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ANÁLISE E ADEQUAÇÃO DO PROCESSO DE DISPENSAÇÃO DE

MEDICAMENTOS DE UM HOSPITAL PÚBLICO EM JOÃO PESSOA.

SANTOS, Hélder Soares de Oliveira1


PONTES, Helena Nascimento da Silva Alves1
AYRES, Larissy Carneiro Nascimento1
SILVA, Tatiana Pereira da1
CARNEIRO, Márcio Roberto Sousa2

RESUMO

A logística é fundamental nos processos gerenciais devido a existência da necessidade de


gestão de materiais nas organizações, inclusive nas instituições responsáveis pela assistência à
saúde, como é o caso dos hospitais. Tendo em vista a relevância desse processo, este trabalho
procurou identificar qual o tipo de dispensação de medicamentos utilizado em um hospital da
rede pública de saúde na cidade de João Pessoa-PB e verificar se o mesmo proporciona a
racionalização, distribuição e administração adequadas a fim de evitar desperdícios e,
consequentemente, diminuir os custos com medicamentos. Foram utilizadas para coleta de
dados entrevistas semiestruturadas com os envolvidos no processo, que deram base a um
roteiro estruturado de observação não participante. Verificou-se que o processo
institucionalizado é eficaz, mas não é eficiente, pois entre as etapas constatou-se alguns
gargalos relacionados a falta de controle, assim como um alto nível de rigidez em outro.

Palavras-Chave: Administração de Materiais Hospitalar, Processo Logístico, Dispensação de


Medicamentos.

1
Graduando (a) em Administração do 6º Período do IFPB.
2
Doutorando em Administração (PPGA/UFPB) e Professor da Unidade Acadêmica de Gestão do Instituto
Federal de Educação, Ciência e Tecnologia – IFPB (Orientador).
1. INTRODUÇÃO
A administração de materiais procura conciliar os interesses entre as necessidades de
suprimentos e a otimização dos recursos financeiros e operacionais das organizações e um dos
principais intuitos dessa área constitui a preocupação em atender às necessidades dos clientes
(GONÇALVES, 2010).
Nesse contexto, a logística se torna fundamental nos processos gerenciais tendo em
vista a existência da necessidade de gestão de materiais dentro da diversidade atual de setores
e organizações, inclusive nas instituições responsáveis pela assistência à saúde, como é o caso
dos hospitais. Um hospital é uma organização que possui vida própria e se diferencia das
demais porque o seu objetivo é a manutenção ou restabelecimento da saúde do paciente
(GUIMARÃES, 2005).
O sistema adotado por hospitais para dispensação de medicamentos elabora um trajeto
destes até ao paciente e estabelece como os mesmos são separados, organizados e dispostos
para a administração aos pacientes. A forma como os medicamentos são dispensados pela
farmácia hospitalar é uma das mais importantes atividades realizadas pela mesma e seu
funcionamento adequado pode assegurar sua qualidade e segurança, bem como a segurança e
garantia da saúde do paciente (XAVIER, 2012).
A distribuição racional de medicamentos consiste em assegurar aos usuários o produto
correto, na quantidade e especificações solicitadas, obtendo melhor custo e maior eficácia
(MOREIRA, 2008). Causas de erros nos sistemas de medicação não só estão relacionadas
com falhas individuais dos profissionais de saúde envolvidos no processo, mas também falhas
sistêmicas tais como dificuldades com o ambiente, ausência ou deficiências no treinamento,
escassez de profissionais, falhas de comunicação, problemas nas políticas e metodologias ou
mesmo produtos impróprios para serem administrados nos pacientes (OLIVEIRA E MELO,
2011).
Tendo em vista a relevância do processo de controle dos medicamentos e do
funcionamento adequado do sistema de dispensação adotado nas instituições, este trabalho
procura identificar qual o tipo de dispensação de medicamentos utilizado em um hospital da
rede pública de saúde na cidade de João Pessoa-PB e verificar se o mesmo proporciona a
racionalização, distribuição e administração adequadas a fim de evitar desperdícios e
consequentemente diminuir os custos com medicamentos.

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A seção seguinte apresenta os principais conceitos pertinentes ao estudo da área de
Administração de materiais e distribuição de medicamentos hospitalares, na terceira seção
serão apresentados os processamentos metodológicos, por fim os resultados serão expostos.

2. REFERENCIAL TEÓRICO
2.1. Administração de Materiais

Os materiais são bens tangíveis fundamentais no funcionamento das instituições do


primeiro, segundo e terceiro setor, ela constitui uma das peças indispensáveis para a produção
de um bem ou serviço. A administração de materiais não é uma tarefa fácil e se bem
estruturada proporciona um impacto positivo por meio da redução dos custos, melhoria nas
condições de compras, redução do tempo de ressuprimento (GONÇALVES, 2010).
As funções da administração de materiais envolve o controle de estoques,
processamento de pedidos, armazenamento, manuseio de materiais, transporte, distribuição. A
disponibilidade dos materiais em tempo certo, local certo, momento certo e em condição certa
estabelece a boa administração de materiais (POZO, 2009).
A administração de recursos materiais inclui uma série de etapas, o início envolve a
questão da identificação do fornecedor, na compra do bem, em seu recebimento, transporte
interno e acondicionamento, em sua armazenagem e finalmente, em sua distribuição até que
chegue ao consumidor final (MARTINS E ALT, 2009).
2.2. Gestão de Estoque/Material Hospitalar
Para que seja possível o desenvolvimento de uma gestão de estoques hospitalar efetiva
em uma organização, o gestor precisa ter como embasamento um planejamento adequado aos
objetivos institucionais, onde este deverá conter dados definidos que consigam atender suas
reais necessidades organizacionais e traçar ações, importantes para o crescimento da
instituição.
Administrar materiais em ambientes hospitalares, principalmente os mantidos com
verbas públicas, representam aos gestores um desafio constante, pois as necessidades
impostas pelas políticas públicas de saúde, as demandas da população mais carente, as formas
legais de aquisição dos medicamentos e materiais necessários, bem como os anseios dos
profissionais de saúde, devem se constituir no principal direcionamento das ferramentas de
administração de materiais (MEAULO E PENSUTTI, 2014).
Em uma unidade de saúde responsável por lidar com a vida de pessoas faz-se
necessário que os estoques sejam administrados de maneira efetiva para que os pacientes não
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sejam prejudicados devido à falta de materiais essenciais para o seu atendimento, pois a
escassez destes poderá acarretar em sérias consequências. (SLACK; CHAMBERS;
JOHNSTON, 2009).
Estoque é todo o recurso adquirido e armazenado com a intenção de regular o fluxo
produtivo de uma empresa. Especificamente para os ambientes hospitalares, representam os
insumos necessários a um perfeito atendimento ao cliente (DIAS, 2009).
Itens como estoque mínimo, estoque de segurança, ponto de pedido e nível de
ressuprimento também devem ser levados em consideração para que seja possível o bom
funcionamento de um estoque, pois são cruciais para que a organização possa sempre atender
as necessidades dos seus setores.
Ferramentas como a curva ABC são um importante instrumento para o administrador,
pois permite identificar aqueles itens que justificam atenção e tratamento adequados quanto á
sua administração, e com isso, estabelecer formas de gestão apropriadas à importância de cada
item em relação ao valor total considerado (DIAS, 2009).
A gestão hospitalar é uma modalidade complexa, em razão da grande movimentação
de pacientes e pela burocracia inserida nos processos que envolvem a obtenção de materiais
primordiais para o seu devido funcionamento, atrapalhando assim a administração de estoque
dentro dessas instituições.
2.2.1. Farmácia Hospitalar
Dentro do hospital existe a farmácia hospitalar, cujo objetivo é garantir o uso seguro e
racional dos remédios que serão prescritos pelo profissional médico, para isso tem que fazer
um bom planejamento na aquisição de medicamentos e materiais hospitalares para suprir à
demanda e necessidades dos pacientes hospitalizados, na mesma proporção da sua utilização
(NOVAES; GONÇALVES; SIMONETTI, 2006).
É entendida como uma unidade de caráter clínico e assistencial, dotada de capacidade
administrativa e gerencial, sendo um dos setores mais importantes no contexto hospitalar. É
responsável pela provisão segura e racional de medicamentos, e em algumas condições de
produtos de saúde, podendo estar “ligada” a direção clínica e/ou administrativa do hospital
(SBRAFH, 2008).
A partir da seleção de medicamentos, desenvolvem-se as funções consideradas básicas
da farmácia hospitalar: aquisição e/ou elaboração de produtos farmacêuticos, seu
armazenamento, distribuição e sistema seguro de dispensação desses produtos e informações
fidedignas para gerenciar todo o processo (NITA, 2010).

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Dentre os objetivos de uma farmácia hospitalar destaca-se: o planejamento a longo
prazo; o cuidado com a qualidade de seus produtos; a análise de problemas que de alguma
forma se confinam a partes específicas do processo de produção ou se derivam do processo
total; o treinamento dos empregados para o trabalho a ser realizado; o encorajamento dos
demais departamentos para que estes trabalharem juntos, em vez de se concentrarem na
diferenciação entre departamentos ou divisões; a exigência para com seus funcionários no que
diz respeito a um trabalho de qualidade; e, treinar seus empregados para desenvolver novas
habilidades à medida que surja a necessidade (NETO, 2005).
2.2.2. Medicamentos e Processos de Dispensação.
Os medicamentos ocupam um lugar de destaque no sistema de saúde e no tratamento
de doenças. A alternativa para a busca da cura é, para muitos, o uso de medicamentos
(XAVIER, 2012).
Na história recente do Brasil, o tema dos medicamentos nunca esteve tão presente nas
agendas do setor saúde das três esferas de governo que compõem o SUS. Todos os caminhos
da assistência farmacêutica e da política nacional de medicamentos apontam para a
necessidade de sua inserção radical nas ações de saúde, para a melhor utilização de recursos e,
em especial, para a necessidade de colocar em prática medidas que promova nos serviços de
saúde, o uso racional de medicamentos (CASTRO, 2000).
Diante disto o processo de dispensação de medicamentos em ambiente hospitalar tem
como objetivo garantir aos pacientes em tratamento os medicamentos solicitados na
quantidade correta e de acordo com as devidas especificações expostas na prescrição de forma
que se tenha alguma margem de segurança do funcionamento adequado ou não da farmácia e
se o paciente está recebendo os seus medicamentos dentro de critérios que possam assegurar a
sua qualidade e segurança (XAVIER, 2012).
O processo de medicação no contexto hospitalar é formado por etapas que vão desde a
prescrição e distribuição até a ação de administrar o medicamento. Todas as etapas possuem
interligação e são executadas por diversos profissionais da área de saúde. Dessa forma a etapa
de prescrição fica a cargo do médico, a de dispensação e de distribuição do medicamento
ficam sob a incumbência do farmacêutico, e a etapa de manipulação referente ao preparo e a
de administração dos medicamentos, bem como o monitoramento das reações do paciente são
responsabilidades do profissional de enfermagem (OLIVEIRA, 2011).
Os processos de dispensação de medicamentos são classificados como: coletivo,
individualizado, dose unitária ou misto (XAVIER, 2012).

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SISTEMA COLETIVO

MÉDICO PRESCREVE

REQUISITA ENFERMEIRA ADMINISTRA

FARMÁCIA OU
DISPENSA
ALMOXARIFADO

ESTOCA ENFERMAGEM

Figura 1– Distribuição de medicamentos Sistema Coletivo


Fonte: Ribeiro (1993)

No Coletivo (Figura 1), os pedidos não são feitos em nome dos pacientes, mas em
nome das unidades responsáveis pela preparação e administração dos medicamentos. Neste
tipo de dispensação, a farmácia envia uma quantidade de medicamentos para serem estocados
naquelas unidades e utilizados conforme as prescrições (VECINA NETO E MALIK, 2011).

Indireto SISTEMA Direto


INDIVIDUALIZADO
Prescreve Médico Prescreve

Transcreve Encaminha
Enfermagem cópia
Tria e Farmacêutico Tria para 24h
quantifica ou 48h

Separa e Aux. Farmácia Dispensa e


acondiciona atende

Mensageiro Entrega
Entrega

Confere e Enfermagem Confere e


Administra Administra

Figura 2– Distribuição de medicamentos Sistema Individualizado


Fonte: Ribeiro (1993)

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No processo Individualizado (Figura 2), os pedidos são feitos especificamente para
cada paciente, considerando a prescrição médica para o período de 24 (vinte e quatro) horas.
Esta tipologia de dispensação possui dois tipos de operacionalização, o direto e o indireto.
Ambos possuem semelhanças, mas conforme explícito na Figura 2, a principal diferença está
no fato de que, no tipo indireto, a prescrição médica é transcrita pela enfermagem enquanto
que, no direto, uma cópia da prescrição médica é encaminhada pela enfermagem à farmácia
(SOUZA, 2012).

SISTEMA POR DOSE UNITÁRIA

Médico Prescreve

Enfermeira Tria horário

Mensageiro Encaminha Xerocópia

Farmacêutico Avalia - Tria p/24h

Aux. Farmácia Separa

Farmacêutico Revisa e confere

Mensageiro Entrega

Enfermagem Confere e Administra

Figura 3– Distribuição de medicamentos por Dose Unitária


Fonte: Ribeiro (1993)

Já no tipo Dose Unitária (Figura 3), os requisitos a serem atendidos são o de colocar à
disposição do paciente o medicamento que foi prescrito na dosagem e na formulação corretas,
bem como na hora certa para sua administração. A diferença deste processo com o
Individualizado é que neste também são unitarizadas as doses dos líquidos (VECINA NETO
E MALIK, 2011).
O de tipo Misto é assim classificado quando, no mesmo hospital, adota-se mais de um
tipo de processo e é indicado que, nesse procedimento, as solicitações encaminhadas pelas

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unidades assistenciais sejam baseadas em relação de estoque, previamente estabelecida entre
farmácia e enfermagem (XAVIER, 2012).
Os profissionais envolvidos no processo de dispensação de medicamentos devem
conhecer o seu papel na corrente de ações necessárias à medicação de um paciente, para que
desempenhe seu papel com segurança, consciência e responsabilidade, visto que seu
envolvimento e ações em cada uma das etapas podem interferir no comportamento de todo o
sistema e consequentemente no cuidado com o paciente (OLIVEIRA E MELO, 2011).

- Controle de estoque
- Acesso ao medicamento
- Erro de medicação
COLETIVO - Tempo de dispensação
- Recursos Humanos - Custo de medicamentos
-Recursos Materiais - Desvio de perdas

-Estoque nas unidades


- Erro de medicação
-Desvios e Perdas
INDIVIDUALIZADO - Recursos materiais
- Recursos Humanos
- Tempo de dispensação
- Controle de estoque

- Erro de medicação
- Tempo de dispensação
- Desvio de perdas - Custo de implantação
DOSE UNITÁRIA - Custo -Recursos humanos
- Dificuldade inicial
- Controle de Estoque
-Adaptabilidade a
Informatização

Acréscimo/Aumento Decréscimo/Redução

Quadro 1 – Vantagens e Desvantagens dos Sistemas de Distribuição de Medicamentos


Fonte: Ribeiro (1993).

O Quadro 1 expõem claramente as vantagens e desvantagens dos sistemas de


distribuição de medicamentos coletivo, individualizado e por dose unitária. No Brasil há um
longo caminho a se percorrer, principalmente nos hospitais da Paraíba, no que diz respeito a
modernizar a Farmácia Hospitalar, evoluindo dos limitados sistemas coletivos e
individualizados para um Sistema de Distribuição de Medicamentos por Dose Unitária
(SDMDU).

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3. METODOLOGIA

Para a consecução dos objetivos desta pesquisa, considerando a temática que a norteia,
ou seja, a administração de materiais, adotou-se um estudo de caso único. A realização da
pesquisa de campo se iniciou com a coleta de dados inicialmente por meio de uma entrevista
semiestruturada no dia 23 de dezembro de 2014, entre 10:30h e 13:00h, com o diretor
administrativo do Hospital, bem como com quatro profissionais de saúde envolvidos no
referido processo: um médico, uma enfermeira chefe, uma farmacêutica e uma auxiliar de
enfermagem. O tempo médio gasto em cada uma das entrevistas foi de cerca de 30 minutos,
as quais foram transcritas manualmente e resultaram em oito laudas de relatos ao final.
Tais entrevistas tiveram como objetivo fazer uma análise exploratória do processo de
dispensação de medicamentos no hospital, assim como dar base a um roteiro estruturado de
observação não participante (Figura 4), que foi aplicado logo após, contendo a descrição
detalhada do processo completo de dispensação dos medicamentos no referido hospital. Para a
criação do roteiro, também foram coletados dados mediante análise documental, que foram
concebidos metodologicamente para realizar um diagnóstico da sistemática de dispensação
dos medicamentos.

Figura 4 - Roteiro de Observação


Fonte: Elaborado pelos autores (2014)

A observação não participante realizou-se nos dias 29 de dezembro de 2014 e 02 de


janeiro de 2015, no período da manhã e à tarde, entre às 10h00min e 15h00min, horário este
relatado pelos envolvidos no processo como o de mais movimento no que diz respeito à
dispensação de medicamentos.
Foram observadas as atividades executadas pelo mensageiro do setor de prescrição,
pela enfermeira, pelo auxiliar da Farmácia central e pelo auxiliar de enfermagem da clínica
médica masculina de um hospital público da cidade de João Pessoa-PB, a fim de descrever a
atual dinâmica do processo de dispensação dos medicamentos. A referida clínica foi escolhida
por se tratar da que possui uma quantidade maior de leitos se comparada às demais clínicas
existentes no hospital, bem como pelo acesso facilitado à mesma por parte dos gestores.

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Baseado pelo relato das entrevistas e pela averiguação da etapa de observação não
participante foi elaborado o processo de dispensação de medicamentos explícito na Figura 5.

Etapa Médico Prescreve em 2


1 vias

Etapa Encaminha p/
2 Mensageiro
Enfermagem

Etapa Encaminha 1 via p/


3
Enfermeira
Farmácia

Etapa
4 Enfermeira Tria p/ 24h

Etapa Aux. Farmácia Atende e dispensa


5
Etapa Enfermeira
6
Retira e confere

Etapa
7 Aux. Enfermagem Administra

Etapa Lista e devolve


8 Enfermeira sobras

Figura 5 – Processo de Dispensação de Medicamentos do Hospital em estudo


Fonte: Elaborado pelos autores (2015)

4. ANÁLISE DOS RESULTADOS


4.1. Identificação e descrição do Processo de Dispensação
Quando indagada sobre qual o tipo de dispensação adotado pela instituição, a
farmacêutica responsável pela coordenação da farmácia informou que o processo se dá de
forma individualizada, porém se constatou que o sistema pode ser considerado misto, ao
afirmar que
as doses individuais são separadas apenas dos medicamentos em comprimido e
ampolas. Os medicamentos líquidos administrados oralmente como xaropes,
soluções em gotas e suspensão são enviados para os postos de enfermagem em seus
respectivos vasilhames para uso coletivo, pois não temos condições de fracionar as
medicações individualmente.

Dessa forma foi constatado que o sistema institucionalizado de dispensação dos


medicamentos é do tipo misto, uma combinação de sistema individualizado e coletivo, pois
alguns medicamentos em forma líquida são dispensados de forma coletiva devido à falta de
equipamentos necessários para individualizar tais soluções orais. A farmácia envia uma
quantidade de medicamentos orais em forma líquida para serem estocados no posto de

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enfermagem e utilizados conforme as prescrições, sendo controlados através da devolução dos
vasilhames vazios quando da necessidade de reposição de estoque no posto de enfermagem.
A estrutura física, os recursos humanos disponíveis e o investimento financeiro dentre
outros fatores são aspectos que influenciam na escolha e na eficácia do sistema de
dispensação (XAVIER, 2012). Esta afirmação foi evidenciada na entrevista realizada com o
diretor administrativo, ao relatar que
o hospital já possui cerca de 44 anos de existência e nunca sofreu reformas
estruturais significativas que possibilitem a implantação de um sistema de
dispensação mais eficiente, além do que os recursos humanos disponíveis no
momento são insuficientes para suprir a necessidade da operacionalização que estes
tipos de sistemas informatizados demandam e não podemos, no momento, realizar
investimentos financeiros dessa magnitude.

A seguir serão exploradas detalhadamente cada uma das etapas explícitas na Figura 5,
analisando os gargalos encontrados e sugerindo os ajustes que se faz necessário para a
eficiência do processo de dispensação.
4.1.1. Etapa 1 – Prescrição
Inicialmente se faz necessário expor que nesta etapa não foi observada a atuação do
médico com relação ao diagnóstico dos pacientes, mas apenas como a prescrição é feita e
quais os equipamentos disponíveis para a realização desta tarefa. Verificou-se na coleta dos
dados que a prescrição é feita manualmente em duas vias carbonadas contendo a quantidade
de medicamentos suficientes para suprir as necessidades dos pacientes dentro do período de
24 horas.
O fato de esse processo ser realizado manualmente demanda tempo e maior atenção
por parte dos médicos. Portanto, se este processo fosse realizado com o uso de equipamentos
computacionais, haveria otimização do mesmo, o que também viabilizaria a melhor
compreensão do que foi prescrito, tanto pela enfermagem quanto pela Farmácia (reduzindo
erros por má interpretação da prescrição, assim como ganho de agilidade no processo).
Nas prescrições diárias de cada paciente os médicos costumam prescrever
medicamentos para uso em urgências caso seja necessário. Essa prática se dá pelo fato de que
a clínica médica não possui médicos plantonistas à sua disposição 24 horas e por que a
farmácia só permite a retirada de medicamentos – inclusive em casos de urgência - com
prescrição médica.
4.1.2. Etapa 2 – Encaminhamento da Prescrição
A duas vias das prescrições são repassadas para a enfermagem por um mensageiro
contratado exclusivamente para realizar essa tarefa de transporte. Pelo ponto de vista dos

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pesquisadores este processo poderia ser otimizado com a utilização de um sistema
informatizado que interligasse a sala de prescrição dos médicos ao posto de enfermagem.
4.1.3. Etapa 3 – Triagem
Nesta etapa a enfermagem tria os medicamentos que foram prescritos para 24 horas na
prescrição médica a fim de facilitar quando do momento da administração dos mesmos. Todo
o processo é feito manualmente nas duas vias da prescrição. Mais uma vez, caso fosse feito
com base em equipamento computacionais, tal processo se daria de forma mais ágil e
transparente.
4.1.4. Etapa 4 – Protocolização e envio para a Farmácia
A protocolização das prescrições é feita no setor de enfermagem, pela enfermeira
chefe, sendo em seguida encaminhada à Farmácia pessoalmente pela mesma. Tal
deslocamento poderia ser evitado com a interligação dos setores envolvidos nesta etapa
através do uso de um sistema em rede de computadores.
Outro detalhe verificado nesta etapa foi a protocolização de todas as prescrições de
uma única vez, sem que todas tenham sido oficialmente encaminhadas na prática. Tal situação
pode dar vasão a extravios desta documentação, sendo assim recomendável que o protocolo
seja preenchido somente com as prescrições que forem realmente entregues em cada
atendimento.
4.1.5. Etapa 5 – Atendimento e dispensa
Ao receber da enfermagem a via das prescrições de medicamentos destinadas ao seu
setor, o auxiliar da Farmácia assina o protocolo, o qual fica em poder da enfermagem. Nesse
momento, a enfermagem segue para o posto de enfermagem, a fim de aguardar a separação,
repasse e dispensa dos medicamentos solicitados.
O auxiliar da Farmácia verifica se há disponibilidade do medicamento em estoque. Em
caso positivo de disponibilidade de todos os medicamentos solicitados pela clínica médica,
tais medicamentos são separados, dado baixa no sistema de estoque da farmácia, organizado
em sacos plásticos transparentes e deixado à disposição para retirada pelo setor solicitante,
juntamente com a via da prescrição de medicamentos pertencente à farmácia para posterior
conferência.
Nesta etapa do processo foi verificada a incerteza do tempo necessário para sua
execução, o que dificulta a retirada por parte da enfermagem que precisa em muitos dos casos
se deslocar mais de uma vez para realizá-la. Tal desperdício de tempo com o deslocamento a
fim de verificar se os medicamentos estão liberados para serem retirados poderia ser evitado

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com a melhor interação entre a Farmácia e a enfermagem (uma ligação telefônica poderia
resolver tal problema, visto que ambos possuem linhas telefônicas em seus setores).
4.1.6. Etapa 6 – Retirada e conferência
A enfermeira retorna à Farmácia, aproximadamente após uns 30 minutos em média,
para a retirada dos medicamentos solicitados, deslocando-se em seguida até o posto de
enfermagem para executar a conferência dos mesmos.
A enfermeira faz a conferência com a via da prescrição médica da Farmácia e, no caso
de não haver erro dos medicamentos separados com o que foi solicitado, carimba e assina a
via da prescrição da Farmácia, confirmando o recebimento e conferência do que foi entregue,
acondicionando os medicamentos de cada paciente separadamente em recipientes plásticos
transparentes identificados com o leito de cada um deles. Caso os medicamentos solicitados
pela clínica estejam com divergências no momento da conferência, a enfermagem retorna à
Farmácia, que de imediato realiza a correção (trocando os que foram confundidos ou
acrescentando medicações que não foram repassadas).
Nessa etapa do processo foi possível verificar a existência de retrabalho por falhas
humanas e é importante corrigir essas ocorrências, pois elas proporcionam desperdício de
tempo tanto no setor da farmácia para reparar o erro, como em relação à enfermagem que
precisa se deslocar desnecessariamente para a Farmácia a fim de solucionar as divergências.
Isto pode ser corrigido com a prática de dupla conferência, tanto da parte do auxiliar de
farmácia quanto do farmacêutico antes da retirada dos medicamentos.
Comparando esta etapa com o exposto na Figura 2, que descreve a dispensação
individualizada, nota-se que o deslocamento de entrega deve ser feito por um mensageiro e
não pela enfermagem, pois a atribuição da enfermagem neste tipo de dispensação é apenas de
conferência e administração da medicação ao paciente e não de transporte de medicamentos
Portanto, assim como acontece no setor de prescrição, necessário se faz também ter um
mensageiro no setor de farmácia que realize a entrega dos medicamentos para o setor de
enfermagem. A introdução deste sujeito no processo permitirá que os profissionais de
enfermagem não se ausentem da sua principal função que é a de prestar assistência direta ao
paciente.
4.1.7. Etapa 7 – Administração
Esta etapa não foi observada por se tratar de tarefa técnica por parte da enfermagem.
Porém se buscou informações sobre como os mesmo controlam a efetiva administração dos
medicamentos aos pacientes. Os auxiliares de enfermagem criaram um sistema de código

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específico para informar que o paciente foi medicado: circulam a dose na triagem feita pela
enfermeira chefe quando a medicação não foi administrada e colocam um traço em cima da
dose quando a mesma foi administrada. Dessa forma a equipe de enfermagem do próximo
plantão fica informada do que foi feito e do que não pôde ser feito através dos códigos.
4.1.8. Etapa 8 – Listagem e devolução de sobras
Ao término do plantão de cada equipe de enfermagem na clínica médica, é realizada a
devolução de medicamentos que não foram utilizados por meio de formulário assinado e
transcrito pela enfermeira chefe com duas vias carbonadas, uma que segue para a farmácia
junto com os medicamentos e outra que fica de posse da enfermagem. Em sua maioria os
medicamentos que sobram são aqueles prescritos pelos médicos para uso em urgências caso
seja necessário.
Nota-se que essa prática busca garantir a administração imediata em casos de
urgências e emergências com os pacientes internados na clínica médica, porém ela deixa
brechas para que ocorram desperdícios e extravios de medicamentos, ficando esta ação de
devolvê-los à Farmácia em poder da honestidade dos profissionais de enfermagem.
O ideal seria que o setor de Farmácia mantivesse formulários disponíveis na farmácia
para solicitação de medicação de urgência com duas vias em que a enfermagem se
responsabilizasse com sua assinatura no momento de retirada e, posteriormente, com a
assinatura do médico responsável pelo atendimento do paciente.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
O processo de dispensação de medicamentos em ambiente hospitalar busca garantir os
produtos solicitados na quantidade correta e de acordo com as devidas especificações
(XAVIER, 2012). Nesse contexto, pode-se afirmar que o processo de dispensação de
medicamentos da farmácia na instituição hospitalar estudada consegue alcançar o objetivo de
abastecer a clínica médica com os medicamentos necessários para cada paciente, porém no
decorrer do processo alguns gargalos foram encontrados.
O processo institucionalizado é eficaz, mas não é eficiente, pois entre as etapas foi
observado perda de controle em alguns casos, assim como elevado nível de rigidez em outro
(o que põe em risco a vida de pacientes caso haja demora na administração de medicamentos
em casos de urgência). Tais intercorrências podem ser facilmente ajustadas em curto prazo
com a humanização do processo, proporcionada através de uma melhor interação entre a
Farmácia e os profissionais de saúde envolvidos (iniciando por meio de uma diretriz que parta

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da direção, comunicando e expondo de forma clara e acessível um protocolo padrão de
atendimento).
A médio e longo prazo, sugere-se o levantamento de viabilidade financeira para
executar a implantação de um Sistema de Distribuição de Medicamentos por Dose Unitária
(SDMDU) totalmente informatizado. Este tipo de dispensação permite melhorias por parte
das devoluções do que não foi utilizado pelo paciente e controle mais efetivo sobre o
medicamento e sobre as doses, além de proporcionar a integração da Farmácia e a equipe de
saúde da instituição (SOUZA, 2012).
O investimento de implantação do SDMDU é relativamente elevado, porém é
justificado diante da economia que traz por meio da maior eficiência na aquisição e
administração de medicamentos, assim como segurança, qualidade e eficácia por ele
proporcionado, além de consequentemente abreviar o tempo de tratamento e internação dos
pacientes (SOUZA, 2012).
Este estudo direcionou-se apenas a uma única unidade pública hospitalar, entretanto
podendo ter características parecidas com outras organizações hospitalares, contribuindo
assim com a melhoria de gestão das mesmas. Com relação a contribuição teórica, verifica-se a
pouca quantidade de pesquisas com foco em gerenciamento de materiais em hospitais no país
na área de Administração, mais ainda quando se analisa o nordeste brasileiro. Dessa forma, tal
pesquisa contribui com mais uma perspectiva de racionalização e compreensão da
administração dos hospitais no Brasil (de forma direta a forma como se dá o processo de
administração de materiais de um hospital público).
Entretanto, faz-se necessário mais estudos em instituições hospitalares públicas e
privadas para que se possa apresentar comparações mais precisas de seus procedimentos de
dispensação e controle de medicamentos, assim como a mensuração de dados pertinentes ao
tema (por meio de estudos quantitativos que comprovem estatisticamente tal situação
relatada).

6. REFERÊNCIAS
CASTRO,C.G.S.O. (Coord). Estudos de utilização de medicamentos: noções básicas. Rio de
Janeiro: Fiocruz, 92p, 2000.

DIAS, Marco Aurélio P. Administração de materiais: uma abordagem logística. 4 ed. São Paulo:
Atlas, 2009.
GONÇALVES, P. S.. Administração de materiais. 3 ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2010.
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GUIMARÃES, L.A.F., Gestão e Racionalização na distribuição de medicamentos e materiais clínicos:
um estudo de caso no Hospital Escola da Universidade de Taubaté. Dissertação de Mestrado do Curso
de Mestrado em Gestão e Desenvolvimento Regional da Universidade de Taubaté UNITAL - São
Paulo, 2005.
MARTINS, P. G.; ALT, R. C. Administração de materiais e recursos patrimoniais. 3ª ed. São
Paulo: Saraiva, 2009.
MEAULO, M.P.; PENSUTTI, M. A gestão de estoques em ambientes hospitalares. VIII CONVIBRA
Administração – Congresso Virtual Brasileiro de Administração, Bauru, 2014.
MOREIRA, D.F.F. Sistema de Distribuição de Medicamentos: Erros de Medicação, Trabalho de
Conclusão de Curso de Formação de Oficiais do Serviço de Saúde, especialização em Aplicações
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