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Gloria Bevan
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CAPÍTULOI
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Ali ficou até quase o fim da tarde. A uma certa hora sentou-se
e viu os garçons impecavelmente vestidos de branco, preparando as
mesas do restaurante ao lado da piscina, onde provavelmente
seriam servidos pratos típicos durante o jantar. De. volta ao seu
quarto, tomou um banho de banheira, com sais perfumados.
Escolheu um vestido de algodão florido, que deixava seus ombros à
mostra e acentuava a cintura. As sandálias eram vermelhas,
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Sra. Cartwright tinha dado ordens para não deixar ninguém entrar,
inclusive eu.
— Isso é o que você diz.
— O que quer que eu diga não faz diferença para você, não é
mesmo? Você prefere acreditar nela! Eu não sei por que fui me
preocupar em ficar lhe dando todas essas explicações.
— Eu também não sei. Não devia estar perdendo seu tempo,
inventando desculpas.
— Ora, não me aborreça!
— Ah, por sinal, se estiver interessada, saiba que eu levei a
mala da Sra. Cartwright para o hospital. Foi ela quem pediu, pois
podia precisar de alguma coisa. Procurei por você, mas como não
consegui encontrá-la, peguei a chave do chalé com o gerente do
hotel e atendi assim ao pedido dela.
De repente, Lee deixou de lado a irritação e começou a pensar
no estado de saúde da Sra. Cartwright.
— É alguma coisa mais séria?
— Como vou saber? Isso cabe aos médicos. E não me diga que
está realmente preocupada com o estado de saúde dela. A coitada
está completamente só aqui na ilha. Imagino que esteja sendo paga
para tomar conta dela, e não para ficar se divertindo, omitindo-se
diante da primeira dificuldade. Não adianta negar, pois foi o que
aconteceu.
— Foi o que ela disse?
— Mas está mais do que óbvio.
— Não, não está. É muito fácil julgar os outros, mas se
conhecesse a Sra. Cartwright tão bem quanto eu conheço.
— Só sei que é uma velha que depende de você e, pelo visto,
você não está com a menor disposição de ajudá-la.
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CAPÍTULO II
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— Então, entre.
O chalé era mobiliado exatamente como o dela. Lee foi logo se
acomodando numa poltrona.
— E então? A que devo a honra? — perguntou, irônico.
— Será que dá para você me emprestar um dinheiro para eu voltar
para Londres?
— O quê?
— Eu sei que parece estranho, nós nem nos conhecemos
direito, mas é uma emergência. É só um empréstimo, eu tenho meu
emprego como auxiliar de enfermagem numa clínica para pessoas
idosas, e posso lhe pagar dentro de pouco tempo. — Mas no fundo
não tinha certeza de nada, nem mesmo se continuaria trabalhando
na clínica, sobretudo depois que a Sra. Cartwright contasse a sua
versão da história aos superiores de Lee. — Como a Sra. Cartwright
comprou as passagens e ia pagar as minhas despesas, não trouxe
muito dinheiro comigo. Ela não providenciou as passagens de volta
e como foi embora da ilha.
— Ela foi embora da ilha?
— Sim, num voo hoje de manhã; foi o médico do hospital
quem me contou. Com certeza ela achou que não ia se dar bem aqui
e foi embora.
— E por acaso você se informou sobre o estado de saúde dela?
— Ele continuava acusando-a de negligente, de uma forma ou de
outra.
Lee sentiu o rosto corar. Como tinha tido coragem de pedir
ajuda a esse homem detestável e insensível? Levantou-se, furiosa e
disse:
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Era ridículo aceitar um emprego sem nem mesmo saber qual seria.
O que uma garota inglesa poderia fazer numa fazenda de gado da
Nova Zelândia?
— Nós vamos decidir isso quando chegarmos em Mahia.
Porém, uma coisa é certa: não haverá nenhuma velhinha indefesa
para você cuidar.
— Você não perde chance para me agredir, não é?
— Agora que já está tudo combinado, vou até a agência para ver se
consigo um lugar para você no avião. Espero que não se importe de
ir sentada ao meu lado.
Aquela conversa com David Hamilton a tinha perturbado
mais do que queria admitir. Lee foi para seu chalé e começou a tirar
as roupas dos cabides para colocá-las na mala, com as palavras dele
ecoando em sua mente.
Em seguida pensou na loucura que tinha sido aceitar aquela
proposta. Ia demorar muito tempo para conseguir juntar o dinheiro
do empréstimo. Mas não lhe restava outra escolha, pois não tinha
ninguém a quem recorrer. Pensou nisso com tristeza, mas tentou
logo desviar o pensamento. Será que as roupas de verão que tinha
trazido serviriam para o clima da Nova Zelândia? Bem, sendo ou
não adequadas, teriam que ser essas mesmas, até que pudesse
comprar outras, se é que havia lojas no lugar para onde estava indo.
Nesse momento se deu conta de que não sabia nada a respeito do
seu destino e muito menos sobre David Hamilton, a não ser que era
arrogante, cínico e muito elegante. Será que não tinha trocado uma
patroa autoritária por um patrão semelhante? Isso não era nem um
pouco animador!
Nesse momento o telefone tocou e ela estremeceu: só havia
uma pessoa no hotel que podia estar ligando para ela.
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Essa deve ser a garota que o fez vir a Samoa, pensou Lee. E
não era para menos pois, além de bonita, esbanjava sensualidade.
— Beverley, essa é Lee; ela vai comigo no mesmo voo.
— Olá, como vai? Espero que não se importe de ir no banco de
trás — disse ela com uma simpatia forçada.
A estrada que levava ao aeroporto era muito mais bonita do
que Lee imaginava. Tinha chegado à noite e não vira praticamente
nada. A paisagem era linda, sobretudo sob aquele crepúsculo
avermelhado. Da estrada, ladeada de árvores floridas, avistavam-se
casas típicas, com belos jardins, que emprestavam um colorido
especial a tudo. A jovem que dirigia o carro mantinha uma
conversa animada com David, que respondia com monossílabos.
Com certeza a presença de Lee o inibia. Sentiu um certo prazer
nisso; afinal, nem tudo devia ser como ele planejava.
Quando chegaram ao aeroporto, foram direto ao balcão
confirmar as passagens. Depois de alguma espera, foi anunciada a
partida; Lee olhou de lado para disfarçar e deixar os dois à vontade
para despedirem-se. Beverley deu um longo beijo em David. Então
Lee e David pegaram suas maletas de mão e foram em direção ao
avião, passando antes pela alfândega. Ventava muito, apesar da
temperatura elevada.
Depois de mostrar a David a sua poltrona, a aeromoça indicou
a Lee onde era o seu lugar, um pouco mais atrás. Com certeza,
pensou Lee, ele tomou cuidado para não ter que viajar ao meu lado.
Não estava nem um pouco preocupado com ela e parecia também
não estar dando a mínima para a jovem que os levara ao aeroporto.
A tal de Beverley continuava acenando de longe e ele fingia que não
via.
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Do seu lugar, Lee podia vê-lo muito bem. Lia uma revista de
economia. Logo em seguida decolaram.
A refeição que serviram a bordo era boa, mas Lee não comeu
quase nada. Não deu conta de como o tempo passou depressa,
assustando-se quando, ao olhar distraída pela janela, viu que
sobrevoavam a cidade de Auckland. As luzes da cidade cintilavam
como brilhantes num veludo negro. Ao ver que estavam para
aterrissar, colocou o cinto de segurança.
Assim que o avião pousou e os passageiros receberam ordem
para sair, Lee viu que David vinha em sua direção, segurando-lhe
então o braço, indicando-lhe a porta de saída. Como se eu fosse
propriedade dele, pensou Lee. Desvencilhou-se de David e foi
caminhando na frente, de cabeça erguida. Ao mesmo tempo em que
assumia essa, atitude desafiadora, ficou com medo de irritá-lo. Mas
ele precisava entender que o fato de emprestar dinheiro a uma
mulher não lhe dava nenhum direito sobre ela.
Quando Lee saiu da alfândega, David veio novamente ao seu
encontro.
— Conseguimos passar sem problemas! — comentou ele,
brincando. — Venha por este lado que eu vou conseguir um carro.
Tinha que admitir que ele era eficiente e que arranjava tudo
com certa facilidade. Mas também, pudera, ele tinha dinheiro,
bastava-lhe assinar um cheque. Pelo que Lee conseguiu entender,
David estava alugando um carro sem motorista, combinando deixá-
lo na cidade mais próxima, no dia seguinte. Era estranho como ele
podia ser tão gentil com a recepcionista da locadora de carros, e tão
rude com ela. David parecia se entender bem com todas as
mulheres do mundo, menos com ela. Não que isso tivesse a menor
importância, é claro.
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CAPÍTULO III
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Então era assim: ele decidia tudo, sem nem ao menos consultá-
la. Lee parou onde estava e, com um olhar ameaçador, disse:
— Ouça, antes que você continue, gostaria de deixar bem
claro.
— São duas camas de solteiro: duas. Você não precisa ter
medo de mim; é um longo caminho até Mahia e eu preciso dar uma
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se ausentou por muito tempo. Acho que à essa altura você já deve
ter percebido que ele é uma pessoa de vital importância para nós!
Pelo tom de voz, estava claro que a mãe de David sentia muito
orgulho do filho, e uma certa vaidade.
— Você pode me chamar de Jean — ela disse com um sorriso.
— Todos me chamam assim. Eu. — Ela interrompeu-se e Lee notou
que dirigiu o olhar para uma mulher de ar muito severo, parada
perto da porta.
— Entre, por favor, Sra. Mac! — Voltou-se então para Lee e
disse: — Quero lhe apresentar a nossa governanta, a Sra.
Macintosh; é quem mantém as coisas em ordem por aqui. Não sei o
que faríamos sem ela, principalmente quando eu tenho que me
ausentar para cuidar dos problemas dos colonos que moram do
outro lado da fazenda.
— Só cumpro com as minhas obrigações — afirmou a
governanta, com um meio-sorriso. — Desde que David esteja
satisfeito com o meu serviço.
Por essas palavras, Lee percebeu como ela admirava o patrão e
o quanto lhe devia ser grata. Tudo por ali parecia viver em função
de David; isto tinha ficado bem claro pela forma como a mãe e a
prima o receberam. Mas ela não pretendia fazer parte de seu fã
clube!
Depois de um banho quente e demorado, Lee vestiu uma
camisa de tecido fino, um colete xadrez e jeans. Tinha que parecer
como qualquer outro empregado da fazenda. Afinal, era essa a sua
posição.
Desceu correndo a escada e parou um pouco antes da porta da
sala de jantar, para respirar. Ouviu então o som de vozes
masculinas. Preparou-se para enfrentar uma série de olhares
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passando de pai para filho. Mas acho que com David isso não vai
acontecer.
— Você acha que ele não vai ter filhos, não vai casar? — Lee
não conseguiu entender por que estava tão interessada no assunto.
— É bem pouco provável; pelo menos não tomou nenhuma
iniciativa nesse sentido. Nunca se preocupou muito com garotas
desde que Elaine. Aquilo foi terrível!
— O que aconteceu? — perguntou Lee, cheia de curiosidade.
— Ele não lhe falou a respeito? É, imagino que não esteja
empenhado em esquecê-la. Aconteceu há três anos, quatro dias
antes do casamento. Ela sofreu um acidente de carro e morreu
instantaneamente. Foi horrível, David nunca se conformou com
isso. Desde então mergulhou no trabalho, dia e noite, sem parar,
sem dias de folga nem férias. Essa viagem foi a primeira pausa que
fez desde que tudo aconteceu. Sua mãe deve estar aflita para que
ele encontre logo uma moça que o faça esquecer Elaine. — Jim
estava com os olhos fixos nela.
— Não me olhe desse jeito! — protestou Lee, percebendo a
indireta. — Sou simplesmente sua companheira de viagem, nada
mais. Viajar até aqui foi apenas uma questão de conveniência, só
isso. — Ela se interrompeu ao ver a expressão de surpresa no rosto
de Jim. Será que estava sendo enfática demais, ao tentar justificar
sua presença ali? Mas era uma tolice! Não devia explicações a
ninguém! E por que essa preocupação de querer salvar a sua
reputação? Sentiu que nesse momento seu rosto ficou vermelho.
— Se você diz isso. — disse Jim e, para seu alívio, mudou de
assunto. — Ali fica a fiação, e mais à frente o aeroporto. Com
certeza David vai trazê-la para ver algum avião pousando; as
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CAPÍTULO IV
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queria ouvir mais nada sobre aquele trabalho duro que a aguardava
dentro de poucas horas.
— Você tem despertador?
— Sim. — O despertador era o menor dos problemas!
Naquela noite ela sonhou com David; um David terno e
amoroso, que confiava e acreditava nela, que a amava. Despertou
com batidas na porta, leves, mas firmes.
— Lee! Você já acordou?
Sentou-se rapidamente na cama, afastando os cabelos dos
olhos para poder saber até que ponto aquilo era sonho ou realidade.
Mas o rosto de David, aparecendo na porta entreaberta, não
expressava a menor ternura; parecia impaciente e ostentava, como
sempre, aquele seu ar de reprovação.
— Hora de levantar!
Lee caiu em cheio na realidade. Olhou para o despertador com
ódio: ele a tinha deixado na mão no momento em que mais
precisava de seu auxílio.
— Apanho você em dez minutos — disse ele e desapareceu.
Nunca em sua vida Lee se vestiu tão depressa; enfiou uma
camiseta e um jeans com uma velocidade surpreendente. Resolveu
usar tênis em vez de sapatos, assim se cansaria menos. Foi até o
banheiro, lavou o rosto com água fria para despertar mais rápido,
escovou os dentes, prendeu os cabelos longos e passou um pouco
de colônia.
Quando saiu, David já esperava por ela no jipe.
— Entre — disse ele, abrindo-lhe a porta.
— Eu poderia muito bem ir andando, sabe.
— Assim é mais rápido.
— Quantos homens tomam o café da manhã? Cinco, seis?
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— Quinze.
— Oh! — Não conseguiu dizer mais nada. Como poderia
calcular a quantidade certa para tanta gente? — Não imaginei que
fossem tantos.
— Boa sorte! — disse ele, quando chegaram ao galpão. David
continuava não confiando nela. Mas ela ia mostrar-lhe! Ia aceitar o
desafio, mesmo que isso lhe custasse a vida!
Assim que entrou na cozinha, Lee ligou o fogão e as
torradeiras. Primeiro o mingau de aveia. Foi colocando leite e aveia
num caldeirão enorme, sem calcular nada, mesmo porque nas
embalagens não estavam indicadas as quantidades. Mas será que
deveria ser servido quente ou frio? Era preferível que fosse quente,
assim ficaria pronto mais rápido. Deixou o mingau fervendo no
fogão e foi preparar as costeletas, que encontrou já descongeladas
na gaveta da geladeira. Separou quinze delas, colocou-as no forno, e
torrou várias fatias de pão nas torradeiras elétricas, calculando
quatro fatias para cada homem. Por sorte, corria tudo sem nenhum
problema até aquele momento.
Mas a ilusão durou pouco; dez minutos mais tarde, quando
colocava o mingau nas tigelas, percebeu que alguma coisa estava
errada. Era a carne que, por algum motivo, não assava de jeito
nenhum. Aumentou ao máximo a temperatura. No momento em
que preparava o chá, um homem entrou na cozinha.
— Bom dia, senhorita. O café da manhã já está pronto?
— Prontinho! Esperando por vocês — respondeu, com uma
segurança que na realidade não tinha.
Todos eles pareciam muito gentis e educados,
cumprimentando-a com sorrisos amigáveis e tomando seus lugares
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com cereais numa tigela enorme, pôs no fogo o arroz que serviria
no jantar. Começou então a fazer sanduíches de patê de tomate com
maionese. Experimentou um pouco de cada coisa e, para sua
surpresa, estava tudo muito saboroso. Baixou o fogo do arroz e,
exausta, sentou-se numa cadeira, enquanto os homens entravam no
refeitório.
— A senhorita me parece muito cansada. É uma experiência
nova. Não é? — perguntou o tal rapaz loiro, bem próximo dela.
— Está muito evidente, é? — disse Lee. forçando um sorriso.
— Foi terrível o episódio da carne queimada, e nem sei como
agradecer por terem comido assim mesmo.
— Não, não estava ruim. Já comi coisa muito pior. sabe? Para
mim também é uma experiência nova trabalhar numa fazenda de
criação de ovelhas, com fiação, essas coisas.
Lee estava se sentindo tão cansada que mal conseguia ouvir a voz
do rapaz.
— Eu estou vindo de uma outra fazenda de gado. não tão
grande quanto esta. Fica a algumas horas daqui. Já faz muito tempo
que estou longe de casa, mas foi muito bom aprender a trabalhar
em fiação.
— Como eu. você está aprendendo com a vida. com a
experiência, não é?
— É isso mesmo, Lee. e não fique surpresa por eu ter
descoberto o seu nome tão depressa. O meu nome é Paul. Paul
Forrest. Agora, que eu esteja aqui, está certo, mas você. —Percebeu
que ele sentiu pena dela. Olhava apreensivo para as mãos de Lee,
uma delas com um curativo, a outra com cortes superficiais. — Não
faz sentido estar confinada aqui neste fim de mundo! Afinal o que
pretende? Escrever um romance?
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CAPÍTULO V
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Esperava que ele lhe dissesse alguma coisa, que fizesse outra
proposta. Mas David simplesmente permaneceu em silêncio,
olhando para ela de um jeito estranho.
— Ah, então é isso o que você quer?
Provavelmente, não tinha nenhum outro emprego para ela, pelo
menos na fazenda, senão ele já teria dito. Mas se não fosse ali, onde
poderia ser!
— Escute aqui, já lhe paguei o dinheiro que lhe devia e acho
que agora estamos quites — disse Lee, finalmente.
— E mesmo? — respondeu, irônico.
Ela ignorou o comentário e, prosseguiu:
— Vou tentar conseguir um emprego em algum outro lugar,
como auxiliar de enfermagem. Deve haver alguma coisa! Neste país
não existem hospitais, por acaso?
— E você não pensou no contrato de trabalho? Como
estrangeira, você não vai conseguir ir muito longe, principalmente
porque não tem nenhum diploma, nem mesmo de enfermagem.
— Como sabe disso? — perguntou, com os olhos arregalados
de espanto.
— Andei investigando.
— Ah, claro, eu devia imaginar.
— Sendo assim, só poderá permanecer no país sob a minha
custódia. Vou procurar de novo um trabalho para você conseguir
juntar o dinheiro da passagem. Você não pode ir embora.
— Mas não vou ficar como prisioneira nesta fazenda!
— Isso quem decide sou eu.
Lee levantou-se da cadeira e aproximou-se dele. Quis
esbofeteá-lo, mas David foi mais rápido, imobilizando o seu braço e
segurando-a pela cintura com força. Numa fração de segundos seus
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— Será que John vai conseguir chegar hoje para o baile? Ele
prometeu ficar até o fim da semana.
— Oh, é verdade. eu tinha quase esquecido!
— Ele jamais se esqueceria de você, Katrina.
— Pois é, Jean, acho que John sente alguma coisa por mim,
não?
— Claro que sim. — Daniel interferiu, parecendo recuperar o
seu bom humor. — Toda vez que você passa uma temporada
conosco, ele dá um jeito de vir também. Ah, o velho John! Vocês
formam um belo casal!
— Ora, pare com isso!
Jean voltou-se para Lee.
— Katrina e John se conhecem desde crianças. As fazendas
dos pais deles não ficam muito longe uma da outra e os dois foram
praticamente criados como irmãos.
Katrina deu uma risada e disse:
— Não é bem assim que John vê as coisas, Jean.
— Pois a culpa é sua — observou Daniel. — Você não deveria
encorajar tanto o pobre rapaz.
— Encorajá-lo! Pois eu já lhe disse mil vezes que não quero
nada sério, mas ele nem liga.
— Bem, acho que você não deve se preocupar — continuou
Daniel. — Talvez você tenha a sorte de John se interessar por
alguma outra garota no baile do fim de semana. — Olhou para Lee
e acrescentou: — Alguma cara nova, entende?
— Você acha mesmo. — Katrina lançou um olhar de desafio
para Lee. — Fique sabendo, Daniel, que ele não enxerga ninguém
além de mim:
Lee deu um jeito de mudar de assunto.
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CAPÍTULO VI
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até agora. nada. Se você pudesse ficar com ela. pelo menos nos
primeiros meses, tenho certeza de que Michelle nem saberia como
lhe agradecer!
— Quando é que ela.
— O parto está marcado para a semana que vem.
— Mas isso seria maravilhoso! — exclamou, eufórica. — Viria
a calhar, tanto para mim, quanto para ela. Diga à sua irmã que irei
vê-la. — Lee interrompeu-se, pois David entrava na sala.
— Prazer em vê-lo, John. — David é um verdadeiro mestre na
arte de disfarçar seus verdadeiros sentimentos, pensou ela. Ele foi
até o bar e começou a preparar um drinque. — Não atolou em
nenhum ponto da estrada?
̶ Por sorte, não.
Lee estava ansiosa para que John continuasse a falar naquele
assunto.
Enquanto os dois conversavam, teve tempo de observar
melhor David. Ele usava uma malha colorida sobre uma calça de
veludo bege. Estava mais atraente do que nunca.
— O que você vai beber, Lee, um sherry? — perguntou David.
— Sim, por favor.
— Você, eu sei, Katrina. E você, John?
— Cerveja, por favor.
Depois de servir as bebidas, David acomodou-se numa
poltrona, olhando ausente para o copo de uísque. Em seguida,
voltou sua atenção para a chuva que batia na vidraça.
— Se essa chuva continuar, vamos ter que mandar os tratores
jogarem pedregulhos na estrada — disse ele. — E olha que pode
durar até o dia em que você for embora.
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livrar-se dela. agiu como um ditador. Por mais que tentasse, não
conseguia entendê-lo!
Enquanto comiam, David conversava com John sobre sua
intenção de asfaltar a estrada do aeroporto: a governanta entrou,
chamando a Sra. Hamilton para atender ao telefone.
— Será que não dá para ligarem mais tarde
— É um interurbano de Palmerston North, do hospital.
— Do hospital? Então eu atendo. — Jean levantou-se e foi
correndo para a outra sala. Quando voltou, todos a olhavam com
curiosidade.
— Qual é o problema? — perguntou David.
— É sua tia Edith. Ela sofreu um acidente há umas duas
semanas, levou um tombo e quebrou a bacia. Só agora conseguiram
entrar em contato conosco! Bem, mas o que importa é que ela já está
bem, engessada é claro, e tudo está correndo satisfatoriamente.
Acontece que ela vai receber alta dentro de uma semana e, é claro,
não vai poder ficar sozinha em casa. Eu a convidei então a ficar aqui
conosco e ela agradeceu muito; disse que vai ver se consegue uma
enfermeira, mas acha que isso será muito difícil. Então tomei a
liberdade, querida — segurou a mão de Lee, que estava sentada ao
seu lado na mesa — de oferecer os seus préstimos. Desculpe-me se
fui precipitada. Disse para ela vir tranquila, porque tínhamos aqui a
pessoa perfeita para cuidar dela. Vai ser difícil! Tia Edith vai ter de
ficar imobilizada por um bom tempo. Será que deveria tê-la
consultado antes?
— Não, não, de jeito nenhum! A senhora agiu como devia. Eu
vou cuidar dela, pode ficar tranquila! — Será que o entusiasmo não
foi excessivo?, Lee perguntou-se. Mas era exatamente o que estava
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— Você, de novo!
Ele insistia em ser grosseiro! Respirou fundo e disse:
— A respeito desse meu novo trabalho, isto é, tomar conta da
sua tia.
— Ah, sim! — Ele parecia mais interessado na pilha de papéis
à sua frente. — Você será paga por isso, é claro, vai receber o
mesmo salário que receberia num hospital, mais as gratificações por
estar fora da cidade, e...
— Não estou preocupada com isso!
— Não está? Pois eu tive a impressão.
— É claro que eu preciso do dinheiro, você sabe disso, mas o
que eu quero saber é.
— Sente-se, Lee.
Ela sentou-se na cadeira bem em frente à escrivaninha, mas
logo se arrependeu. Preferia conversar com David de pé. Agora
estavam muito próximos um do outro e Lee se sentiu como se
estivesse sendo hipnotizada. Fez um grande esforço para continuar
falando.
— Como é que você sabia que sua tia ia precisar de uma
enfermeira quando viesse para cá? Sua mãe só recebeu a notícia na
hora do jantar.
— Na verdade, eu não sabia.
— Mas você disse.
— Eu disse que ia lhe arrumar um emprego e arrumei. O que
há de errado?
— Nada. Mas você ainda não tinha arranjado quando me
obrigou a recusar a oferta de John.
— E por acaso eu disse isso?
— Não, mas...
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CAPÍTULO VII
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Está bem, eu já vou indo! — disse aos colegas que insistiam para
que ele se apressasse.
Lee percebeu que o salão estava se esvaziando. Os dois
pastores e suas respectivas esposas pararam perto dela para
despedirem-se. Lee acompanhou-os até a porta e lá decidiu que iria
a pé para casa: afinal, a distância era mínima.
Já tinha caminhado um pouco quando um carro se aproximou. Era
David, que abriu a porta do jipe para que ela entrasse.
— Por que não esperou por mim? Estive procurando por você
o tempo todo. Mamãe tinha pressa de voltar para casa e eu precisei
levá-la antes.
— Tudo bem, já estou pertinho da casa! Pensei que você já
tivesse saído, e...
— Acho bom você entrar — disse David, autoritário.
Por sentir-se um pouco ridícula, discutindo um assunto tão
banal, Lee resolveu fazer o que ele pedia.
Entrou no jipe em silêncio e ele deu a partida. Para sua
surpresa, ele estacionou longe da casa, debaixo de umas árvores. O
que estaria pretendendo?
— Quero falar com você. — Pela segunda vez naquela noite,
Lee notou uma certa ternura em David ao se dirigir a ela. Ou será
que a escuridão a estava fazendo ver coisas?
— Já sei, você está chateado por eu ter aceitado o emprego de
enfermeira de sua tia Edith. Essa era a última coisa que você
pretendia arrumar para mim, certo?
— Se quer saber mesmo a verdade, fiquei feliz com isso. Foi
providencial a sua presença aqui, justamente num momento desses!
Fazia tempo que não acontecia uma coisa tão boa.
— Como? — perguntou ela, surpresa.
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acha que a srta. Marquand comoveu-se com a paciente e, por ter um bom
coração, acabou aceitando a oferta. Bem, de qualquer forma, a velha
senhora, que por sinal está gozando de perfeita saúde sofreu um desmaio
assim que chegaram à ilha. Contou à superintendente que tinha mandado a
moça buscar um copo d'água, mas que nesse meio-tempo um homem a
socorreu e a levou para um hospital antes que a jovem tivesse tempo de
voltar com a água. Acusou então a enfermeira de tê-la abandonado
deliberadamente na hora em que mais precisava dela, o que não era
verdade, ela acabou por confessar mais tarde. Parece que está muito
preocupada com as consequências de sua atitude, pois a srta. Marquand
estava sem dinheiro e sem condições de voltar à Inglaterra. E a garota
desapareceu, sem deixar sinal. Foi vista pela última vez no Hotel Aggie
Grey. Bem, eu não pude deixar de imaginar se a sua Lee e essa garota que
desapareceu não seriam a mesma pessoa, mas não direi nada a ninguém até
que você me dê notícias. A superintendente da clínica em Londres parece
extremamente preocuada com o paradeiro da moça. Se você puder me
ajudar a esclarecer esse mistério, escreva o mais rápido possível. Por hoje, é
só. Muito amor, da sua irmã, Bev".
Foi um alívio para Lee ler a carta, foi como se tivesse tirado
um grande peso de seus ombros. Sentiu-se leve e feliz, como há
muito não se sentia.
— E agora, o que você vai fazer? — perguntou, excitada.
— Contar a verdade às autoridades, é claro. E pedir desculpas
a você. Eu me enganei a seu respeito, Lee.
— Está tudo bem — respondeu, sorrindo. Sentia que, de agora
em diante, iria sorrir como nunca. Quantas vezes tinha sonhado
com aquele momento!
— É claro que você sabe o que isso quer dizer.
— Bem.
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CAPÍTULO VIII
Gloria Bevan
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CAPÍTULO IX
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CAPÍTULO X
Gloria Bevan
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— Como assim?
— Eles não nasceram um para o outro, qualquer um podia ver
isso. Agora que tanta água já passou por debaixo da ponte, posso
até me atrever a dizer o que achava sinceramente daquele noivado.
Ela era pianista e um pouco mais velha do que ele. Por mais que
tentasse, David não conseguiu convencê-la a viver na fazenda. O
noivado foi rompido várias vezes, e só pode ter sido esse o motivo.
Ela jamais se adaptaria à vida no campo.
— E desde então David nunca mais teve uma namorada?
— Não, até voltar de sua viagem ao exterior.
Era óbvio que ele se referia a Katrina! Lee não soube disfarçar
o desapontamento.
— Está apaixonada pelo patrão, não é? — perguntou Ernie. —
Não posso culpá-la.
— Sou mesmo uma estúpida, não sou? Aposto que você está
me achando louca por isso.
— Essas coisas acontecem sem a gente querer — filosofou
Ernie. — Prontinho! Quer que eu sele Gipsy para você montar?
— Por favor.
Já pronta para sair, comentou com Ernie:
— Vou sentir muita falta de tudo isto quando for embora.
— Mas você está pretendendo nos deixar?
— Lamento, mas tenho de fazer isso. Vou ficar tomando conta
da tia de David, mas espero que dentro de umas duas semanas ela
já esteja boa. Aí, então, volto para Londres!
— Lamento saber disso. Eu pensei que você e Paul estivessem
namorando. você entende.
— Paul? Bem, ele é um bom rapaz, mas...
Gloria Bevan
Gloria Bevan
Gloria Bevan
FIM