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Aspectos Clínicos

Embora a H. pylori possa ser responsável por várias doenças, a maior parte dos indivíduos infectados
por ela não apresenta nenhum sintoma. Durante a infância é comum adquirir a bactéria H. pylori, e ela
pode persistir no organismo ao longo da vida. A maioria das pessoas infectadas por ela desenvolve
gastrite, embora muitos não apresentem sintomas. No entanto, outros podem desenvolver úlceras
pépticas ou duodenais, adenocarcinoma gástrico e linfomas, especialmente o linfoma MALT (Linfoma do
tecido linfóide associado à mucosa).

A infecção pelo Helicobacter pylori (H. pylori) pode causar inflamação persistente na mucosa gástrica,
resultando em diferentes lesões orgânicas, como gastrite crônica, úlcera péptica e câncer gástrico. Os
fatores que determinam esses diferentes resultados incluem a intensidade e a distribuição da inflamação
induzida pelo H. pylori. As cepas do H. pylori apresentam diversidade genotípica que aciona o processo
inflamatório por meio de mediadores e citocinas, resultando em diferentes graus de resposta
inflamatória do hospedeiro e diferentes destinos patológicos. Cepas do H. pylori com a ilha de
patogenicidade cag podem induzir uma resposta inflamatória mais grave, aumentando o risco de
desenvolvimento de úlcera péptica e câncer gástrico. O estresse oxidativo e nitrosativo induzido pela
inflamação desempenha um papel importante na carcinogênese gástrica, podendo resultar na formação
ou ativação de cancerígenos, danos no DNA, alterações na proliferação celular e apoptose.

GASTRITES:

A gastrite é uma inflamação comum que pode se apresentar em formas aguda ou crônica. Embora
possa ser assintomática, a gastrite pode causar dores e indigestão. Estudos indicam que a infecção
bacteriana da mucosa gástrica, especialmente pelo H. pylori, é a principal causa da maioria das gastrites
crônicas. A gastrite aguda é caracterizada por um infiltrado de neutrófilos, que pode resultar em
inflamação superficial ou escoriações na mucosa gástrica devido à secreção gástrica. Já a gastrite crônica
é caracterizada pelo predomínio de células mononucleares e pode levar à atrofia da mucosa, o que pode
resultar em acloridria, ou seja, a falta de secreção de ácido clorídrico pelo estômago.
- A presença da H. pylori é grande responsável pela indução da gastrite crônica na qual pode levar para v
variações de complicações, que vão de úlcera péptica (úlcera gástrica e duodenal) ao adenocarcinoma
gástrico distal e linfoma não- Hodgkin. Embora os fatores que determinam esta variedade de resultados
clínicos da infecção pela H. pylori não estejam bem compreendidos, mas o desenvolvimento de uma
resposta inflamatória prolongada no estômago parece ser crucial para a progressão da doença. O risco
de desenvolver complicações pode estar relacionado a diferenças na expressão de proteínas específicas
da bactéria (CagA, VacA, entre outras), a variações na resposta inflamatória do paciente ou a interações
específicas entre o paciente e a bactéria.

Associação com o câncer gástrico:

Embora a maioria das pessoas infectadas com H. pylori não apresente sintomas, cerca de 10 a 20%
delas podem desenvolver úlcera péptica e 1% podem desenvolver câncer gástrico. A H. pylori também
tem a capacidade de aumentar a expressão de CXCR4 no câncer gástrico por meio do TNF-a. CXCR4 é um
receptor de quimiotaxia frequentemente superexpresso em diversos tipos de câncer, incluindo o
gástrico. O TNF-a é um importante mediador químico associado à inflamação em cânceres e está
envolvido na promoção e progressão do câncer em humanos e animais. Os produtos da cag PAI
possivelmente desempenham um papel nessa indução. Além disso, o polimorfismo de interleucinas
pode influenciar no desenvolvimento de úlcera péptica e câncer gástrico.

CARCINOMA E LINFOMA GÁSTRICO

Sendo o segundo câncer mais letal do mundo, com incidência de 800 mil casos por ano, o carcinoma
gástrico estabelece uma relação casual com a infecção da H. pylori. Estudos apresentam diversos casos
de indivíduos com inflamação crônica que chegam ao estágio de atrofia do estômago e desenvolvem
posteriormente o câncer no estômago, o que leva, o H. pylori a ser relacionado como um parcial fator de
risco para tal enfermidade. O estômago não possui tecido linfóide e pode apresentar o MALT (em
condições patológicas. Esta patologia ocorre pela presença de infiltrado MALT adquirido, dando origem
ao linfoma do tecido linfóide não associado a mucosa. A Internacional Agency for Research on Cancer
(IARC), em 1994, a International Agency for Research on Cancer (IARC) classificou o H. pylori como um
carcinógeno do tipo I depois de avaliar evidências que relacionavam o microrganismo ao câncer gástrico.
Embora alguns pesquisadores questionem se a infecção pelo H. pylori é uma causa definitiva do câncer
de estômago ou apenas um co-fator, o tipo mais comum de câncer gástrico apresenta uma correlação de
89% com a presença do microrganismo.

DISCEPSIA FUNCIONAL

A dispepsia funcional ou idiopática refere-se a uma disfunção do sistema digestivo, indigestão, que
desencadeia dor e desconforto na parte superior do abdome, sem qualquer causa orgânica ou
morfológica. A relação com o H. pylori é incerta, uma vez que embora alguns estudos sugiram que essa
bactéria esteja envolvida na fisiopatologia da dispepsia funcional, essa conexão ainda não foi
completamente compreendida sendo então a bactéria colocada como uma causa subjacente.
ÚLCERAS PÉPTICAS

A bactéria H. pylori é a responsável por aproximadamente 80% das úlceras pépticas, que correspondem
a lesões abertas no revestimento do estômago ou da parte inicial do intestino delgado, o duodeno. Entre
os sintomas mais comuns estão dor abdominal severa, náusea, vômito, perda de peso e perda de
apetite.

ASSOCIAÇÃO COM ÚLCERAS PÉPTICAS E DUODENAIS

De acordo com estudos de coorte, indivíduos H. pylori-positivos têm de 3 a 10 vezes mais chances de
desenvolver úlceras do que aqueles H. pylori-negativos. A descoberta de tratamentos para erradicar a H.
pylori comprovou uma relação causal entre a bactéria e a úlcera, pois a erradicação reduziu
drasticamente o risco de recorrência. Isso teve um grande impacto no tratamento e prognóstico da
úlcera péptica, que anteriormente era considerada uma doença crônica e recorrente com alta
morbidade e necessidade de terapia antiácida ou cirúrgica. Metade dos pacientes com úlcera péptica
associada à H. pylori sofriam recidivas, mas a erradicação da bactéria mudou o curso natural da doença e
a recorrência tornou-se quase completamente impedida. A recorrência após a erradicação pode ser
causada por reinfecção pela H. pylori, uso de antiinflamatórios não esteróides ou por uma úlcera
idiopática. Além disso, fatores do hospedeiro e da bactéria influenciam o aparecimento da úlcera na
presença de H. pylori. A prevalência da úlcera péptica tem diminuído nos países ocidentais graças à
redução da recorrência após a erradicação da H. pylori, melhora na higiene e condições de vida, e
principalmente ao uso de terapia antimicrobiana. A eliminação da H. pylori pode diminuir a
probabilidade de úlceras hemorrágicas em pacientes que já tiveram hemorragia ulcerosa e foram
infectados pela bactéria.

A H. pylori é o principal fator de risco conhecido para úlceras duodenais, no entanto somente 20% dos
pacientes infectados desenvolvem a doença. Segundo o modelo aceito para a patogênese da H. pylori
relacionada à úlcera duodenal, a colonização do duodeno pelo organismo é o último passo. Assim sendo,
a colonização duodenal pode representar um risco elevado para o desenvolvimento da úlcera. Pietroiusti
e colaboradores (2005) examinaram a colonização duodenal por meio de culturas e avaliaram se essa
condição aumentava o risco de desenvolvimento da úlcera duodenal em pacientes com achados
endoscópicos basais normais. Eles também observaram a presença da citotoxina associada ao gene A
(CagA), um fator de virulência bacteriana que aumenta em três vezes o risco, e analisaram se a
colonização duodenal com bactérias cagA positivas aumenta ainda mais esse risco. Os pesquisadores
concluíram que a detecção da H. pylori por meio de cultura duodenal aumenta o risco de desenvolver
úlcera duodenal. Esse achado pode influenciar estratégias de prevenção da doença, que é a mais comum
causada pela H. pylori.

Fonte:

• ALINNE CLAUDIA RODRIGUES PINTO. Disponível em:

• BARBOSA, J. et al. Helicobacter pylori: Association with gastric cancer and new insights into the
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Editora]: Grupo GEN, 2022. E-book. ISBN 9788595159662. Disponível em:
https://app.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788595159662/. Acesso em: 07 mai. 2023.

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