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RESUMO
Muitos buscam a universidade como uma mudança de vida. Para alguns estudantes, o
conhecimento acadêmico transforma a trajetória profissional para o resto da vida, mas
complicações em relação aos recursos utilizados nesse processo dificultam o êxito de estudantes
idosos e/ou portadores de necessidades educacionais especiais (NEE's). Com o avanço do
ensino remoto, a tecnologia se torna o maior desafio para alguns estudantes. O objetivo desse
estudo foi identificar as principais dificuldades de aprendizado das estudantes atendidas pelo
Núcleo de Apoio Pedagógico (NAP) no ano letivo de 2020 e propor novas estratégias de ensino
para a melhor compreensão dos recursos tecnológicos e acadêmicos. Através dos atendimentos
individuais e coletivos realizados com as mesmas é possível apontar uma melhor compreensão
das ferramentas virtuais de ensino pelo relato das participantes ao término do trabalho.
Palavras chave: inclusão, TDIC, ensino remoto, idosos.
1. INTRODUÇÃO
A universidade se torna um grande sonho para a população que busca enriquecer seu
desenvolvimento profissional, porém ela também é responsável pela conquista de objetivos e
emancipação de vários adultos. Além de jovens que almejam um ensino que objetiva sua
mudança de status social, o número de idosos cresce dentro das universidades. Kachar (2001)
afirma que o perfil do idoso está mudando, já que esse grupo busca maneiras de se manter em
atividade, sendo um grande consumidor de mudanças sociais e políticas ao invés de apenas
viver dentro de seu passado repleto de memórias e há uma vontade em participar e em viver
projetos futuros, na qual a sabedoria se torna uma mais-valia.
Porém a interação dos mesmos difere em alguns aspectos quando comparados aos
demais colegas de sala. Segundo Thompson, Skinner e Piercy (2002) o idoso tende a
experienciar algumas limitações, tais como audição e visão prejudicadas, perda de coordenação
motora e prejuízo em relação ao aprendizado e a memória de curto prazo. Para que esse processo
se torne adaptativo e inclusivo, as universidades precisam oferecer um suporte para que esses
discentes não deixem de obter êxito na sua jornada acadêmica.
Para Warschauer (2006) a educação e a tecnologia devem caminhar juntas para que não
se tornem meios excludentes dessa população que cada vez avança mais em proporções no
mundo todo. A partir desse pressuposto, a inclusão se torna um processo a partir do momento
que um grupo de pessoas passa a participar de usos e costumes de outro grupo e ter os mesmos
direitos e deveres daqueles, sendo a inclusão digital parte da inclusão social (PASSERINO;
PASQUALOTTI, 2006). E ainda deste modo, muitos acabam desistindo da inclusão a partir do
momento que há uma frustração com a mudança repentina e veloz do sistema tecnológico e
educacional.
Para muitos a idade é um grande fator no que se refere a educação, mas para duas
estudantes alvos desse trabalho essa determinante não causa grande impacto nas suas
formações. Até mesmo pelo fato de uma delas, além de ter idade acima de 60 anos, também se
autodeclara deficiente visual.
Desde que o estado de pandemia foi declarado pela Organização Mundial de Saúde
(OMS) em março de 2020, os sistemas educacionais foram afetados pela pandemia da Covid-
19 em mais de 150 países, acarretando assim no fechamento de instituições de ensino pelo prazo
de 90 dias, como era previsto inicialmente pela própria OMS. Esse fechamento foi dado pelas
projeções de controle e contágio da doença realizadas a partir de dados científicos, sendo
estimado apenas 90 dias de quarentena (OMS, 2020). Porém o crescimento do vírus alcançou
escalas enormes, sendo necessário a criação de um Comitê Operativo de Emergência do
Ministério da Educação (BRASIL, 2020a). Foi apenas a partir da criação da Medida Provisória
n. 934/2020, que foi autorizado a substituição de aulas presenciais por aulas em meios digitais,
ou seja, aulas ministradas por meios e tecnológicos de informação e comunicação e também a
flexibilização dos dias letivos, desde que fosse mantida a carga horária mínima dos cursos
(BRASIL, 2020b; 2020c). Esse regime emergencial não categoriza o ensino presencial como
curso EaD, mas sim como Ensino Remoto.
Mesmo com os auxílios fornecidos pela Unesp esses embates perduraram por todo o
ano letivo de 2020 tendo como principal obstáculo o uso desses novos recursos tecnológicos
para os idosos, como os sites e aplicativos de videoconferências, editores de documentos online
e nuvens para armazenamento de arquivos. Pasqualotti (2004) ainda afirma que um trabalho
feito pelo idoso com o uso do computador acrescenta na construção de conhecimento e na
aprendizagem contínua, sendo possível assim despertar o seu interesse e também o pensamento
crítico.
A partir de tudo isso, é necessário ser feita a seguinte pergunta: como esses estudantes
que possuem algum tipo de dificuldade de aprendizagem terão o apoio institucional para
conseguirem superar esse momento tão difícil que a sociedade está enfrentando no momento?
E não só isso, mas como esse trabalho pode ser desenvolvido? Quais os recursos necessários
para auxiliar esses estudantes a atingirem seu objetivo?
Após o processo seletivo dos responsáveis pela execução das atividades citadas acima
foi realizada a divisão de orientação dos bolsistas para com os discentes que precisariam do
auxílio do núcleo, na qual contavam com 5 estudantes surdos, 1 estudante deficiente visual e 1
estudante acima de 70 anos. Tendo em vista que a estudante deficiente visual também possui
idade avançada e uma grande relação com sua colega de 75 anos, as mesmas foram pareadas
em conjunto e trabalhadas, principalmente, nos aspectos de inclusão digital, além de eventuais
adaptações visuais necessárias ao longo dos dois semestres que foi oferecido o serviço. A fim
de preservar a identidade das suas estudantes, elas serão identificadas por “Estudante 1” e
“Estudante 2”, sendo primeira a aluna com baixa visão e a segunda, a aluna com 75 anos,
respectivamente.
2. OBJETIVOS
A partir dos pontos citados acima, os objetivos desse trabalho são estabelecidos por:
a. OBJETIVO GERAL
Identificar fatores que contribuam para uma melhor aprendizagem diante das
dificuldades apresentadas
b. OBJETIVOS ESPECÍFICOS
3. METODOLOGIA
O projeto desta pesquisa foi aprovado pelo Comitê de Ética da Universidade Estadual
Paulista (Unesp) e inscrito na Plataforma Brasil. Todos os participantes tiveram seus termos de
consentimento livre e esclarecido (TCLE) assinados e entregue aos coordenadores do projeto.
Para atender as necessidades de cada uma das assistidas pelo NAP, e levando em
consideração que algumas características ambas possuem em comum, os atendimentos eram
realizados de forma coletiva uma vez por semana, com duração de uma hora e meia, além do
atendimento individual de noventa minutos semanal.
Para que o trabalho fosse realizado a partir das necessidades individuais de cada uma,
atendendo suas demandas específicas, ocorreu o primeiro contato, no qual foram feitas diversas
questões relacionadas ao acesso dentro do campus, a fim de identificar possíveis barreiras e
limitações que as estudantes experienciam dentro da universidade. Além do aspecto físico, é
questionado sobre a relação social entre os demais colegas de turma e professores com a
finalidade de descobrir possíveis exclusões devido as suas condições de aprendizagem, mas
também se torna o momento da pessoa a ser assistida de pontuar sobre suas expectativas e
dúvidas em relação ao serviço oferecido pelo grupo, matérias que os mesmos julgam como uma
maior complexidade e que necessitam grande atenção e possíveis adaptações e modificações
que podem acarretar melhoras tanto presencialmente como remotamente, sendo possível assim
a viabilização e execução do processo de tutoria pedagógica.
Nos encontros em conjunto eram tratados assuntos de interesse por ambas, sendo esses
a explicação dos recursos tecnológicos disponíveis para o ensino, tais como Google Meet e
demais serviços oferecidos pelo GSuit e principalmente como elaborar as atividades propostas
pelos professores, como artigos, resenhas, fichamentos e resumos. Para cada uma das atividades
exploradas, um vídeo era elaborado com o passo a passo de cada uma das ferramentas
tecnológicas pelo bolsista responsável. O vídeo era disponibilizado através da nuvem eletrônica
(que também havia sido explorado suas funções em encontro síncrono), na qual as discentes
deveriam assistir, anotarem suas dúvidas e tentar esquematizar cada uma das etapas propostas.
Na semana seguinte, durante o encontro em grupo, elas apresentavam a atividade descrita no
vídeo, sendo necessário executá-las com o auxílio do monitor.
Essas atividades eram compostas por: edição de documentos no Google Docs, acesso e
postagem de arquivos na nuvem eletrônica, exploração de recursos do Google Meet como
compartilhar a tela para apresentações, habilitar e desabilitar microfone/câmera, uso do chat e
outras ferramentas que o serviço dispõe. Para cada uma das atividades apresentadas, as mesmas
deveriam realizar essa tarefa no encontro, expondo assim suas dúvidas e dificuldades, além de
auxiliar uma à outra conforme houvessem dúvidas durante o desempenho. Ainda tangenciando
o uso de recursos tecnológicos, foi explicado como criar pastas na área de trabalho, mover,
copiar e colar documentos de um armazenamento para outro e ampliação de tela, por exemplo.
Em âmbito acadêmico, era uma dúvida das duas assistidas como elaborar trabalhos
acadêmicos. Para isso, recursos como vídeos do Youtube eram disponibilizados, assim como
explicações do bolsista para que elas conseguissem desenvolver os trabalhos requeridos pelos
docentes. É importante ressaltar também ferramentas de pesquisa online para busca de artigos,
como o Google Scholar e a plataforma Scielo para encontrar artigos científicos que servem de
base para realizar suas atividades.
Além disso, o sistema de graduação (SisGrad) da UNESP requer que o aluno realize
rematrícula de forma semestral, atividade essa que nunca foi feita pelas mesmas sem ajuda de
algum funcionário da unidade ou o tutor anterior. Desta maneira, outro vídeo foi disponibilizado
para que elas tentassem fazer a matrícula sozinhas, porém durante o encontro individual para
que não houvesse erros na hora de salvar suas solicitações de disciplinas. Neste momento, uma
das professoras responsáveis pelo projeto acompanhou o desenvolvimento das estudantes ao
realizar esta atividade.
4. RESULTADOS E DISCUSSÕES
A estudante possui baixa visão, o que torna sua compreensão de muitos textos difícil,
pois sabe-se que poucos são adaptados para pessoas com essas condições. Pelo fato de muitos
recursos da literatura serem disponibilizados através de livros digitalizados, se torna difícil a
ampliação do texto para que a leitura seja feita pela discente. Desta maneira, era tentado
encontrar textos que fossem documentos de texto ao invés de imagens escaneadas. Para
“estudante 1” o fato de necessitar um material diferenciado não se torna um problema, desde
que esse fator não seja exposto para os demais. A aluna relatou experiências vividas dentro da
universidade na qual ela se sentiu constrangida em fazer uso de equipamentos que ampliassem
as letras para uma melhor leitura, além de se sentir constrangida em diversos momentos que
esse assunto era colocado em pauta por professores, funcionários e colegas de sala.
A partir desse momento, além da busca de materiais adaptados, foi trabalhado a própria
auto estima da aluna acerca de seus estudos, tentando sempre prepará-las para enfrentar algum
tipo de dificuldade em seu percurso. Ao ser questionada sobre os vídeos e como aquelas
atividades poderiam ser executadas, a aluna, a princípio, resistia em mostrar seus resultados,
preocupando-se se a tarefa teria sido concluída ou não. De maneira gradativa e contínua, a aluna
era incentivada a apresentar o que havia aprendido na última semana até o momento que ela se
oferecia para começar a apresentação.
Outro fator que foi amplamente discutido com a mesma, foi a disposição e
disponibilidade da mesma de estar cursando o nível superior mesmo com as suas dificuldades.
Esse momento foi de extrema importância para que ela compreendesse que, assim como
qualquer outro discente, ela tinha conquistado o seu lugar dentro da universidade, sendo assim
estando apta a concluir sua graduação.
A partir de todo o disposto acima, é possível concluir que a aluna se tornou a sua própria
grande incentivadora e criando autonomia para conseguir realizar seus trabalhos.
Para a “estudante 2”, lidar com as tecnologias nunca foi uma tarefa fácil. Ela concluiu
o Ensino Médio apenas aos 50 anos e somente após aproximadamente 20 anos, assistiu as aulas
do cursinho alternativo do Campus de Marília e ingressou no Ensino Superior. Sua maior
dificuldade sempre foi enxergar a tecnologia como uma aliada na sua trajetória universitária.
Deste modo, a principal barreira que a discente encontrava era realizar suas atividades
através do computador e do celular. Com o avanço da pandemia, o sistema remoto foi instalado
e a “estudante 2” precisou enfrentar as telas do computador. Ainda com recursos limitados era
possível observar o desejo da aluna em desenvolver suas habilidades digitais. A partir desse
desafio, as atividades propostas de maneira individual para a aluna tangenciavam o conteúdo
digital em maior prioridade do que os demais. Mesmo com ajuda de outros membros de sua
família, ela almejava a emancipação desse obstáculo.
Desde que o trabalho tem sido feito com a discente, ela relata que se sente mais confiante
ao se deparar com essas novas tecnologias. Mesmo que a dificuldade inicial era dada por todos
os recursos disponíveis no computador, hoje ele não se torna um empecilho para finalizar suas
tarefas.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A partir das reflexões vistas acima, e levando em consideração o tempo que estamos
vivenciando, é clara a importância da inclusão digital de pessoas mais velhas dentro da
universidade, pois se torna uma preocupação com a sua qualidade educacional e de interação
com os demais, além de proporcionar autonomia e auto confiança. É de extrema importância
que os estudantes sejam estimulados a aprender a usar o computador em rede, abrindo novas
possibilidades e oportunidades.
E se faz necessário salientar também o fato de muitos materiais oferecidos ainda não
serem inclusivos como um todo, por mais que haja interesse e esforço por parte de docentes
nesse processo educativo. Reforça-se também a importância do tutor bolsista em oferecer o
suporte para alunos e alunas com alguma NEE, pois esse aluno tem o direito, garantido inclusive
na legislação brasileira, de ter acesso assim como os demais no ensino superior. Para isso,
políticas educacionais devem seguir sendo debatidas dentro do meio universitário,
evidenciando a necessidade da inclusão, que por muitas vezes é vista somente com alunos
deficientes, mas a inclusão é muito mais abrangente que isso. É adaptar o conteúdo e o material
para que ele seja acessível e fácil de compreender por todos que se fazem presentes na sala de
aula.
6. REFERÊNCIAS
REINALDI, Leticia Ramos, et al. Acessibilidade para pessoas com deficiência visual como
fator de inclusão digital. Universitas: Gestão e TI, vol. 1, no 2, novembro de 2011.
SILVEIRA, Michele Marinho da, et al. Educação e inclusão digital para idosos. RENOTE,
vol. 8, no 2, julho de 2010
THOMSON, A.; SKINNER, A.; PIERCY, J. Fisioterapia de Tydi. 12ª ed. São Paulo: Santos,
2002.
WARSCHAUER, Mark. Tecnologia e Inclusão Social: a Exclusão Digital em Debate. São
Paulo: Senac, 2006. 319p