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CMNE/CILAMCE 2007

Porto, 13 a 15 de Junho, 2007


© APMTAC, Portugal 2007

INFLUÊNCIA DA GEOMETRIA DAS NERVURAS NA CAPACIDADE


DE ISOLAMENTO TÉRMICO DE LAJES NERVURADAS EM
SITUAÇÃO DE INCÊNDIO
Carla Neves Costa1, Sérgio Guirado Braga Júnior1 e Valdir Pignatta e Silva1

1: Departamento de Engenharia de Estruturas e Geotécnica


Escola Politécnica da Universidade de São Paulo
Av. Prof. Almeida Prado, trav. 2, n° 271 [Ed. Eng. Civil], CEP 05508-900, Cidade Universitária,
São Paulo, SP, Brasil.
e-mail: carlac@usp.br, sergiobragajr2000@yahoo.com.br, valpigss@usp.br – web:
http://www.lmc.ep.usp.br/people/valdir

Palavras-chave: lajes nervuradas, isolamento térmico, incêndio, concreto armado, umidade


de equilíbrio.

Resumo. Nos projetos em situação de incêndio, a laje é, usualmente, um dos elementos


construtivos que cumpre, simultaneamente, a dupla função corta-fogo e estabilidade
estrutural. Em altas temperaturas, as nervuras podem desempenhar dois papéis
antagônicos às lajes nervuradas: atuar como aletas, facilitando a transferência de calor
por condução entre as faces exposta e não-exposta ao fogo, ou realçar a propriedade de
isolamento térmico da laje, dependendo da massividade das nervuras.
A norma brasileira NBR 15200:2004 – “Projeto de estruturas de concreto em situação de
incêndio” prescreve dimensões mínimas da capa e das nervuras para assegurar a
resistência ao fogo às lajes nervuradas, independente da distância entre as nervuras e da
umidade de equilíbrio do concreto.
Este trabalho apresenta os resultados da análise paramétrica das dimensões das nervuras
sobre a capacidade de isolamento das lajes, com auxílio do software Super Tempcalc
(TCD v. 5), para a análise térmica em regime transiente de elementos estruturais de
concreto, de aço e mistos de concreto & aço, com base na equação diferencial de Fourier
para a Transferência de Calor solucionada pelo método dos elementos finitos.
Carla Neves Costa, Sérgio Guirado Braga Júnior, Valdir Pignatta e Silva

1. INTRODUÇÃO
A norma brasileira NBR 6118:2003[3] define as lajes nervuradas como “lajes moldadas no
local ou com nervuras pré-moldadas, cuja zona de tração é constituída por nervuras entre as
quais pode ser colocado material inerte” (NBR 6118:2003, p. 86).
As nervuradas constituem um artifício econômico para aumentar a rigidez sem aumentar,
efetivamente, a espessura da laje. A espessura de concreto na região entre as barras de
armadura tracionada pode ser reduzida até a profundidade delimitada pela linha neutra, sem
ônus à capacidade resistente à flexão. Além da racionalização do concreto, há a redução do
peso próprio da estrutura e, o uso de materiais de enchimento é opcional, uma vez que a sua
função é apenas preencher o “espaço vazio” sem contribuir à resistência.
A porção de concreto que contém as barras é semelhante a pequenas vigas que se cruzam, em
lajes armadas em duas direções, solidarizadas à mesa. Sob a ótica estrutural, a laje nervurada
tem um comportamento intermediário entre os comportamentos de placa e de grelha; por isso,
a NBR 6118:2003[3] prescreve dimensões mínimas do perfil nervurado para a dispensa da
verificação da flexão da mesa, do cisalhamento das nervuras ou para considerar a laje
nervurada como laje maciça (a mesa) apoiada sobre a grelha de vigas (as nervuras).
Os arranjos possíveis entre as dimensões da mesa, do intereixo e das nervuras asseguram a
confiabilidade do projeto das lajes nervuradas à temperatura ambiente; o mesmo não se pode
afirmar para a situação de incêndio, uma vez que a resistência ao fogo pode ser avaliada não
somente pelos critérios de estabilidade estrutural, mas também pelos critérios de isolamento
térmico e estanqueidade[11].
Para a situação de incêndio, a resistência ao fogo das estruturas de concreto deve atender aos
critérios definidos pela NBR 14432:2001[2] e pela NBR 15200:2004[4]. Em muitas situações
de carregamento, a resistência ao fogo é conseguida para dimensões inferiores àquelas
normatizadas[4]; entretanto, comprovar a eficiência de dimensões inferiores requer métodos
precisos, quer por ensaios experimentais ou numéricos.
COSTA & SILVA[12] investigaram o desempenho estrutural de 10 amostras de lajes
nervuradas de concreto armado, produzidas com as fôrmas fabricadas e comercializadas pelas
empresas brasileiras Astra S/A Indústria e Comércio, Atex do Brasil Ltda. e Ulma Andaimes,
Fôrmas e Escoramentos, Ltda.; por meio de análise computacional, a estabilidade estrutural à
flexão pôde ser verificada para algumas situações de carregamento, em seções nervuradas
projetadas somente à situação normal de uso, i.e., atendendo apenas às diretrizes da NBR
6118:2003[3] à temperatura ambiente.
Enquanto elementos de compartimentação, as lajes têm a função corta-fogo; assim, a
estabilidade estrutural não governa, exclusivamente, a resistência ao fogo.
Esta pesquisa objetiva avaliar a resistência ao fogo segundo o critério de isolamento térmico
da mesa de perfis nervurados de concreto. Por meio de uma análise paramétrica dimensional,
será investigada a influência da altura, largura e distância entre nervuras, sobre a distribuição
de temperaturas na face superior da mesa, com finalidade de avaliar a eficiência do
isolamento térmico proporcionado pelas nervuradas, desprezando-se a contribuição de
qualquer material de enchimento.
A análise térmica foi obtida por meio de modelagem computacional, empregando-se as leis

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fundamentais da Transferência de Calor, com auxílio do software Super Tempcalc® –


Temperature Calculation and Design v. 5[18], para análise térmica bidimensional de
transferência de calor (transiente) por meio do método dos elementos finitos.
Neste texto, os símbolos das equações serão identificados na primeira vez que eles aparecem.

2. ANÁLISE PARAMÉTRICA DIMENSIONAL DO ISOLAMENTO TÉRMICO


A NBR 14432:2001[2] define isolamento como sendo a capacidade do elemento construtivo
de impedir que a face não-exposta ao incêndio tenha incrementos de temperaturas superiores
a 140 °C, na média dos pontos de medida, ou ainda, superiores a 180 °C, em qualquer ponto
de medida, avaliada em ensaio segundo a NBR 5628:2001[1].
O isolamento térmico é governado pelas características térmicas do concreto, as quais são
influenciadas pelas características da mistura (dosagem, teor de umidade, natureza dos
agregados).
O isolamento térmico é estabelecido pelo campo de temperaturas da seção e pode ser
analisado por meio de métodos experimentais ou numéricos.
O teor de umidade do concreto influencia as propriedades térmicas dos materiais,
principalmente para temperaturas no intervalo 100 °C ≤ θ ≤ 150 °C, quando a água livre do
concreto evapora.
A temperatura do material não se elevará enquanto houver água livre presente na
microestrutura do material; por outro lado, a evaporação da umidade implica na redução da
massa específica do concreto. Ambas as reações têm impacto sobre a difusividade térmica do
concreto e, conseqüentemente, na condução do calor dentro do elemento.
A presença das nervuras pode influenciar a distribuição de temperaturas na mesa de uma
seção nervurada. A massividade das nervuras associada à movimentação de ar quente dentro
das “canaletas”, à convecção e à radiação em regime transiente pode favorecer o isolamento,
retardando a absorção do calor pela mesa.
Para avaliar o papel das nervuras sobre o campo de temperatura da mesa, é preciso analisar a
influência de cada dimensão relacionada às nervuras (Figura 1): a altura da (he), a largura
(bw), a distância entre nervuras (be) e o intereixo (i).
Exceto a altura, as demais dimensões estão inter-relacionadas:
i = be + bw (1)

onde: i = intereixo ou distância entre o eixo das nervuras;


bw = largura das nervuras;
be = distância entre as faces das nervuras;

A análise efetiva da espessura da mesa (hcapa) objetivou quantificar a influência do teor de


umidade de equilíbrio do concreto sobre o isolamento, indiretamente, sobre a espessura da
mesa implica.
A combinação de dimensões usada nas análises está esquematizada na Figura 2.

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½ vão entre nervuras

ponto de controle de medição de temperatura


½*i

hcapa

be he

bw sem escala

Figura 1. Seção transversal genérica de lajes nervuradas de concreto armado.

Análise paramétrica dimensional

nervuras

amostras organizadas em grupos:

grupo H grupo BW grupo I grupo BE

dimensão parametrizada: dimensões parametrizadas: dimensões parametrizadas: dimensões parametrizadas:

altura (he) largura (bw) intereixo (i) intereixo (i) be be largura (bw)
i = bw + be (be = i - bw ) (bw = i - be)

dimensões fixadas:
dimensões fixadas: dimensões fixadas: dimensões fixadas:

largura (bw)
(be) altura (he) altura (he) altura (he)
intereixo (i) (be) largura (bw) intereixo (i)
i = bw + be capa (hcapa) capa (hcapa) i = bw + be
capa (hcapa) capa (hcapa)

capa
(espessura)

teores de umidade parametrizados:

U=0 U = 1,5% U = 3% U = 4%

Figura 2. Combinação entre dimensões básicas fixadas e variadas da análise paramétrica dimensional.

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2.1. Propriedades térmicas dos materiais


As propriedades térmicas do concreto endurecido relevantes para a análise térmica são:
condutividade térmica e calor específico. Ambas as propriedades térmicas e a densidade do
concreto endurecido são afetados pela temperatura elevada.
Os valores das propriedades térmicas do concreto em função da temperatura assumidos são
aqueles recomendados pela norma EN 1992-1-2:2004[14] da União Européia (Figura 3 a
Figura 6; Tabela 1).
A variação da condutividade térmica do concreto com a temperatura está compreendida entre
os limites superior e inferior (Figura 3), para que cada região (ou país) possa definí-la dentro
dessa faixa, em função da natureza dos agregados que compõem o concreto, do tipo da
estrutura e da umidade do ambiente.
Não há qualquer regulamentação brasileira específica que forneça a condutividade térmica do
concreto (agregados silicosos) de densidade normal, a temperaturas elevadas; por isso, a
equação associada ao limite inferior (eq. 2), por apresentar campos de temperaturas mais
realistas a elementos de concreto armado.
O limite inferior (eq. 2), para o intervalo 20 °C ≤ θ ≤ 1200 °C, originou-se de comparações
realizadas entre temperaturas elevadas medidas em ensaios de resistência ao fogo de vários
tipos de estruturas de concreto[14].
A massa específica do concreto sofre uma ligeira redução à temperatura elevada (Figura 4),
causada, primariamente, pela evaporação da água livre e, secundariamente, pelo aumento do
volume devido à expansão térmica[6]. A redução da massa específica em função da
temperatura elevada, assumida nesta investigação, é determinada pela eq. 3[14].
θ ⎛ θ ⎞
2 (2)
λc ,θ = 1,36 − 0,136 ⋅ + 0,0057 ⋅ ⎜ ⎟
100 ⎝ 100 ⎠
onde: λc,θ = condutividade térmica do concreto de densidade normal, em função da
temperatura θ [W/m°.C].

(3)
ρ c ,θ = ρ c , se 20 °C ≤ θ ≤ 115 °C

⎡ ⎛ θ − 115 ⎞⎤
ρ c ,θ = ρ c ⋅ ⎢1 − 0,02 ⋅ ⎜ ⎟⎥, se 115 °C < θ ≤ 200 °C
⎣ ⎝ 85 ⎠⎦
⎡ ⎛ θ − 200 ⎞⎤
ρ c ,θ = ρ c ⋅ ⎢0,98 − 0,03 ⋅ ⎜ ⎟⎥, se 200 °C < θ ≤ 400 °C
⎣ ⎝ 200 ⎠⎦
⎡ ⎛ θ − 400 ⎞⎤
ρ c ,θ = ρ c ⋅ ⎢0,95 − 0,07 ⋅ ⎜ ⎟⎥, se 400 °C < θ ≤ 1200 °C
⎣ ⎝ 800 ⎠⎦
onde: ρc = massa específica do concreto de densidade normal à temperatura ambiente
[kg/m³];
ρc,θ = massa específica do concreto de densidade normal em função da temperatura θ
[kg/m³].

5
Carla Neves Costa, Sérgio Guirado Braga Júnior, Valdir Pignatta e Silva

2400
ρc = 2400 kg/m³
2350

2300

ρc,θ (kg/m³)
2250

2200

2150

2100
0 200 400 600 800 1000 1200

temperatura θ (°C)
Figura 3. Condutividade térmica do concreto usual, Figura 4. Variação da massa específica do concreto
em função da temperatura[14] . usual em função da temperatura, cujo valor à
temperatura ambiente é ρc = 2400 kg/m³.

Nesta pesquisa, o concreto é de densidade normal sem propriedades refratárias, de massa


específica ρc = 2400 kg/m³ à temperatura ambiente, conforme recomendações da NBR
6118:2003[3].
A variação do calor específico em função da temperatura é marcada por um valor de pico,
entre 100 °C e 200 °C, devido à evaporação da água livre presente na matriz do concreto
endurecido (Figura 5 e Figura 6). O valor de pico depende do teor de umidade do concreto, o
qual deveria ser tomado igual ao teor de umidade de equilíbrio do elemento estrutural[27].
Na ausência de dados experimentais, pode-se modelar a função do calor específico por
unidade de massa (eq. 4), assumindo um valor de pico constante entre 100 °C e 115 °C. Os
hot Eurocodes fornecem valores de pico do calor específico em função dos teores de umidade
do concreto possíveis em elementos de concreto de edifícios usuais (Tabela 1).
(4)
c p ,θ = 900, se 20 °C ≤ θ ≤ 100 °C

c p ,θ = c p , pico , se 100 °C ≤ θ ≤ 115 °C

c p ,θ = 900 + (θ − 100 ) se 115 °C < θ ≤ 200 °C


θ
c p ,θ = 900 + , se 200 °C < θ ≤ 400 °C
2
c p ,θ = 1100, se 400 °C < θ ≤ 1200 °C
onde: cp,θ = calor específico por unidade de massa do concreto de densidade normal em
função da temperatura θ [J/kg °C];

6
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cp,pico = valor de pico do calor específico por unidade de massa do concreto de


densidade normal, em função da umidade de equilíbrio do concreto e da temperatura θ [J/kg
°C].

O calor específico por unidade de volume é influenciado pela ação térmica direta e pela massa
específica, a qual também varia com elevação da temperatura (eq. 5). A Figura 6 ilustra a
variação do calor específico por unidade de volume, em função da temperatura elevada, para
o concreto de massa específica ρc = 2400 kg/m³ à temperatura ambiente.
c v ,θ = c p ,θ ⋅ ρ c ,θ (5)
onde: cv,θ = calor específico por unidade de volume do concreto de densidade normal em
função da temperatura θ [J/kg °C].
2800 U=4% 7000
U=4%

2400 6000
cp,θ (kJ/m³.°C)
cp,θ (J/kg.°C)

2000 U=3% 5000 U=3%


U=2% U=2%

1600 4000
U=1,5% U=1,5%

1200 3000 U=0


U=0
800 2000
0 200 400 600 800 1000 1200 0 200 400 600 800 1000 1200
temperatura θ (°C) temperatura θ (°C)
Figura 5. Calor específico por unidade de massa do Figura 6. Calor específico por unidade de volume do
concreto usual em função da temperatura[14]. concreto usual em função da temperatura, para
concreto de massa específica ρc = 2400 kg/m³ a 20 °C.

2.2. Ação térmica


A ação térmica é caracterizada pelos fluxos de calor convectivo e radiante sobre a superfície
dos elementos estruturais. Os fluxos de calor convectivo e radiante são produzidos pela
diferença entre a temperatura do elemento estrutural, “frio”, e a temperatura dos gases quentes
no compartimento em chamas[28].
A diferença entre a temperatura do ambiente superaquecido (em chamas) e a dos elementos
estruturais gera um fluxo de calor que, por convecção, radiação e condução1, transfere-se
para a estrutura, aumentando a sua temperatura.
A curva ISO 834[22] (eq. 6; Figura 7) é internacionalmente adotada para classificação e
verificação de resistência ao fogo das estruturas. Para o início do incêndio (t = 0), a

1
A condução ocorre dentro do elemento.

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temperatura da atmosfera do compartimento, em que as lajes estão inseridas, admite-se θg0 =


20 °C.
θ g − θ g 0 = 345 ⋅ log(8 ⋅ t + 1) (6)
onde: θg = temperatura dos gases quentes (atmosfera) do compartimento em chamas [°C];
θg0 = temperatura da atmosfera do compartimento no instante t = 0 [°C];
t = tempo [min].

Tabela 1. Valor de pico do calor específico do


concreto situado entre 100 e 200
°C[14][16][17][27].
U (%) em peso de
cp,pico (J/kg.°C)
concreto
900 0
1470 1,5
1875 2
2020 3
2750 4
5600 10

Figura 7. Curva padronizada ISO 834[22].

Para as superfícies diretamente aquecidas, o fluxo de calor convectivo foi determinado pela
equação de Isaac Newton, para a transferência de calor por convecção:
q c = α c ⋅ (θ g − θ c )
• (7)

onde: q c = fluxo de calor convectivo na superfície por unidade de área [W/m²];
αc = coeficiente de transferência de calor por convecção [W/(m².°C)];
θc = temperatura da superfície do elemento estrutural [°C].

Para a face exposta ao aquecimento padronizado ISO 834[22], a norma EN 1991-1-


2:2004[13] recomenda o coeficiente de transferência de calor por convecção αc = 25 W/m².°C
(Figura 8).
Para as superfícies diretamente aquecidas, o fluxo de calor radiante foi determinado pela
equação de STEFAN & BOLTZMANN, para a transferência de calor por radiação:

[
q r = ε r ⋅ σ ⋅ (θ g + 273) − (θ c + 273)
4 4
] (8)

onde: q r = fluxo de calor radiante na superfície por unidade de área [W/m²];
εr = emissividade resultante [adimensional];

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σ = constante de Stephan-Boltzmann, igual a 5,669.10-8 W/(m².°C4).

A emissividade é a capacidade de absorção de calor da superfície, relativa à capacidade de um


irradiador perfeito2. A emissividade resultante (εr) é o produto entre a emissividade da
superfície aquecida do elemento (εm) e a emissividade do incêndio (εf). Para a superfície de
concreto sujeita ao incêndio-padrão pode-se adotar: εm = 0,7 e εf =1[13][14][26], portanto, εr
= 0,7 (Figura 9).
O calor transferido por condução foi modelado pela equação diferencial de Fourier, na forma
bidimensional:
∂ ⎛ ∂θ ⎞ ∂ ⎛ ∂θ ⎞ • ∂θ (9)
⎜ λc ,θ ⋅ ⎟ + ⎜⎜ λc ,θ ⋅ ⎟⎟ + q = ρ c ,θ ⋅ c p ,θ ⋅
∂x ⎝ ∂x ⎠ ∂y ⎝ ∂y ⎠ ∂t

onde: q = calor (energia) interno gerado por unidade de área [J/m²];
t = tempo [s];
x, y = coordenadas cartesianas do sistema bidimensional [m].

Figura 8. Coeficiente de transferência de calor por Figura 9. Emissividade resultante recomendada pela
convecção recomendada pela EN 1991-1-2:2004[13] EN 1991-1-2:2004[13] para o aquecimento ISO
para o aquecimento ISO 834[22]. 834[22].

A eq. 9 pôde ser simplificada para a eq. 10, uma vez que o material é não-combustível3 e
homogêneo, i.e., as propriedades não variam com a direção considerada. A eq. 5 participou na
simplificação.
A solução da eq. 10 é obtida por métodos numéricos aproximados. Neste trabalho, a solução

2
Também conhecido por “corpo negro”.
Nos elementos não-combustíveis, o calor interno gerado ⎛⎜ q ⎞⎟ é nulo.
3 •

⎝ ⎠

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aproximada da equação diferencial de Fourier é obtida via método dos elementos finitos, com
auxílio do software Super Tempcalc®[18].
As propriedades térmicas do material variam com a temperatura do próprio elemento, ponto a
ponto e, a temperatura deste também varia com a temperatura dos gases quentes do
compartimento, resultante da ação térmica do incêndio (eqs. 7 e 8).
∂θ λ c,θ ⎛ ∂ 2θ ∂ 2θ ⎞ (10)
= ⋅ ⎜⎜ 2 + 2 ⎟⎟
∂t c v,θ ⎝ ∂x ∂y ⎠

3. MODELAGEM COMPUTACIONAL
A modelagem computacional foi executada com auxílio do Super Tempcalc® – Temperature
Calculation and Design v.5, desenvolvido pela FSD (Fire Safety Design – Suécia), para
análise térmica de seções de elementos estruturais expostas ao calor, por meio do método dos
elementos finitos[18].
O método dos elementos finitos baseia-se no conceito de aproximação de uma função
contínua a um modelo discreto, composto por um conjunto de funções contínuas definidas
sobre um número finito de elementos. Na análise térmica bidimensional, o domínio é a seção
transversal dos elementos aquecidos.
O Super Tempcalc® v.5 foi desenvolvido em ambiente Matlab®, com geração automática de
elementos finitos e interface gráfica compatível com a plataforma Windows™. A
confiabilidade do software é de longe reconhecida, sendo usado pelo CEB Task Group No. 4
na elaboração dos FIP-CEB Bulletins N° 145[8], N° 174[7] e N° 208[6], da prestandard ENV
1992-1-2:1995[15] e da standard EN 1992-1-2:2004[14].

3.1. Discretização do domínio.


A malha empregada é do tipo estruturada, formada por elementos retangulares de quatro nós.
Na análise térmica, a otimização da malha é determinada pela direção do fluxo de calor,
dentre outros fatores.
Para modelar a laje maciça (mesa sem nervura), onde o calor incide apenas em uma direção –
a vertical – não há necessidade de dividir a seção na direção horizontal; na modelagem de
lajes nervuradas, o calor incide nas duas direções principais: vertical sobre a mesa e ambas
vertical e horizontal sobre nervuras. Por essas razões, o domínio foi discretizado em
elementos retangulares de lados 0,005 m x 1 m, para os perfis maciços, e em elementos
quadrados de ℓ = 0,005 m, para os perfis nervurados (Figura 10).
O time step – incremento de tempo para a análise térmica – do Super Tempcalc® foi assumido
igual a 0,001 h. Para os intervalos de tempo de incêndios comuns e condições de contorno
usuais, o time step igual a 0,002 h tem fornecido resultados satisfatórios para análises
térmicas preliminares[18].
Os critérios usados na validação da malha são os mesmos usados na análise termestrutural
conduzida por COSTA & SILVA[12].

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21 10 22
19 9 20
0.04 17
15 8 18
16 0.04 0.04 0.04
13 7 14
11 6 12
5 0.02
0.02 9
7 4 10
8 0.02 0.02
5 3 6
3 2 4
1 0
0 1 2 0 0
0 0.05 0.1 0.15 0.2 0.25 0.3 0.35 -0.02 -0.02
0 0.05 0.1 0.15 0.2 0.25 0.3 0.35
0 0.05 0.1 0.15 0.2 0.25 0.3 0.35
0 0.05 0.1 0.15 0.2 0.25 0.3 0.35

amostra H-00 – he = 0 amostra H-10 – he = 10 mm amostra H-02 – he = 20 mm amostra H-03 – he = 30 mm


0.05

0.05
0

0.05 0
-0.05
0.04
0.02
0 -0.05 -0.1
0
-0.02
-0.04 -0.05 -0.1 -0.15
0 0.05 0.1 0.15 0.2 0.25 0.3 0.35 0 0.05 0.1 0.15 0.2 0.25 0.3 0.35 0 0.05 0.1 0.15 0.2 0.25 0.3 0.35 0 0.05 0.1 0.15 0.2 0.25 0.3 0.35

amostra H-04 – he = 40 mm amostra H-05 – he = 50 mm amostra H-10 – he = 100 mm amostra H-15 – he = 150 mm
0.05 0.05 0.05
0.05
0.05

0 0 0
0 0

-0.05 -0.05 -0.05 -0.05


-0.05

-0.1 -0.1 -0.1 -0.1 -0.1

-0.15 -0.15 -0.15 -0.15 -0.15

0 0.05 0.1 0.15 0.2 0 0.05 0.1 0.15 0.2 0 0.05 0.1 0.15 0.2 0 0.05 0.1 0.15 0.2 0.25 0 0.05 0.1 0.15 0.2 0.25

amostra BE-00 amostra BE-05 amostra BE-10 amostra BE-15 amostra BE-20
0.05
0.05 0
0 0.05
0 -0.05
-0.05 -0.05
-0.1 -0.1 -0.1
-0.15 -0.15 -0.15
0 0.2 0.4 0.6 0.8 1 1.2 0 0.2 0.4 0.6 0.8 1 1.2 1.4 1.6 0 0.1 0.2 0.3 0.4 0.5 0.6 0.7 0.8 0.9 1
amostra BW-200 amostra BW-400 amostra BWI-150
0.05 0.05 0.05
0 0 0
-0.05 -0.05 -0.05
-0.1 -0.1 -0.1
-0.15 -0.15 -0.15
0 0.2 0.4 0.6 0.8 1 0 0.2 0.4 0.6 0.8 1 0 0.2 0.4 0.6 0.8 1 1.2
amostra BWI-200 amostra BWI-250 amostra BWI-300

Figura 10. Discretização das principais amostras de perfis nervurados para a análise térmica e análise paramétrica dimensional das nervuras.

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4. RESULTADOS DA ANÁLISE TÉRMICA


Em todas as modelagens, o aquecimento padronizado ISO 834[22] limitou-se a t ≤ 120 min.
As temperaturas foram medidas na superfície da mesa, no meio do intereixo (Figura 1).
Para a análise paramétrica dimensional das nervuras, todas as amostras possuem espessura da
mesa constante, hcapa = 50 mm e concreto de densidade normal com U = 3%.
Os resultados numéricos da análise térmica são: campo de temperaturas (Figura 13) e
isotermas (Figura 14). Para pontos específicos do domínio, o software fornece os resultados
de temperatura x tempo em arquivos .XLS.

4.1. Desempenho térmico da mesa em função das dimensões das nervuras


A sensibilidade da temperatura na superfície da mesa às dimensões das nervuras, pode ser
observada na Figura 11.
800 800
BW-10
H-00
700 700 BW-50
H-01
600 H-02 600 BW-100
temperatura (ºC)

temperatura (ºC)

H-03 BW-150
500 500
H-04 BW-200
400 H-05 400 BW-250
H-06 BW-300
300 300
H-07 BW-350
200 H-08 200 BW-400
H-09 BW-450
100 100
H-10
BW-500
0 0
0 30 60 90 120 0 30 60 90 120
tempo (min) tempo (min)

Amostras grupo H – influência da altura he das nervuras sobre o Amostras grupo BW – influência da largura bw e do intereixo i
TRF. (be constante) sobre o TRF.
800 800
BWI-50
BE-00
700 BWI-100 700
BE-I-00
600 BWI-150 600 BE-05
temperatura (ºC)
temperatura (ºC)

BWI-200
500 500 BE-10
BWI-250
BE-15
400 BWI-300 400
BE-20
300 300 BE-25
200 200 BE-50
BE-100
100 100
BE-200
0 0
0 30 60 90 120 0 30 60 90 120
tempo (min) tempo (min)
Amostras grupo BWI – influência da largura bw e da distância Amostras grupo BE – influência da distância be e do intereixo i
entre be (intereixo i constante) sobre o TRF. (bw constante) sobre o TRF.

Figura 11. Impacto das dimensões das nervuras sobre a resistência ao fogo da mesa, segundo o critério de
isolamento térmico.

A altura das nervuras (he) não interfere significativamente na temperatura da superfície da

12
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mesa, tampouco a largura (bw) no campo de temperaturas da capa, ao mantendo-se a mesma


distância entre nervuras (be). Não foi observado o “efeito de aleta” que as nervuras poderiam
ter, facilitando a condução do calor para a mesa.
A contribuição das nervuras na redução de temperatura da mesa parece ser é efetiva quando
as nervuras estão muito próximas, implicando em baixíssimos valores de be, não-usuais à
execução de projetos de Construção Civil. O intereixo (i) é eficiente para valores muito
pequenos, impróprio à economia e à execução do projeto (Figura 11).
A Figura 12 ilustra a influência das dimensões das nervuras na resistência ao fogo das lajes,
segundo o critério de isolamento térmico, o qual significa a resistência ao fogo segundo o
critério de isolamento térmico, definido pela temperatura-limite θ ≤ 160 °C na face não-
exposta ao calor[2]. Assim, o tempo (min) é o tempo de resistência ao fogo (TRF) do perfil
nervurado.

45
bw
i = bw + be
45
160 ºC
30
TRF (min)
TRF (min)

15

30 0
0 100 200 300 400 0 200 400 600 800 1000
he (mm) bw (mm) ou i (mm)
Influência da altura (he) das nervuras sobre o TRF. Influência da largura (bw) das nervuras sobre o TRF.
50
90 intereixo i = bw + be
bw distância be
be 45

60
TRF (min)
TRF (min)

40

30 35

30
0
0 100 200 300
0 100 200 300
bw (mm) ou be (mm) be (mm) ou i (mm)
Influência da largura (bw) e da distância entre faces das nervuras Influência da distância entre faces das nervuras (be) sobre o TRF.
(be), para intereixo (i), constante sobre o TRF.

Figura 12. Impacto das dimensões das nervuras sobre a resistência ao fogo da capa, segundo o critério de
isolamento térmico.

13
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amostra H-00 – he = 0 amostra H-10 – he = 10 mm amostra H-02 – he = 20 mm amostra H-03 – he = 30 mm

amostra BE-00 amostra BE-05 amostra BE-10 amostra BE-15 amostra BE-20

amostra BW-200 amostra BW-400 amostra BWI-250 amostra BWI-300

Figura 13. Campo de temperaturas da seção para t = 120 min. de aquecimento ISO 834[22] da análise térmica via Super Tempcalc®4.

4
São apresentadas algumas ilustrações das amostras principais.
14
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2.000 hours
2.000 hours
2.000 hours
2.000 hours 0.04 700
0.04 700
750
700
0.04 750 0.02
0.04 750 750 0.02 800
800 850
800 0.02 800 850 0 900
0.02 850 850 0 900
950
900 900 950
950
1000 0 950 1000 -0.02 1000
0 1000 -0.02
0 0.05 0.1 0.15 0.2 0.25 0.3 0.35 0 0.05 0.1 0.15 0.2 0.25 0.3 0.35 0 0.05 0.1 0.15 0.2 0.25 0.3 0.35 0 0.05 0.1 0.15 0.2 0.25 0.3 0.35

amostra H-00 – he = 0 amostra H-10 – he = 10 mm amostra H-02 – he = 20 mm amostra H-03 – he = 30 mm


2.000 hours 2.000 hours 2.000 hours 2.000 hours
0.05 2.000 hours
0.05 0.05 0.05
0.05
650
500 650 650 650
700 700 700
700
750 750
550 750 750
800 800 800
0 850 800
600 0 850
0 90
0 0 850
850
900 900 0
900

95
0
650 950 950
950

700

10
-0.05

00
-0.05 -0.05 -0.05
1000 1000 -0.05 1000

750

800
-0.1 -0.1 -0.1 -0.1 -0.1
850

900

950
1000
-0.15 -0.15 -0.15 -0.15 -0.15
0 0.05 0.1 0.15 0.2 0 0.05 0.1 0.15 0.2 0 0.05 0.1 0.15 0.2 0 0.05 0.1 0.15 0.2 0.25 0 0.05 0.1 0.15 0.2 0.25

amostra BE-00. amostra BE-05 . amostra BE-10 . amostra BE-15 . amostra BE-20 .
2.000 hours
0.05
2.000 hours
0.05 0
700

1000800 700

40 0
400

0.05
600 500

900
0 900

300

500 400
800

-0.05

700
500

100
0

900 800
200

50 0
0 400
800 700

400

900 800
-0.05

900800
300

200
500

-0.05
800

60 0

300
-0.1 -0.1 -0.1 700

700
700

1000

800

700
60

90
-0.15
600 600 80 0
1000 900
0

-0.15 0 1000 1000 -0.15


90

0 0.2 0.4 0.6 0.8 1 1.2 0 0.2 0.4 0.6 0.8 1 1.2 1.4 1.6 0 0.1 0.2 0.3 0.4 0.5 0.6 0.7 0.8 0.9 1
amostra BW-200 amostra BW-400 amostra BWI-150
2.000 hours
2.000 hours 2.000 hours
0.05
0.05 0.05
0 200
0 0 100
-0.05 300 -0.05 20 0 -0.05 200
500 400 30 0
-0.1 600 -0.1 40 0 500 -0.1
300
400
700 60 0 500

90 0
800 700 600

10 0
900 1000 800 700

00
-0.15 -0.15 -0.15 900 800

10
0
0 0.2 0.4 0.6 0.8 1 0 0.2 0.4 0.6 0.8 1 0 0.2 0.4 0.6 0.8 1 1.2
amostra BWI-200 amostra BWI-250 amostra BWI-300

Figura 14. Isotermas da seção para t = 120 min. de aquecimento ISO 834[22] da análise térmica via Super Tempcalc®4.

15
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4.2. Desempenho térmico da mesa em função do teor de umidade livre


A Figura 15 apresenta os impactos do teor de umidade livre do concreto sobre a temperatura
na superfície da mesa, em função do tempo.

200 200

150 150
hcapa = 5 cm hcapa = 8 cm

temperatura (ºC)
temperatura (ºC)

U=0 U=0
U = 1,5% U = 1,5%
100 U = 3% 100 U = 3%
U = 4% U = 4%
θ = 160 ºC θ = 160 ºC

50 50

0 0
0 5 10 15 20 25 30 0 10 20 30 40 50 60
tempo (min) tempo (min)
200 200

150 hcapa = 10 cm 150


hcapa = 12 cm
temperatura (ºC)
temperatura (ºC)

U=0 U=0
U = 1,5% U = 1,5%
100 U = 3% 100 U = 3%
U = 4% U = 4%
θ = 160 ºC θ = 160 ºC

50 50

0 0
0 15 30 45 60 75 90 0 30 60 90 120
tempo (min) tempo (min)

Figura 15. Temperatura na superfície não-exposta ao calor, em função do tempo de aquecimento ISO 834[22].

A Figura 16 e Tabela 2 permitem comparar os valores mínimos de espessura da mesa, que


asseguram a temperatura θ ≤ 160 °C na superfície da mesa, em função do teor de umidade
livre do concreto.
A primeira vista, os valores normativos[4] poderiam ser reduzidos sem ônus ao isolamento
térmico, para concretos com U ≥ 1,5%; entretanto, a presença da umidade livre pode oferecer
resultados ambíguos à resistência ao fogo: o favorecimento do isolamento térmico em

16
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detrimento da estanqueidade por spalling5.


A literatura técnica especializada tem limitado o teor de umidade interna a U ≤ 3% em peso
(aprox. 5% em volume) para evitar o spalling em situação de incêndio[14][23].
Teores de umidade U > 3% também podem oferecer resultados ambíguos às estruturas à
temperatura ambiente e, portanto, estabelecê-los em projeto requer uma avaliação cuidadosa
para não comprometer a vida útil da estrutura6.

Tabela 2. Espessuras mínimas da mesa para


130
garantir a resistência ao fogo, segundo o critério
U=0
120 de isolamento térmico.
U = 1,5%
U = 3% hcapa (mm)
110 TRF
U = 4% U (%) em peso NBR
NBR 15200:2004
(min)*
100 0 1,5% 3% 4% 15200:2004[4]
hcapa (mm)

30 60 50 50 50 80
90
60 90 80 75 75 80
80 90 110 105 95 90 100
120 130 120 115 110 120
70 Nota: *As espessuras das capas atendem ao
TRRF, para a temperatura máxima7 de 160 ºC na
60
face não-exposta ao calor.
50
0 30 60 90 120
TRRF (min)

Figura 16. Espessuras mínimas da mesa em função do teor


de umidade para manter a temperatura θ ≤ 160 °C na face
não-exposta ao calor.

5. CONCLUSÕES
– A NBR 15200:2004[4] fornece o método tabular para o projeto de lajes nervuradas de
concreto armado em situação de incêndio e, alternativamente, permite o uso de métodos
mais precisos. As dimensões tabulares objetivam assegurar a função corta-fogo, além da
estabilidade estrutural; para dimensões inferiores às normatizadas, outros métodos podem
ser usados para comprovar a resistência ao fogo de tais elementos.
– Neste trabalho, a verificação do isolamento térmico da mesa foi realizada, por meio de

5
Fenômeno de desagregação física do concreto aquecido a temperaturas elevadas; dentre outros fatores, ele
pode ser induzido por elevadas pressões internas de vapor durante o transporte da água do interior para a
superfície do elemento aquecido[5][10][19][24][25][26].
6
O teor de umidade do concreto controla o acesso à armadura de agentes agressivos da atmosfera, tais como os
gases oxigênio (O2) e dióxido de carbono (CO2) que induzem a corrosão[21]; o excesso de umidade também
pode favorecer outros mecanismos de envelhecimento e deterioração do concreto[20].
7
Admitindo que a temperatura inicial seja igual a 20 ºC, e incrementos de 140 ºC.

17
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modelagem numérica, com auxílio do software Super Tempcalc® v. 5, para a análise


térmica de seções usais de elementos estruturais da Construção Civil.
– A análise paramétrica dimensional das nervuras mostrou que as dimensões e a distância
entre nervuras usadas correntemente nos projetos de estruturas de concreto não afetam,
significativamente, o campo de temperaturas da mesa. Não foi observado o “efeito de
aleta” que poderia comprometer o isolamento térmico; também não foi observada a
influência favorável das nervuras, sobre o campo de temperaturas na capa, para reduzir a
temperatura na superfície da mesa.
– O software Super Tempcalc® v. 5 não permite avaliar o efeito shadow que as nervuras
propiciariam aumentando a inércia térmica da mesa em benefício do isolamento térmico.
– A análise paramétrica do teor de umidade do concreto mostrou a importância da umidade
do material para o campo de temperaturas. Considerando as propriedades térmicas do EC
2-1-2[14] para o concreto, as dimensões recomendadas pela NBR 15200:2004[4]
poderiam ser reduzidas sem ônus ao isolamento térmico, para concretos com 1,5% < U ≤
4%; para fins práticos, os resultados da modelagem devem ser cuidadosamente avaliados,
por envolver a durabilidade à temperatura ambiente e a integridade à temperatura elevada.

6. AGRADECIMENTOS

Às indústrias de fôrmas para lajes nervuradas Astra S/A Indústria e Comércio, Atex do Brasil
Ltda. e à Ulma Andaimes, Fôrmas e Escoramentos, Ltda.; ao Centro Brasileiro da Construção
em Aço – CBCA; e ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Tecnológico – CNPq pelo
suporte desta pesquisa.

7. REFERÊNCIAS
[1]
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construtivos estruturais determinação da resistência ao fogo – Método de ensaio. NBR
5628. Rio de Janeiro: ABNT, 2001.
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resistência ao fogo de elementos construtivos das edificações. NBR 14432. Rio de
Janeiro: ABNT, 2001.
[3]
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estruturas de concreto. Procedimento. NBR 6118. Rio de Janeiro: ABNT, 2003.
[4]
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[7]
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Bulletin D‘Information N° 174. Lausanne: CEB–FIP, 1987.
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Bulletin D‘Information N° 145. Lausanne: CEB/FIP, 1982.
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2002. [Dissertação de Mestrado em Engenharia Civil – Estruturas, Escola Politécnica da
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COSTA, C. N.; ONO, R.; SILVA, V. P. A importância da compartimentação e suas
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