substituirá
o real. E que sem esta comunicação efetiva, há diálogos perdidos e truncados,
há falta de espaço para críticas e autocríticas e, inevitavelmente, há abertura
para a degeneração ideológica. É importante aprender com essas experiências
e buscar novos caminhos para o avanço da causa que defendemos.

“Nós temos a arma marxista-leninista da crítica e autocrítica.


Nós podemos desembaraçar-nos do mau estilo e conservar o
estilo bom.”
Mao Tsetung, “Relatório apresentado na II Sessão
Plenária do Comitê Central eleito pelo VII Congresso
do Partido Comunista da China”, 1949

“Como servimos o povo, não temos medo de ver apontadas e


criticadas as falhas que tivermos. Seja quem for pode apontar as
nossas falhas; se tiver razão, nós próprios corrigi-las-emos. E
aquilo que propuser beneficiar o povo, nós agiremos de acordo
com a proposta.”

Mao Tsetung, “Servir o povo”, 1944

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