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360 Rev. ABO Nac. Suplemento nº 1 Vol.

18 nº 1 - Fevereiro/março 2010

Protocolo de carga imediata sobre implantes em


mandíbula edentada - Relato de caso clínico
Immediate loading of dental implants in edentulous mandible - Case report

Palavras-chave: Implantes dentários. Próteses e implantes. Prótese dentária fixada por implante. Arcada edentada.
Key words: Prostheses and implants. Dental prosthesis implant-supported. Jaw, edentulous.; Dental implants.

Rosilene Guimarães Ferraz* RESUMO


João Carlos Padilha de Xible Menezes ** O tempo de tratamento dos pacientes mutilados pela perda total dos dentes com
Antônio Anuar *** próteses totais fixas sobre implantes pode ser reduzido através do protocolo de carga
imediata. Neste artigo, foi descrita a sequência dos procedimentos clínicos protéticos
antes, durante e depois da cirurgia de inserção dos implantes, com ênfase no registro
das relações intermaxilares. Esse protocolo permite a reabilitação oral da mandíbula
com a instalação definitiva de uma prótese total fixa em um prazo médio de 72 horas
após o ato cirúrgico.

ABSTRACT
The treatment period in cases of edentulous mandible using full fixed prostheses
may be shortened by the implant immediate loading protocol. In this article, a detailed
sequence of prosthetic clinical procedures before, during and after the insertion implant
surgery is described, emphasizing the inter-maxillary relations records. The strict
observation of this protocol allows the clinician to achieve the final restoration of an
edentulous mandible 72 hours after surgery.

INTRODUÇÃO segunda cirurgia, eles são expostos e a


A qualidade de vida dos pacientes prótese é confeccionada e instalada.
mutilados pela perda total dos dentes sem- No protocolo de carga imediata sobre
pre foi uma preocupação da Odontologia implantes, a prótese é instalada nas pri-
restauradora. Dentre as alternativas de tra- meiras 24 a 48 horas1 ou até duas semanas
tamentos protéticos existentes para esses após a cirurgia9. Essa abordagem propor-
pacientes, destacamos a prótese total fixa ciona uma redução no tempo de tratamen-
(PTF) suportada por implantes3, que pro- to, eliminando a necessidade da utilização
porciona, quando comparada com a de próteses removíveis provisórias e pro-
overdenture e a prótese total removível cedimentos de reembasamento, pois, em
(PTR), melhorias significantes no aspec- poucas horas após a cirurgia de inserção
* Doutora – FO-USP, Professora Adjunta do to funcional e psicológico do paciente, dos implantes, a prótese fixa definitiva ou
Departamento de Prótese Dentária da Uni- uma vez que, além de proporcionar supor- provisória é instalada, restabelecendo de
versidade Federal do Espírito Santo. E-mail: te, retenção e estabilidade, simula o fun- imediato a estética e a função. Além dis-
rosilene-ferraz@hotmail.com
** Doutor – FOB-USP, Professor Adjunto do cionamento dos dentes naturais. so, todo o tratamento é realizado em uma
Departamento de Prótese Dentária da Uni- De acordo com o protocolo de única intervenção cirúrgica, reduzindo os
versidade Federal do Espírito Santo. E-mail: Bränemark, os implantes osseointegrados possíveis traumas aos tecidos duros e
padilham@yahoo.com.br ficam submersos por um período de três a moles e desconforto para o paciente pro-
*** Doutor – FOB-USP, Professor do Curso de
Especialização em Prótese EAP-ABO/ES – seis meses, para ocorrer uma cicatrização vocado pela segunda cirurgia.
E-mail: axible@uol.com.br livre de tensão, quando, então, em uma A terapia com implantes submetidos

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à carga imediata com PTF para a reabili- carga imediata sobre implantes com PTF gião do incisivo central esquerdo.
tação oral de mandíbula edêntula apresenta na mandíbula e PTR na maxila. A pacien-  obtenção de tomografia computa-
alta previsibilidade de sucesso, com taxas te também consentiu o uso de suas ima- dorizada (Dentscan)
que variam de 96 a 100% em estudos de gens para publicação. A paciente foi instruída para usar a
curta e média duração, quando esses im- PTR superior ocluindo-a contra o guia
plantes são inseridos na região anterior da O protocolo de tratamento constitui- radiográfico durante o exame tomo-
mandíbula2, 5, 6, 8, 11, 13, 14, 15. se de três fases: gráfico que possibilitou a seleção do
Os pré-requisitos necessários para o a) procedimentos protéticos pré-ci- diâmetro e do comprimento dos implan-
sucesso são: quantidade de osso suficien- rúrgicos tes de acordo com a disponibilidade ós-
te para a fixação de cinco implantes de no  construção de novas próteses totais sea.
mínimo 10mm de comprimento; qualida- removíveis  confecção de um guia multifun-
de do osso tipo I e II, que garante a estabi- O protocolo para a reabilitação oral de cional
lidade primária dos implantes; pacientes edentados totais com PTR foi Para a confecção do guia multifuncio-
posicionamento dos implantes mais distais seguido até a fase em que a PTR superior nal foi utilizado o guia radiográfico, que
o mais próximo possível dos forames estivesse concluída e a inferior, com os remontado no articulador semiajustável
mentonianos, reduzindo ao máximo a ex- dentes montados em cera, ambas aprova- (ASA), foi submetido ao ajuste oclusal
tensão da prótese em cantilever; confec- das pela equipe odontológica e pela paci- contra a PTR superior e em seguida tes-
ção de uma infraestrutura rígida para evi- ente (Figura 2). tado na boca da paciente para fosse
tar micromovimentos dos implantes10, mantida a mesma dimensão vertical e re-
além da estabilidade primária e a distri- lação intermaxilar (relação cêntrica) ob-
buição apropriada das forças oclusais, uma tida previamente (Figura 3).
vez que estas são transmitidas aos implan-
tes logo após a instalação da prótese7, 12. b) procedimentos protéticos
O objetivo deste artigo é apresentar transcirúrgicos
uma sequência dos procedimentos clíni- Após a inserção dos implantes se-
cos protéticos antes, durante e após a in- lecionados e posicionados de acordo
serção dos implantes, com ênfase no re- com o exame radiográfico, com o guia
gistro das relações intermaxilares, para a cirúrgico e co-orientação do protesista,
reabilitação oral de uma mandíbula os seguintes passos foram executados:
Figura 1
edêntula, com a instalação definitiva de  instalação dos pilares protéticos
uma prótese total fixa 72 horas após a ci- (Multi-Unit, Nobel Biocare, Suécia);
rurgia. que apresentam colar transmucoso de
3mm, selecionados de acordo com a
RELATO DO CASO CLÍNICO espessura dos tecidos moles e do espa-
Uma paciente (56 anos) apresentou- ço intermaxilar; verificação da adapta-
se na clínica do Curso de Especialização ção entre os pilares e a plataforma dos
em Prótese Dentária, da Associação Bra- implantes; uso de um torquímetro
sileira de Odontologia do Espírito Santo, Nobel Biocare (Suécia) para gerar o
queixando-se de “próteses frouxas”, dor, torque de 35Ncm, preconizado pelo
desconforto e dificuldades mastigatórias fabricante, nos parafusos dos pilares
e fonéticas. A paciente foi submetida aos protéticos;
exames de rotina para diagnóstico, plano Figura 2  colocação e adaptação dos trans-
de tratamento e prognóstico. Foi consta- ferentes de captação ou transferentes
tado edentulismo total (Figura 1), sendo para moldeira aberta (Nobel Biocare,
que o rebordo residual da mandíbula esta-  confecção de um guia radiográfico Suécia) nos pilares protéticos para ob-
va severamente reabsorvido e o da maxi- com marcadores tenção do index de soldagem, que ser-
la, com altura normal. Avaliadas as suas O guia radiográfico foi confecciona- ve de guia de referência para verifica-
expectativas, duas opções de tratamento, do por meio da duplicação da PTR inferi- ção da passividade da estrutura metáli-
suas vantagens e desvantagens foram apre- or diagnóstica, em resina acrílica ca em laboratório. Os transferentes fo-
sentadas e discutidas com a paciente. Após termoativada incolor, sendo posicionados ram unidos com fio dental e resina
as devidas considerações, a paciente op- marcadores de guta-percha nos pré-mola- acrílica autopolimerizável (Pattern-
tou pelo tratamento com o protocolo de res e caninos bilateralmente, e um na re- resin, GC América, EUA) e aguarda-

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Figura 3 Figura 6 Figura 7

 modificação do guia cirúrgico em


guia de moldagem (Figura 6).
 foi realizado um alívio interno na
região anterior do guia cirúrgico, cor-
respondente à posição dos transferentes
de moldeira fechada na boca. Em segui-
da, foi testado se o alívio estava ade-
quado, e se havia estabilidade do guia
sobre o rebordo. Essa estabilidade é
obtida pelo assentamento completo do
Figura 4
guia na área do rebordo posterior ínte- Figura 8
gro, não envolvido na cirurgia, o que
propicia o registro das relações  remoção do molde e dos transfe-
dos 10 min para a polimerização total
intermaxilares durante o procedimento rentes de captação
da mesma (Figura 4);
de moldagem, quando sua superfície O molde foi removido após a
 remoção dos transferentes de capta-
oclusal ocluir com a PTR superior. polimerização do material (7 min), sub-
ção unidos sobre os implantes;
 aplicação do adesivo (Impregum, metido à análise crítica e a procedimentos
 colocação e adaptação dos
3M ESPE, Alemanha) no interior e nas de desinfecção com hipoclorito de sódio.
transferentes de reposição (Nobel Biocare,
bordas do guia de moldagem, após a qual Procedeu-se, em seguida, à remoção do
Suécia) aos pilares protéticos para o pro-
foram esperados 4 min para secagem; transferente mais distal de um dos lados,
cedimento de moldagem com o guia
 instalação da PTR superior na boca à união deste ao análogo do pilar protético
multifuncional (Figura 5);
do paciente; e ao posicionamento desse conjunto no seu
 manipulação do material de sítio no interior do molde. Essa manobra
c) procedimentos protéticos pós-ci-
moldagem foi repetida de maneira ordenada até o
rúrgicos (após o término dos procedi-
O material de moldagem (Impregum, transferente mais distal do lado oposto. Em
mentos de sutura feitos pelo cirurgião)
3M Espe, Alemanha) manipulado foi co- seguida, foram instalados os cicatrizadores
locado no interior do guia de moldagem sobre os pilares protéticos;
sem excessos e, com a seringa de  envio do molde, do index de
moldagem, ao redor dos transferentes de soldagem e dos modelos da PTR superior
reposição até cobri-los completamente. montada em ASA ao laboratório;
 posicionamento do guia de  prova da infraestrutura metálica
moldagem na boca da paciente A infraestrutura metálica foi instala-
Após a inserção da moldeira em posi- da sobre os pilares protéticos com a colo-
ção na boca, a paciente foi orientada a cação do parafuso mais distal de um dos
ocluir o guia contra a PTR superior. Esse lados, no qual foi dado torque manual. Em
movimento de fechamento foi feito sob o seguida, foram verificadas a justeza e a
controle do operador, que consistiu em passividade, através de análise visual, e
guiar a mandíbula à posição de relação procedeu-se à instalação dos outros para-
cêntrica e à dimensão vertical de oclusão fusos em seus sítios correspondentes.
Figura 5 preestabelecida no guia (Figura 7). A adaptação foi ratificada através

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de radiografias periapicais. A inserção dos implantes e da prótese. A


infraestrutura foi reenviada ao labora- confecção prévia da PTR superior e da
tório de prótese dentária; inferior diagnóstica garantiu a reprodução
 prova da prótese com os dentes mon- das relações intermaxilares entre as
tados próteses definitivas, durante a moldagem
A prova da prótese foi feita 48 horas com o guia multifuncional.
após a cirurgia, quando foram avaliadas A confecção do index de soldagem
as relações intermaxilares. Pequenos ajus- garantiu um menor tempo clínico e
tes oclusais foram feitos com o uso de fi- laboratorial. Todos os procedimentos de
tas marcadoras de contato (Accufilm II, soldagem puderam ser realizados no la-
Parkell, EUA) e manipulação da mandí- Figura 9
boratório de prótese dentária, possibilitan-
bula da paciente até atingir a posição de do a passividade necessária entre a
relação cêntrica com a dimensão vertical infraestrutura metálica e os implantes e a
de oclusão previamente estabelecida. Os diminuição dos passos clínicos.
aspectos estéticos da prótese foram sub- Os procedimentos de moldagem e re-
metidos à aprovação da equipe gistro intermaxilares foram suficientemen-
odontológica e da paciente e, em seguida, te precisos para evitar os possíveis passos
a prótese foi reenviada ao laboratório de de remontagens das próteses. Além disso,
prótese dentária para o processamento fi- vale salientar que a determinação das re-
nal; lações intermaxilares previamente à cirur-
 instalação da prótese 72 horas após gia resguarda o profissional do trabalho
a cirurgia (Figura 8); de obtê-las durante ou logo após a cirur-
As relações intermaxilares foram no- gia, em situação altamente adversa, devi-
Figura 10
vamente avaliadas e, pequenos ajustes do ao trauma cirúrgico e à anestesia do
oclusais foram feitos para obter-se estabi- Figura 10 mostra a radiografia panorâ- paciente, o que pode acarretar registros
lidade em relação cêntrica, distribuindo- mica da paciente dezoito meses após a inadequados.
se os contatos oclusais bilateralmente com instalação das próteses. Registros intermaxilares precisos per-
intensidades semelhantes. Em seguida, mitem uma manipulação apropriada das
como a PTR superior tinha uma ótima re- DISCUSSÃO forças oclusais, que, segundo Misch et
tenção, em parte, devido às condições do O avanço obtido com o desenvolvi- al.9 (2004), deve ser criteriosa, pois existe
rebordo residual, foram feitos os ajustes mento do protocolo de carga imediata re- uma perda óssea marginal maior nos im-
oclusais excêntricos (lateralidade direita, flete-se na redução do tempo de tratamen- plantes sob carga imediata, quando com-
esquerda e protrusiva), seguindo-se o con- to clínico, uma única etapa cirúrgica, a res- parados aos implantes de dois estágios ci-
ceito da oclusão mutuamente protegida, tituição imediata das necessidades estéti- rúrgicos7, 12. No presente caso clínico, so-
com desoclusão pelo canino; cas e funcionais que proporciona maior sa- mente pequenos ajustes oclusais foram
 orientação ao paciente tisfação e melhoria da autoestima do pa- necessários. Isso provavelmente se deveu
Ao final do protocolo, a paciente foi ciente, além de reduzir os riscos de sobre- ao alto grau de precisão com que foram
orientada a adotar uma alimentação ma- cargas inadequadas da prótese provisória realizados todos os procedimentos, e à efi-
cia nas três primeiras semanas e a man- sobre os implantes. Quando usado em pa- ciência do protocolo.
ter a higiene oral, com ênfase nos cui- cientes bem selecionados, esse protocolo A paciente foi reavaliada após sete
dados para evitar traumatismos nos te- apresenta uma alta taxa de sucesso. dias, quando as suturas foram removidas.
cidos moles manipulados, preconizan- Estes índices de sucesso, que variam Também foi feita uma reavaliação das
do enxágue local com solução de de 96 a 100% em estudos de curta e mé- próteses e constatada a manutenção da
clorexidina a 0,12% três vezes ao dia. A dia duração2,5,6, 8, 11, 13,14,15, estão estritamen- estabilidade dos contatos oclusais.
paciente também foi instruída a retornar te relacionadas à organização dos proce- Na análise radiográfica após três me-
no dia seguinte para que fosse avaliada dimentos executados, que exigem um alto ses foi constatada a presença de
a necessidade de ajustes. O acompanha- grau de precisão cirúrgica, clínica e osseointegração, superando o período crí-
mento foi feito um, três e seis meses laboratorial. O caso clínico relatado ofe- tico do protocolo de carga imediata, que é
após a colocação da prótese e, posteri- rece uma abordagem lógica de planeja- em média de três a cinco semanas após a
ormente, a cada seis meses. A Figura 9 mento e execução dos passos clínicos inserção dos implantes4. Todos os implan-
mostra o aspecto da paciente duas se- protéticos prévios à cirurgia, assim como tes estavam osseointegrados, e a paciente
manas após a instalação da prótese. A aqueles necessários durante e depois da reiterou sua satisfação tanto estética como

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funcional. As próteses propiciavam uma do Curso de Especialização em Prótese implant-fixed mandibular protheses: a
mastigação confortável e eficiente, e ago- Dentária da EAP-ABO, Singrid Mello prospective 18-month follow-up clinical
ra ela podia falar “sem que as próteses se Saliba e Renata Aparecida Fassarella e ao study - preliminary report. Implant Dent.
soltassem”, o que antes causava muito técnico de prótese dentária René José Sil- 2001;10:23-9.
constrangimento. Apesar de não ter sido va pela valiosa ajuda para execução deste 8. Misch C, Wang H. Immediate occlusal
loading for fixed prostheses in implant
feito teste específico para quantificar o trabalho.
dentistry. Dent Today. 2003;22(8):50-6.
aumento da eficiência mastigatória, pelo
9. Misch C, Wang H, Misch CM, Sharawy
relato da paciente, houve impacto na die- REFERÊNCIAS
M, Lemons J, Judy KW. Rationale for the
ta: ela não mais se privava de alimentos 1. Babbush CA, Kent JN, Misiek DJ. application of immediate load in implant
como frutas e carnes consistentes. Titanium plasma-sprayed (TPS) screw
dentistry: Part I. Implant Dent.
Seguramente houve grande melhoria implants for the reconstruction of the
2004;13:207-17.
na qualidade de vida da paciente que fi- edentulous mandibles. J Oral Maxillofac
10. Minsk L, Rose LF. Immediate loading of
Surg. 1986;44:274-82.
cou satisfeita, principalmente devido ao dental implants for mandibular prosthesis
2. Balshi TJ, Wolfinger GJ. Immediate
restabelecimento imediato da função e da in edentulous mandibles. Comped Contin
loading of Bränemark implants in
estética através das próteses. O protocolo Educ Dent. 2003;24(5):346, 349-354.
edentulous mandibles: a preliminar report.
permitiu a eliminação de um longo perío- 11. Randow K, Ericsson I, Nilner K, Petersson
Implant Dent.1997;6(2):83-8.
do de cicatrização tradicionalmente neces- A, Glantz PO. Immediate functional
3. Bränemark PI, Hansson BO, Adell R,
sário antes da instalação de próteses. loading of Bränemark dental implants: an
Breine U, Lindstrom J, Hallen O et al.
18-month clinical follow-up study. Clin
Osseointegrated implants in the treatment
of the edentulous jaw. Experience from a Oral Implants Res. 1999;10:8-
CONCLUSÕES
10-year period. Scand J Plast Reconstr 12. Sagara M, Akagawa Y, Nikai H, Tsuru H.
O protocolo de carga imediata sobre The effects of early occlusal loading on
implantes em mandíbula edentada descri- Surg Suppl. 1977;16:1-132.
4. Buchs AU, Levine L, Moy P. Preliminary one-stage titanium alloy implants in
to neste relato de caso clínico: beagle dogs: a pilot study. J Prosthet Dent.
report of immediately loaded Altiva Na-
a) proporcionou resultados estéticos e tural Tooth Replacement dental implants. 1993;69:281-8.
funcionais satisfatórios para a paciente, Clin Implant Dent Relat Res. 2001;3:97- 13. Schnitman PA, Wohrle PS, Rubenstein JE.
num período de tempo muito inferior ao 106. Immediate fixed interim prostheses
do protocolo de tratamento convencional; 5. Chiapasco M, Abati S, Romeo E, Vogel supported by two-stage threaded implants:
b) proporcionou previsibilidade na G. Implant-retained mandibular methodology and results. J Oral
execução do tratamento proposto; overdentures with Bränemark System MK Implantol. 1990;16:96-105
c) diminuiu o tempo clínico do pro- II implants: a prospective comparative 14. Schnitman PA, Wohrle PS, Rubenstein JE,
study between delayed and immediate DaSilva JD, Wang NH. Ten-year results
fissional para ajuste das próteses;
loading. Int J Oral Maxillofac Implants. for Branemark implants immediately
d) eliminou o longo período de cica-
2001;16:537-46. loaded with fixed prostheses at implant
trização após a inserção dos implantes e a placement. Int J Oral Maxillofac Implants.
6. Chow J, Hui E, Li D, Liu j, Li D, Wat P et
consequente utilização de próteses remo- al. The Hong Kong Bridge Protocol. 1997;12:495-503
víveis, além dos múltiplos procedimentos Immediate loading of mandibular 15. Tarnow DP, Emtiaz S, Classi A. Immediate
de reembasamento destas utilizados no tra- Branemark fixtures using a fixed loading of threaded implants at stae 1
tamento convencional. provisional prosthesis: preliminary surgery in edentulous arches: ten
results. Clin Implant Dent Relat Res. consecutive case reports with 1- to 5-year
AGRADECIMENTOS 2001;3:166-74. data. Int J Oral Maxillofac Implants.
Agradecimento especial às alunas 7. Colomina LE. Immediate loading of 1997;12:319-24.

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Avaliação do transporte apical durante instrumentação


ultrassônica utilizando-se de diferentes tipos de limas
Evaluation of carried apex during ultrassonic instrumentation using different type of files

Palavras-chave: Ultrassom. Ápice dentário. Endodontia. Instrumentos Odontológicos.


Key words: Ultrasonics. Tooth apex. Endodontics. Dental instruments.

Cleber Keiti Nabeshima* RESUMO


Maria Leticia Borges Britto** A proposta deste estudo foi verificar se a instrumentação ultrassônica promove
algum desvio da forma original apical, se esta é influenciada por diferentes tipos de
limas - K, K-flex e níquel titânio – e diferentes marcas comerciais. Trinta blocos de
canais simulados foram instrumentados cérvico apical acorde Machado e divididos
aleatoriamente em 3 grupos de acordo com o tipo de lima e marca comercial, com seu
terço apical preparado de acordo com a divisão. Através da análise estatística foi possí-
vel observar que o grupo de limas K flex FKG®, comparada ao grupo K FKG®, K
Dentsply-Maillefer® e K-flex Dentsply-Maillefer® obteve diferença estatisticamente
significante. O grupo K-flex Dentsply-Maillefer® também obteve diferença quando
comparada ao grupo de níquel titânio FKG®. Com isso pode-se concluir que o sistema
ultra-sônico pode causar alteração apical com dilaceração foraminal, onde a marca co-
mercial pode influenciar no resultado final; as limas K-flex FKG® foram as mais
indicadas para instrumentação ultrassônica no tratamento endodôntico.

ABSTRACT
The proposal of this study was verify if the ultrasonic instrumentation promotes
some deviation of the apical original shape, if this is influenced for different type of
files – K. K-flex and nickel titanium – and different trademarks. 30 blocks of simulated
canals was prepared crown donw agreement Machado and divided randomly in three
groups in agreement with type of files and trademark, with apical third prepared in
agreement with the division. Through statistical analysis was possible to notice that
the group of K-flex files FKG®, when compared to group K FKG®, K Dentsply-
Maillefer® and K-flex Dentsply-Maillefer® obtained difference significant. The group
of K-flex files Dentsply-Maillefer® obtained difference too, when compared to group of
nickel titanium files FKG®. It concluded that the ultrasonic system can cause apical
alteration with foraminal laceration, when the trademark can influence in the final
result; K-flex files FKG® were most suitable to ultrasonic instrumentation in the
endodontic treatment.

INTRODUÇÃO rem estes objetivos.


A busca pela simplicidade e rapidez Para apresentar alternativas nos tipos
com resultados satisfatórios, é objetivo de tratamento endodôntico, mais especi-
* Especialista pela Academia Brasileira de Me- de qualquer área de estudo e desenvol- ficamente na instrumentação do sistema
dicina Militar vimento. Aprimorar tudo aquilo que a de canais radiculares, surgiu a ideia de uti-
E-mail: clebekn@hotmail.com tecnologia oferece associando aos mais lizar energia piezelétrica aplicando-a em
** Doutora pela Faculdade de Odontologia da
Universidade de São Paulo simples conceitos já existentes é o gran- uma lima endodôntica, que em contato
E-mail: m.leticiabritto@globo.com de desafio de empresas para consegui- com o interior do canal radicular resulta-

Nabeshima, Cleber Keiti et al. Avaliação do transporte apical durante instrumentação ultrassônica utilizando-se de diferentes tipos de limas
366 Rev. ABO Nac. Suplemento nº 1 Vol. 18 nº 1 - Fevereiro/março 2010

ria na instrumentação do mesmo.


Esta energia é gerada em um apare-
lho ultra-sônico, que através de cristais
sob pressão, converte a força elétrica em
ondas de propagação ao meio em que se
encontra 23.
Brosco et al 3 (1991) fizeram uma aná-
lise comparativa do preparo biescalonado
isolado ou coadjuvado por
ultrassonificação, os resultados afirmam
Fig. 1 – Criação de Zip apical Fig. 2 – Desvio apical após instrumentação
que a instrumentação ultrassônica aumenta ultrassônica com lima tipo K
a capacidade de limpeza dos canais
radiculares, além dos limites da
instrumentação, removendo detritos que
possam estar retidos na luz ou nas pare-
des durante a instrumentação.
Costa et al.5 (1994) avaliaram a capa-
cidade de limpeza da instrumentação
ultrassônica realizada aquém ou no com-
primento de trabalho, mostrou que a força
do fluxo da irrigação proporcionada pelas
ondas ultrassônicas não são suficientemen- Fig. 3 – Dilaceração Foraminal causada por Fig. 4 – Preparo visualmente próximo do
te fortes para a limpeza do canal radicular, perda de odontometria original realizado com lima de aço flexível
isso é comprovado quando se instrumenta
a 2mm aquém, onde mostra região apical
pouco limpa, diferente quando ocorre lizado levando-se em consideração as di- a técnica de ultra-som foi a que propor-
quando se instrumenta no CRT. ferentes capacidades cortante do sistema cionou mais extravasamento de materi-
Luiten et al 12 (1995) realizaram um e a largura de dentina. al obturador.
estudo com 60 molares inferiores com Zanarolli 25 (1998) estudou a deformi- Lin et al.11 (1999) estudaram a defor-
raiz mesial curva, onde foram divididos dade da região apical de canais prepara- mação do canal principal durante o pre-
em quatro diferentes grupos, que foram dos com a técnica cervicoapical e Enac. paro apical, comparando-se a técnica
instrumentados pela técnica ápico Os resultados obtidos apresentaram uma ultrassônica em diferentes potências e a
cervical (step back) com limas tipo K, grande deformidade ao longo dos canais técnica com brocas. O ultra-som obteve
técnica cérvico apical (crown down) com artificiais quando do uso do Enac; ao sa- maior deformação, porém no presente es-
limas tipo K, técnica de instrumentação lientar a porção apical, verificaram alte- tudo não se observou nenhum tipo de ra-
sônica e técnica de instrumentação com rações de forma na grande maioria quan- chaduras na superfície radicular.
limas de níquel titânio. Não apresentou do comparada à técnica cervicoapical, Rosales 19 (2004) comparou a utiliza-
diferença significante de transporte do nesta pode-se observar as regiões apicais ção de duas técnicas utilizando limas de
canal entre as quatro técnicas, onde se com característica de normalidade. níquel titânio, uma manualmente e outra
observou que a instrumentação sônica Bramante e Freitas 2 (1998) realiza- acoplada ao aparelho de ultra-som, em blo-
houve significante aumento coronário; a ram um estudo comparativo entre as téc- cos de canal simulado. Os canais prepara-
instrumentação pela técnica de crown nicas manual, ultra-som e canal finder dos foram avaliados visualmente e obte-
down juntamente com a técnica sônica em 30 dentes com necessidade de ve-se grande discrepância de resultados,
apresentaram mais proeminências; haven- retratamento endodôntico, avaliando o sobressaltando a eficiência da técnica ma-
do formação de cotovelo em todas as téc- tempo gasto para a penetração inicial até nual e a ineficiência do uso do conjunto
nicas de instrumentação. o ápice, o tempo para completar a lim- lima de níquel titânio com o aparelho de
Lumley 13 (1997) analisou a capacida- peza, extrusão de material e limpeza do ultra-som.
de cortante de diferentes tipos de limas canal. O canal finder foi a técnica que O objetivo deste estudo foi verificar
sônicas testando-as em osso bovino. Con- propiciou maior limpeza, seguida da ma- se a instrumentação ultrassônica promove
cluiu significante diferença de corte entre nual e da ultrassônica; a parede palatina algum desvio da configuração original
os sistemas, indicando a seleção ideal do do canal foi constantemente mais limpa apical, e se esta é influenciada por dife-
tipo de sistema para cada tipo de dente uti- do que a vestibular; quanto à extrusão, rentes tipos de limas - aço inox tipo K, K

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Vol. 18 nº 1 - Fevereiro/março 2010 Rev. ABO Nac. Suplemento nº 1 367

flexível e níquel titânio – e marcas comer- Tabela 1 – Relação do Score de acordo com o preparo apical
ciais.
MATERIAL E MÉTODOS CARACTERISTICA FINAL
O presente estudo foi feito utilizando- SCORE
DO PREPARO
se de 30 blocos de canais simulados
(Endo-Block – Maillefer®, Ballaigues - Sem Desvio apical 0
Switzerland) onde todos foram
instrumentados nos seus terços cervical e Criou-se desvio apical (ZIP) 1
médio com brocas Gates Glidden núme- Desvio apical com dilaceração foraminal 2
ros 1, 2 e 3 acorde técnica Machado 14
(1993) com auxilio de substâncias quími-
cas Endo-PTC e Hipoclorito de Sódio a
0,5% (Fórmula & Ação®, São Paulo – Tabela 2 – Resultados convertidos em scores
Brasil).
Foi utilizado para instrumentação GRUPOS SCORES
apical o aparelho ultra-sônico Profi III
Bios® (Dabi Atlante®, Riberão Preto - K FILE FKG® 1 2 2 1 0
Brasil) numa vazão 3 (rotação da bom- K FILE MAILLEFER® 2 2 0 0 2
ba para rotação de irrigação) com bom-
ba peristáltica regulada na potência má- K FLEXÍVEL FKG®(KFLEX) 0 0 0 0 0
xima de 100%, assim como recomenda
K FLEXÍVEL MAILLEFER®
o fabricante. 2 2 2 2 2
Os canais foram divididos em 3 gru- (FLEXOFILE)
pos de 10 blocos cada de acordo com o
NiTi FKG® 2 0 0 0 2
tipo de lima – tipo K, aço inox flexível e
níquel titânio - e subdivididos em 2 (dois) NiTi MAILLEFER® 2 0 2 0 2
subgrupos de 5 (cinco) blocos cada, de
acordo com a marca comercial - FKG®®
(FKG® - La Chaux-de-Fonds-Switzerland final do preparo apical (Figuras 2 e 3). O nível de 5% quando comparada ao grupo
) e Dentsply – Maillefer® (Maillefer®, que resulta num total de 56,6% de defor- de níquel titânio FKG®.
Ballaigues – Switzerland). Todas as limas mação apical produzida durante a
foram utilizadas uma única vez. instrumentação ultrassônica e 43,4% de DISCUSSÃO
O limite de instrumentação estabele- preparo aparentemente seguindo a confi- A modernização é algo que está em
cido foi de 1mm aquém do término do guração inicial do canal (Figura 4). constante desenvolvimento com o passar
canal simulado visualmente, seguindo de Os resultados finais caracterizados fo- dos anos. Mesmo assim técnicas arcaicas
sequência de limas de número 20 a 35, ram submetido a scores (Tab. 2). não deixam de ser estudadas, pois é base
utilizando-se do Creme de Endo PTC e Através da análise separada dos gru- de tudo para o aperfeiçoamento. Com esta
irrigação constante pelo sistema ultra- pos e subgrupos verificou tratar-se de uma ideia estudou-se a aplicabilidade da ener-
sônico com Hipoclorito de Sódio a 0,5%. distribuição amostral não normal, o que gia ultrassônica na Endodontia.
Foi verificado visualmente em todos levou ao teste estatístico de Kruskal- O sistema trouxe como vantagem, a
os blocos a configuração final e a presen- Wallis, que comparou suas amostras dois irrigação constante do sistema de canais
ça de desvio discrepante da posição apical a dois (Tabela 3). radiculares durante toda a instrumentação,
inicial. Disto foram dados scores Diante da análise obtida, o grupo de auxiliando assim, a diminuir o tempo de
preestabelecidos para que se pudesse rea- limas tipo aço flexível FKG® quando trabalho gasto 3,6,20,21,24.
lizar a análise estatística e verificar se ha- comparada ao grupo do tipo K FKG® e Porém, a flexibilidade da lima utiliza-
via diferença entre as limas utilizadas e/ tipo K Dentsply-Maillefer® obteve dife- da durante o preparo, seja por técnica ma-
ou entre as marcas. (Tabela1) rença estatisticamente significante ao ní- nual ou ultrassonificada poderia influen-
vel de 5%; a mesma, quando comparada ciar no resultado final da modelagem do
RESULTADOS ao tipo aço flexível Dentsply-Maillefer® canal1,4,7,8,10,12,13,15,17,18,22,23,25, isto porque o
De todas as amostras, somente 6,6% obteve diferença ao nível de 1%. poder de corte do instrumento utiliza-
apresentaram formação de Zip (Figura 1), O grupo do tipo aço flexível Dentsply- do11,13,16 poderia resultar um desgaste ex-
e 50% apresentaram desvio foraminal ao Maillefer® também obteve diferença ao cessivo, ocasionando em um desvio do tra-

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368 Rev. ABO Nac. Suplemento nº 1 Vol. 18 nº 1 - Fevereiro/março 2010

Tabela 3 - Comparação estatística Kruskal-wallis duas a duas dos grupos testados

Amostra
Comparadas Valores Críticos à
Diferenças
(Comparações Significância
entre Médias
duas a duas) 0,05 0,01 0,001

FKG x MAI 0.1000 9.1237 12,3639 16,5544 Ns


FKG x FKG2 9.8000 9.1237 12,3639 16,5544 5%
FKG x MAI2 6.7000 9.1237 12,3639 16,5544 Ns
FKG x FKG3 3.2000 9.1237 12,3639 16,5544 Ns
FKG x MAI3 0.1000 9.1237 12,3639 16,5544 Ns
MAI x FKG2 9.9000 9.1237 12,3639 16,5544 5%
MAI x MAI2 6.6000 9.1237 12,3639 16,5544 Ns
MAI x FKG3 3.3000 9.1237 12,3639 16,5544 Ns
MAI x MAI3 0.0000 9.1237 12,3639 16,5544 Ns
FKG2 x MAI2 16.5000 9.1237 12,3639 16,5544 1%
FKG2 x FKG3 6.6000 9.1237 12,3639 16,5544 Ns
FKG2 x MAI3 9.9000 9.1237 12,3639 16,5544 5%
MAI2 x FKG3 9.9000 9.1237 12,3639 16,5544 5%
MAI2 x MAI3 6.6000 9.1237 12,3639 16,5544 Ns
FKG3 x MAI3 3.3000 9.1237 12,3639 16,5544 Ns
Legenda: FKG – Limas tipo K FKG®, FKG2 – Limas tipo K Flexível FKG®, FKG3 – Limas Níquel Titânio FKG®, MAI – Limas tipo K
Dentsply-Maillefer®, MAI2 – Limas tipo K flexível Dentsply-Maillefer®, MAI3 – Limas Níquel Titânio Dentsply-Maillefer®.

jeto original do canal. odontometria, só é realizada após este pre- Em casos de instrumentação manual
Foram utilizados canais simulados paro inicial, resultando numa menor vari- o maior poder de corte seria algo positi-
para garantir a padronização da curvatura ação odontométrica bem como maiores vo, mas como o sistema ultra-sônico age
do canal, e assim possuir maior fidelidade forças exercidas perante o instrumento, o com uma força vibratória, onde não se
comparativa dos resultados. Além disso, que poderia influenciar no resultado final. possui o controle cortante da mesma, o alto
sua transparência permitiu a análise visu- Na análise de todos os blocos, a lima poder de corte resultou em desgaste ex-
al do preparo em quaisquer angulações e de aço flexível da marca FKG® não obte- cessivo.
dimensões. ve deformações ao nível apical. Diferente Verificando os grupos pela configu-
A comparação entre duas marcas co- do mesmo tipo de lima da marca Dentsply- ração da lima, pode-se constatar que as
merciais foi estabelecida para que se ob- Maillefer®, que resultaram todas as amos- limas do tipo K mostraram maiores de-
servar se esta variável pode influenciar no tras em desvio com dilaceração apical formações apicais, o que poderia ser
sistema, bem como a diferenciação quan- (Gráfico 1). O que mostra que a marca co- explicada por sua baixa flexibilidade e
to ao tipo de lima empregada. mercial é um fator que pode influenciar alta memória molecular do instrumento
O uso da técnica cérvico apical com no desempenho final da lima. Esta varia- (Grafico 2). É importante salientar que
brocas Gates Glidden acorde Machado, faz ção discrepante poderia ser explicada pelo durante o experimento as deformações
com que haja uma retificação prévia dos maior poder de corte da marca Dentsply- inicialmente foram observadas sempre a
terços cervical e médio do canal radicular, Maillefer®, o que não pode ser vista como partir da lima de numero 25, o que mais
o qual faz como que a lima tenha um aces- ponto negativo dependendo de sua indi- uma vez mostra que a falta de flexibili-
so mais direto à região apical. A cação. dade levou ao aparecimento de desvio.

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Gráfico 1 – Comparação entre as amostras de acordo com as marcas comerciais to endodôntico;


c. A marca comercial pode influen-
ciar no resultado final da instrumentação.

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Vol. 18 nº 1 - Fevereiro/março 2010 Rev. ABO Nac. Suplemento nº 1 371

Saúde bucal para a população idosa - Estratégias


preventivas. Prevenção bucal para idosos
Oral health for aging people - Preventive strategies. Oral prevention for aging people
Palavras-chave: Idoso. Prevenção. Saúde bucal.
Key words: Aged. Prevention. Oral health.

Ângela da Silva Costa* RESUMO


Flávia Fernanda Vettor* Considerando o crescimento global da população idosa, o objetivo deste estudo foi
Marilene do Carmo* revisar as estratégias preventivas em saúde bucal direcionadas para idosos, com o intui-
Priscila Simão Dias* to de contribuir para a melhoria da condição de saúde bucal destes indivíduos. Por meio
Marilisa Carneiro Leão Gabardo** da revisão de literatura foi possível o aprofundamento em conceitos sobre o processo
saúde-doença em idosos e estratégias preventivas específicas. Ressaltou-se o papel dos
profissionais da equipe de saúde bucal nos campos da prevenção, diagnóstico precoce
de doenças e tratamento de problemas bucais prevalentes nesta parcela representativa
da população.

ABSTRACT
Considering the global growth of the aged population, the aim this study was to
revise the preventive strategies in oral health directed to the aged, in order to contribute
for the improvement of oral health conditions of this people. By means of the literature
revision was possible the deepening in concepts about the aged health-illness process
and specific preventive strategies. It was standed out the oral health professionals’ role
in the fields of prevention, early diagnosis and treatment of prevalent problems in this
representative parcel of the population.

INTRODUÇÃO patológicos27.
O envelhecimento é um processo con- Os problemas de saúde bucal que
tínuo e inevitável3. Contudo, é de funda- mais acometem os idosos são a doença
mental importância que se busque man- periodontal, cáries de raiz, o edentulismo
ter a saúde, impactada pelo envelheci- e o câncer bucal23. Desta forma, estabe-
mento, por meio de diversos métodos pre- lecer serviços de atenção em saúde bu-
ventivos. A cavidade bucal não é exce- cal, voltados à prevenção destes proble-
ção, uma vez que, como parte de um todo, mas, devem ser implementados para me-
também sofre com este processo. lhorar as condições de saúde bucal desta
O paciente idoso apresenta caracte- parcela da população5,23.
rísticas próprias da idade, como instabi- O objetivo do presente estudo foi re-
lidade física e emocional e problemas de visar a literatura sobre alguns aspectos re-
ordem sistêmica. Além destes, também levantes relacionados à saúde bucal na ter-
os medicamentos usados pelos idosos têm ceira idade e às estratégias preventivas
* Aluna do curso de Técnico em Higiene Den- impacto sobre o ambiente bucal. Estes que cabem aos profissionais da equipe de
tal, Sociedade Educacional Herrero. fatores frequentemente apresentam ma- saúde bucal elaborarem e realizarem com
** Especialista em Saúde Coletiva em Odonto-
logia, Pontifícia Universidade Católica do nifestações na cavidade bucal que predis- o intuito de promover saúde de forma in-
Paraná. põem ao desenvolvimento de processos tegral e resolutiva.

Costa, Ângela da Silva et al. Saúde bucal para a população idosa - Estratégias preventivas. Prevenção bucal para idosos
372 Rev. ABO Nac. Suplemento nº 1 Vol. 18 nº 1 - Fevereiro/março 2010

REVISÃO DE LITERATURA três fatores principais: biológico, psíqui- medicamentosas) e nos casos mais seve-
Promoção de saúde co e social. Carvalho Filho3 (1997) afirma ros, o câncer bucal2,9,24,25.
O conceito de saúde e doença, atual- que o envelhecimento é um processo di- Além das doenças de ordem sistêmica,
mente aceito destaca os aspectos nâmico e progressivo, onde as alterações também os medicamentos usados pelos
indissociáveis destas condições com as sofridas pelo organismo o tornam mais idosos têm impacto sobre o ambiente bu-
complexas relações biológicas, sociais, suscetível a agressões externas e internas cal. A maioria das drogas prescritas mais
comportamentais e econômicas26. que terminam por levá-lo à morte. frequentemente tem potencial de causar
Considerando-se que tanto a saúde O crescimento da população de ido- efeitos colaterais na boca, dentre elas os
como a doença são processos dinâmicos sos no mundo e no Brasil deve-se ao au- agentes cardiovasculares, analgésicos,
e mutáveis, o enfoque da atenção em saú- mento da esperança de vida ao nascer, que anti-hipertensivos, antidepressivos,
de tem sido deslocado no sentido não ape- em 1950 aumentou em 19 anos10, além de ansiolíticos e os diuréticos. Os efeitos
nas de tratar a doença, mas sim de pro- melhoria das condições socioeconômicas colaterais com implicações na cavidade
mover a saúde. Várias definições de pro- e sanitárias e o avanço da Medicina no tra- bucal mais comuns são: cicatrização re-
moção de saúde têm sido propostas. A tamento e prevenção das doenças. tardada, estomatites, xerostomia, ulcera-
Organização Mundial de Saúde (OMS)21, No Brasil, à semelhança dos diversos ções e aftas, alterações do paladar/olfato,
desde 1998, defende um significado países do mundo, a população está enve- candidose, líquen plano e outras lesões em
onde: “Promoção de saúde representa um lhecendo rapidamente, contando no ano tecidos moles, alteração do volume da lín-
conceito unificado para aqueles que re- de 2002 com 15 milhões de pessoas com gua e queimação sublingual. Também
conhecem a necessidade de mudança nos 60 anos ou mais, o que corresponde a 8,6% pode ocorrer hiperplasia gengival decor-
modos e condições de vida para promo- da população do país. Projeções indicam rente do uso de anticonvulsivantes23.
ver saúde. Promoção de saúde represen- que a população idosa no país em vinte Um dos principais critérios utilizados
ta uma estratégia mediadora entre pesso- anos ultrapassará 30 milhões de pessoas, para identificar se um idoso apresenta con-
as e ambientes, sintetizando escolha pes- o equivalente a 13% da população. Ainda, dição de saúde bucal satisfatória é obser-
soal e responsabilidade social em saúde no mundo, em 2050, estima-se que um var se o mesmo manteve sua dentição na-
para criar um futuro mais saudável”. quinto da população será de idosos10. tural saudável e funcional, incluindo to-
Promoção de saúde, portanto, diz res- Frente ao exposto, com o aumento da dos os aspectos sociais e benefícios bio-
peito à criação de condições favoráveis à vida média da população, o conceito de lógicos, tais como a estética, o conforto, a
saúde e à prevenção de doenças. Em rela- qualidade de vida torna-se mais importante habilidade para mastigar, sentir sabor e fa-
ção à saúde bucal, a promoção de saúde e a saúde bucal tem um papel relevante lar4,13. Entretanto, este fato está longe da
oferece um potencial de combate ao des- neste sentido, uma vez que o comprome- realidade no Brasil. Dados de uma pes-
conforto, dor e sofrimento associados às timento da saúde bucal pode afetar nega- quisa nacional recentemente realizada re-
doenças bucais; tornando-se, portanto, es- tivamente o nível nutricional, o bem-estar velaram que a perda dentária na popula-
tratégia importante na redução do impac- físico e mental, bem como diminuir o pra- ção idosa é muito alta. Na faixa etária de
to que estas doenças têm na vida da popu- zer de uma vida social ativa29. 65 a 74 anos, 57,9% dos indivíduos já
lação brasileira19. eram portadores de prótese total superior,
Como parte das estratégias Saúde geral e bucal na terceira ida- e 24,84%, de prótese inferior17.
promocionais em saúde, a prevenção e as de Isto evidencia que a saúde bucal dos
estratégias de intervenção voltadas para a O paciente idoso apresenta caracterís- idosos, apesar de ser fundamental, é mui-
população idosa, devem ser amplamente ticas próprias da idade, como instabilida- tas vezes negligenciada tanto pela própria
discutidas para que sejam reduzidas as de física e emocional, e doenças população quanto pelos responsáveis pelo
possibilidades de doenças e seu impacto sistêmicas. Estes fatores podem fazer com desenvolvimento de ações promotoras de
sobre a qualidade de vida5,23,29. que o idoso seja mais propenso ao saúde bucal e pela garantia do acesso à
surgimento de patologias que apresentem atenção em saúde resolutiva.
Envelhecimento manifestações na cavidade bucal27. Em
A OMS considera o início da terceira geral, a falta de elementos dentários é uma Estratégias preventivas em saúde
idade aos 60 anos, para países em desen- constante e a cavidade bucal é mais aco- bucal para a terceira idade
volvimento como o Brasil, e aos 65 anos metida por doença periodontal, As atividades educacionais em saúde
para países desenvolvidos20. xerostomia, saburra e halitose, cáries de bucal desempenham um papel fundamen-
O envelhecimento tem sido definido raiz, edentulismo, desgastes dentários tal na melhora da qualidade de vida do
das mais diferentes formas por vários au- (atrições, abrasões e erosões), candidose, indivíduo, reduzindo o risco de enfermi-
tores. Pereira et al.22 (2004) explicam que lesões de tecidos moles (candidose, ulce- dades e ampliando a capacitação para o
o processo de envelhecimento depende de rações, hiperplasias inflamatórias e autocuidado e o suporte àqueles que ne-

Costa, Ângela da Silva et al. Saúde bucal para a população idosa - Estratégias preventivas. Prevenção bucal para idosos
Vol. 18 nº 1 - Fevereiro/março 2010 Rev. ABO Nac. Suplemento nº 1 373

cessitam de cuidadores30. facilitam a limpeza destes espaços, e pas- Além disso, a dieta pode também in-
Desde que sejam observados certos sadores de fio que podem ser utilizados terferir no risco a outras doenças bucais.
cuidados com a saúde bucal do idoso, ele pelo próprio idoso sem que ele necessite Uma alimentação rica em gorduras, álco-
terá amplas possibilidades de chegar a de ajuda de outra pessoa8. ol e ferro ou pobre em proteínas e vitami-
uma idade avançada possuindo seus pró- As próteses também devem ser efici- nas (A, E, C e B2) e alguns minerais como
prios dentes. A higienização diária e a vi- entemente higienizadas para evitar o cálcio e selênio, é considerada um impor-
sita regular ao cirurgião-dentista são fa- acúmulo de matéria orgânica e bactérias tante fator de risco. A ingestão de vitami-
tores decisivos na manutenção da saúde em sua superfície6. As próteses fixas são na A e o consumo frequente de frutas e
bucal como um todo. Como, nessa fase em geral mais difíceis de serem vegetais contendo beta-caroteno e outros
da vida, a destreza manual para o uso ade- higienizadas. Contudo, há meios auxili- carotenoides parecem reduzir o risco de
quado da escova e fio dental vai diminu- ares, como passadores de fio dental, es- câncer bucal11,25.
indo, consultar um profissional regular- covas interdentais, escovas unitufo, jatos Quanto ao câncer bucal as estratégi-
mente é fundamental. de água e colutórios antibacterianos. As as e políticas de saúde devem levar em
A dependência externa para a correta próteses totais e parciais removíveis, por conta o contexto socioeconômico da po-
higienização pode gerar aumento do qua- apresentarem a facilidade de permitir a pulação a que se destinam14. Estas po-
dro depressivo do idoso, pois é mais um remoção para executar a limpeza, tornam dem incluir: incentivo ao abandono do
ponto para alicerçar suas incapacidades possível um melhor controle da higiene tabagismo e do álcool; orientações à re-
atuais na vida. Estando lúcido, compara- pelo paciente. É válido ressaltar-se que, alização do autoexame da boca; exames
se a quando era mais jovem e capaz. Há pelo fato destas próteses poderem remo- rotineiros para verificar a presença de
também idosos que ficam permanentemen- vidas da cavidade bucal, no momento de próteses mal adaptadas que estejam
te deitados. Nesses casos a higienização é sua limpeza devem ser firmemente segu- lesionando a cavidade bucal; orientação
normalmente realizada por cuidadores ou radas para evitar que caiam e quebrem- quanto ao uso filtro solar labial; divul-
seus familiares, os quais devem receber se. Quando a capacidade motora do pa- gação de programas e campanhas de pre-
treinamento específico. É importante que ciente não for adequada, podem ser uti- venção efetivas e melhorias na presta-
estes cuidadores estejam motivados para lizados artifícios que facilitem ao indiví- ção de serviços de saúde.
que façam uma limpeza adequada da boca duo obter uma limpeza satisfatória de
e que possam comunicar-se bem com o suas prótese. Em pacientes totalmente CONCLUSÕES
idoso de forma simples18. dependentes, a limpeza poderá ser reali- A população mundial vem sofrendo
Como uma medida específica de pre- zada pela equipe de apoio, que deve ser um processo de envelhecimento. Para tan-
venção, a equipe de saúde bucal pode in- motivada para a importância da higiene to, é de fundamental importância que os
dicar o uso de flúor para prevenir a cárie bucal na manutenção da saúde e bem-es- profissionais da equipe da saúde bucal es-
dentária, em especial a radicular, que tar do indivíduo, bem como deve ser ori- tejam atentos às condições de saúde geral
pode surgir em decorrência da entada quanto a melhor forma de obter e bucal próprias desta faixa etária.
hipossalivação7. O spray de clorexidina, uma perfeita higiene tanto das próteses Deve-se observar que os idosos são
ou o bochecho com solução a 0,12% são como dos dentes remanescentes16. acometidos por processos crônicos
indicados para diminuir a formação de Ambjörnsen e Rise1 (1985) confirma- degenerativos, e em geral, fazem uso de
placa e por consequência o aparecimen- ram que a instrução verbal de higienização medicação sistêmica regular. Esse conjun-
to de doenças gengivais28. das próteses, aliada à demonstração téc- to de fatores, aliados muitas vezes a dis-
Em pacientes com hipossalivação nica, produz efeitos mais positivos na re- túrbios de ordem psíquica e a falta de co-
pode-se lançar mão da indicação, por dução da quantidade de placa bacteriana ordenação motora, tem impacto na cavi-
parte do cirurgião-dentista, do uso de das superfícies protéticas. dade bucal, e podem estar relacionados à
saliva artificial. Apesar dos benefícios A dieta tem influência na saúde bucal xerostomia, cáries radiculares, câncer bu-
proporcionados pela saliva artificial o de forma direta ou indireta. Relaciona-se cal, entre outras doenças.
produto não atua sobre as causas da principalmente à doença cárie, represen- Tendo-se em vista a importância da
xerostomia, apenas auxilia na diminui- tando um dos fatores etiológicos mais im- saúde bucal na terceira idade, programas
ção de seus sintomas24. portantes a ser considerado no aspecto pre- educativos e preventivos devem ser desen-
Para a higienização da língua uma es- ventivo. Assim, a restrição do consumo volvidos com o intuito de orientar os ido-
cova macia ou uma gaze envolta no dedo excessivo ou a redução na ingestão de sos e seus cuidadores quanto à importân-
indicador podem ser usadas para que a carboidratos fermentáveis são medidas re- cia da higiene bucal adequada. Neste con-
saburra seja removida, além dos limpado- comendadas para prevenir a acidificação texto, os profissionais da equipe de saúde
res de língua. Quanto aos dentes podem bucal por longos períodos em pacientes bucal têm papel importante no desenvol-
ser empregadas escovas interdentais que de alto risco à cárie dentária12. vimento de estratégias de promoção de

Costa, Ângela da Silva et al. Saúde bucal para a população idosa - Estratégias preventivas. Prevenção bucal para idosos
374 Rev. ABO Nac. Suplemento nº 1 Vol. 18 nº 1 - Fevereiro/março 2010

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Vol. 18 nº 1 - Fevereiro/março 2010 Rev. ABO Nac. Suplemento nº 1 375

Percepção do aluno de Odontologia sobre sua atuação


como futuro profissional na promoção da saúde*
Dental students` perceptions about their future professional performance
in health promotion*n

Palavras-chave: Promoção de saúde. Ensino odontológico. Graduação odontológica. Saúde da Família.


Key words: Health Promotion. Dental teaching. Dental Graduation. Family Health.

Marcos Vinicius Queiroz de Paula** RESUMO


Este trabalho trata de uma pesquisa exploratória com abordagem qualitativa que
enfoca a percepção de alunos do último período do curso de Odontologia da Universi-
dade Federal de Juiz de Fora sobre a atuação do cirurgião-dentista na promoção da
saúde da população. Com a implantação da Saúde Bucal na Estratégia da Saúde da
Família os profissionais da Odontologia necessitam de um perfil voltado para as neces-
sidades deste campo de ação. O nosso objetivo foi conhecer a percepção dos formandos
quanto a seu papel de profissional promotor de saúde e dos momentos em sua formação
que facilitaram ou promoveram esta condição. A análise dos dados empíricos eviden-
ciou a necessidade de ampliar a discussão quanto aos princípios do Sistema Único de
Saúde junto aos alunos, bem como, a necessidade de aproximação entre os ciclos da
graduação, básico e profissionalizante, que auxiliariam na compreensão de Promoção
de Saúde como algo além das atitudes curativas/preventivas que recebem em sua for-
mação acadêmica.

ABSTRACT
This study uses a qualitative approach to undertake an exploratory research into
the perception of final year dental students from the Federal University of Juiz de Fora
about the performance of the dentist in health promotion. Because of the introduction
of oral health in the strategies of family health, dental professionals need a profile
targeting this field of action. our aims were: 1) to know the final year students‘ perception
about their role in health promotion, and 2) to identify critical moments in their courses
that facilitate such awareness. The empiric data revealed two needs: 1) to deepen the
discussion with the students about the principles underlying the Brazilian Health System
(Sus), and 2) to promote closer liaison between the basic and professional cycles of the
dentistry course. Meeting these needs would help to understand health promotion as
something far beyond the curative/preventive approaches that now pervade the academic
curriculum.

INTRODUÇÃO seu paciente como partes dela tem sido a


A inclusão da Saúde Bucal no Pro- formação esperada dos profissionais que
grama Saúde da Família (PSF), como par- lidarão com Atenção Básica em Saúde. É
* Trabalho de conclusão do Curso de Especia- te das ações prioritárias da Atenção Bási- necessário que este dentista esteja sensi-
lização em Saúde da Família promovido pelo ca, teve sua inserção oficial em 2000, atra- bilizado e solidário pelas questões soci-
Nates/UFJF – ano de 2005. Faculdade de vés da Portaria Ministerial nº 1.444 de 28/ ais, capacitado em ciências humana e com-
Odontologia / Universidade Federal de Juiz 12/2000. petente para comunicar-se com indivídu-
de Fora (MG).
** Cirurgião-dentista. Um profissional capaz de perceber a os de diferentes origens culturais; que pen-
E-mail: mvqpp@yahoo.com.br sociedade de forma ampla, a si próprio e a sem a saúde de forma ampla num equilí-

Paula, Marcos Vinicius Queiroz de. Percepção do aluno de Odontologia sobre sua atuação como futuro profissional na promoção da saúde
376 Rev. ABO Nac. Suplemento nº 1 Vol. 18 nº 1 - Fevereiro/março 2010

brio entre as condições biológicas, cultu- para atuar na melhoria da qualidade de versos grupos sociais em uma prática
rais, históricas, econômicas e políticas, vida...” (Dalmasco e Nemes F8). De acor- intersetorial (Aerts et al.1).
portanto, é preciso que ele entenda a Pro- do com Conil6, embora alguns aspectos do A estratégia da Saúde da Família
moção de Saúde como algo além das prá- conteúdo de reformas orientadas pela aten- A estratégia da Saúde da Família apre-
ticas curativas/restauradoras, que sua atu- ção primária sejam antigos, sua emergên- senta características estratégicas para o
ação como profissional de saúde extrapole cia como proposta organizativa para sis- SUS e aponta possibilidade de adesão e
as quatro paredes de seu consultório e vá temas de saúde é mais recente e está liga- mobilização das forças sociais e políticas
de encontro às necessidades da população, da ao movimento da medicina comunitá- em torno de suas diretrizes, o que possi-
escutando, questionando e promovendo ria americana dos anos 60. Na trajetória bilita a integração e organização das ações
atitudes de responsabilidades quanto à de sua difusão surgiram diferentes deno- de saúde em território definido, tendo
saúde e dos meios para alcançá-la. minações traduzindo reconstruções como finalidade propiciar o enfrentamento
Conhecer o que os formandos em contextuais: atenção e cuidados primári- e resolução de problemas identificados,
Odontologia pensam desta atuação do ci- os, medicina simplificada, saúde ou me- pela articulação de saberes e práticas com
rurgião-dentista na atualidade e a percep- dicina comunitária e no atual contexto bra- diferenciados graus de complexidade
ção destes alunos sobre sua atuação como sileiro, saúde da família com os seguintes tecnológica, integrando distintos campos
profissional na promoção da saúde, iden- princípios organizativos: territorialidade do conhecimento e desenvolvendo habili-
tificando momentos do curso de gradua- com adscrição de clientela, integralidade dades e mudanças de atitudes nos profis-
ção que influenciaram para a formação das ações, trabalho em equipe, apelo à sionais envolvidos (Pedrosa e Teles16).
de profissionais com essa visão são os participação e integração a um sistema O PSF apresenta-se no atual cenário
objetivos deste trabalho. regionalizado e hierarquizado. da política de saúde brasileira como um
modelo de atenção em saúde, pautado no
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA A humanização e a saúde paradigma da vigilância à saúde que bus-
Reforma Sanitária Está tornando-se um consenso que é ca articular a ação programática em saú-
A Reforma Sanitária brasileira pode necessário humanizar a assistência à saú- de, com as políticas públicas setoriais e
ser considerada tardia, preconizando prin- de em nosso país. Humanizar significa transetoriais. Além disso, o PSF propõe
cípios democráticos racionalizadores com reconhecer as pessoas, que buscam nos uma ampliação do lócus de intervenção em
implementação do Sistema Único de Saú- serviços de saúde a resolução de suas ne- saúde, incorporando na sua prática o do-
de (SUS). Numa conjuntura neoliberal, cessidades de saúde, como sujeitos de di- micílio e espaços comunitários diversos
apesar de avanços político-administrati- reitos. Humanizar é observar cada pes- (Nunes et al.14).
vos, reconhecem-se dificuldades para ade- soa em sua individualidade, em suas ne- Souza21 considerou o PSF como es-
quar o modelo assistencial aos princípios cessidades específicas, ampliando as pos- tratégia estruturante dos sistemas muni-
reformadores com maior equidade no sibilidades para que possam exercer a sua cipais de saúde e tem demonstrado po-
acesso e na integralidade das práticas autonomia. Autonomia relaciona-se com tencial para provocar um importante mo-
(Fleury10). tomada de decisão. Por pessoa autôno- vimento de reordenamento do modelo vi-
De acordo com Hildebrand et al.12, o ma compreende-se aquela que tem con- gente de atenção. É possível afirmar que
Movimento da Reforma Sanitária e o pro- dições para deliberar, para decidir entre existe, apesar da permanência de inúme-
cesso de construção do SUS marcam mo- as alternativas que lhe são apresentadas, ros desafios ainda não superados, uma
mentos significativos do processo de res- podendo atuar conforme a escolha por ela série de elementos favoráveis ao desen-
gate da cidadania dos brasileiros no cam- feita (Fortes e Martins11). volvimento e consolidação do PSF no
po da saúde. Foi ao longo das últimas qua- Uma das principais diferenças em re- Brasil, neste momento, pelo espaço polí-
tro décadas que se plantou a ideia de lação aos modelos médico-assistencial tico e institucional ocupado, não mais
equidade, integralidade, universalidade e e sanitarista é a inclusão de novos su- como “programa” na concepção tradici-
intersetorialidade como princípios jeitos. Aos atores tradicionais da saúde onal, mas como estratégia estruturante da
orientadores das nossas práticas incorpora-se a população como sujeito Atenção Básica com capacidade provo-
assistenciais em saúde. na construção desse modelo, dirigindo car – ou contribuir para – a reorganiza-
A promoção de saúde constitui um a atenção para danos, riscos, necessida- ção dos sistemas locais de saúde.
paradigma cujas bases conceituais tem des e determinantes dos modos de vida
sido fundamentais na organização dos ser- e da saúde e não apenas para o atendi- A Odontologia e o PSF
viços no campo da saúde de acordo com mento de queixas e doenças. Sua práti- O agravamento das condições de vida
“...políticas públicas, em particular aque- ca transcende os espaços institucionais e de saúde das pessoas, as limitações físi-
las que ocorrem nos municípios (...) do setor e expande-se a outros órgãos cas e programáticas dos serviços, com bai-
direcionadas para capacitar comunidades governamentais ou não, envolvendo di- xo impacto diante dos problemas

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Vol. 18 nº 1 - Fevereiro/março 2010 Rev. ABO Nac. Suplemento nº 1 377

prevalentes, bem como a formação pro- servirá especificamente para as ações re- Família (PSF) e nos programas de
fissional pouco adequada, passaram a exi- lacionadas com a saúde bucal. Deslocar o interiorização da saúde. “Este é um mo-
gir esforços e ações de caráter transfor- foco da atenção centrada na doença para a mento propício para uma mudança defi-
mador para a saúde bucal, que, até então, formulação de estratégias pautadas na pro- nitiva na história da saúde bucal no Brasil
era caracterizada por uma atuação isola- moção à saúde, que busquem dar respos- e, por isso, deve ter a participação ativa de
da, num processo de trabalho individual, tas adequadas à demanda nas situações de toda a classe” afirma o presidente da Co-
centrado no profissional, apoiada em atos agravo, aliadas a uma definição de priori- missão de Políticas de Saúde Pública do
e tecnologias dependentes do equipamen- dades e de organização desta demanda com CRO-MG (Costa7).
to instalado em consultórios, priorizando ênfase na abordagem integral dos usuári- Segundo o Jornal do CRO-MG, em sua
a atenção clínico-preventiva básica aos es- os, tornando-os sujeitos das ações de saú- seção Conselho em Ação, de abril de 2004,
colares da rede pública de primeiro grau, de, parecem ser os grandes desafios, con- o governo federal lançou no dia 17 de
restando aos adultos a opção prioritária clui o autor. março, em Sobral, estado do Ceará, a po-
pelas extrações. Como estratégia de orga- De acordo com Silveira Filho20 o su- lítica nacional de Saúde Bucal, batizada
nização da Atenção Básica, o Ministério cesso da estratégia saúde da família é, an- de “Brasil Sorridente”. O Governo calcu-
da Saúde adota no ano de 1994 o Progra- tes de tudo, resultante de uma mudança la que, com a implantação de centros
ma Saúde da Família (PSF) e no ano de na atitude dos profissionais de saúde bu- odontológicos em municípios estratégicos,
2000 possibilita a inserção de Equipes de cal que atuem na atenção básica. O desa- que servirão de referência para as regiões
Saúde Bucal (ESB), tendo sua inserção fio é tornar as ações de saúde bucal um vizinhas a eles, e a expansão do número
oficial através da Portaria Ministerial nº direito a todos os cidadãos brasileiros, in- de equipes de saúde bucal no PSF, sejam
1.444 de 28/12/2000 (BRASIL, MS, dependentemente de idade, escolaridade criados 25 mil empregos diretos para pro-
2000). Posteriormente, em 06 de março ou classe social. É um desafio anterior à fissionais de Odontologia. Antecipando o
de 2001, a Portaria 267 veio propor nor- própria formulação da estratégia de saúde lançamento do “Brasil Sorridente”, o Mi-
mas e diretrizes para a reorganização das da família, que traz nada além de uma nistério da Saúde aumentou em 85% o re-
ações de saúde bucal na atenção básica. A maneira, uma forma de organizar a aten- passe de verba para custeio das equipes
estas, seguiram-se outras, buscando regu- ção básica à saúde, consolidando nas ações de saúde bucal do PSF. A meta é atender,
lamentar a proposta (BRASIL, MS, 2001). da prática em saúde bucal, no nível da aten- ainda no ano de 2004, a pelo menos 45%
A Política Nacional de Saúde Bucal, do- ção básica, a validação dos princípios da demanda mais urgente, que chega a oito
cumento publicado pelo Ministério da constitucionais do SUS. Isto porque a pró- milhões de pessoas. Capacitar profissio-
Saúde em janeiro de 20044, constitui a di- pria forma de pensar-se a saúde bucal em nais também faz parte do programa. Mais
retriz do eixo político básico para a saúde pública passa pela mudança de de 40 mil profissionais de Odontologia,
reorientação das concepções e práticas no enfoque da Odontologia Preventiva e So- incluindo auxiliares e técnicos, serão trei-
campo da saúde bucal em nosso país. cial para a Saúde Bucal Coletiva. nados de acordo com a nova política naci-
Silveira Filho19 declarou que já é pos- A Coordenação Nacional de Saúde onal de saúde bucal que se encaixa no prin-
sível avaliar o que significou a inclusão Bucal do Ministério da Saúde divulgou em cípio constitucional da integralidade (aten-
das Equipes de Saúde Bucal no Programa fevereiro de 2004 as Diretrizes para a Po- ção básica, secundária e terciária).
Saúde da Família. São muitos os lítica Nacional de Saúde Bucal. O projeto
questionamentos e as proposições estra- foi entregue às coordenações de saúde bu- O profissional de saúde bucal frente
tégias que vêm surgindo nas diferentes áre- cal de municípios e Estados e será avalia- a uma nova realidade
as interessadas para que efetivamente es- do pelos órgãos públicos durante as con- Oliveira15 relatou que o maior desafio
tas equipes tenham um bom desempenho. ferências municipais e estaduais de Saúde que o PSF encontra hoje para sua expan-
Observa-se, no setor, a vontade de Bucal realizadas em maio e junho/2004. são e consolidação, é o encontro no mer-
redesenhar o quadro da saúde bucal apon- A aprovação final acontecerá na Confe- cado de trabalho, de profissionais com per-
tado nas últimas pesquisas populacionais, rência Nacional de Saúde Bucal, prevista fil adequado a este novo modelo. O pro-
e percebe-se, nesta proposição, a grande para julho/2004. Além das informações blema de formação profissional está situ-
oportunidade. As ações de saúde bucal, obtidas nas conferências, será somado ao ado no cenário de organização dos servi-
independente de qual seja a estratégia ado- plano o resultado do SB Brasil – Censo ços de saúde entre uma adaptação imedia-
tada, devem compor o rol de procedimen- da Saúde Bucal da População Brasileira, ta do profissional existente no mercado e
tos acessíveis à população e receber re- cuja conclusão está prevista para este 1º uma preparação mais consistente, a partir
cursos do Piso de Atenção Básica. Aos mu- semestre de 2004. Um dos pontos defen- da reforma de currículos de graduação e
nicípios que resolverem adotar a estraté- didos pelos Cirurgiões-Dentistas é a in- pós-graduação. Se as equipes hoje implan-
gia que vem sendo proposta pelo Ministé- clusão definitiva dos profissionais de tadas têm bons resultados para mostrar,
rio da Saúde, haverá um recurso extra que Odontologia no Programa de Saúde da pode estar significando a existência de um

Paula, Marcos Vinicius Queiroz de. Percepção do aluno de Odontologia sobre sua atuação como futuro profissional na promoção da saúde
378 Rev. ABO Nac. Suplemento nº 1 Vol. 18 nº 1 - Fevereiro/março 2010

nível basal de profissionais que respon- zando-se a técnica de entrevista com um “Em se tratando de Brasil, né?... a gente
deu, por perfil pessoal, às demandas da roteiro estruturado. deveria seguir um outro caminho que é o
estratégia Saúde da Família num primeiro Na determinação do número de entre- caminho da prevenção” (E02), “está re-
momento. Mas esta situação, provavel- vistas foi utilizado o critério do “ponto de lacionada com a interação paciente/pro-
mente tem um teto definido mesmo para saturação”. fissional/paciente” (E05); “é curar o pa-
os mais otimistas, e não é desejável traba- Foram entrevistados 12 formandos do ciente da doença que o acomete e prolon-
lhar apenas com entusiastas do PSF, numa 2º semestre de 2004 do curso de Odonto- gar esta condição o máximo possível”
proposta de tamanha envergadura. logia da Universidade Federal de Juiz de (E07). Percebe-se que o modelo
A Resolução do Conselho Nacional de Fora no período compreendido entre os biomédico que receberam em sua forma-
Educação (CNE) / Câmara de Educação dias 12 e 15 de janeiro de 2005. ção universitária está fortemente implan-
Superior (CES) 3, de 19 de fevereiro de Após o consentimento formal, suas tado em seu conceito de promoção de saú-
20023, publicada no Diário Oficial da falas foram registradas em gravador e, de- de, onde esta existirá quando houver cura
União de 04 de março de 2002, Seção 1, pois de transcritas, os dados empíricos fo- das doenças por um período prolongado;
p.10, dispõe em seu artigo 3º que “o Cur- ram analisados buscando compreender a onde a informação repassada pelo profis-
so de Graduação em Odontologia tem fala dos entrevistados, contemplando os sional, o “conhecimento científico”, deve
como perfil do formando egresso / profis- conteúdos manifestos e latentes presentes ser obedecido pelo paciente para que a sua
sional o Cirurgião Dentista, com forma- nos depoimentos de onde surgiram as ca- condição de saúde estabeleça-se. A saúde
ção generalista, humanista, crítica e re- tegorias temáticas que, por meio de uma ou condição ideal de saúde está vinculada
flexiva, para atuar em todos os níveis de abordagem qualitativa procurou-se verifi- com os conceitos técnico-científicos (so-
atenção à saúde, com base no rigor téc- car a presença de determinados temas que bre a doença) e o dono do saber é o pro-
nico e científico. Capacitado ao exercício denotavam os valores de referência e os fissional.
de atividades referentes à saúde bucal da modelos de comportamento presentes nos Este papel professoral do profissional
população, pautado em princípios éticos, discursos (Minayo13). de saúde fica bem evidente nas falas: “pro-
legais e na compreensão da realidade so- Este grupo de sujeitos atendeu aos moção de saúde é conseguir instruir o
cial, cultural e econômica do seu meio, objetivos do estudo, pois foram formados paciente sobre o conhecimento adquirido
dirigindo sua atuação para a transforma- por um currículo implantado em 1996, ou na faculdade, eu tenho o conhecimento ci-
ção da realidade em benefício da socie- seja, anterior à implantação de uma nova entífico em relação à saúde, o paciente
dade” e, o parágrafo único do Artigo 5º abordagem curricular que se encontra em não” (E11); “é levar informações de saú-
que: “A formação do Cirurgião Dentista construção na Faculdade de Odontologia de, instruí-lo quanto à higiene bucal”
deverá contemplar o sistema de saúde vi- da UFJF. (E08). Verifica-se que a maioria dos en-
gente no país, a atenção integral da saú- trevistados não consegue expandir a sua
de num sistema regionalizado e Análise dos dados visão além da cavidade bucal, como se esta
hierarquizado de referência e contra-re- Compreensão de promoção de saúde fosse uma região isolada do organismo e
ferência e o trabalho em equipe.”. Existem limitações no processo de onde suas condições não estivessem rela-
Pucca Júnior18 declarou que, de forma implantação das ações baseadas nos prin- cionadas com o todo da pessoa.
geral, as faculdades formam um profissi- cípios da promoção da saúde. A primeira, Alguns acreditam que promover a saú-
onal que não é adequado para a realidade talvez, a mais importante delas, refere-se de é “ver o paciente, fisicamente, de uma
epidemiológica do Brasil. Ele precisa ter à compreensão muito comum que os pro- maneira global” (E09); “é vê-lo como um
sólida formação de clínica geral, planeja- fissionais têm sobre o termo promoção, todo e instituir ações de prevenção” (E03).
mento em serviços de saúde e tem de sa- confundindo-o com atividades preventi- Apesar de uma tentativa de enxergar-se o
ber o que é o Sistema Único de Saúde vas. Atividades que buscam introduzir mo- paciente como um todo, verifica-se que
(SUS). É necessário iniciar um processo tivações e mudanças de hábitos nos indi- este olhar continua voltado somente para
de reeducação para atender no SUS. Essa víduos ou grupo de indivíduos, não levan- o aspecto físico, onde o exame clínico e a
não é uma exigência do governo, é uma do em consideração a história, a cultura, inspeção visual ficam indicados como pri-
exigência do mercado. Se as faculdades as relações sociais e os valores das pesso- meiros elementos para a verificação das
não mudarem os currículos agora, não va- as e das sociedades em que estas vivem. condições do paciente e, através do encon-
mos conseguir formar estes profissionais. Quando arguidos sobre o entendimen- trado, as ações preventivas e curativas se-
to de “Promoção da Saúde”, os entrevis- rão instituídas.
METODOLOGIA tados opinaram: “Acho que normalmente, Tomando-se como referência os cam-
Realizou-se pesquisa bibliográfica, ao promover a saúde, é muito mais prevenin- pos de ação propostos pela Carta de Otta-
longo do estudo, sobre a formação prática do do que normalmente está acostumado wa (WHO23), as atribuições do dentista
do SUS e PSF e pesquisa de campo utili- com esta Odontologia tradicional” (E01), para a Promoção de Saúde em nível local

Paula, Marcos Vinicius Queiroz de. Percepção do aluno de Odontologia sobre sua atuação como futuro profissional na promoção da saúde
Vol. 18 nº 1 - Fevereiro/março 2010 Rev. ABO Nac. Suplemento nº 1 379

podem ser direcionados para o fortaleci- rém, esta prática parece estar vinculada O dilema da quantidade versus quali-
mento das ações comunitárias, o desen- somente ao atendimento particular, no ser- dade começa a ser definido nas escolas de
volvimento de habilidades pessoais e a viço público “o sistema não disponibiliza ensino superior, quando professores e alu-
reorientação dos serviços de saúde. O for- este tipo de atendimento e sim o procedi- nos tentam, ainda que de forma incipiente,
talecimento de ações comunitárias é uma mento rápido e objetivo” (E09). mas moldados pelo modelo fllexneriano,
das partes mais importantes para a promo- O atendimento público na um trabalho de alta produtividade com o
ção de saúde bucal da população, visando prestação de serviços de saúde sacrifício da qualidade (Pereira et al.17).
à integração da abordagem tradicional-ver- O atendimento público é pensado “...a nível de instituição pública, eu acho
tical com a abordagem horizontal. As pes- como o lugar da ordem, da disciplina das que certos...ele atropela o tratamento de-
soas da comunidade são consideradas um atividades programáticas, perpassando por vido ao poder aquisitivo do paciente. Teve
recurso fundamental para a construção da um modelo de atenção medicalizante, um fato no 10º período, uma paciente mi-
saúde bucal. Nesse sentido, a contribui- centrada e entendida na quantidade de pro- nha, eu fiz uma RMF e voltou do labora-
ção básica é o envolvimento ativo da po- cedimentos, repercutindo na produtivida- tório, a peça, né? E quando fomos cimen-
pulação em questões que ela conhece de (Pereira et al.17). “O serviço público é tar, a peça não estava entrando por coisa
como ninguém, atuando na tomada das uma fatalidade na vida profissional da de 1 mm, por muito pouco. Chamei o pro-
decisões, planejamento e implementação pessoa” (E10), “a gente é obrigado a fa- fessor ele falou que se você desgastar ali
de ações, bem como na fiscalização dos zer estes concursos públicos aí, que estão ela entra com uma fenda, se fosse no con-
recursos utilizados. Dessa forma, respon- pagando uma mixaria...e....mais porque sultório particular você voltaria com o
sabiliza-se a população pela busca, pro- está sobrando dentista mesmo” (E01), trabalho e colocaria uma nova peça,
moção e proteção de sua própria saúde “Pela mecânica do sistema, o profissio- agora...se fosse num serviço público a
(Buss5, Dickson e Abegg9). Os entrevista- nal que já está neste esquema, nesta cor- peça ficaria ali com a fenda....” (E03).
dos não conseguiram expressar esta ideia, reria de atendimento muito rápido, natu- Como se pode perceber o aluno traz uma
os pacientes não são vistos como agentes ralmente ele se torna um profissional que experiência distorcida do que deve ser o
e sim como receptores de um tratamento nem, às vezes, percebe as necessidades do atendimento público que está vinculado à
baseado no conhecimento do profissional. paciente” (E03), “pelos estágios que eu produção em detrimento da qualidade,
Uma das principais diferenças em re- fiz...acho que a falha maior, também, era quando ele pensa no “poder aquisitivo do
lação aos modelos médico-assistencial e na parte de biossegurança, porque o pro- paciente”, parece querer dizer que os pa-
sanitarista é a inclusão de novos sujeitos. cedimento em si a gente sabe que muitas cientes menos favorecidos financeiramente
Aos atores tradicionais da saúde incorpo- vezes o lugar não exige, não tem como a merecem um tratamento menos rigoroso,
ra-se a população como sujeito na cons- gente fazer um trabalho legal ali por fal- onde é possível o profissional não ser tão
trução deste modelo, dirigindo a atenção ta de material, né? Mas eu acho que esta exigente tecnicamente.
para danos, riscos, necessidades e parte que cabe da gente fazer, falha, tem
determinantes dos modos de vida e da saú- o autoclave, tem tudo, porque não faz um Prevenção como meio de
de e não apenas para o atendimento de trabalho legal? Busca uma biossegurança promoção de saúde
queixas e doenças. Sua prática transcende mais correta, entendeu?” (E05), “...o den- Por sua vez a prevenção pode ser vis-
os espaços institucionais do setor e expan- tista recém formado como a gente, que ta “como meio de solução mais barato
de-se a outros órgãos governamentais ou está atendendo, onde você tem que pro- para os problemas de saúde, sendo de res-
não, envolvendo diversos grupos sociais duzir, onde é cobrado, muitas vezes a gente ponsabilidade dos governantes” (E01).
em uma prática intersetorial (Teixeira et não só deixa de seguir certos passos cor- “As ações preventivas são da saúde cole-
al.22). retos, tentar estabelecer esse conceito de tiva onde o odontólogo não considera
Os entrevistados que relacionaram o promoção de saúde, é.....fica difícil.... por- como o seu campo de atuação” (E02). “A
exercício da escuta com a sua atividade que o atendimento nunca é...é qualidade saúde oral está desvinculada da saúde
laborativa, são os que apresentaram um que você sabe tem que ser, o tempo que coletiva. O trabalho do Cirurgião-Dentis-
melhor entendimento de saúde, relacio- você vai precisar para isto, o tempo é res- ta é infrutífero não conseguindo atingir a
nando-a com “o bem estar físico, mental trito, isto é muito frustrante para quem totalidade da comunidade, somente uma
e social” (E08). Opinaram que promoção acaba de formar, muito” (E09); “Eu acho parte dela” (E03), “eu acho que a nível
de saúde “é dar atenção ao paciente. o que acontece, no atendimento do SUS, de consultório, isolado, a gente consegue
Escutá-lo para se chegar ao conhecimen- em que o médico e o próprio dentista, às alguma coisa deste tipo, mas, pra ter uma
to das causas que o levaram a procura do vezes por culpa do próprio sistema, tam- resposta mais ampla... tem que ser no sen-
atendimento” (E08); “ter uma visão geral bém, que exige rapidez, as vezes a fila é tido mais amplo também, trabalhando em
do paciente, não só suas condições físi- muito grande, por falta de administração escolas, palestras, trabalhando com a
cas, mas seu modo de vida” (E05). Po- competente, né?” (E03). comunidade....no consultório você conse-

Paula, Marcos Vinicius Queiroz de. Percepção do aluno de Odontologia sobre sua atuação como futuro profissional na promoção da saúde
380 Rev. ABO Nac. Suplemento nº 1 Vol. 18 nº 1 - Fevereiro/março 2010

gue um pouco....mas acho que você vai dele...ele te conta um pouquinho da vida plas nas disciplinas práticas e “dependen-
conseguir mais devagar” (E08). Este en- dele, os problemas de saúde e tal....foi as- do da dupla que você trabalha......é hor-
tendimento parece-nos dizer que, a forma- sim que eu pude perceber como que a rível” (E10). “Trabalhar em equipe tem
ção insuficiente no assunto, maioria das pessoas é ignorante em rela- dois lados, por exemplo, você vai montar
descompromete o profissional com a co- ção à saúde bucal” (E07); “Olha, foram uma clínica só de dentistas, ou você vai
munidade, ficando o Cirurgião-Dentista vários momentos assim que me montar uma clínica que tem um otorrino
responsável pela saúde bucal daqueles que mostraram...Olha eu vou ser dentista...a do lado, tem um pediatra, um
o procuram no atendimento particular e partir do momento assim da interação com cardiologista, tem várias especialidades,
que a população que não tem acesso a este o paciente, de início a gente fica assim tanto odontológica quanto médica. Tem
tipo de serviço fica sujeita à vontade dos com pouco de medo, mas depois você vê os dois lados, como eu vejo, primeiro,
governantes em realizar este tipo de ação. uma satisfação do paciente em ser aten- vamos dizer, o lado capitalista, é muito
Por sua vez, aqueles que tentam ter uma dido, é....grato assim ao seu trabalho, melhor do que você ter só um consultório
visão mais ampla, não conseguem associ- aquilo que você faz, que fez bem, ficou dentário, às vezes uma criança procura
ar a prática com a teoria, ações de preven- legal.... e quanto à saúde das pessoas, um pediatra e o cara faz uma constatação
ção coletivas são diferentes de ações de sabe? É muito bom, é muito importante que....poxa...a criança tá com problema
prevenção individual, cada uma tem o seu isto, a gente atuar melhorando a saúde dentário, vai no dentista aqui ao lado, ou
lugar e devem ser dirigidas com o mesmo das pessoas” (E06); “Eu acho que na clí- seja, você tá ganhando. O outro lado é
rigor, porém, há a impressão somente de nica integrada, agora no último ano, o 9º que o paciente é muito preguiçoso, se ti-
que para ser eficiente a prevenção tem que e o 10º período...” (E09). Estas foram al- ver um médico próximo é capaz até dele
atingir a população como um todo. Esta é gumas respostas quando arguidos quais os se consultar, caso contrário vai deixar
uma possibilidade, porém, não a única, o momentos durante o curso que marcaram assim até sentir dor” (E11). Percebemos
tratamento individualizado, de acordo com a sua formação como dentistas. De acor- que o trabalho em equipe está relaciona-
a necessidade do paciente também é mui- do com os relatos, o curso é fechado no do a uma forma de dividir gastos e não de
to importante, além de atendê-lo naquilo ensino das técnicas de tratamento dos den- dividir responsabilidades, de perceber o
que o está incomodando, promove o seu tes. Observa-se que os alunos apresentam paciente como um ser único e total, onde
auto cuidado e sua autoestima. um discurso pontuado com ideias acerca uma alteração fisiológica pode comprome-
da percepção do paciente como ser ter a sua saúde, por isto a necessidade de
Insuficiências na formação holístico, mas não fica evidenciada uma encará-lo como um ser dinâmico, onde
acadêmica relação entre o discurso e a prática. Leva- suas funções físicas, emocionais e sociais
“Nos períodos básicos do curso de se muito tempo para que tenha contato interagem-se e provocam o seu bem estar
Odontologia eu nem sabia o que eu esta- com o paciente, o que faz com que os alu- ou não. Esta dinâmica de trabalho não é
va fazendo aqui, essas disciplinas que não nos tenham a sua atenção voltada para as difundida entre os acadêmicos e parece
tem contato prático, você só faz teoria, eu técnicas reabilitadores, não tendo tempo estar distante, restrita aos livros. Sabem
vou te dizer, eu fiquei perdido...” (E04), suficiente para desenvolver uma visão da existência, porém, nunca vivenciaram,
“A partir do momento que a gente come- mais ampla acerca de promoção de saúde “...o aluno tem que atualizar mais...as
ça a ter contato com o paciente. Apesar e sociabilização, que devem ser difundi- coisas da faculdade, lá é tudo novo, mo-
de ser bem tardio esse contato....a gente das em seus pacientes. Caso houvesse uma derno e tal, mas por exemplo, tem a saú-
deveria ter um contato, primeiro, logo nos interação mais cedo entre acadêmico e pa- de da família que a gente assim...já ouviu
primeiros períodos, mesmo assim sem ex- ciente, estes valores seriam desenvolvidos, falar, já correu atrás de algum conheci-
periência alguma....pelo menos pra gente ações seriam planejadas e desenvolvidas. mento e tal, mais uma orientação do pro-
saber e ter discernimento no que a gente No modelo que praticam, na ocasião que fessor é fundamental e a gente não teve
vai dar mais ênfase no estudo.....eu acho vão para os campos da prática, esta rela- nada disso, é novo, a gente não sabe di-
que a gente só teve noção mesmo, sentiu ção fica na dependência da sensibilidade reito o que é isso, tanto que caiu no provão
mesmo a realidade de profissional de do aluno em perceber seu paciente como e a gente não saiu muito bem, não obteve
Odontologia a partir do momento que a um “ser humano” e não apenas objeto de muito sucesso” (E07).
gente tem contato com o paciente...até en- sua intervenção – dente.
tão a gente fica ainda meio que perdido” CONCLUSÕES
(E02); “Foi a partir do momento que ini- O trabalho em equipe como meio  Os entrevistados demonstraram
ciei a clínica, quando tive o contato dire- de Promoção de Saúde por meio de seus discursos que o en-
to com o paciente. Primeira vez que você O trabalho em equipe não é uma prá- tendimento de Promoção de Saúde con-
tem um paciente assentado na cadeira tica discutida e nem vivenciada pelos aca- tinua pautado nas ações curativas que
odontológica, que você faz a anamnese dêmicos. No máximo trabalham em du- possam estabelecer no tratamento das

Paula, Marcos Vinicius Queiroz de. Percepção do aluno de Odontologia sobre sua atuação como futuro profissional na promoção da saúde
Vol. 18 nº 1 - Fevereiro/março 2010 Rev. ABO Nac. Suplemento nº 1 381

condições nosológicas e nas ações pre- des no estabelecimento da saúde dos miliar: relato de uma experiência
ventivas que conseguirem implantar pacientes. multiprofissional. Rev Bras Enferm, dez.
nos hábitos diários de seus pacientes. 2000, (53): 95-102.
Tomam como base o conhecimento ci- REFERÊNCIAS 13. Minayo MCS. O desafio do conhecimento
entífico adquirido em sua formação 1. Aerts D, Abegg C, Cesa K. O papel do – pesquisa qualitativa em saúde. 3 ed.
Cirurgião-dentista no Sistema Único de Hucitec-Abrasco, São Paulo-Rio de Janei-
acadêmica como únicos critérios efica-
Saúde. Rev Abrasco, 2004, 9(1):131-138. ro. 1994
zes na Promoção de Saúde da popula-
2. Brasil, Ministério da Saúde, Secretaria de 14. Nunes MO, Trad LB, Almeida BA. O
ção que recorrem a seus serviços. agente comunitário de saúde: construção
Políticas de Saúde, Departamento de
 Não existe o entendimento que os da identidade desse personagem híbrido
Atenção Básica. A inserção da Saúde Bu-
atores comprometidos com as ações de cal no Programa Saúde da Família. 2002. e polifônico. Cad Saúde Pública, nov./dez.
saúde, perpassam a sua figura como 3. Brasil, Ministério da Educação, Conselho 2002, 18(6).
profissional, atingindo a população de Nacional de Educação, Câmara de Edu- 15. Oliveira MS. A academia “apostando” na
forma comprometida com este proces- cação Superior. Res. CNE/CES 3/2002. estratégia da Saúde da Família. Rev Bras
so. Diário Oficial da União, 4 de março de de Saúde da Família, dez. 2000, 1(3):46-
. Falta a consciência do papel do 2002. Seção 1, p. 10. 52.
profissional de ter compromisso com a 4. Brasil, Ministério da Saúde, Secretaria de 16. Pedrosa JIS, Teles JBM. Consenso e di-
saúde da população e de que a saúde é Atenção à Saúde, Departamento de Aten- ferenças em equipes do programa saúde
ção Básica, Coordenação Nacional de da família. Rev Saúde Pública, jun. 2001,
um direito de todos.
Saúde Bucal. Política Nacional de Saúde 35(3).
 O serviço público de saúde não Bucal. 2004. 17. Pereira DQ, Pereira JCM, Assis MMA. A
se apresenta como um local ideal de tra- 5. Buss PM. Promoção da Saúde: bases teó- prática odontológica em Unidades Bási-
balho. O conhecimento que possuem rico-conceituais. In: Buss PM, Ferreira Jr. cas de Saúde em Feira de Santana (BA)
está associado às deficiências técnicas Promoção de Saúde e a saúde pública. Rio no processo de municipalização da saú-
que são apresentadas quando de seu de Janeiro: Fiocruz, 1998. p.2-45. de: individual, curativa, autônoma e
estágio em Unidades Básicas de Saú- 6. Conil EM. Políticas de atenção primária tecnicista. Ciência & Saúde Coletiva,
de. e reformas sanitárias. Cad Saúde Pública, 2003, 8(2):599-609.
 Demonstraram desconhecimento
2002, 18 (supl). 18. Pucca Junior, G. Jornal do CRO-MG 2003
7. Costa LCV. Ministério divulga proposta Dez. (146):3.
das políticas de saúde implantadas atu-
de Política Nacional de Saúde Bucal. Jor- 19. Silveira Filho AD. Odontologia do PSF –
almente. O SUS é visto como secundá- nal do CRO-MG, 2004 mar. (149):6 e 8.
rio ou paralelo à sua prática profissio- um desafio. Rev Bras de Saúde da Famí-
8. Dalmasco ASW, Nemes Filho A. Promo-
lia, jan. 2002, II(1):17-18.
nal, sendo percebido ainda como op- ção à Saúde. In: Brasil, Ministério Da
20. Silveira Filho, AD. A saúde bucal no PSF
ção de emprego. Os princípios do SUS Saúde. Manual de Condutas Médicas. IDS
– o desafio de mudar a prática. Rev Bras
não são compreendidos e nem consi- – USP:Brasília, 2001, p-7-9.
de Saúde da Família, dez. 2002, II(6):36-
derados. 9. Dickson M, ABEGG C. Desafios e opor-
43.
 Relatam que em sua formação o tunidades para a promoção de saúde bu-
21. Souza MS. Reforma da Reforma. Rev
mais insuficiente foi o afastamento da cal. In: Buischi YP Promoção de Saúde
Bucal na Clínica Odontológica. São Bras de Saúde da Família, jan. 2002,
teoria e prática, sendo o ensino predo- 3(1):2-3.
Paulo:Artes Médicas, 2000. p. 39-66.
minante técnico. Pode-se verificar que 10. Fleury S. Estado sem cidadãos – 22. Teixeira CF, Paim JS, Vilasbôas AJ. SUS,
o modelo biomédico foi o empregado Seguridade Social na América Latina. Rio modelos assistenciais e vigilância da saú-
em sua formação acadêmica. de Janeiro: Editora Fiocruz, 1994. de. Informe epidemiológico do SUS, abr./
 O trabalho em equipe não é um 11. Fortes PAC, Martins CL. A ética, a jun. 1998, VII(2):7-28.
campo de domínio dos entrevistados, humanização e a saúde da família. Rev 23. WHO (World Health Organization) Otta-
ficando esta ideia como divisão de des- Bras Enferm, dez. 2000, 53:31-33. wa Charter on Health Promotion.
12. Hildebrand SM, Flores O, Costa Neto Copenhagen: World Organization Regio-
pesas orçamentárias e não como divi-
MM. Formação acadêmica em saúde fa- nal Office for Europe. 1986.
são e integralização de responsabilida-

Paula, Marcos Vinicius Queiroz de. Percepção do aluno de Odontologia sobre sua atuação como futuro profissional na promoção da saúde
382 Rev. ABO Nac. Suplemento nº 1 Vol. 18 nº 1 - Fevereiro/março 2010

A importância da fonoaudiologia na confecção


da prótese total
The importance of fonoaudiology on complete denture’s construction
Palavras-chave: Fonética. Prótese total. Dimensão vertical.
Key words: Phonetics, Complete denture. Vertical dimension.

Heloise Vieira Marques* RESUMO


Carlos de Paula e Souza** Esta revisão tem o objetivo de auxiliar os dentistas a usar os fonemas na confecção
Cláudio Rodrigues Leles*** e na adaptação da prótese total. Os fonemas podem ser utilizados para posicionar os
Christiane Camargo Tanigute**** dentes artificiais, contribuir para restabelecer a dimensão vertical, e fornecer o contor-
Celina Kassume Kunieda Suzuki***** no palatino da prótese. É importante ter um contato com os fonoaudiólogos, pois mui-
tas vezes os dentistas não conseguirão resolver o problema fonético do paciente, neces-
sitando de sua ajuda.

ABSTRACT
The purpose of this study is to help dentists to use the speech sounds in the
construction and adaptation of the complete denture. The speech sounds can be used in
anterior tooth positioning, to reestablish the vertical dimension, and to design the pa-
latal contour of a maxillary denture. It’s very important to make a contact with the
phonoaudiologists, because the dentists, many times, can’t solve the phonetics problems
of the pacient, they need this kind of help.

INTRODUÇÃO nhecimento de alguns aspectos da


Os requisitos de uma prótese total fun- fonoaudiologia poderá orientar o profis-
cional são uma boa mastigação, uma esté- sional.
tica satisfatória, uma boa fonética e a co- Os fonemas são, podem e devem ser
modidade. Dentre os vários requisitos, a utilizados na confecção de próteses totais.
fonética vem sendo a mais negligenciada Quando o paciente fala ou lê, rapidamen-
pelo cirurgião-dentista em detrimento da te, a movimentação da mandíbula é incons-
capacidade de adaptação do paciente e de ciente, todos os controles musculares vo-
aprendizagem do profissional. luntários de posicionamento mandibular
O conhecimento básico de fonoau- estão desativados. É absolutamente impos-
diologia, dos seus fonemas, de sua sível para o paciente controlar voluntaria-
* Aluna do curso de especialização em estruturação na produção da fala é de suma mente a mandíbula durante a fala. Estabe-
Prótese Dentária da Universidade Federal importância para o estabelecimento de lecendo assim uma grande vantagem do
de Goiás – UFG. helovm@hotmail.com
** Doutor e mestre em Odontologia (Prótese uma via de comunicação com os método fonético na determinação das di-
Dentária) pela Universidade de São Paulo- fonoaudiólogos. A vontade dos pacientes mensões verticais e horizontais30.
USP. cpsouza@odonto.ufg.br de voltarem à normalidade com as novas A utilização dos fonemas na constru-
*** Doutor e mestre em Odontologia (Prótese próteses leva-nos ao encaminhamento des- ção da prótese total deve ser feita em har-
Dentária) pela Universidade de Piracicaba-
Unaerp. crleles@odonto.ufg.br se paciente ao fonoaudiólogo, muitas ve- monia com as vias existentes e não só con-
**** Fonoaudióloga, mestre em Biologia pela zes sem necessidade, já que as próteses fiar na capacidade adaptativa do paciente.
Universidade Federal de Goiás – UFG, es- podem estar confeccionadas corretamen- Qualquer mudança no trato articulatório
pecialista em Motricidade Orofacial pelo te e o paciente necessita apenas de um pe- pode induzir erros na fala, e certos
CFFa. tanigute@terra.com.br
***** Fonoaudióloga, especialista em ríodo de adaptação, no entanto, a indica- fonemas podem ser usados para identifi-
Motricidade Orofacial pelo CFFa . ção poderá estar correta ou não, e só o co- car essas mudanças. Os fonemas

Marques, Heloise Vieira et al. A importância da fonoaudiologia na confecção da prótese total


Vol. 18 nº 1 - Fevereiro/março 2010 Rev. ABO Nac. Suplemento nº 1 383

labiodentais estabelecem se os incisivos dotados de movimento (lábios, língua, rápidos. Distinguem-se também pelo pon-
estão colocados tanto horizontais como úvula, etc.) ou passivos, sem movimento, to em que esta vibração se dá, podendo
verticalmente corretos, indicando a neces- mas que é o ponto de referência para onde ocorrer na região alveolar (linguoalveolar)
sidade de reposicionamento destes dentes. se move o articulador ativo. Articuladores ou velar (uvulares)25.
A fala também pode ser usada para resta- passivos são dentre outros, a arcada O paciente de prótese total poderá
belecer a dimensão vertical, pois quando dentária, os alvéolos, a abóbada palatina. apresentar uma articulação defeituosa de-
a mesma está incorreta haverá distorção Os pontos de articulação mais significati- vido a uma posição incorreta dos dentes
nos fonemas sibilantes. Nesse sentido, a vos no Português são os lábios, os dentes, artificiais. Existem cinco alterações que se
fala pode ser usada para diagnosticar uma os alvéolos e o palato. seguem: omissão, substituição, distorção,
possível falha na dimensão vertical durante As categorias de modo de articulação adição e transposição25.
o seu registro, durante sua verificação e são oclusivas, fricativas, nasais e líquidas. A omissão ocorre quando o fonema
durante sua funcionabilidade. Igualmen- (Quadro I). As oclusivas são produzidas não é produzido onde deveria ocorrer, não
te, a fala pode ser usada para modelar o pelo bloqueio da pressão do ar em algum havendo substituição por outro som.
contorno palatino da prótese superior, e ponto do trato vocal que a seguir é desfei- Exemplo: apátu/ sapato.
os fonemas palatolinguais podem ser usa- to. Este ar pode ser bloqueado pela pres- A substituição ocorre quando um som
dos para assegurar se o palato está com o são dos lábios unidos ou pela pressão da é substituído por outro. Exemplo: bóya/
formato correto, facilitando o movimento língua contra os alvéolos ou palato. Pode- bola.
da língua10. se, portanto, produzir plosivas (ou A distorção ocorre quando a produ-
A confecção de próteses totais é um oclusivas) com os lábios (bilabiais), den- ção de um determinado som é alterada, de
desafio ao cirurgião dentista, as referên- tes (linguodentais) ou véu (linguopalatais). modo que sua resultante seja apenas apro-
cias adotadas na reabilitação da maioria Similarmente, as fricativas são produ- ximada ao som desejado.
dos casos como dimensão vertical de zidas pela constrição da corrente aérea em A adição é a menos frequente. São
oclusão, relação central, máxima algum ponto do trato vocal, determinando sons que não fazem parte do vocábulo, são
intercuspidação, posição dos dentes, altu- uma grande turbulência e produção de sons acrescentados a ele. Exemplo: predra/pe-
ra do rebordo alveolar, articulação correta de alta frequência. As fricativas, como as dra.
dos fonemas, etc., tornaram a sua confec- plosivas, diferem de acordo com seu pon- A transposição ocorre quando a ordem
ção bastante complexa, e o cirurgião den- to de articulação. Elas podem ser produzi- da produção é alterada. Exemplo:
tista não pode deixar de lançar mão de to- das por estreitamentos feitos entre os lábi- cardeneta/caderneta.
dos os recursos e teorias disponíveis e os e os dentes (labiodentais) entre a lín- Dessas alterações descritas, a única
necessárias, a exemplo da fonoaudiologia. gua e os alvéolos (línguoalveolares) ou que ocorre no portador de prótese total é a
entre a língua e o palato (linguopalatais). distorção, as outras alterações ocorrem em
REVISÃO E DISCUSSÃO As nasais são produzidas pelo deslo- crianças, no processo de aquisição da fala.
A fala é a mais complicada das res- camento do véu da parede posterior da A seguir são descritos os principais
postas humanas aprendidas, sendo usada faringe permitindo a saída do ar que foi requisitos para a produção de cada fonema.
tão frequente e espontaneamente, que a sua bloqueado em algum ponto da cavidade lembrando que a articulação é um proces-
complexidade raramente fica aparente17. bucal. Essa obstrução pode-se dar na re- so dinâmico e muito pessoal, sendo que
As partes do corpo responsáveis pela gião dos lábios (bilabiais), dos alvéolos uma mesma resultante acústica pode ser
produção de sons da fala são os pulmões, (línguoalveolares) ou do palato obtida a partir de posições articulatórias
a traqueia, a laringe, a cavidade nasal e a (línguopalatais). diversas. As posições descritas devem ser
bucal. Juntos, esses órgãos formam um As líquidas compreendem as laterais consideradas como guias iniciais, que po-
intricado tubo que vai dos pulmões aos e as vibrantes. As laterais distinguem-se dem ser modificadas pela tendência natu-
lábios. pela obstrução da corrente expiratória em ral de cada indivíduo25.
Os dentes e a língua são órgãos um ponto central e esse fato permite sua Nos fonemas p, b e m há oclusão da
cruciais para a trituração dos alimentos, e passagem pelas regiões laterais. Em Por- boca. Os músculos da mastigação fecham
na produção dos sons são articuladores que tuguês, temos a obstrução feita com a ponta a mandíbula de forma que os dentes pos-
modificam a corrente de ar egressa dos da língua tocando a região alveolar teriores ficam próximos, mas não juntos
pulmões. Um articulador é qualquer parte (linguoalveolar) ou a ampliação dessa área uns dos outros, permitindo a ampliação do
na área orofaríngea, que participa na mo- de contato atingindo quase toda região an- espaço intraoral e facilidade de trabalho
dificação da qualidade do som, por acar- terior do palato (linguopalatal). para o orbicular, que deverá manter os lá-
retar, em conjunção com outra parte, o São chamados de vibrantes os sons que bios unidos. Para o p e b deve haver per-
aumento ou diminuição dessa cavidade. Os se produzem quando um órgão elástico e feita oclusão da passagem para a
articuladores podem ser ativos, aqueles tenso executa um ou vários movimentos rinofaringe, enquanto que para o m o ar

Marques, Heloise Vieira et al. A importância da fonoaudiologia na confecção da prótese total


384 Rev. ABO Nac. Suplemento nº 1 Vol. 18 nº 1 - Fevereiro/março 2010

Quadro I – Consoantes do português, classificadas de acordo com o ponto e modo de articulação, vibração das
cordas vocais e altura do véu.

flui, em parte, por ela. ou apoiada atrás dos incisivos inferiores, pressionado por um estreito canal forma-
Para os fonemas k e g ocorre um con- efetuando-se a oclusão com o dorso da lín- do pela região anterior do palato e do dor-
tato entre a parte posterior da língua e o gua. Para a produção do t e d, a passagem so da língua sobre a qual se produz um
palato, de forma a constituir-se uma bar- do ar nasal está impedida enquanto para o sulco longitudinal, até colidir com a su-
reira ao ar expirado. Para o k a passagem n, não. A mandíbula está levemente aber- perfície cortante dos dentes incisivos. A
para a rinofaringe está fechada, enquanto ta e os lábios separados apenas o suficien- mandíbula está afastada o suficiente para
para o g está aberta. te para permitir o escape de ar no momen- facilitar o escape do ar. Os lábios assu-
Nos fonemas t, d e n há formação de to da plosão. mem a configuração requerida pela vogal
uma câmara na porção superior da cavi- As condições articulatórias essenciais que seguem estes sons.
dade bucal, tendo como limite inferior a para a produção do s e z é a criação de Nos fonemas f e v o contato
língua em contato com as paredes inter- certas circunstâncias que possibilitem a labiodental é produzido por um pequeno
nas dos dentes superiores. O lugar exato produção de um turbilhão de grande velo- movimento para dentro do lábio inferior.
de contato entre a língua e o palato não é cidade no momento da expiração. Para a O contato entre lábio inferior e dentes
básico para a produção destes fonemas, formação deste turbilhão, é necessário que superiores é débil, permitindo o escape
que podem ser inclusive produzidos com o ar, contido em uma câmara formada pela do ar entre ambos. Nestas produções,
a ponta da língua fora do limite da arcada parte posterior da língua e palato, seja apenas o contato entre lábio inferior e

Marques, Heloise Vieira et al. A importância da fonoaudiologia na confecção da prótese total


Vol. 18 nº 1 - Fevereiro/março 2010 Rev. ABO Nac. Suplemento nº 1 385

dentes superiores é pertinente. do paciente, resulta quase sempre em efei- com a instalação de novas próteses, com
Para os fonemas l e » a posição da to oposto, piorando, além da estética, as dimensão vertical correta, a distância
mandíbula e dos lábios varia de acordo funções musculares, de fala e mastigação. interoclusal da fala muda durante a pro-
com a vogal que os sucede. O aspecto es- Existem vários métodos para determinar núncia dos sons /m/ e /s/.
sencial é a obstrução central da saída do a dimensão vertical de oclusão, o fonéti- Hayes e Sturm9 (1984) descrevem a
ar que se dá pela região lateral. As regiões co foi introduzido por Silverman (1953 fonética como melhor método fisiológico
da língua e do palato que entram em con- apud Telles, Hollweg, Castelucci, 2004, para verificar se a dimensão vertical de
tato não são relevantes para a produção. p. 144).1 oclusão está correta, eles usaram os
Para a realização dos fonemas r e x há Na verdade, trata-se de um método fonemas /f/, /th/e /s/ para conferi-la.
um bloqueio da corrente aérea em um de- cujo objetivo é o de aferir a funcionalida- Hammond e Beder6 (1984) concluíram
terminado ponto da cavidade bucal, atra- de da DVO previamente estabelecida. O que, quando a dimensão vertical de oclusão
vés do contato da língua com o palato e a procedimento consiste em solicitar ao pa- encontra-se aumentada, há uma distorção
interrupção momentânea desse bloqueio ciente que pronuncie palavras com sons maior nos sons /ch/, /sh/, /s/ e /t/.
pela pressão aérea que se forma atrás dele. sibilantes, como “Mississipi” e “sessenta Souza e Compagnoni24 (2004) inves-
É importante conhecer os fonemas, e seis”, enquanto se observa o movimen- tigaram a associação entre o espaço de pro-
pois através deles, pode-se posicionar os to da mandíbula, formando um espaço núncia do som /s/ e o espaço funcional li-
dentes artificiais, contribuir para restabe- interoclusal denominado espaço funcio- vre (EFL) em dentados e em portadores
lecer a dimensão vertical de oclusão ade- nal de pronúncia. Por ser baseado em um de próteses totais. Eles concluíram que,
quada e, também, obter o contorno parâmetro fisiológico, o espaço funcional nos dentados, o espaço de pronúncia do
palatino da prótese. de pronúncia é mais confiável como mé- som /s/ e o espaço funcional livre (EFL)
Na confecção da prótese total, é todo de avaliação que o espaço funcional foram diferentes e nos portadores de
restabelecida a dimensão vertical de livre. próteses totais foram estatisticamente se-
oclusão do paciente. Existem várias téc- Apesar de sua eficiência, esse méto- melhantes. Sendo assim, deduziram que
nicas para determiná-la. Nesse trabalho a do só é particularmente útil para a confe- mudanças anatômicas após procedimento
fonética é discutida. rência final da DVO, quando os dentes protético provocaram uma adaptação fun-
Dimensão vertical é a altura do terço artificiais já estiverem fixados sobre as cional, e esse processo adaptativo aproxi-
inferior da face ou a relação espacial da bases de prova, uma vez que ainda na fase mou as duas variáveis.
mandíbula em relação à maxila no plano de ajustes dos planos de orientação as ava- O posicionamento dos dentes artifici-
vertical. Cabe conceituar que nessa altu- liações fonéticas são dificultadas pelo ais é de suma importância, também, para
ra inclui-se, além da altura determinada volume dos mesmos27. se ter sucesso em uma prótese total, pois
pelos contatos dentários, o espaço exis- Turano et al.29 (1993) provaram que o além de contribuir para a estética, eles de-
tente entre os dentes quando a mandíbu- melhor método para medir a dimensão volvem a fonética para o paciente. Uma
la encontra-se em posição de repouso, no vertical de repouso, quando não se pode pequena alteração na posição e na relação
qual o tônus muscular está em estado de lançar mão do aparelho mioestimulador, dos incisivos leva a uma forte influência
equilíbrio, também chamado espaço fun- é a técnica mista de Monson e Schlosser na fala16.
cional livre. O entendimento dessa dinâ- que consiste na repetição da letra /m/ du- Uma alteração na relação dos dentes
mica é essencial, pois as próteses serão rante cinco minutos. anteriores (guia anterior) causa disfunções
confeccionadas na relação vertical, onde Pound18 (1977) relata que a posição na fala. A fonética é uma grande assisten-
a mandíbula e a maxila tocam os dentes, mais fechada da mandíbula durante a fala te para determinar a posição dos dentes
chamada dimensão vertical de oclusão é conseguida quando há pronúncia do /s/ anteriores. O contorno alterado dos den-
(DVO), relação que os articuladores con- em uma fala normal; nenhum dente ou tes anteriores pode inicialmente levar o
seguem reproduzir e que não inclui o es- parte da dentadura deve contatar durante paciente a sentir-se estranho e resultar em
paço funcional livre. a fala; deve existir um espaço de 1 a 1,5 uma disfunção na fala.
Se o paciente é desprovido de uma mm entre os incisivos superiores e incisi- Pode-se utilizar os fonemas
DVO adequada, o colapso muscular esta- vos inferiores durante a pronúncia do /s/. labiodentais /f/ e /v/ para posicionar os
rá presente, não importando o quão artís- Usa o fonema /s/ para restabelecer a di- dentes artificiais. Murrell 13 (1974) e
tico for o arranjo dos dentes, resultando mensão vertical de oclusão, baseado no Murray 11(1977) utilizaram como guias
nas mudanças de aparência, característi- fato de que o corpo da mandíbula assume fonéticos o “f” e o “s” para determinar a
cas do envelhecimento por perdas uma posição vertical e horizontal repetitiva, classe de oclusão, em pacientes desdenta-
dentárias. Por outro lado, uma DVO ex- fácil de registrar quando o paciente pro- dos. Segundo Murrell13 (1974), a posição
cessivamente alta, no esforço de eliminar nuncia o /s/. dos dentes anteriores não controla somente
as linhas da idade e melhorar a aparência Garcia et al.3 (2003) concluíram que o suporte dos lábios, a visibilidade dos

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386 Rev. ABO Nac. Suplemento nº 1 Vol. 18 nº 1 - Fevereiro/março 2010

dentes e harmonia anatômica, mas também A perda dos dentes naturais e o uso língua à superfície palatina da prótese su-
fornece guias para estabelecer as relações imediato de dentaduras, não alteram perior durante a pronúncia de fonemas
mandibulares. Em um outro trabalho de significantemente as habilidades sensori- sibilantes e palatais. Para cada tipo de
Murrell12 (1970), ele descreve técnicas al e motora da boca. Características físi- fonema emitido, imprime-se na superfí-
para posicionar os dentes artificiais das cas das dentaduras são fatores significantes cie palatina da prótese um desenho, em
dentaduras o mais natural possível. Usa o na produção de sons aceitáveis2. virtude do contato do dorso da língua
fonema “f” para determinar o No trabalho de Ghi e Mc Givney 4 contra a mesma. Este desenho, que é ca-
posicionamento dos dentes anteriores su- (1979) constataram que a perda de todos racterístico para cada tipo de fonema, é
periores e depois destes fixados, utiliza o os dentes, além de alterar a cavidade chamado de palatograma, sendo útil na
fonema “s” para posicionar os dentes an- articulatória principal, também resulta na detecção de defeitos fonéticos durante as
teriores inferiores. perda da propriocepção do dente. provas clínicas das dentaduras em cera14
28
A ausência de dentes cria dificulda- Na produção de sons, a língua toca os .
des na articulação de certos sons. Alguns dentes, a crista alveolar, e o palato mole e Os autores Russi et al.. 22 (1992),
pacientes não apresentam qualquer proble- duro. Quando essas estruturas estão co- Hansen e Singer8 (1987), Nogueira et al..14
ma fonético, pois parece que a língua faz bertas pela prótese, pode ocorrer uma al- (1991) e Tróia Jr. et al..28 (2003) utiliza-
ajustes compensatórios na ausência dos teração na fala do paciente. Além de a fo- ram a palatografia, para o controle da
dentes1. Por isso, muitos cirurgiões-den- nética ser alterada pelo mau morfologia e espessura da região palatina
tistas não se importam com a fonética, já posicionamento dos dentes e por uma di- da base da prótese. É um recurso simples
que muitos pacientes aprendem a falar no- mensão vertical de oclusão incorreta, pode e extremamente útil, visto que a língua
vamente com o tempo. também ser alterada pelo inadequado con- mantém com a prótese superior um
Rayson et al.19 (1970) fizeram uma torno palatino da prótese. Sons posicionamento específico para cada som
análise cefalométrica para determinar a palatolinguais podem ser usados para as- ou grupo sonoro durante a pronúncia dos
posição dos dentes artificiais e concluí- segurar se o palato está com o formato sons consonantais palatais.
ram que esses dentes têm uma angulação correto, facilitando o movimento da lín- As distorções da fala são alteradas pela
menos labial do que a dos dentes natu- gua. espessura do contorno palatino da denta-
rais ideais. Hansen7 (1975) relatou que o correto dura e aumenta rapidamente após 1 mm
Runte et al.21 (2002) relataram que a contorno palatino é crítico, pois a língua de espessura16.
posição dos incisivos superiores influen- deve selar com o palato em suas bordas A fonética também pode determinar o
cia na produção do som /s/. O mau laterais na produção de sons plosivos e de limite posterior da dentadura superior.
posicionamento desses dentes deve ser todos os sons sibilantes. Quando o paciente diz /ah/, o limite pala-
considerado a causa de mudanças imedia- Há uma diferença no contorno palatino to mole e palato duro é estabilizado, sen-
tas na distorção do som /s/. A distorção de portadores de prótese total com o pala- do assim é determinada a extensão do li-
do som /s/ é a que mais ocorre e a mais to de pessoas com dentes naturais. A mai- mite posterior da dentadura (Ribner, 1965
persistente após instalação da dentadura. or diferença está na superfície lingual, apud McCord; Firestone; Grant; 1994, p.
Os dados confirmaram que um abaixo da margem gengival dos dentes. 343).2
posicionamento mais vestibular é mais Após a extração dos dentes naturais, esta Vimos que podemos usar a fonética
comum levar a uma distorção do som /s/ área muda significantemente, e é difícil em muitas etapas da confecção da prótese
do que uma posição mais palatina. produzi-la na prótese final. O contorno total, com o intuito de oferecer uma fala
Utilizando os fonemas /f/ e /v/, palatino dos modelos com dentes naturais aceitável para o paciente. Poucos dentis-
Robinson20 (1969) demonstrou um mé- apresenta uma curva convexa enquanto o tas recorrem ao trabalho fonoaudiólogo
todo fisiológico prático para registrar a palato das dentaduras apresenta uma cur- na adaptação de próteses totais, eles não
posição dos dentes superiores, determi- va côncava, segundo o trabalho de conhecem a importância da fonética no
nar a dimensão vertical de oclusão (usou Tanaka26 (1973). tratamento15.
os fonemas /s/, /sh/, /ch/) e selecionar a Shaffer e Kutz23 (1972) apresentaram
guia incisal. uma técnica para determinar o contorno CONCLUSÃO
A instalação de uma nova prótese re- palatino das dentaduras baseada nos mo- O presente trabalho permitiu concluir
quer um período de adaptação fisiológica vimentos e pressões feitas pela língua du- que:
pelo paciente. Esta adaptação é acompa- rante a fala e a deglutição. Deve-se ter um contato mais próximo
nhada por uma tolerância física da prótese A palatografia baseia-se na utilização com os fonoaudiólogos, pois haverá paci-
e por facilidade funcional, como dos fonemas para obter o contorno entes que não conseguirão pronunciar cer-
mastigação eficiente, deglutição e clareza palatino da prótese. Essa técnica consis- tos sons, mesmo passado o período de
na articulação da fala5. te em analisar as áreas de adaptação da adaptação. Se detectado que o problema

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Vol. 18 nº 1 - Fevereiro/março 2010 Rev. ABO Nac. Suplemento nº 1 387

não está na prótese, o paciente deve ser 401-07. complete denture: a cephalometric study.
encaminhado para estes profissionais. Sen- 7. Hansen CA. Phonetic considerations of JADA, 1970 Aug; 81:420-24.
do assim, um diagnóstico preciso do pro- chromium alloy palates for complete 20. Robinson SC. Physiological placement of
blema fonético é essencial para determi- dentures. J. Prosthet. Dent. 1975 Dec; artificial anterior teeth. J. Canad. Dent.
34(6): 620-24. Ass.1969; 35(5): 260-66.
nar a responsabilidade clínica apropriada.
8. Hansen CA, Singer MT. Correction of 21. Runte C, et al.. Spectral analysis of /s/
Caso o cirurgião-dentista seja negli- defective sibilant phonation created by a sound with changing angulation of the
gente na confecção da prótese total, passe complete maxillary artificial denture. Ge- maxillary central incisors. Int. J.
por cima dos testes fonéticos, não devol- neral Dentistry, 1987 Sep-Oct; p. 357-60. Prosthodont. 2002; 15(3): 254-58.
va a fala normal dos pacientes, estes po- 22. Russi S, et al.. Fonética em prótese total
derão apresentar alterações quanto à 9. Hayes SM, Sturm PG. Phonetics—The – estudo palatográfico dos sons “G”, “R”
inteligibilidade da fala e ponto de articu- major determinant of vertical dimension e “L”. RGO. 1992 nov-dez; 40(6): 417-
lação dos sons em decorrência da mudan- in full denture construction. Journal of 20.
ça da posição dos dentes, do contorno do New Jersey Dental Association/Fall. 1984; 23. Shaffer FW, Kutz RA. Phonetics and
palato e da dimensão vertical de oclusão. p. 43-45. swallowing to determine palatal contours
10. McCord JF, Firestone HJ, Grant AA. of dentures. J. Prosthet. Dent. 1972 Oct;
Isto gera uma não aceitação do uso dessas
Phonetic determinants of tooth placement 28(4): 360-62.
próteses. Para minimizar esses problemas, in complete dentures. Quintessence Int. 24. Souza RF, Compagnoni MA. Relation
a fonética deve ser empregada na confec- 1994; 25(5): 341-45. between speaking space of the /s/ sound
ção e na adaptação da prótese total, pois 11. Murray CG. Anterior tooth positions in and freeway space in dentate and edentate
deve-se devolver essa função perdida. prosthodontics. Australian Dental Journal. subjects. Braz Oral Res, 2004; 18(4): 333-
1977 Apr; 22(2):113-19. 37.
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Prosthet. Dent. 1972 feb; 27(2): 133-39. terior occlusion. J. Prosthet. Dent. 1974 26. Tanaka H. Speech patterns of edentulous
2. Chierici G, Parker ML, FCD. Influence July; 32(1): 23-31. patients and morphology of the palate in
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tical dimension and speech articulation Dent. 1977 Nov; 38(5): 482-89.
errors. J. Prosthet. Dent. 1984 Sep; 52(3): 19. Rayson JH, et al.. Placement of teeth in a

Marques, Heloise Vieira et al. A importância da fonoaudiologia na confecção da prótese total


388 Rev. ABO Nac. Suplemento nº 1 Vol. 18 nº 1 - Fevereiro/março 2010

Estética em próteses removíveis


Esthetics in removable prosthesis

Palavras-chave: Estética. Prótese parcial removível. Prótese total.


Key words: Esthetics. Removable partial denture. Complete denture.

Liliana Vicente Melo de Lucas* RESUMO


Aimée Maria Guiotti** A estética recebe importante consideração no contexto social nos dias atuais e um
Karina Helga Leal Túrcio** sorriso atraente é objeto de desejo da maioria dos pacientes que necessitam de trata-
Humberto Gennari Filho*** mento com próteses. Em se tratando de prótese removível, seja ela total ou parcial, este
Marcelo Coelho Goiato**** aspecto torna-se ainda mais considerável, uma vez que alguns ou todos os dentes estão
Eduardo Piza Pellizzer**** ausentes. Os implantes propiciaram uma melhora significativa na função e conforto de
pacientes portadores de próteses removíveis, mas a estética ainda é um fator a ser me-
lhorado e mesmo assim, tem recebido pouca atenção na literatura científica moderna.
Assim, foi objetivo deste artigo realizar uma revisão de literatura abordando os aspec-
tos estéticos envolvidos na reabilitação com próteses removíveis.

ABSTRACT
The esthetic receives important consideration in the social context in the current
days and an attractive smile is object of desire of the majority of the patients who need
treatment with prosthesis. In case of removable prosthesis, either total or partial, this
aspect becomes still more considerable, since some or all the teeth are missing. The
implants had propitiated a significant improvement in function and comfort of bearer
patients of removable prosthesis, but the esthetic still is a factor that has to be improved
and even if, it has received not much attention in modern scientific literature. Then, it
was objective of this article to carry out a literature review about esthetic aspects involved
in the rehabilitation with removable prosthesis.

INTRODUÇÃO forto e função adequados.


Apesar da disseminação da Implanto- O cirurgião-dentista deve considerar
dontia na reabilitação de pacientes desden- a anatomia fisiológica da face e princípi-
tados totais ou parciais, um significante os artísticos durante a confecção de
* Professora da Faculdade de Odontologia de número destes pacientes não tem acesso próteses removíveis, para devolver uma
Anápolis – UniEvangélica e Doutoranda em
Prótese Dentária pela Faculdade de Odonto- às vantagens propiciadas pelos implantes aparência natural e um sorriso harmônico
logia de Araçatuba – Unesp. osseointegráveis, seja por causa financei- ao paciente, minorando, desta maneira, os
E-mail: lvmlucas@uol.com.br ra, anatômica, psicológica ou, ainda, pro- prejuízos causados pela perda dos dentes
** Professoras da Faculdade de Odontologia blemas de saúde geral. naturais.
de Santa Fé do Sul – Funec e Doutorandas
em Prótese Dentária pela Faculdade de Odon- Assim, as Próteses Totais (PTs) e as Tendo em vista que a estética em
tologia de Araçatuba – Unesp. E-mail: Próteses Parciais Removíveis (PPRs) são próteses removíveis, totais ou parciais, tem
aimeemaria@ig.com.br; khelga@bol.com.br opções de tratamento muito utilizadas ain- sido pouco investigada na literatura mo-
*** Professor Titular do Departamento de Mate- da hoje e devem ser confeccionadas derna, foi objetivo deste artigo realizar
riais Odontológicos e Prótese da Faculdade
de Odontologia de Araçatuba – Unesp. objetivando alcançar as exigências estéti- uma revisão de literatura abordando os as-
E-mail: gennari@foa.unesp.br cas do paciente, além de promover con- pectos estéticos envolvidos na reabilitação

Lucas, Liliana Vicente Melo de et. al. Estética em próteses removíveis


Vol. 18 nº 1 - Fevereiro/março 2010 Rev. ABO Nac. Suplemento nº 1 389

de pacientes com essas próteses. emprego de grampos por ação de ponta, Prótese Total
como o grampo RPI, que além de serem O paciente desdentado total possui
REVISÃO DE LITERATURA mais estéticos, são de simples confecção uma face peculiar, com aprofundamento
Próteses Parciais Removíveis e possuem boas propriedades mecânicas, do sulco nasolabial; queda dos cantos da
Para casos de espaços edêntulos ex- sendo indicados inclusive para extremi- boca; diminuição da espessura do
tensos, grandes perdas ósseas alveolares, dades livres. Citaram também os encai- vermelhão do lábio; depressão dos lábios
dentes suportes com coroas clínicas cur- xes, que associados a coroas fixas, subs- com rugas exageradas; aproximação do
tas ou condição financeira deficiente dos tituem os grampos com superioridade es- nariz ao mento e mento pronunciado de-
pacientes, a opção mais indicada para a tética e a confecção de PPRs rotacionais, vido à perda de altura da face7, 18.
reabilitação oral do paciente é por meio principalmente indicadas para classes IV Três fatores são importantes na repo-
de PPRs1, 5, 14. Entretanto, as PPRs conven- de Kennedy, nas quais os grampos não sição do músculo orbicular através das
cionais, com retentores extracoronários, ficam visíveis. PTs, como espessura do flanco labial de
podem apresentar dificuldades estéticas Em um artigo1 foi mencionado o ma- ambas PTs, posição anteroposterior dos
não condizentes com as expectativas e terial “Flexite” (Dentsply International), dentes anteriores e restabelecimento cor-
anseios dos pacientes. que se trata de um material translúcido que reto da dimensão vertical de oclusão
Em um estudo observou-se que 87% pode ser usado para evitar a visualização (DVO)4.
dos pacientes possuem um sorriso mé- do grampo metálico e, aderido à armação Os profissionais devem estar aten-
dio, mostrando de cervical a incisal dos da PPR, resulta em estabilização através tos a três importantes procedimentos da
dentes anteriores até 1º ou 2º pré-mola- do abraçamento do grampo. Abordou ain- confecção das PTs: as moldagens fun-
res; 4% mostram todos os dentes maxi- da a zona estética (área da boca visível cionais e a espessura das bordas das
lares e gengiva inserida, e 6% mostram quando o paciente sorri) e várias alterna- próteses; a relação vertical dos arcos
de canino a canino e não mostram gen- tivas que podem ser utilizadas no tratamen- desdentados; e o posicionamento verti-
giva inserida20. to com PPR, para otimizar a estética. Ci- cal e horizontal dos dentes7.
Alguns artifícios que podem ser utili- tou o emprego de grampos por ação de Em recente revisão de literatura,
zados para solucionar o problema estéti- ponta, grampos com retenção por lingual Waliszewski21 (2005) observou que pou-
co destas próteses são os encaixes intra e e braço de oposição na distovestibular dos cos trabalhos abordam o aspecto estético
extracoronários e os retentores dentes suportes e também a confecção de das próteses totais e que as pesquisas con-
extracoronários estéticos (grampo com PPR rotacional, com retenção na lingual. temporâneas estão focadas no paciente
duplo eixo de inserção, grampo “twin- Outra opção seria a PPR do tipo “saddle- dentado. Cita ainda que a estética é tão
flex” e grampo de resina). lock”, que evita grampos visíveis utilizan- responsável pelo sucesso deste tratamen-
O grampo “twin-flex” consiste em um do retenção na distovestibular e apoio to como o conforto e a função.
fio trefilado soldado a um canal confecci- mesial, sendo indicada para casos
onado no conector maior da PPR, de re- dentossuportados. Entretanto, quando a Seleção dos dentes artificiais
tenção desejada de acordo com a liga uti- zona estética é considerada e existe perda Toda ajuda disponível deve ser utili-
lizada, que se localiza em região cervical crítica de dentes pilares, as opções que o zada nesta etapa. Registros dos dentes na-
mesial ou distal, vizinha do espaço profissional pode lançar mão são as PPRs turais previamente obtidos, como mode-
protético, ficando, desta maneira, desper- associadas a implantes ou, ainda, as los de gesso e fotografias podem auxiliar
cebido2, 20. sobredentaduras. na seleção do tamanho, formato e dispo-
Um artigo descreveu três casos clíni- Nos casos onde implantes são empre- sição dos dentes artificiais7, 19. Além dis-
cos utilizando técnicas para melhorar a gados em associação com PPRs13 além de so, o paciente deve estar envolvido nas
aceitação estética das PPRs. São elas: PPR conferirem suporte à prótese, eles podem decisões estéticas porque muitas vezes, as
com grampos de retenção por lingual e ser utilizados como retenção através de sis- suas opiniões diferem das do profissio-
placa de reciprocidade distal para permi- tema de encaixes, melhorando a estética, nal21.
tir abraçamento de 180º; PPR rotacional já que menos grampos são necessários. A harmonia na relação entre os den-
AP, para classe IV de Kennedy, utilizan- Outros fatores estão relacionados tes artificiais e os determinantes
do retenção na mesial dos caninos; e, à estética das PPRs além do disfarce dos biotipológicos da estética do paciente
grampos de resina na coloração do dente. grampos metálicos, como seleção apropri- desdentado estabelece os critérios que
Os autores afirmam que estas técnicas pro- ada e arranjo dos dentes artificiais e con- vão nortear a seleção dos dentes artifici-
movem melhora estética simples e signi- torno e coloração da base de resina e das ais: tamanho, formato e cor19.
ficativa, alcançando a satisfação do paci- papilas interdentárias6. Estes fatores serão Berry3 (1905) afirmou que os incisi-
ente5. abordados juntamente com as caracterís- vos centrais superiores correspondem a
Donovan & Cho6 (2003) citaram o ticas estéticas das PTs. 1/16 da largura da face. De um estudo

Lucas, Liliana Vicente Melo de et. al. Estética em próteses removíveis


390 Rev. ABO Nac. Suplemento nº 1 Vol. 18 nº 1 - Fevereiro/março 2010

que procurou relacionar a forma dos in- Disposição dos dentes longo, apenas a incisal do incisivo maxi-
cisivos centrais com o rosto dos indiví- A inclinação dos dentes anteriores é lar deve ser visível e se for curto, a base e
duos, surgiu o conceito das três formas geralmente paralela ao perfil da face do o dente todo podem ser vistos7.
básicas dos dentes artificiais: quadrado, paciente, devido à pressão dos lábios so- Caracterização da base de resina
ovóide e triangular22. bre estes dentes durante o desenvolvi- acrílica
Foi descrita também a teoria mento4. As dificuldades estéticas encontradas
dentogênica, que se refere à arte, prática A literatura apresenta um valor médio com a base são sua coloração rosa, o
e técnica de criar-se a ilusão de dentes na- de 100º para o ângulo nasolabial e de 140º festonamento gengival, casos de PTs
turais com próteses artificiais. Para atin- para o ângulo mentolabial para a popula- monomaxilares ou PPRs7. A caracteriza-
gir tal objetivo, os autores utilizaram os ção branca21. Estes dados auxiliam no ção das bases com resinas acrílicas de to-
fatores sexo, personalidade e idade do pa- posicionamento dos dentes artificiais das nalidades mais semelhantes àquelas obser-
ciente para determinar a escolha, caracte- PTs e das PPRs. vadas no tecido gengival do paciente pos-
rização e posição dos dentes8, 9, 10. Também o formato do arco desdenta- sibilita melhores resultados estéticos e
O tom de pele, a personalidade e as do tem uma relação estreita com o arranjo consequentemente, favorece a aceitação
características sexuais dos pacientes são dos dentes anteriores. Arcos quadrados destas próteses pelos pacientes.
importantes na escolha da cor dos den- devem possuir dentes com pouca rotação, A técnica de pigmentação da base para
tes de pacientes desdentados totais. Pa- presença de diastemas e os caninos devem imitar a gengiva natural foi criada por
cientes idosos têm dentes mais escuros, se localizar no mesmo plano que os inci- Pound15 em 1951 e deu grande contribui-
resultado da pigmentação causada por sivos centrais. Os arcos estreitos ou trian- ção à Odontologia Reabilitadora. O obje-
alimentos e do desgaste do esmalte gulares possuem dentes inclinados e api- tivo era misturar a cor da superfície inter-
dentário7. Já quando o indivíduo possui nhados, devido à falta de espaço no arco. na do lábio com a da base da prótese, pro-
dentes naturais remanescentes, é neces- Já os arcos ovóides devem possuir poucos movendo uma aparência mais agradável.
sário que a escolha da cor seja feita pela (ou nenhum) dentes com rotação ou so- Uma técnica de caracterização permi-
comparação destes com a escala de co- brepostos e os incisivos centrais devem se te reproduzir a aparência natural da gen-
res fornecidas pelo fabricante dos den- encontrar à frente dos caninos4. giva alveolar, tanto em cera, para a prova
tes artificiais que se pretende utilizar19. Sharry16 (1976) descreveu o conceito funcional e estética, como em acrílico,
Um estudo avaliou a relação entre a da separação dos dentes, que ajuda a al- por meio da combinação de cores, sobre-
forma e a cor do incisivo central superior cançar o realismo que os profissionais postas em camadas sucessivas, conferin-
com a forma do rosto, cor da pele, dos buscam durante a confecção das PTs. do à prótese maior profundidade. A ca-
olhos e cabelo de 191 indivíduos denta- Durante a fase do enceramento dos den- racterização, inclusive, dos dentes artifi-
dos naturais. Os resultados evidenciaram tes artificiais, o fio dental é passado nas ciais, pode ser utilizada para deixar a
que as formas do rosto quadrada e retan- interproximais dos dentes anteriores, as- prótese o mais natural possível12.
gular apresentaram maior coincidência sim cada dente é visto como uma entida- Foi investigado o efeito da pigmen-
com a forma deste dente e que o método de distinta na dentadura. tação intrínseca na resistência à flexão de
de seleção da cor dos dentes por meio da A papila incisiva pode orientar a loca- uma resina acrílica polimerizada por mi-
cor da pele, olhos e cabelo não é um indi- lização horizontal dos dentes, já que a su- croondas e observou-se que a adição de
cador seguro para determinar a cor dos perfície vestibular do incisivo central é an- pigmentos e de fibras acrílicas à resina
dentes artificiais na confecção das próteses terior a ela em torno de 8 a 10 mm. Não não afeta sua resistência à flexão e mos-
totais11. deve existir espaço entre os dentes e os trou-se estética e mecanicamente aceitá-
Telles19 (2000) cita que em 1908 foi lábios durante função e os primeiros pré- vel para uso clínico17.
descrita uma técnica para a escolha dos molares devem promover suporte à
dentes artificiais para as PTs, na qual comissura bucal. Com relação ao DISCUSSÃO
o profissional deve mar car as posicionamento vertical, os incisivos cen- As PPRs e as PTs ainda são muito
comissuras labiais e a linha de sorriso trais maxilares devem tocar levemente o indicadas como opção de tratamento de
forçado, ou linha alta, no plano de cera. lábio inferior durante a pronúncia dos sons pacientes que perderam vários ou todos
A distância entre as duas linhas das F ou V; os caninos e primeiros pré-mola- os dentes naturais. O restabelecimento da
comissuras determina a largura dos seis res mandibulares devem estar no nível do estética perdida por meio do tratamento
dentes anteriores. Já a distância entre lábio inferior quando a boca estiver ligei- protético envolve variáveis diversas, como
a linha alta e a superfície oclusal do ramente aberta; as bordas incisais dos den- perfil psicológico do paciente, conheci-
plano de cera corresponde à altura da tes anteriores devem aproximar-se, mas mento científico e experiência clínica do
face vestibular do incisivo central su- não manter contato, durante a produção profissional, além de fatores técnicos pro-
perior. de sons sibilantes; se o lábio superior for priamente ditos, como seleção e arranjo

Lucas, Liliana Vicente Melo de et. al. Estética em próteses removíveis


Vol. 18 nº 1 - Fevereiro/março 2010 Rev. ABO Nac. Suplemento nº 1 391

dos dentes artificiais, contorno e colora- guns autores afirmam que esta deve ser a existem muitas variáveis na natureza e
ção das bases acrílicas e exposição dos última opção estética a ser escolhida1, 5, 6. que os dentes devem se harmonizar com
grampos metálicos das PPRs. Um importante fator que não deve ser a face e com o tamanho do arco7.
Algumas estratégias podem ser utili- esquecido durante o planejamento de Apesar da teoria da correspondência
zadas para melhorar o desempenho estéti- grampos estéticos é a manutenção de seus entre as formas do incisivo e do rosto22
co das PPRs, como os encaixes, mas a li- requisitos biomecânicos, como suporte, re- não ter sido suportada por muitas evidên-
teratura não é concorde sobre qual tipo tenção, abraçamento, reciprocidade e pas- cias científicas11, 21, ela ainda norteia a mai-
deve ser utilizado. Enquanto um autor ad- sividade, pois de nada adiantaria a con- oria dos fabricantes de dentes artificiais19.
mite que os extracoronários devem ser pre- fecção de um grampo imperceptível que Com relação à teoria dentogênica, a
feridos por serem de fácil fabricação e re- causasse iatrogenias ao dente suporte. literatura aceita alguns aspectos, como
paro1, outros citam como desvantagem o A associação de PPRs com implan- sexo e idade na seleção dos dentes artifi-
maior acúmulo de placa, uma vez que pro- tes é uma nova possibilidade terapêutica ciais7, 21. Mas um estudo em dentados não
movem um aumento de contorno do den- para pacientes que não possuem condi- encontrou coincidência entre a cor da pele,
te pilar6. Entretanto, os mesmos autores ções anatômicas ou ainda financeiras, de olhos e cabelos com a cor do incisivo cen-
citam como desvantagem dos receberem um determinado número de tral superior de 191 pacientes11. Entretan-
intracoronários a necessidade de um mai- implantes para ser confeccionada uma to, como os profissionais normalmente não
or desgaste, podendo comprometer a es- prótese fixa. Assim, um implante têm registros anteriores para basearem-se
trutura dentária vital6. Uma vez que diver- posicionado sob a base da PPR age im- durante a seleção de dentes de pacientes
sos tipos de encaixes estão disponíveis no pedindo a intrusão da mesma na desdentados totais, eles necessitam seguir
mercado odontológico, o profissional deve fibromucosa e pode também ser usado as evidências encontradas pelos pesquisa-
selecioná-lo somente após o conhecimen- como agente de retenção, promovendo dores, assim, todos os fatores citados, as-
to de suas propriedades biomecânicas e de mais conforto ao paciente e aliviando o sociados à sua experiência e à opinião do
sua correta indicação. Deve também pla- dente suporte de forças prejudiciais1, 13. paciente, devem norteá-lo durante esta fase
nejar corretamente a distribuição das for- Com relação à aparência estética das tão subjetiva que é a seleção de dentes.
ças oclusais por meio da esplintagem dos bases e dos dentes artificiais, alguns auto- O conceito da separação dos dentes,
dentes suportes, conseguida através de res são concordes em afirmar que a posi- obtida através da passagem do fio dental
abraçamento obtido com a armação metá- ção apropriada dos dentes artificiais e o nas proximais dos dentes anteriores du-
lica da PPR ou através de coroas fixas. correto contorno das bases acrílicas resta- rante a fase de enceramento promove uma
Com relação às PPRs com grampo belecem o suporte da musculatura do ter- aparência mais natural para a PT16,19. En-
com duplo eixo de inserção (trajetória ço inferior da face, devolvendo um perfil tretanto, um cuidado deve ser tomado para
rotacional) ou com grampo “twin-flex”, agradável ao paciente desdentado total ou que apenas os dentes anteriores sejam in-
Belles2 (1997) cita que o primeiro, por parcial7, 18. Outros acreditam que a DVO dividualizados, pois nos dentes posterio-
ser rígido, não permite que sua porção seja também um fator responsável por este res a higienização pode ficar dificultada.
retentiva anterior seja ajustada e que pode restabelecimento4. Entretanto, numa ten- A literatura é discordante em relação
gerar torque nos dentes suportes, nos ca- tativa de melhorar a aparência de rugas e à utilização da papila incisiva como refe-
sos de classes I e II com modificação an- sulcos, os profissionais devem tomar cui- rência para o posicionamento dos dentes
terior. Já o grampo “twin-flex”, por ser dado para não estabelecerem uma DVO anteriores superiores. Enquanto um autor
flexível não sobrecarrega o dente supor- aumentada, pois isto pode trazer afirma que a superfície vestibular do inci-
te quando a extensão distal comprime-se consequências danosas ao paciente, como sivo central é anterior à papila incisiva em
ao rebordo. Mas alguns autores afirmam incapacidade de encostar os lábios e com- torno de 8 a 10 mm7, outro observou em
que a indicação das PPRs rotacionais é prometimento das funções muscular, fo- sua revisão de literatura que esta referên-
para casos dentossuportados, evitando, nética e mastigatória. cia pode causar erro, devido à sua grande
assim, sobrecarga ao dente suporte e, A etapa de seleção dos dentes artifi- variação de extensão e estabilidade
além disso, a confecção do grampo “twin- ciais é considerada por vários autores questionável21.
flex” exige maior conhecimento técnico1, como uma etapa complexa e subjetiva, As próteses removíveis podem ter sua
5, 6
. principalmente em se tratando de paci- qualidade estética melhorada se suas ba-
Os grampos estéticos de resina são um entes desdentados totais 7, 19, 21. Alguns ses acrílicas receberem caracterização. Ela
material relativamente novo e não há um autores concordam, normalmente há uma favorece a aceitação das próteses pelos pa-
consenso com relação à sua resistência e relação entre o tamanho dos dentes e as cientes1,12, e quando é intrínseca, mostra-
estabilidade na boca, pois não há relatos proporções faciais3, 19. Estas relações aju- se estética e mecanicamente aceitável para
clínicos suficientes sobre a performance dam a selecionar o tamanho dos dentes, uso clínico, não afetando a resistência à
“in vivo” dos mesmos. Deste modo, al- mas devem ser usadas lembrando que flexão da resina acrílica17.

Lucas, Liliana Vicente Melo de et. al. Estética em próteses removíveis


392 Rev. ABO Nac. Suplemento nº 1 Vol. 18 nº 1 - Fevereiro/março 2010

CONCLUSÕES 2003 July-August, 51(4):322-4. 14. Nogueira Junior L, Teixeira SC, Rocha
1. Apesar de serem escassos os es- 6. Donovan TE, Cho GC. Esthetic DM, Pavanelli CA, da Silva JMF. Twin-
tudos sobre estética em próteses removí- considerations with removable partial Flex, uma opção estética para a reabilita-
dentures. CDA. Journal 2003 July, ção de pacientes portadores de próteses
veis, está solidificada a importância des-
31(7):551-7. parciais removíveis. PCL 2004
te fator, juntamente com o funcional, para 6(29):102-8.
7. Esposito SJ. Esthetics for denture
o sucesso do tratamento. patients. J. Prosthet. Dent. December, 15. Pound E. Esthetic dentures and their
2. O profissional deve basear-se nos 1980 44(6):608-15. phonetic values. J. Prosthet Dent. Jan./
achados científicos existentes e na parti- 8. Frush JP, Fisher RD. How dentogenic Mar, 1951 1:98.
cipação do paciente durante o tratamento restorations interpret the sex factor. J. 16. Sharry JJ. Essential concepts in denture
para alcançar o resultado estético deseja- Prosthet. Dent. 1956 March, 6(2):160-72. esthetics. In: Goldstein R: Esthetics in
do. 9. Frush JP, Fisher RD. How dentogenics Dentistry. Philadelphia and Toronto: J.B.
3. Uma prótese removível com apa- interprets the personality factor. J. Lippincott Co., 1976, p.326-9.
rência natural pode ser obtida pela corre- Prosthet. Dent. 1956 July, 6(4):441-9. 17. Silva FAP, Silva TBP, Rached RN, Del
10. Frush JP, Fisher RD. The age factor in Bel Cury AA. Effect of intrinsic
ta seleção e disposição dos dentes artifi-
dentogenics. J. Prosthet. Dent. January, pigmentation on the flexural strength of
ciais, caracterização das bases acrílicas e, a microwave-cured acrylic resin. Braz.
1957 7(1):5-13.
nos casos de PPRs, através da camufla- 11. Goiato MC, Santos JC, Santos DM, Dent. J. 2002 Sept./Dec., 13(3):205-7.
gem dos grampos. Pellizzer EP, Barbosa DB. Avaliação da 18. Tautin FS. Denture esthetic is more than
relação entre a forma e a cor do incisivo tooth selection. J. Prosthet. Dent. 1978
REFERENCIAS central superior com a forma do rosto, cor August, 40(2):127-30.
1. Ancowitz S. Esthetic removable partial da pele, dos olhos e cabelo de indivíduos 19. Telles D. Prótese Total convencional e
dentures. Gen.Dent. 2004 September/ dentados naturais. Revista Odonto Ciên- sobre implantes. São Paulo: Santos; 2000.
October, 52(5):453-9, quiz 460. cia 2004 out./dez, 19(46):372-6. 20. Tjan AH, Miller GD. The JG. Some
2. Belles DM. The twin-flex clasp: an 12. Gomes T, Mori M, Corrêa GA. Atlas de esthetic factors in a smile. J. Prosthet.
esthetic alternative. J. Prosthet. Dent. caracterização em prótese total e prótese Dent. 1984 January, 51(1):24-8.
1997 April, 77(4):450-2. parcial removível. São Paulo: Santos Edi- 21. Waliszewski M. Restoring dentate
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the foundation to the study of prosthetic 13. Lucas LVM. Avaliação da influência da modern complete denture esthetics. J.
art? Dent. Mag. 1905 1:405. força de mordida na prótese parcial re- Prosthet. Dent. April, 2005 93(4):386-94.
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Prosthodontic treatment for edentulous implante osseointegrado, pelo método dos human tooth forms with special reference
patients, 7.ed. St. Louis: Mosby elementos finitos [Dissertação de to a new system of artificial teeth. Cos-
Company, 1975. Mestrado] Araçatuba: Faculdade de mos. 1914 56(1):627-8.
5. Chu CH, Chow TW. Esthetic designs of Odontologia de Araçatuba – UNESP;
removable partial dentures. Gen.Dent. 2003.

Lucas, Liliana Vicente Melo de et. al. Estética em próteses removíveis


Vol. 18 nº 1 - Fevereiro/março 2010 Rev. ABO Nac. Suplemento nº 1 393

Evolução dos aparelhos de fotoativação -


Revisão de literatura
Evolution of light-curing units - A review
Palavras-chave: Resinas compostas, luz.
Key words: Composite resin. Light.

Ayslanne Borges Nunes** RESUMO


Maria Jacinta M. Coelho Santos** As resinas compostas têm sido amplamente utilizadas, tanto para dentes anteriores
Rebeca Barroso Bezerra*** como em posteriores, principalmente devido a melhorias na sua capacidade estética e
Márcia Sepúlveda Noya**** nas propriedades mecânicas. Apesar do constante aprimoramento, ainda apresentam
Carmen de Andrade Vilas Boas algumas limitações como sensibilidade pós-operatória, desgaste, contração de
Motta***** polimerização e infiltração marginal. Dentro deste contexto são apresentadas as carac-
terísticas das quatros grandes tecnologias de fotopolimerização que envolvem: luz
halógena (QTH), arco de plasma, laser e luz emitida por diodo-LED. Neste trabalho,
são descritas, mediante revisão de literatura, as características destes equipamentos,
com destaque as vantagens, desvantagens e limitações decorrentes de seu emprego na
polimerização dos diferentes sistemas resinosos.

ABSTRACT
Resin composites have been widely used to restore both anterior and posterior
teeth, due to its improved aesthetic and mechanical properties. Although there are some
critical limitations for composite resins, such as polymerization shrinkage, microleakage
and post-operative sensitivity. Within this context, the chemical characteristic of four
technologies to polymerization are present: halogen light, arc plasma. Argonium laser
and light emitting diodes. Thus, the characteristics of these devices are described, as
well the advantages, disadvantages and limitations, as a result of the use in the
polymerization of different resin systems.

* Especialista em Dentística Restauradora –


Cebeo/UFBA. E-mail: aysbn@hotmail.com INTRODUÇÃO contrário de todos os outros aparelhos,
** Doutora em Dentística Restauradora pela Acompanhando a evolução da odon- emitem luz coincidentemente dentro do
FOB-USP tologia estética, os aparelhos de espectro máximo de absorção do
Coordenadora do Curso de Especialização
em Dentística Restauradora– Cebeo/UFBA. fotoativação passaram a ter importância fotoiniciador mais utilizados nos
E-mail: jace@uol.com.br fundamental na clínica odontológica. As compósitos dentais, a canforoquinona
*** Doutora em Dentística Restauradora pela técnicas adesivas tornaram-se mais efi- (CQ). A emissão de luz pelos LEDs per-
FO-USP cientes e, ao mesmo tempo, mais deta- mite menor geração de calor, tornando
Professora do Curso de Especialização em
Dentística Restauradora – Cebeo/UFBA. lhadas. Pequenas alterações em cada eta- desnecessário o uso de ventilação pelos
E-mail: rebecabezerra@uol.com.br pa operatória tornaram-se fundamentais aparelhos, pois a energia em comprimen-
**** Doutoranda em Dentística Restauradora pela para o sucesso ou fracasso da técnica to de onda específico gerada libera somen-
FO-UFBA (Anauate Netto et al., 2003). te a energia luminosa necessária para a
Professora do Curso de Especialização em
Dentística Restauradora – Cebeo/UFBA. Os avanços tecnológicos permitiram o fotoativação, dispensando a presença de
E-mail: marcianoya@superig.com.br desenvolvimento de diferentes fontes de filtros (Franco et al., 2003).
**** Especialista em Dentística pelo Cebeo- luz para fotoativação das resinas compos- Este trabalho tem o objetivo de medi-
UFBA tas, havendo uma tendência para a ante revisão de literatura, descrever as di-
Professora do Curso de Especialização em
Dentística Restauradora – CEBEO/UFBA fotoativação à base de diodos que emitem ferentes fontes de luz utilizadas para a
E-mail: cavbmotta@ig.com.br luz LED (light-emitting-diodes) que, ao fotoativação de resinas compostas, com-

Nunes, Ayslanne Borges et al. Evolução dos aparelhos de fotoativação - Revisão de literatura
394 Rev. ABO Nac. Suplemento nº 1 Vol. 18 nº 1 - Fevereiro/março 2010

parando as vantagens e desvantagens de tência de lâmpada (Rueggeberg, 1999). Apesar do grande avanço dos apare-
cada uma. Mesmo apresentando um sistema de lhos fotopolimerizadores atuais, a gran-
resfriamento, a produção de altas tempe- de maioria dos profissionais não tem re-
REVISÃO DE LITERATURA raturas leva a degradação do bulbo, refle- novado esse equipamento, o que segura-
A evolução na área de fotopolime- tor e filtro, reduzindo gradativamente a mente pode estar gerando insucessos clí-
rização implicou no aparecimento de di- densidade de potência do aparelho (Fran- nicos com as técnicas adesivas. A grande
versos tipos de aparelhos fotoativadores, co e Lopes, 2003). maioria dos profissionais não realiza a
a exemplo de quartzo-tugstênio/halógena, Os primeiros aparelhos fotoativadores manutenção de aparelhos fotoativadores
laser de argônio, arco de plasma e LED, possuíam uma fonte de luz com o filtro por desconhecer a importância desse pro-
sendo que a longevidade clínica das resi- distante da ponteira por onde a luz era cedimento na qualidade de seus trabalhos
nas compostas tem sido grandemente in- manuseada. A transmissão da luz até a ca- (Anuante Netto et al., 2003).
fluenciada pelo tipo e qualidade do apare- vidade oral era feita por um cabo flexível,
lho fotopolimerizador utilizado (Franco e contendo fibras ópticas ou um gel trans- Arco de plasma
Lopes, 2003). missor. Os problemas com estes aparelhos Outra categoria de aparelhos
estavam relacionados com uma perda fotopolimerizadores está baseada na
Lâmpada halógena substancial da potência de emissão da luz, emissão de luz pela fonte de arco de plas-
Os aparelhos fotoativadores de quart- causada pela ruptura das fibras ópticas ou ma de xenônio. Esta fonte contém dois
zo-tungstênio/halógena (QTH) surgiram ainda pela formação de fungos no gel eletrodos, também de tungstênio, sepa-
em consequência da evolução dos apare- transmissor. Para solucionar estes proble- rados por um pequeno espaço. Estes ele-
lhos de luz ultravioleta. Os primeiros apa- mas foram produzidos aparelhos nos quais trodos localizam-se em uma cápsula
relhos de QTH possuíam baixa densidade a fonte de luz era produzida próxima à pressurizada preenchida com gás de
de potência (300mW/cm2) em compara- ponteira, aumentando a sua efetividade e xenônio, desenvolvendo um alto poten-
ção com as unidades de alta potência en- melhorando a qualidade das restaurações cial elétrico entre os mesmos, em função
contradas atualmente. Todos os fotoa- (Anauate Netto et al., 2003). de uma alta descarga elétrica. Isto resul-
tivadores de QTH são compostos basica- As lâmpadas das fontes de polime- ta na formação de um arco ionizado en-
mente das mesmas partes (Burgess et al., rização convencionais têm um tempo de tre os dois eletrodos e em um gás
2002). vida curto (50-100 horas clínicas), deven- condutivo chamado plasma (Rueggeberg,
Segundo Nagel (1999), estes aparelhos do o profissional estar atento quanto ao 1999).
emitem uma luz incandescente e compõe- tempo de uso do aparelho, fazendo uma Os aparelhos de arco de plasma emi-
se de uma lâmpada de filamento de avaliação regular da emissão de luz, com tem um espectro de luz amplo, incluindo
tungstênio (bulbo e refletor), filtro, siste- o auxílio de um radiômetro, substituindo luz ultravioleta, luz visível e radiação
ma de refrigeração (ventilação) e fibras quando necessário a lâmpada ou o filtro. infravermelha. Desta maneira, eles tam-
ópticas para condução da luz. O filamento A observação deste aspecto evitará a bém apresentam sistemas de filtros tanto
de tungstênio encontra-se protegido em polimerização insuficiente da resina com- próximos à fonte de luz, quanto nas fibras
uma cápsula de quartzo com gazes inertes posta, pois um teor aumentado de que conduzem a luz até a ponteira, emi-
e conectado a um eletrodo para passagem monômeros não convertidos (subpolime- tindo assim uma alta densidade de potên-
da corrente elétrica. Assim este filamento rização) poderá contribuir para o insucesso cia, com comprimento de onda entre 450-
é submetido a altas temperaturas, produ- clínico, caracterizado pela maior tendên- 500nm após a filtragem (Franco e Lopes,
zindo uma luz com energia dentro de uma cia ao desgaste e manchamento superfici- 2003).
larga faixa de comprimento de onda, ou al, e possibilidade de infiltração marginal Os aparelhos de arco de plasma po-
seja, com muita radiação na região do (Davidson e Gee, 2000). Segundo Barghi dem apresentar densidade de potência de
infravermelho, a qual é responsável pelo et al. (1994), aparelhos de luz halógena até 2400mW/cm2 e foram lançados no
calor liberado (Rueggeberg, 1999). com densidade de potência abaixo de mercado com a proposta de polimerização
Como existe uma produção de grande 300mW/cm2 podem comprometer o grau rápida, com um tempo de fotoativação da
quantidade de luz fora da região espectral de conversão ou a adequada polimerização resina composta entre 1-5 segundos
de interesse para a fotoativação, é neces- das resinas compostas. (Leonard e Charlton, 2002). Entretanto,
sária a utilização de filtros que apresen- Pilo et al. (1999) e Barghi et al. (1994) vários estudos mostraram que este curto
tem a função de barrar a energia exceden- concluíram que mais de 45% dos apare- período de fotoativação pode comprome-
te, responsável pela liberação de calor. lhos de QTH pesquisados apresentavam ter as propriedades físicas da resina com-
Logo, um dos componentes mais impor- intensidade de luz inferior ao recomenda- posta (Peutzfeldt, Sahafi e Asmussen,
tantes é o sistema de ventilação, pois o do, apesar dos profissionais estarem sa- 2000; Park et al., 2002; Deb e Sehmi,
calor produzido reduz a vida útil e a po- tisfeitos com os aparelhos. 2003). Além disto, outros aspectos desfa-

Nunes, Ayslanne Borges et al. Evolução dos aparelhos de fotoativação - Revisão de literatura
Vol. 18 nº 1 - Fevereiro/março 2010 Rev. ABO Nac. Suplemento nº 1 395

voráveis como alto custo, manutenção es- O uso da tecnologia LASER para Odontologia (Mills, 1999).
pecializada e declínio da potência da luz fotoativação tem sido pouco difundido Apesar de sempre ter havido um con-
com o tempo limitam a sua aceitação por entre os profissionais em função da pe- senso entre os pesquisadores de que apa-
parte dos profissionais (Burgess, 2002). quena redução no tempo de fotoativação, relhos fotopolimerizadores deveriam emi-
Num estudo de Katahira et al. (2004), da maior dificuldade de manutenção, do tir uma alta intensidade de luz para per-
a fotoativação por 3 segundos com arco alto custo do aparelho, além da produ- mitir uma polimerização adequada de uma
de plasma apresentou valores de ção de calor (Burgess, 2002; porção de resina composta, a tecnologia
microdureza inferiores a fotoativação com Rueggeberg, 1999). Paralelamente a es- LED difere bastante da tecnologia conven-
luz halógena por 40 segundos. tas desvantagens, Mills (1999) relatou cional neste aspecto. Os aparelhos à base
Hofmann et al. (2000) afirmaram que a necessidade de precauções de seguran- de LED apresentam uma baixa densidade
a eficiência do aparelho de arco de plas- ça adicionais com uso do laser. de potência (50-300mW/cm2), especial-
ma, em comparação a luz halógena, de- mente os de primeira geração. A diferen-
pendem do fotoiniciador da resina com- LED (light emitting diodes) ça na eficiência entre os aparelhos de QTH
posta e foram necessários dois ciclos de 3 Para superar as falhas e desvantagens e LED está no comprimento de onda emi-
segundos para obter propriedades mecâ- dos aparelhos fotopolimerizadores de luz tido pelos LEDs (450-490 nm). Desta ma-
nicas satisfatórias. halógena visível, Mills e colaboradores neira, mesmo apresentando baixa densi-
propuseram, em 1995, a utilização da dade de potência, estes aparelhos emitem
LASER tecnologia de aparelhos montados com toda luz dentro do espectro máximo de ab-
A terceira categoria de aparelhos LEDs (light emitting diodes) azuis para a sorção da canforoquinona (468nm)
fotopolimerizadores são aqueles que uti- fotopolimerização de materiais resinosos. (Kurachi et al., 2001; Jandt et al., 2000).
lizam a tecnologia LASER. Este termo é O uso do LED já era conhecido pela gran- Pesquisas comparando a
um acrônimo para Light Amplification by de maioria das pessoas, uma vez que esta fotopolimerização de resinas compostas
Stimulated Emission of Radiation, que se tecnologia já era utilizada como luzes por LEDS e luz de QTH demonstraram
traduz como amplificação da luz por emis- indicativas que se encontram nos painéis que os LEDs funcionam tão bem quanto
são estimulada de radiação. Os fótons pro- de carros (Mills et al., 1999). as luzes halógenas, especialmente se a
duzidos por um laser possuem certas ca- Os LEDs usam conexões de porção de resina não exceder 2 mm (Jandt
racterísticas, são coerentes (todos na mes- semicondutores para gerar luz em vez dos et al., 2000; StahL et al., 2000). Já outros
ma frequência e fase) e não divergentes filamentos quentes utilizados nos bulbos estudos como o de Dunn e Bush (2002) e
(Rueggeberg, 1999). O comprimento de halógenos. Um semicondutor para produ- Kurachi et al. (2001) concluíram que os
onda utilizado nos aparelhos de laser de zir luz necessita da aplicação de uma ten- LEDs disponíveis no mercado ainda ne-
argônio para fotopolimerização é de são para vencer a barreira de energia in- cessitam de melhorias para equiparar-se à
488nm, aproximando-se do pico máximo terna. O LED constitui-se na combinação eficácia dos aparelhos de luz halógena.
de absorção da canforoquinona (468nm). de dois diferentes semicondutores, um tipo Delgado et al. (2003) concluíram que uma
Como esta energia está confinada em uma “n”, que tem excesso de elétrons e, outro resina composta bleach shade
pequena parte do espectro da luz e os tipo “p”, que tem falta de elétrons, mas fotopolimerizada com LED apresentou
fótons percorrem na mesma direção sem rico em lacunas. Quando uma tensão é valores de dureza inferiores quando com-
divergência, a densidade de potência des- aplicada entre estes dois condutores, há a parada a fotopolimerização com luz
tes aparelhos é extremamente alta passagem de elétrons da camada “n” para halógena.
(>1000mW/cm2), sendo, por isso, indicada camada “p”, resultando em um fluxo de Mais recentemente foram introduzi-
a redução no tempo de exposição da luz elétrons (Kurachi et al., 2001). dos no mercado aparelhos de LED com
(Franco e Lopes, 2003). Entretanto, Os aparelhos LED têm vida útil de alta densidade de potência (600-1400mw/
Vargas, Cobb e Schmit (1998) verificaram mais de 10.000 horas e passam por pe- cm2). Trabalhos demonstraram que resi-
que o tempo de 10 segundos recomenda- quena degradação durante sua utilização nas compostas fotoativadas por estes
do pelo fabricante não foi suficiente para ao longo do tempo. Os LEDs não neces- LEDs apresentaram propriedades mecâ-
produzir resultados semelhantes aos da sitam de filtros para produzir a luz azul, nicas similares ou melhores em compa-
lâmpada halógena quanto à dureza de uma são resistentes a choques e vibrações, ração com a luz halógena (Uhl et al.,
resina composta. Apenas com a utilização consomem pouca energia em sua opera- 2004; Soh et al., 2003).
de um tempo de 30 segundos para as resi- ção, podem ser montados em pequenos Mills et al. (2002) relataram que, para
nas microparticuladas e 20 segundos para aparelhos e, devido à geração mais con- resinas compostas com iniciadores que
as resinas híbridas permite que o laser de sistente de luz do LED quando compara- apresentam uma absorção fora do estreito
argônio apresente resultados satisfatórios da à tecnologia do bulbo halógeno espe- intervalo de emissão dos aparelhos à base
de microdureza. cula-se uma aplicação promissora na de LEDs, a polimerização pode ser me-

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396 Rev. ABO Nac. Suplemento nº 1 Vol. 18 nº 1 - Fevereiro/março 2010

nos efetiva. Franco e Lopes (2003) infor- Compend Contin Educ Dent 2002; dental composite polymerized with expe-
maram que se a resina composta possui 23(10):889-908. rimental Led-based devices. Dent Mater
outros fotoiniciadores, como PPD ou Bis- 4. Davidson CL, Gee A J. Light-curing units, 2001; 7:309-315.
Acryl-Phosphinoxide (BAPO), os quais polymerization, and clinical implications. 15. Mills RW, Uhl A, Jandt KD. Optical power
J Adhesive Dent, 200; 2(3):167-73. output, spectra and, dental composite
absorvem energia fora do espectro de 450-
5. Deb S, Sehmi HA. comparative study of depth of curing, obtained with blue light
500 nm, esta não será polimerizada, e, por- the properties of resin composites emitting diode (LED) and halogen light
tanto, os novos aparelhos não terão polymerized with plasma and halogen curing units (LCUs). Br Dent J 2002;
efetividade no processo. light. Dent Mater 2003; 19:517-522. 193(8):459-63.
6. Delgado LAC, Sousa AM, Pereira SK, Go- 16. Mills RW, Jandt KD, Ashworth SH. Den-
CONCLUSÃO mes OM, Gomes GC. Efeito de diferen- tal composite depth of cure with halogen
Os novos conceitos de polimerização tes sistemas de fotopolimerização na and blue light emitting diode technology.
e a constante evolução dos diversos tipos microdureza de uma resina composta Br Dent J 1999; 186(8):388-391.
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polimerização. Devido à interação de di- fotopolimerização. Avaliação com cimen- 19. Peutzfeldt A, Sahafi A, Asmussen E.
versos fatores para a execução de uma res- to ionomérico modificado por resina. JBC Characterization of resin composites
tauração, as evidências científicas apon- 2003; 7(38):116-118. polymerized with plasma arc curing units.
tam para a complexidade temática, obri- 9. Franco EB, Lopes LG, Conceitos atuais Dent Mater 2000; 16:330-336.
na polimerização de sistemas restaurado- 20. Pilo R, Oelgiesser D, Cardash HS. A
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alizando quanto ao potencial de for depth of cure among light-curing units
polimerização dos diferentes aparelhos 10. Hofmann N, Hugo B, Schubert K, Klaiber
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fotoativadores disponibilizados comerci- 21. Rueggeberg F. Contemporary issues in
source and conventional halogen curing
almente. Outro aspecto relevante está re- photocuring. Compend Contin Educ Dent
units regarding flexural strength, modulus,
lacionado à necessidade de adoção de téc- and hardness of photoactivated resin Suppl 1999; 20(25):S4-S15.
nicas restauradoras que minimizem as composites. Clin Oral Invest 2000; 4:40 - 22. Soh MS, Yap AU, Siow KS. Effectiveness
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147.
terial restaurador, evitando assim o com- different curing modes of LED lights.
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Vol. 18 nº 1 - Fevereiro/março 2010 Rev. ABO Nac. Suplemento nº 1 397

Práticas preventivas para o controle da cárie dental


- Estágio atual *
Preventive practices for dental caries control - Current stage*
Palavras-chave: Práticas em Saúde. Cárie Dental. Odontologia Preventiva.
Key words: Health Practice. Dental Caries. Preventive Dentistry.

Denise Espíndola Antunes ** RESUMO


Gersinei Carlos de Freitas *** O Brasil experimentou um declínio na prevalência da cárie dentária em crianças e
adolescentes nos últimos anos, porém, a doença está longe de ser erradicada do país. O
objetivo do presente trabalho foi conhecer somente as práticas preventivas para contro-
le da cárie dentária abordadas pela literatura odontológica baseada em evidências cien-
tíficas. As práticas preventivas que realmente são eficazes precisam ser conhecidas,
pois este conhecimento poderia contribuir para a adoção mais consciente de práticas
que visam à prevenção e o controle da cárie dentária na odontologia preventiva.

ABSTRACT
Brazil experienced a decline in children and adolescents’ caries prevalence lately,
although, this disease is far to be eradicated from the country. The purpose of the
present study was to know only the caries preventive practices broached by dental
literature based on scientific evidence. Caries preventive practices that are really
effectiveness need to be known, because this knowledge could contribute to the preventive
practices conscious adoption in preventive dentistry.

INTRODUÇÃO e químico do biofilme dentário, assim


O Brasil tem experimentado um como o controle dos hábitos alimentares
declínio na prevalência da cárie dentária na atividade de cárie são pontos que têm
em crianças e adolescentes nos últimos sido muito abordados pela literatura ba-
anos. Porém, a cárie não foi erradicada do seada em evidências científicas. Segundo
país. esta literatura, algumas práticas têm efi-
A literatura odontológica atribui uma cácia comprovada, outras ainda não. É
importante posição para o flúor e para a necessário que se conheça, portanto, cada
clorexidina na redução da cárie, mas não estratégia. Isto poderia contribuir para a
se pode afirmar que, por causa da utiliza- adoção mais consciente de práticas que
ção desses produtos em maior escala, esse visem à prevenção e o controle da cárie
declínio aconteceu. Outras possíveis ra- dentária na odontologia preventiva.
zões também devem ser lembradas, tais
* Parte da dissertação apresentada para obten- como melhorias nos padrões sociais e eco- REVISÃO DA LITERATURA
ção do título de Mestre em Odontologia pela
Faculdade de Odontologia da Universidade nômicos, mudanças no padrão de consu-
Federal de Goiás. mo de açúcar, melhoria na higiene bucal, PRÁTICAS PREVENTIVAS
** Mestre em Odontologia, Especialista em mudanças de critério de diagnóstico, va- CONTRA A CÁRIE DENTAL
Dentística Restauradora e Prótese Dentária. riações individuais naturais, etc. Controle Mecânico do
*** Professor Doutor e Diretor da Faculdade de
Odontologia da Universidade Federal de A adoção de práticas preventivas es- Biofilme Dentário
Goiás. pecíficas utilizando o controle mecânico O controle mecânico do biofilme

Antunes, Denise Espíndola et al. Práticas preventivas para o controle da cárie dental - Estágio atual *
398 Rev. ABO Nac. Suplemento nº 1 Vol. 18 nº 1 - Fevereiro/março 2010

dentário constitui um método de eleição ria a saúde bucal e é improvável que essa Uma revisão sistemática da literatura
universal, integrante e indispensável em redução cause algum efeito danoso à saú- (Marinho et al., 2004b) aponta que os cre-
qualquer tratamento odontológico que se de como um todo. mes dentais fluoretados são capazes de re-
pratique nos dias de hoje (Pereira et. al., Watt et. al. (2003), através de uma re- duzir cáries em 24% de crianças e adoles-
1992). visão sistemática de literatura, afirmam centes quando comparadas com crianças
Não há meio químico que, sozinho, que a efetividade do controle da ingestão que não usam cremes com flúor. Os bene-
seja capaz de remover o biofilme de açúcar está clara o suficiente e reco- fícios dos cremes dentais fluoretados fo-
microbiano (Costerton e Lashen, 1994). mendam que a frequência e a quantidade ram firmemente estabelecidos.
E nem há um meio mecânico que, sozi- de açúcar extrínseco - açúcar in natura, A efetividade dos cremes fluoretados
nho, seja capaz de remover o biofilme. sucos, refrigerantes, biscoitos, mel – de- já é bem estabelecida pela literatura e é
Assim, microrganismos presentes no vem ser reduzidas. O consumo destes ali- concentração-dependente. No Brasil, as
biofilme dentário podem ser removidos mentos deve ficar restrito aos horários das médias de concentração de flúor dos pro-
pela desagregação por métodos mecâni- refeições regulares quando possível e fi- dutos oferecidos no mercado variam de
cos como escova e fio dental e, podem car limitado a intervalos de quatro vezes 500 a 1500 partes por milhão (ppm). Os
ser controlados, coadjuvantemente, atra- ao dia. Os autores recomendam que ao produtos que contêm concentração menor
vés de métodos químicos. consumo não exceda à quantidade de 60 g que 600 ppm são menos efetivos que aque-
A evidência da eficácia do controle de açúcar por dia. les que contêm 1000 ppm ou mais e de-
mecânico sozinho nos índices de cárie não Portanto, há fortes evidências sobre a vem ser recomendados para pacientes com
está claramente estabelecida (BADER et. efetividade da conscientização sobre os baixa atividade de cárie ou crianças abai-
al., 2001). Uma ampla evidência sobre a aspectos nutricionais, higiênicos e as in- xo de 7 anos. As crianças acima de 7 anos
efetividade da escovação na prevenção da formações básicas de saúde bucal no con- ou adolescentes e os pacientes com alta
cárie dentária foi verificada em uma revi- trole dos índices de cárie (Paula e Dadalto, atividade de cárie devem usar produtos
são Cochrane, mas o fato é devido mais à 2004). com concentração igual ou maior que 1000
ação dos cremes fluoretados do que à ppm (Ammari et al., 2003).
escovação por si só (Heanue et al., 2004). Terapia com Flúor A efetividade também é influenciada
Embora a escovação e o uso do fio O flúor age principalmente prevenin- pela frequência das aplicações. Alguns au-
dental sejam os meios mais difundidos e do o processo de desmineralização tores recomendam a escovação com cre-
universalmente recomendados para a re- dentária e promovendo a remineralização, me fluoretado pelo menos duas vezes ao
moção do biofilme dentário, não se conhe- mas também pode deprimir o metabolis- dia. (Haugejorden e Birkeland, 2002).
cem técnicas, escovas e nem fios ideais mo do biofilme dentário em altas concen-
que, por si só, promovam uma trações, maiores que 5% (Luoma, 1992). Fluorose e Cremes Dentais com
higienização perfeita. O controle mecâni- As primeiras avaliações do flúor Baixo Teor de Flúor
co do biofilme dentário deve estar associ- como medida preventiva contra a cárie A ingestão excessiva de flúor durante
ado ao uso de creme dental fluoretado e dentária levaram à sua introdução no a maturação dentária pode resultar no de-
deve promover a limpeza da boca como suprimento das águas de abastecimento senvolvimento de fluo rose dentária, que
um todo, sem causar danos a suas estrutu- público. O sucesso da fluoretação das é freqüentemente encontrada em popula-
ras e da melhor maneira que o paciente águas de abastecimento tornou-se evi- ções de áreas com fluoretação das águas
possa executá-lo. Todo esse aparato téc- dente em 1973 (Barmes, 1994) e conti- de abastecimento, mas parece estar asso-
nico também tem que estar associado à nua a ocorrer até hoje em vários países, ciada também à ingestão excessiva de cre-
motivação do paciente (COSTA et al., com concentrações aproximadas de 0,5 mes com flúor (Whelton et al., 2004).
1999). a 1,0 ppm (Toledo, 1996). Stookey, em 1994, através de uma re-
Em consequência dos pontos acima visão sistemática de literatura, sugeriu que
Controle dos Hábitos Alimentares assinalados, veículos para a incorporação uma criança que usa um creme dental con-
De acordo com Sheiham (2004 a, b) do flúor foram desenvolvidos e hoje po- tendo 1000 ppm duas vezes ao dia pode
os níveis de sacarose acima de 28 gramas dem ser encontrados no Brasil sob diver- estar ingerindo cerca de 0,5 mg de flúor,
(g) por dia podem ser considerados como sas formas. isso sem contar a ingestão do flúor pre-
agentes cariogênicos. O estabelecimento sente nas águas de abastecimento quando
da forte interrelação existente entre a quan- Cremes Dentais Fluoretados disponível na região de domicílio. Isto de-
tidade de sacarose consumida e a ocorrên- Os cremes dentais fluoretados têm sido monstra o potencial que os cremes
cia de cáries, tanto em animais quanto em utilizados por décadas e ainda continuam fluoretados têm de ser uma fonte signifi-
humanos, sustenta essa afirmação. A re- sendo uma intervenção vastamente adota- cativa de flúor adicional para ingestão.
dução do consumo de sacarose beneficia- da para a prevenção da cárie dentária. Uma forma de reduzir a quantidade de

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flúor ingerida é minimizando a quantida- utilizado em pacientes que não suporta- mente aplicado. É bem aceito por crian-
de de flúor usada, através da redução das rem a presença do gel de flúor na boca ças e adolescentes, mas não mostrou ser
concentrações dos cremes para 500 ou 250 (Weintraub, 2003). mais efetivo ou superior aos demais mé-
ppm. todos preventivos a base de flúor
Outra forma seria a utilização de cre- Gel Fluoretado (Strohmenger e Brambilla, 2001).
mes sem flúor. Num ensaio clínico Os géis fluoretados geralmente dispo-
randomizado de 2001, Block-Zupan afir- níveis no mercado são o gel neutro, com Selante Fluoretado
mou que a diminuição das concentrações concentração de 2% de fluoreto de sódio Os selantes de fóssulas e fissuras mais
de flúor nos cremes poderia levar a uma e o gel acidulado, com concentração de vastamente utilizados pela Odontologia
diminuição no efeito anticárie. Cremes 1,23% de fluoreto de sódio com pH 3, atual são os resinosos, com flúor e ativados
sem flúor podem não ser efetivos na pre- onde o pH baixo favoreceria a incorpora- por luz. Estes selantes têm concentrações
venção de cáries como cremes com flúor. ção do flúor no esmalte. Estes géis são, de até 15% de fluoreto de sódio, apesar
A efetividade e as indicações destas for- tradicionalmente, aplicados em intervalos de a concentração exata de fluoreto pre-
mulações não estão claras na literatura. semestrais ou até em intervalos trimestrais, sente no selante não ser inteiramente co-
apesar de as aplicações mais frequentes nhecida pela literatura.
Solução Fluoretada para Bochecho não terem sido claramente mostradas na As cicatrículas e fissuras oclusais de
A solução fluoretada mais conheci- literatura (Clark, 1987). molares e pré-molares são os locais mais
da no Brasil é a solução aquosa e/ou al- Esse método foi descrito para pacien- comuns para o aparecimento de cáries em
coólica contendo fluoreto de sódio a tes com alta atividade de cárie e para os crianças e adolescentes. Estudos sobre as
0,05%, que é geralmente utilizada para que habitam locais onde não existe o aces- estratégias disponíveis para o controle de
bochechos diários. so às águas de abastecimento ou às pastas cáries oclusais têm abordado o uso de
A concentração de 0,05% de flúor pre- fluoretadas (Ismail, 1998). selantes fluoretados (Kaste, 1991). Este
sente na solução é capaz de “atravessar” o Marinho et al. (2001a), em uma revi- método está apoiado por forte evidência
biofilme dentário adjacente ao dente, pro- são sistemática de literatura, afirmam que científica sobre a efetividade na redução
movendo a remineralização e, por isso, não as soluções fluoretadas para bochecho e da cárie oclusal de dentes posteriores na
é necessária uma concentração maior que os géis fluoretados parecem ser efetivos faixa etária descrita acima (Task Force on
esta, recomendam Hossain et al. (2003) em mesmo grau na prevenção da cárie Community Preventive Services, 2002).
através de um estudo clínico randomizado. dentária em crianças. Os selantes fluoretados são indicados
Algumas soluções fluoretadas podem para o selamento de fóssulas e fissuras da
vir combinadas com antissépticos como o Verniz Fluoretado face oclusal de dentes posteriores que
triclosan, o cloreto de cetilpiridínio e os O verniz fluoretado é um verniz que apresentam anatomia complexa em paci-
compostos fenólicos. Os antissépticos fo- contém aproximadamente 5% de fluoreto entes com alta atividade de cárie, em cri-
ram avaliados por Tirapelli e Ito (2003) e de sódio, o que equivale a 2,26% ou anças com necessidades especiais e em
mostraram-se eficazes somente como co- 22.600 ppm de flúor (Food and Drug dentes recém-erupcionados (Fluorniz,
adjuvantes no controle químico do Administration, 1998). 2005).
biofilme dentário. O Center for Disease Control and
Marinho et al. (2004 c), em uma revi- Prevention (2001) afirmou que as evidên- Terapia com Clorexidina
são sistemática de literatura, sugeriram que cias sobre a eficácia dos vernizes com con- A clorexidina pode ser usada contra
o bochecho regular e supervisionado com centrações de flúor em prevenir e contro- uma série de microrganismos patogênicos.
solução de flúor por crianças está associ- lar a cárie dentária em crianças são fortes. Na Odontologia e dentro do grupo dos
ado com uma clara redução no incremen- Este mesmo órgão também publicou re- microrganismos gram-positivos, os
to de cáries. Comparados com grupos con- comendações para o uso do verniz: ele estreptococos mutans, os estreptococos
trole, os programas de bochechos diários, deve ser utilizado em pacientes com alta sobrinus, os lactobacilos e actinomyces
semanais ou quinzenais resultaram em atividade de cárie, de duas a quatro vezes são muito sensíveis a clorexidina. Geral-
uma redução média de 26% de CPO-D. ao ano, o que poderá proporcionar uma mente também se observa uma redução de
Atualmente, com o suprimento de redução significante das cáries, de 30 a microrganismos gram-negativos, como o
flúor das águas de abastecimento e dos 40%. Ele também pode ser uma alternati- actinobacilos, durante o uso desta subs-
cremes dentais fluoretados, esse método va para pacientes que habitam áreas sem tância por períodos superiores a 6 meses
tem sido preconizado para pacientes com fluoretação das águas de abastecimento ou (Matthisjs e Adriaens, 2002).
alta atividade da doença e para os que ha- sem acesso às pastas dentais fluoretadas. A clorexidina é absorvida rapidamen-
bitam locais onde não existe o acesso aos Este recurso para a prevenção da cárie te pela superfície externa do dente e pela
métodos aqui descritos. Também pode ser dentária é seguro, efetivo e pode ser facil- mucosa bucal, sendo depois liberada aos

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400 Rev. ABO Nac. Suplemento nº 1 Vol. 18 nº 1 - Fevereiro/março 2010

poucos (Kjaerheim et al., 1994). Em gran- clorexidina e 1% de timol embebidas em e os géis fluoretados parecem ser efetivos
des concentrações (100 mg/ml = 100 um solvente que geralmente é o etanol. O em mesmo grau na prevenção da cárie
ppm), a clorexidina tem efeito bactericida. verniz, depois de aplicado e depois de eva- dentária em crianças;
Um efeito bacteriostático também pode ser porado o álcool, contém aproximadamen- O verniz de flúor não mostrou ser mais
conseguido em concentrações de 0,11 mg/ te 6,5% de clorexidina e timol. Ambas as efetivo ou superior aos demais métodos
ml (0,11 ppm). substâncias foram aceitas pela American preventivos a base de flúor;
Por causa da particular sensibilidade Dental Association, em 2002, como as O selante resinoso fluoretado está
dos estreptococos do grupo mutans à únicas substâncias para o controle do apoiado por fortes evidências científicas
clorexidina, muitos produtos foram desen- biofilme dentário (Cervitec, 2005). sobre a efetividade na redução da cárie
volvidos à base do quimioterápico para a O uso da clorexidina na prevenção de oclusal em dentes posteriores de crianças;
prevenção da cárie dentária. No Brasil, os cárie tem sido vastamente estudado. Mui- A evidência da eficácia da clorexidina
mais conhecidos são a solução de tos trabalhos mostram uma significante contra a cárie dentária é insuficiente, mas
clorexidina para bochechos e o verniz com redução do número de estreptococos do sugestiva para todas as formas do
clorexidina. grupo mutans na saliva e no biofilme quimioterápico.
Uma revisão sistemática da literatura dentário de diferentes sítios de coloniza-
de Bader et al. (2001), afirma que a evi- ção e em diferentes faixas etárias REFERÊNCIAS
dência da eficácia da clorexidina contra a (Sandham et al., 1991; Schaeken e Ie, 1- Ammari, A. B.; Bloch-Zupan, A.; Ashley,
cárie dentária é insuficiente, mas sugesti- 1993; Bratthall, et al., 1995). A maioria P. F. Systematic review of studies
va para todas as formas do quimioterápico. destes estudos usou o produto em interva- comparing the anti-caries efficacy of
los trimestrais e a indicação foi feita le- children´s toothpaste containing 600 ppm
of fluoride or less with high fluoride
Solução de Clorexidina vando em consideração a alta atividade de
toothpastes of 1000 ppm or above. Caries
para Bochecho cárie. Res. v. 37, p. 85-92, 2003.
A solução mais encontrada no merca- Não há evidências científicas sufici- 2- Bader, J. D.; Shugars, D. A.; Bonito, A. J.
do brasileiro é a solução de digluconato entes para apontar conclusões a respeito A systematic review of selected caries
de clorexidina a 0,12%. A utilização des- da superioridade ou não do verniz com prevention and management methods.
ta solução resulta em uma redução peque- clorexidina sobre o verniz com flúor ou Community Dent Oral Epidemiol. v. 29
na ou moderada dos níveis de outra forma de apresentação de flúor tó- p. 399-411, 2001.
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zados diariamente de 15 até 30 dias e em CONCLUSÕES cosmetics still up to date? Caries Res. v.
pacientes com alta atividade de cárie e a Através de estudos publicados recen- 35, p. 22-25, 2001.
relação de custo-benefício deve ser avali- temente à luz da literatura baseada em evi- 5- Bratthall, D. et. al. A study into the
ada. dências científicas, pode-se concluir que: prevention of fissures caries using an
Reações adversas são inerentes ao uso Há fortes evidências sobre a antimicrobial varnish. Int Dent J. v. 45, p.
frequente desta forma de apresentação da efetividade do consumo racional de açú- 245-254, 1995.
6- Center for Disease Control and
clorexidina, tais como coloração acasta- car no controle dos índices de cárie em
Prevention. Recomndations for using
nhada dos elementos dentários e sensação crianças e adolescentes;
fluoride to prevent and control dental
de falta de paladar. O gosto desagradável Há uma ampla evidência na literatura caries in the United States. Mor Mortal
do produto pode ser uma fonte de resis- sobre a efetividade da escovação com cre- Wkly Rep. v. 50, p. 1-42, 2001.
tência por parte de crianças e adolescen- mes dentais fluoretados na prevenção da 7- Cervitec. Product Presentation
tes, fato pelo qual a clorexidina para cárie dentária em crianças e adolescentes; Documentation. Liechtenstein: Vivadent,
bochecho não ser frequentemente utiliza- A efetividade dos cremes fluoretados 2005.
da por essa faixa etária (Emilson, 1994). é concentração-dependente; 8- Clark, D. C. et. al Fluoride varnish study.
A efetividade e as indicações dos J Canad Dent Assoc. v. 12, p. 90-93, 1987.
Verniz de Clorexidina cremes dentais com baixo teor ou sem 9- Costa, I. C. C. et. al Prevenção em odon-
O verniz de clorexidina mais conheci- flúor para crianças, não estão claras na tologia, uma questão de atitude: um para-
lelo entre os serviços público e privado
do no Brasil contém uma combinação de literatura;
de Natal-RN. Rev Uni Met Piracicaba. v.
substâncias ativas: 1% de diacetato de As soluções fluoretadas para bochecho

Antunes, Denise Espíndola et al. Práticas preventivas para o controle da cárie dental - Estágio atual *
Vol. 18 nº 1 - Fevereiro/março 2010 Rev. ABO Nac. Suplemento nº 1 401

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402 Rev. ABO Nac. Suplemento nº 1 Vol. 18 nº 1 - Fevereiro/março 2010

Estudo dos materiais e métodos de higiene oral


estabelecidos para o portador de prótese
Materials and methods for buccal hygiene established for denture users

Palavras-chaves: Higiene bucal. Prevenção. Prótese dentária.


Key words: Oral hygiene. Prevention. Dental prosthesis.

Eduardo Passos Rocha* RESUMO


Lígia Del’ Arco Pignatta Cunha** Esse estudo avaliou os materiais e métodos de higiene oral utilizados por 40 cirur-
Eduardo Piza Pellizzer* giões-dentistas na cidade de Araçatuba (SP). Utilizou-se um questionário com 16 per-
guntas sobre a atuação do profissional envolvendo o aspecto preventivo do tratamento
odontológico com prótese. Verificou-se que as instruções são dadas basicamente no
momento da instalação, baseadas no uso da escova dental e dos dentifrícios convencio-
nais. Não houve uniformidade na escolha dos produtos comerciais auxiliares à
higienização, sendo que 50% dos entrevistados acreditam que a instalação das próteses
total e removível influenciam nos níveis diferenciados de cárie e placa bacteriana. Con-
cluiu-se que o profissional apresenta conhecimento reduzido a respeito da eficácia dos
materiais e métodos que auxiliam a higiene oral, com critérios de escolha mal defini-
dos.

ABSTRACT
The present study evaluated the materials and methods used for 40 professionals in
the city of Araçatuba-SP. For this, a questionnaire with 16 questions was used about
clinical preventive aspects. As results, was verified that the instructions basically occurred
at the moment of the installation, based on the tooth brush and dentifrice. Didn’t have
uniformity for the choice of the commercial products, as well deficiency in relation to
particularity and efficiency of the products; 50 % believe that the partial or total denture
influences the diferenciated plaque and caries levels. In conclusion, the professional
presents a knowledge reduced about the efficient materials and methods to assist the
buccal hygienic, with criteria of choice badly defined, being outdated in relation to the
health promotion concepts for the denture user.

INTRODUÇÃO Mihalow e Tinanoff12, 1989; Rocha et al.15,


Em Odontologia, o uso de prótese é 2003).
fator potencialmente capaz de influenciar Devido a isso, condutas preventivas
negativamente o acúmulo de placa específicas são direcionadas para o porta-
bacteriana, a incidência da cárie dental, e dor de prótese, com o objetivo de manter
o estabelecimento de uma microbiota a saúde e a integridade das estruturas de
patogênica uma vez que o processo de suporte, com baixos índices de cárie e pla-
* Professor Assistente Doutor do Departamen-
to de Materiais Odontológicos e Prótese da acúmulo de placa é semelhante ao da den- ca (Keltjens et al.11, 1987; Rocha et al.15,
Faculdade de Odontologia de Araçatuba da tição natural, e parte da literatura afirma 2003), principalmente quando o paciente
Universidade Estadual Paulista. que a prótese atua como nichos de reten- encontra-se pobremente motivado.
** Doutoranda do Departamento de Materiais ção, dificultando o processo de Neste sentido, a clorexidina em gel
Odontológicos e Prótese da Faculdade de
Odontologia de Araçatuba da Universidade higienização (El Ghamrawy9, 1976; Addy tem se mostrado um eficiente agente para
Estadual Paulista. E Bates 1, 1979; Morris et al.13, 1987; redução drástica de microrganismos

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Vol. 18 nº 1 - Fevereiro/março 2010 Rev. ABO Nac. Suplemento nº 1 403

Quadro 1 – Recomenda o uso de Quadro 2 – Em que período do tratamento realiza instruções de


produtos comerciais? Quais? higienização e de que maneira?
PTotal % Uma Resposta Combinação
SIM 62,16
Durante o tratamento 11 13
NÃO 37,84
Na instalação 9 13
hipoclorito 35,13
Após a instalação 1 14
peróxido 8,10
detergentes 16,21
Verbal 12 18
outros 8,10
Escrita 0 5
PPRemovível %
Demonstração/Manequim/Modelo 10 14
SIM 59,46
NÃO 40,54 prótese, e 79,19% apresentaram um qua- os casos envolvendo Prótese Total, Prótese
hipoclorito 35,13 dro clínico de higiene bucal insatisfatório. Fixa e Prótese Parcial Removível
 Indicação para a remoção noturna
peróxido 10,81 PROPOSIÇÃO da prótese
detergentes 13,51 Dessa forma o intuito do presente es-  Padrão de higiene quando da pre-
tudo é avaliar a conduta dos cirurgiões- sença de fixadores de prótese ou bases
outros 8,10 dentistas frente aos materiais e métodos resilientes
PPFixa % adotados em pacientes submetidos a tra-  Proservação. Frequência para casos
tamento odontológico com prótese, na ci- envolvendo Prótese Total, Prótese Fixa e
SIM 57,50 dade de Araçatuba-SP, bem como realizar Prótese Parcial Removível
NÃO 42,50 uma análise crítica dos métodos presentes  Ponto de vista sobre o fato de que as
na literatura, confrontando-os com próteses total e parcial removível favore-
hipoclorito 2,50 metodologias mais recentes. cem diretamente o acúmulo de placa e a
peróxido 10,00 incidência diferenciada de cárie
MATERIAIS E MÉTODOS Com o objetivo de manter elevada a
detergentes 2,50 Após aprovação do projeto pelo co- amostragem da pesquisa, o questionário
outros 52,50 mitê de ética em humanos (Processo-2001/ foi entregue diretamente ao profissional
0386), o trabalho foi desenvolvido em 40 em um envelope, sem identificação, con-
consultórios odontológicos particulares de tendo também o Termo de Consentimento
cariogênicos, como os estreptococos do especialistas em prótese dental, ou clíni- Esclarecido em duas cópias.
grupo mutans (Rocha et al.15, 2003), esta- cos gerais que atuam na área de prótese, No momento da entrega do envelope,
belecendo condições favoráveis à manu- na cidade de Araçatuba (SP), com o auxí- o profissional recebia todas as informa-
tenção da saúde e integridade das estrutu- lio de um questionário envolvendo: ções pertinentes à pesquisa, e aceitando
ras suportantes.  Graduação: ano e faculdade participar, assinava o Termo de Consenti-
Entretanto, dados clínicos recentes  Área de atuação mento Esclarecido, permanecendo com a
(Cunha et al.7, 2004) mostram que o usu-  Realização de trabalhos envolvendo outra cópia para fins de conferência.
ário de prótese total ou parcial removível prótese Após o preenchimento do questioná-
apresenta deficiências no conhecimento e  Instruções de higiene bucal ofereci- rio, o profissional foi instruído a colocá-
aplicação dos conceitos que regem a da ao paciente: período (antes, durante ou lo dentro do envelope, lacrando este. Es-
higienização da(s) prótese(s), sugerindo após a conclusão do tratamento) e manei- tabeleceu-se um prazo médio de 15 dias
que o mesmo não recebe instrução algu- ra (verbal, escrita, demonstração) para o recolhimento dos envelopes. Este
ma ou se recebe, esta não é aplicada, uma  Materiais recomendados para processo ocorreu aleatoriamente, sendo re-
vez que 84,39% dos 189 pacientes entre- higienização da Prótese Total, Prótese Fixa colhido periodicamente, mantendo-se fe-
vistados relataram não ter recebido ne- e Prótese Parcial Removível chado em conjunto aos demais.
nhum tipo de instrução para higiene da  Produtos comerciais de eleição para Iniciou-se o levantamento dos resul-

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404 Rev. ABO Nac. Suplemento nº 1 Vol. 18 nº 1 - Fevereiro/março 2010

tados após a coleta do último envelope, Gráfico 1 – Com que material recomenda a higienização das próteses totais (%)?
sendo realizada de maneira aleatória, ga-
rantindo o anonimato do profissional, fo-
mentando o aspecto ético da pesquisa.

RESULTADOS
Os resultados foram tabulados e estão
dispostos nos Quadros 1 e 2 e nos Gráfi-
cos 1 a 11, a seguir:

DISCUSSÃO
Os resultados da presente pesquisa
evidenciam a deficiência do cirurgião-den-
tista em indicar materiais e métodos de hi-
giene adequados para o portador de
prótese.
As respostas, via de regra, não apre-
sentavam embasamento científico, quan- Gráfico 2 – Com que material recomenda a higienização das próteses
do muito eram alicerçadas em estudos an- parciais removíveis (%)?
tigos, em desacordo aos trabalhos recen-
tes como os de Keltjens et al.11 (1987) e
Rocha et al.15 (2003), os quais apesar de
utilizarem protocolos diferenciados, apon-
tam para o fato da necessidade de adotar
condutas quimioprofiláticas nos pacientes
usuários de prótese total (PT) e prótese
parcial removível (PPR), e neste sentido
o digluconato de clorexidina, na forma de
gel, atua como um agente promissor e efi-
ciente na manutenção de baixos índices de
microrganismos, precisamente sobre os
estreptococos do grupo mutans, e de pla-
ca bacteriana, promovendo saúde bucal.
O uso do hipoclorito de sódio como
auxiliar na higienização de próteses to-
tais ou parciais removíveis, produto Gráfico 3 – Com que material recomenda a higienização das próteses
mais recomendado pelos cirurgiões den- parciais fixas (%)?
tistas no presente estudo (Quadro 1),
apesar de simples, requer cuidados e al-
gumas considerações.
É estabelecido que uma solução de
hipoclorito de sódio a 50% pode remover
mucina e outros depósitos orgânicos acu-
mulados sobre a superfície da prótese, en-
quanto concentrações de 5 a 25% podem
apresentar algum efeito asséptico, com re-
dução no número de microrganismos
(Keltjens et al.11, 1982).
Porém, o dente artificial e a base de
resina acrílica podem se tornar opacas,
além do risco de halitose e complicações
gástricas ao paciente, em decorrência da

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ingestão contínua, uma vez que o Gráfico 4 – Tem preferência por algum produto comercial (%)?
hipoclorito infiltra-se em camadas mais
profundas da base de resina acrílica, não
sendo, portanto, facilmente removido com
um simples banho em água, fazendo da
base de resina um nicho de retenção para
liberação contínua no meio bucal. Além
disso, está contra-indicado para uso em
próteses com metal (Backenstonse e
Wells2, 1977), por provocar o fenômeno
da corrosão.
Neste sentido, mesmo com o desen-
volvimento de produtos e técnicas para
uma limpeza mais efetiva da prótese, o
uso de escovas dentais em associação aos
dentifrícios convencionais foram os ma-
teriais mais indicados (aproximadamen-
te 30% - PT; 37,5% - PPR; 40% - PPF) Gráfico 5 – O uso de fixadores implica em mudança no
(Gráficos 1, 2 e 3), em detrimento da in- padrão de higiene (%)?
dicação do sabão neutro, ou do detergente
biológico, ou de dentifrícios específicos
com reduzida abrasividade, e escova
macia para prótese.
A utilização da escova dental e do
dentifrício convencional, além de não as-
segurar uma higienização eficaz, como
observado por Rocha et al.15, 2003, pro-
move rugosidades na superfície da
prótese; e a despeito da alta abrasividade
do dentifrício que, se por um lado, pode
aumentar a eficácia na remoção dos de-
tritos e principalmente dos mancha-
mentos (Murray et al.14, 1998), por ou-
tro lado, favorece o acúmulo diferencia-
do de biofilme sobre a mesma, pois pro-
move um aumento da rugosidade super- Gráfico 6 – O uso de resinas “soft” implica em mudança no
ficial (apresenta em média 1 a 12µm de padrão de higiene (%)?
espessura), potencializando o acúmulo de
placa bacteriana, quando cocos e leve-
duras apresentam dimensão média de 1 e
5µm, respectivamente.
Esse fato é negligenciado clinicamen-
te porque o dano representado pela alte-
ração da rugosidade superficial não é per-
ceptível pelo profissional, e o acúmulo
diferenciado de biofilme decorrente des-
ta característica pode ser erroneamente
associado aos hábitos precários de higi-
ene por parte do paciente, justificando o
fato de que 79,35% dos pacientes que uti-
lizaram escova dental e dentifrícios para
a higienização encontravam-se insatisfei-

Rocha, Eduardo Passos et al. Estudo dos materiais e métodos de higiene oral estabelecidos para o portador de prótese
406 Rev. ABO Nac. Suplemento nº 1 Vol. 18 nº 1 - Fevereiro/março 2010

tos e dispostos a utilizar métodos mais Gráfico 7 – Indica a remoção noturna da prótese (%)?
eficazes (Cunha et al.7, 2004).
Deve-se destacar que um sistema
abrasivo é essencial para garantir a lim-
peza e o polimento dos dentes; mas ao
mesmo tempo deve haver um limite,
como apontado por Cury8 (2002), o qual
afirma que quando um abrasivo de igual
dureza é utilizado, escovas de cerdas du-
ras provocam maior desgaste que as
cerdas média ou macia.
Em relação aos métodos populares de
higienização empregados por portadores
de PT ou PPR, acredita-se que os usuári-
os não realizam a higiene de forma efi-
caz, provavelmente como resultado do
aconselhamento incorreto durante a fase
de instrução para higienização da prótese, Gráfico 8 – Após a instalação, em que momento se dá o primeiro retorno
concordes a Jagger e Harrison10 (1995), em prótese total (%)?
e pelo fato dos profissionais, na maioria
das vezes, instruírem os pacientes durante
a instalação da prótese e de forma unica-
mente verbal, possibilitando o não enten-
dimento e/ou o esquecimento das instru-
ções pelo paciente (Quadro 2).
Quanto à opinião dos entrevistados a
respeito dos procedimentos de
higienização indicados quando da utili-
zação de fixadores de próteses ou bases
resilientes, aproximadamente 35% não
soube citar tais procedimentos, e 30%
afirmou não ter necessidade de modifi-
car o padrão de higiene (Gráficos 5 e 6),
apesar de estar estabelecido que os pro-
cedimentos para tais casos sofrem modi-
ficação, seja para a manutenção das pro- Gráfico 9 – Após a instalação, em que momento se dá o primeiro retorno
priedades e preservação máxima do ma- em prótese parcial removível (%)?
terial, no caso das resinas resilientes, ou
o inverso, com uma ação mais vigorosa
para os casos envolvendo fixadores de
prótese, os quais, via de regra, apresen-
tam grande capacidade adesiva à super-
fície da prótese e às mucosas.
Em relação à questão de indicar ou
não a remoção noturna da prótese, há que
se considerar o impasse fisiológico e psi-
cológico. Apesar de não existirem estu-
dos recentes que contraindiquem a remo-
ção noturna da prótese pelo aspecto fisi-
ológico (redução do potencial para a
reabsorção óssea, favorecendo a
vascularização dos tecidos suportes),

Rocha, Eduardo Passos et al. Estudo dos materiais e métodos de higiene oral estabelecidos para o portador de prótese
Vol. 18 nº 1 - Fevereiro/março 2010 Rev. ABO Nac. Suplemento nº 1 407

aproximadamente 40% dos entrevistados Gráfico 10 – Após a instalação, em que momento se dá o


acredita que a prótese deva permanecer primeiro retorno em prótese parcial fixa (%)?
em uso durante a noite (Gráfico 7) por
valorizarem o aspecto psicológico, em
virtude da segurança que o paciente apre-
senta com o uso da prótese, a qual é vista
como o próprio dente natural.
Quando questionados sobre o fato de
que a presença da PT ou PPR por si só
favorecia o acúmulo de placa e a incidên-
cia diferenciada de cárie, 50% dos pro-
fissionais respondeu positivamente (Grá-
fico 11), em desacordo ao trabalho clás-
sico de Bergman et al.3 (1995), com 25
anos de controle envolvendo a PPR, os
quais afirmam que esta por si só não é
fator etiológico de cárie e
periodontopatias, sendo um procedimen-
to válido, e por vezes o único possível, Gráfico 11 – Acredita que o uso de prótese total ou prótese parcial removível favo-
para pacientes com redução acentuada de reça o acúmulo da placa ou a incidência de cárie diferenciada (%)?
dentes, sendo que um tratamento bem
conduzido, auxiliado pelo controle de
higiene do paciente através de retornos
periódicos para reavaliação, e por apli-
cações profiláticas de flúor e reforço das
noções básicas de higiene bucal, mantém
a saúde das estruturas bucais por um lon-
go período de tempo.
O digluconato de clorexidina, na for-
ma de gel a 1%, também atua como um
agente eficiente na manutenção de bai-
xos índices de microrganismos, precisa-
mente sobre os estreptococos do grupo
mutans, e de placa bacteriana, tendo su-
cesso clínico comprovado pelo estudo de
Rocha et al.15 (2003), os quais afirmam
que o tratamento intensivo com gel de endodôntico, e o contrário ocorrendo para ma maneira, representa o fato de que o
clorexidina apropriadamente formulado as próteses total e removível, que exigem profissional requer muito do tratamento
foi efetivo na redução de estreptococos o primeiro retorno 24 horas após a insta- com PPR sem, entretanto, oferecer a de-
do grupo mutans, entre 24 horas e 82 dias lação, pela possibilidade de trauma dire- vida atenção nas fases de tratamento.
após a aplicação do mesmo. to aos tecidos moles. Diante disto, consideramos que a
Por sua vez, os profissionais demons- Tendo em vista o esforço científico e maioria dos cirurgiões-dentistas apresen-
traram falta de uniformidade na determi- os conceitos que regem a promoção de ta um conhecimento reduzido, com cri-
nação da periodicidade dos retornos nos saúde bucal, bem como a realização de térios de escolha mal definidos para a
casos de próteses total, removível e fixa procedimentos laboratoriais mais preci- seleção dos produtos e métodos de higi-
(Gráficos 8, 9 e 10), demonstrando au- sos, a manutenção da ideia de que a PPR ene bucal, evidenciando desatualização
sência de critérios bem definidos para atua como uma prótese temporária, cau- frente ao aspecto preventivo do tratamen-
cada caso. O primeiro retorno foi estabe- sando cárie e doença periodontal, nada to odontológico com prótese.
lecido, para todos os casos, após 7 dias, mais representa do que o total desconhe-
apesar de saber-se, por exemplo, que nos cimento de técnicas especificamente CONCLUSÕES
casos de próteses fixas, esse retorno pode direcionadas para a manutenção da saú-  Os materiais mais utilizados para a
ser maior, principalmente sob o aspecto de bucal do portador de prótese. Da mes- higienização das próteses foram o denti-

Rocha, Eduardo Passos et al. Estudo dos materiais e métodos de higiene oral estabelecidos para o portador de prótese
408 Rev. ABO Nac. Suplemento nº 1 Vol. 18 nº 1 - Fevereiro/março 2010

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Rocha, Eduardo Passos et al. Estudo dos materiais e métodos de higiene oral estabelecidos para o portador de prótese
Vol. 18 nº 1 - Fevereiro/março 2010 Rev. ABO Nac. Suplemento nº 1 409

Dente de Turner - Aspectos histológicos e clínicos


Turner’s tooth - Clinical and histological aspects

Palavras-chave: Hipoplasia do esmalte dental. Odontopatias. Dente de Turner.


Key words: Enamel hypoplasia. Tooth diseases. Turner’s tooth.

Henrique de Souza Barcelos * RESUMO


Cláudia Valéria de Sousa Resende Os defeitos do esmalte dental são definidos como alterações na sua estrutura, qua-
Penido ** litativos ou quantitativos, resultantes de distúrbios ocorridos durante a amelogênese. O
Roberval de Almeida Cruz** dente de Turner é um tipo de defeito hipoplásico de dente permanente, resultante de
injúrias traumáticas ou infecciosas nos dentes decíduos antecessores. A hipoplasia apre-
senta aspecto clínico variado, dependente da intensidade, duração da agressão e da fase
ameloblástica em que ocorreu. É necessário o seu tratamento, diante de e sensibilidade
dentinária consequentes. Este trabalho tem por objetivo revisar a literatura sobre a
hipoplasia de Turner, enfatizando sua etiologia, lesões cariosas, risco de futuras lesões,
comprometimento estético prevalência, aspecto clínico, tratamento e os cuidados as
serem tomados na clínica diária.

ABSTRACT
The defects of enamel are defined as alterations in its structure, qualitative or
quantitative as a result of a disturbance in the ameloblast cells during the amelogenesis.
The Turner’s tooth is a hypoplasic defect in the enamel permanent’s tooth, resulting of
traumatics or infectious injuries in the predecessor primary tooth. This hyploplasia
presents a clinic aspect very assorted, depending on the intensity, duration on the injury
and on the ameloblast fase where it occurred. The treatment becomes necessary in front
of caries injuries, risk of future injuries, aesthetic compromising and dentinary sensitivity.
This work have the objective to do a critical review of the literature about Turner’s
hypoplasia, emphasizing its etiology, prevalence, clinical aspect, treatment and the cares
to be taken front to these alterations in its daily clinic.

INTRODUÇÃO ameloblastos, durante a formação do es-


A hipoplasia do esmalte dental é uma malte, detenha a aposição da matriz e pro-
das alterações mais frequentemente obser- duza hipoplasia.5,15
vadas em ambas as dentições. É definida As anormalidades da estrutura do es-
como a quantidade de defeitos externos malte resultam de alterações durante o es-
identificados visual e morfologicamente tágio de histodiferenciação, aposição e
que envolve a superfície do esmalte den- mineralização.5 Assim, a hipoplasia só pro-
tal, podendo estar relacionada com a re- duz-se durante o desenvolvimento
dução da sua espessura, resultante da for- dentário. Estando o dente formado, não
mação incompleta ou defeituosa da ma- poderá haver mais a produção do defeito.3
triz orgânica. Trata-se de um defeito con- Tal situação poderá também afetar a den-
* Cirurgião-dentista pela Faculdade de Odon- gênito, provocado por fatores ambientais, tição decídua. Porém, suas manifestações
tologia da Pontifícia Universidade Católica tanto de natureza sistêmica quanto local clínicas são mais suaves, posto que é mais
de Minas (PUC-Minas)
** Professores Adjuntos da Faculdade de Odon- e, ainda, de caráter idiopático. É possível curto o período de sua formação e menor
tologia da PUC-Minas que qualquer transtorno capaz de lesar os é a espessura do esmalte dental5,14

Barcelos, Henrique de Souza et al. Dente de turner - Aspectos histológicos e clínicos


410 Rev. ABO Nac. Suplemento nº 1 Vol. 18 nº 1 - Fevereiro/março 2010

Um dos tipos mais comuns de serem mais susceptíveis aos Em hipoplasias mais severas opta-se por
hipoplasia de esmalte é o denominado den- traumatismos físicos3. restaurações diretas com materiais adesi-
te de Turner.1 O nome da lesão é referên- A hipoplasia de esmalte localizada vos ou restaurações indiretas como as
cia ao dentista clínico cujas publicações pode envolver apenas um dente e sua ex- facetas ou coroas metalocerâmicas, visan-
fizeram com que este problema fosse lar- tensão e natureza podem variar de grau, do o restabelecimento funcional e estéti-
gamente reconhecido.11 dependendo da intensidade e duração da co favorável. Hipoplasias do esmalte se-
O dente de Turner é um exemplo clás- agressão, e em que fase ameloblástica ela veras devem ser tratadas assim que o den-
sico de defeito hipoplásico em dentes per- ocorreu5,10,11. Clinicamente, a hipoplasia de te erupcionar, evitando que a progressão
manentes, resultante de infecção ou esmalte dental pode se apresentar como das lesões de cárie chegue a atingir a pol-
traumatismo local no antecessor decíduo. pequenas manchas, ranhuras, fissuras, inú- pa12.
O traumatismo dentário que provoca meros sulcos ou rugas verticais, fossetas É de grande relevância a realização do
intrusão do dente decíduo pode interferir ou linhas transversais, lascas ou depres- diagnóstico precoce, a fim de que sejam
na formação ou mineralização da matriz sões em sua superfície, podendo haver instituídos: o pronto atendimento, as me-
do dente permanente. Além disto, a exis- também ausência parcial ou completa da didas preventivas e a resolução mais rápi-
tência de dentes decíduos infectados, mes- estrutura mineralizada. São observadas al- da do problema. O grande desafio no tra-
mo quando assintomáticos, também acar- terações de cor, variando de amarelo-cla- tamento da patologia é realizar a reabili-
retam defeitos hipoplásicos no dente su- ro a castanho-escuro, dependendo da tação que promova a completa
cessor. Os dentes permanentes podem translucidez na superfície do dente e na reconstituição estética, restabeleça a fun-
apresentar sequelas de diferentes tipos, espessura do esmalte1,5,6,7,10,17. ção mastigatória, mantendo a correta di-
sendo mais comuns os defeitos O significado clínico das hipoplasias mensão dos arcos dentários, além de eli-
hipoplásicos e de mineralização no terço de esmalte inclui estética desfavorável, minar a sensibilidade dentinária e
incisal da coroa, quando os dentes encon- sensibilidade dentinária aumentada, má consequentemente a dor do paciente5,7,16.
tram-se nos estágios iniciais de desenvol- oclusão, bem como aumento de predispo-
vimento, ou até alterar a vida normal de sição à cárie dentária1,5,6,10,11,12,16,17. Clini- RELATO DO CASO CLÍNICO
erupção dentária. A inflamação gerada camente, os dentes hipoplásicos não são Paciente G.V.C.C., 8 anos e 2 meses
pelo trauma propicia o acúmulo de mais susceptíveis à doença cárie do que de idade, gênero masculino, compareceu
neutrófilos na área do germe do dente per- os dentes normais, mas é natural que es- à clínica de Odontopediatria da Faculda-
manente, desencadeando estímulo à dis- tas se instalem com mais facilidade em de de Odontologia da PUCMinas, quei-
solução do epitélio reduzido do órgão do áreas de esmalte defeituoso, onde a dentina xando-se da estética dos dentes anterio-
esmalte, gerando os defeitos pode estar exposta4. res, que nasceram com “defeito”.
hipoplásicos2,4,8,9,11,15. O diagnóstico das alterações estrutu- Durante a anamnese, a responsável
A ocorrência da infecção pulpar de- rais dos dentes é efetuado através dos exa- pelo paciente relatou que aos 18 meses
corrente de lesão cariosa, durante o perío- mes clínicos minuciosos e radiográficos. de idade, o paciente sofreu queda e ba-
do de formação da coroa do sucessor per- Os dentes afetados possuem sinais teu a boca em um tijolo. Houve a
manente, poderá se estender ao tecido patognomônicos característicos. As obser- intrusão do dente 51, sendo que o 61
periapical, perturbando a camada vações radiográficas são importantes, uma ficou com certa mobilidade. Após a que-
ameloblástica do dente permanente e pro- vez que alterações na forma e tamanho das da foi realizado somente o
piciando a formação da alteração raízes são encontradas com frequência3. aconselhamento e o acompanhamento
hipoplásica. A infecção desestimula o de- Quando houver a presença de cavida- do paciente por quem o atendeu. Poste-
senvolvimento da parede fibrosa que cir- des cariosas ou risco de desenvolvimento riormente, o dente 51 intruído
cunscreveria a lesão, propagando-se de futuras lesões, comprometimento esté- reerupcionou e esfoliou. Quando da
difusamente pelo osso em torno do germe tico ou sensibilidade dentinária, torna-se erupção dos dentes 11 e 21, a mãe ob-
do dente sucessor, afetando a camada pro- necessário o tratamento restaurador1,3,12. O servou manchas e perda de estrutura
tetora do esmalte. A gravidade da tratamento depende do grau de compro- dentária em ambos.
hipoplasia dependerá da gravidade da in- metimento e deve levar em consideração Ao exame clínico, verificou-se que o
fecção, do grau de envolvimento tecidual o que é melhor para cada caso, sua indica- elemento 11 apresentava-se estruturalmen-
e da fase de formação do dente permanen- ção, além respeitar a limitação de cada tipo te displásico, podendo ser observadas al-
te, durante a qual ocorreu a infecção11. de tratamento, que varia desde aqueles terações de cor, variando de castanho-cla-
A hipoplasia de Turner ocorre com mais conservadores até os restauradores ro a amarelo-escuro, alterações de forma
maior frequência na região dos pré-mo- protéticos. Os conservadores são os no terço médio e incisal, com presença de
lares, devido à maior ocorrência de le- clareamentos, as macroabrasões e as sulcos, depressões e perda parcial de es-
sões cariosas e incisivos superiores, por microabrasões com pastas ácido-abrasivas. malte na face vestibular. Ainda não havia

Barcelos, Henrique de Souza et al. Dente de turner - Aspectos histológicos e clínicos


Vol. 18 nº 1 - Fevereiro/março 2010 Rev. ABO Nac. Suplemento nº 1 411

a erupção completa do dente, impossibili- res, vestíbuloproximal, linguoproximal, hipoplásicos varia consideravelmente.
tando a avaliação de seu terço cervical. O incisal e embrasuras (Figuras 4 e 5). Além de exigir a manutenção de bom pa-
elemento 21 também se apresentava O tratamento proporcionou o drão de higiene bucal, até que se possam
hipoplásico, com alterações de cor e for- restabelecimento da estética e função, além executar os procedimentos necessários, há
ma semelhantes ao antímero, porém so- de eliminar a sensibilidade reclamada ini- necessidade de preservar os elementos
mente localizada no terço incisal da face cialmente (Figura 6). A responsável foi afetados, através restaurações e próteses
vestibular e de maneira mais branda (Fi- orientada para o retorno do paciente, pos- essenciais para sua função. Em relação aos
gura 1). sibilitando os controles clínico e materiais restauradores, para os dentes an-
Radiograficamente pode ser observa- radiográfico necessários. teriores são indicadas resinas compostas
da perda de estrutura dentária no terço Após 6 meses o paciente retornou, sen- ou facetas de porcelana e para os posteri-
médio e incisal do dente 11, e no terço do verificado que os dentes afetados havi- ores, ionômero de vidro, resinas compos-
incisal do dente 21 conforme o exame clí- am erupcionado completamente e as res- tas, amálgama de prata e, até mesmo, co-
nico. Na radiografia panorâmica observou- taurações estavam em boas condições (Fi- roas de aço pré-fabricadas, definitiva ou
se também a agenesia dos dentes 35 e 45 gura 7). provisoriamente, até que restaurações me-
(Figuras 2 e 3). tálicas fundidas possam ser cimentadas19.
Por meio das informações obtidas na DISCUSSÃO O tratamento indicado para o pacien-
anamnese, exame clínico e radiográfico, Por ser a hipoplasia no esmalte dental te em tela constou de restaurações diretas
foi estabelecido o diagnóstico de uma das alterações mais frequentes obser- em resina composta fotopolimerizável nos
hipoplasia de Turner nos dentes 11 e 21, vadas nas dentições, seu diagnóstico apre- dentes envolvidos, proporcionando o
tendo como fator etiológico o traumatismo senta algumas dificuldades por não ter apa- restabelecimento estético e funcional,
sofrido pelo paciente. O paciente apresen- rência específica dos defeitos resultantes além de diminuir drasticamente a sensi-
tava comprometimento estético, sensibi- de diversos agentes etiológicos. Os defei- bilidade dentinária do paciente, estando
lidade dentinária e risco futuro de ativida- tos hipoplásicos devem ser diferenciados de acordo com o que é usualmente reco-
de de cárie nos dentes envolvidos. de outras lesões do esmalte dental, como mendado.
O plano de tratamento indicado para a mancha branca decorrente da cárie, de-
o paciente foi a realização de restaurações vido à sua localização e condições da ca- CONCLUSÃO
diretas com resinas compostas vidade oral. O esmalte também pode estar O dente de Turner caracteriza-se como
fotopolimerizáveis nos dentes 11 e 21. “mascarado” e ter o diagnóstico dificulta- defeito hipoplásico no esmalte dental, re-
Realizou-se a seleção de cores e das resi- do pela presença de saliva, biofilme, in- sultante de injúrias traumáticas ou infec-
nas compostas a serem utilizadas, optan- correta iluminação e, ainda, ser confundi- ciosas nos dentes decíduos antecessores.
do-se pela utilização de resina Durafill do com os efeitos da cárie dental, atrição Esta hipoplasia acomete principalmente
OA2® – opaca (Heraeus Kulzer) primei- e perda traumática de estrutura dentária10. os incisivos superiores, por serem os mais
ramente, seguida de resina Z 250 A2® e Z A hipoplasia de Turner é defeito afetados por traumas físicos e os pré-mo-
250 A1® (3M). Após a seleção das resi- hipoplásico do esmalte decorrente de in- lares devido a maior ocorrência de lesões
nas, foram seguidos os seguintes passos fecção localizada ou injúria traumáti- cariosas nos molares decíduos
clínicos: 1) Preparo cavitário dos dentes ca8,9,11,15,16. Tal defeito favorece o desen- antecessores. O diagnóstico é dado atra-
11 e 21; 2) Isolamento absoluto; 3) Lim- volvimento mais rápido do processo vés do aspecto clínico e da anamnese, sen-
peza da cavidade com clorexidina a 2%; carioso, uma vez que a morfologia anor- do de grande relevância o diagnóstico pre-
4) Condicionamento com ácido mal e suas irregularidades, cavidades e coce, a fim de que seja realizado o pronto
ortofosfórico a 37%, por 15 segundos em sulcos possibilitam a maior retenção me- atendimento e a resolução mais rápida do
dentina/esmalte; 5) Lavagem e secagem da cânica das bactérias, facilitando a sua co- problema. O tratamento é necessário de-
cavidade; 6) Aplicação do adesivo; 7) Re- lonização, além de comprometer a estéti- vido ao risco de lesões cariosas, desen-
moção dos excessos; 8) Fotopolimerização ca dental, aumentar a sensibilidade volvimento de futuras lesões, comprome-
com luz halógena por 20 segundos; e, 9) dentinária e favorecer más timento estético e sensibilidade
Inserção da resina composta pela técnica oclusões 1,5,6,10,11,12,13,14, 16,19,20. Os dentes dentinária, tendo como objetivo o
incremental. Na sessão seguinte foi reali- hipoplásicos não são mais susceptíveis à restabelecimento completo da estética e
zado acabamento e o polimento das res- cárie dental do que os dentes normais, mas da função mastigatória do paciente.
taurações, com pontas diamantadas, tiras é natural que estas se instalem com mais REFERÊNCIAS
de lixa de poliéster e discos de lixa flexí- facilidade em áreas de esmalte defeituo- 1. Affonso BO, Rezende Gs, Volschan Bcg.
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Barcelos, Henrique de Souza et al. Dente de turner - Aspectos histológicos e clínicos


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Barcelos, Henrique de Souza et al. Dente de turner - Aspectos histológicos e clínicos


Vol. 18 nº 1 - Fevereiro/março 2010 Rev. ABO Nac. Suplemento nº 1 413

Frenectomia lingual em bebê recém-nascido - Relato de


caso clínico
Newborn baby’s lingual frenuloplast - Case clinic report

Palavras-chave: Recém-nascido. Anquiloglossia. Aleitamento. Frenectomia.


Key words: Infant newborn. Ankyloglossia. Breastfeeding. Frenuloplasty.

Maria Cristina Padovani* RESUMO


Maria Salete Corrêa** O presente artigo relata o caso clínico de frenectomia lingual de um bebê recém-
Renata Guaré*** nascido que apresentava dificuldade no aleitamento materno. Removidos os possíveis
Danilo Antonio Duarte**** fatores inerentes à mãe que poderiam interferir negativamente na amamentação, foi
observado a presença de freio lingual curto no recém-nascido, o que dificultava a pro-
jeção lingual.

ABSTRACT
The present article reports the clinical case of a newborn baby’s lingual
frenuloplasty that presented difficulty in the breastfeeding. Removed the possible inherent
factors to the mother that they could interfere negatively in the breastfeeding, the presence
of tight lingual frenulum it was observed in the infant newborn, what hindered the
lingual projection.

INTRODUÇÃO como ginecologistas, obstetras, pediatras,


Sabe-se que o aleitamento mater- enfermeiros, odontopediatras e
no fornece vantagens sobre o aleitamento fonoaodiólogos.
artificial, do ponto de vista nutricional, A indicação ou não do tratamento ci-
imunológico, de desenvolvimento rúrgico para a anquiloglossia, frenectomia
neuromuscular, ósseo, inclusive psicoló- lingual, dependerá se esta manifestação
gico. Por isso o incentivo ao aleitamento está impedindo o aleitamento natural. Jun-
materno está sendo globalizado, através de tamente com o pediatra pode-se observar
ações governamentais, em campanhas de se a criança está ou não ganhando peso, e
saúde. se a causa é a anquiloglossia, impedindo
Há alguns fatores que podem dificul- a apreensão da mama com eficiência.
tar ou mesmo impedir o aleitamento natu-
ral, alguns inerentes à mãe: má formação REVISÃO DE LITERATURA
das glândulas mamárias, obstrução dos A anquiloglossia é uma anomalia de
ductos mamários, portadoras de doenças desenvolvimento, (Boraks, 2001;
que impeçam o aleitamento (Aids, tuber- Laskaris, 2000; McDonald; Avery, 1991)
culose) ou dependentes de certos medica- usualmente congênita (Pereira, 2001), em
* Mestranda em Odontopediatria da Universi- mentos que seriam maléficos ao bebê que se observa um freio lingual anormal-
dade Cruzeiro do Sul (Unic-Sul). E-mail: (como os neurolépticos); outros inerentes mente curto (Corrêa, 2001;Grazziani,
cristina.r.padovani@terra.com.br ao recém-nascido: fendas nasopalatinas e/ 1986; Guedes-Pinto,2003; Laskaris,2000;
** Doutora, professora do curso de Mestrado
de Odontopediatria da Unic-Sul. ou labiais; bebê prematuro e McDonald; Avery, 1991; Pereira, 2001;
*** Doutora, professora do curso de Mestrado anquiloglossia. Persaud, 2005) limitando a protusão lin-
de Odontopediatria da Unic-Sul. E-mail: Com o objetivo de diminuir os obstá- gual dificultando a amamentação e que
renataguare@uol.com.b culos ao aleitamento materno é importan- muitas vezes se alonga com o tempo, cor-
**** Doutor, professor do curso de Mestrado de
Odontopediatria da Unic-Sul. E-mail: te que ocorra um intercâmbio de conheci- rigindo espontaneamente (Guedes-Pin-
daniloaduarte@ig.com.br mentos de vários profissionais da saúde, to,2003; Persaud, 2005).

Padovani, Maria Cristina et al. Frenectomia lingual em bebê recém-nascido - Relato de caso clínico
414 Rev. ABO Nac. Suplemento nº 1 Vol. 18 nº 1 - Fevereiro/março 2010

O diagnóstico da anquiloglossia em re-


cém-nascido é clínico. Deve-se observar o
freio lingual curto no exame físico e asso-
ciar a informações obtidas na anamnese
como por exemplo, dificuldade do bebê
para a realização da amamentação (Perei-
ra, 2001; Persaud, 2004). Em crianças mai-
ores, além do freio lingual curto, pode-se
observar, problemas periodontais dos inci-
sivos centrais inferiores e na dicção(Corrêa, Fig. 1 - Exame clínico (posição joelho a Fig. 6 - Incisão cirúrgica com bisturi
2001; Guedes-Pinto,2003; McDonald, joelho) para a visualização do freio lingual
Avery, 1991; Pereira, 2001).
O tratamento cirúrgico em recém-nas-
cido (frenectomia lingual) é realizada quan-
do esta manifestação está impedindo o alei-
tamento natural com eficiência (McDonald;
Avery,1991; Pereira, 2001; Persaud ,2004).
O tratamento em crianças maiores, por
volta dos 2 anos, é indicado quando o freio
lingual curto interfere na dicção e
deglutição. Em alguns casos pode se optar Fig. 2 - Observação do freio lingual curto Fig. 7 - logo após frenectomia lingual
por uma terapêutica mais conservadora,
através de exercícios fisioterápicos com
auxílio do fonoaudiólogo (Boraks, 2001;
Grazziani, 1986; Guedes-Pinto, 2003;
McDonald, Avery,1991; Pereira, 2001), e
cirúrgico(frenectomia lingual) quando se
observa problemas periodontais, interferên-
cia oclusal, dicção e se o tratamento con-
servador não for suficiente(Boraks, 2001;
Corrêa,2001; Grazziani, 1986; Guedes-Pin-
to, 2003; Laskaris, 2000; McDonald; Fig. 3 - Contenção física com auxílio de Fig. 8 - Compressão com gaze esterilizada
lençol
Avery,1991; Pereira, 2001; Persaud, 2005).
Ballard, Aurer e Khoury (2002), obser-
vam que na anquiloglossia além da criança
não conseguir apreender a aréola e realizar
os movimentos de ordenha de forma efi-
caz, a pega incorreta pode gerar fissuras no
mamilo da mãe, conseqüentemente dor, tor-
nando o ato de amamentar doloroso, mui-
tas vezes responsável pela desistência do
aleitamento. Fig. 9 - Aleitamento materno logo após a
Fig. 4 - Anestesia tópica
frenectomia
RELATO DO CASO
A mãe de um bebê do gênero femini-
no, de 24 dias, apresentou-se na Unidade
Básica de Saúde Santa Lídia, Mauá-SP,
queixando-se de dificuldade no aleitamen-
to materno. A pediatra da unidade obser-
vou que a criança não estava ganhando peso
de acordo com a média dos bebês da mes-
ma faixa etária que é de 25 a 30 gramas por Fig. 5 - Anestesia infiltrativa Fig. 10 - Imagem do tecido em cicatrização

Padovani, Maria Cristina et al. Frenectomia lingual em bebê recém-nascido - Relato de caso clínico
Vol. 18 nº 1 - Fevereiro/março 2010 Rev. ABO Nac. Suplemento nº 1 415

dia (peso ao nascer-3.090 gramas, no dia cerca de 23 gramas por dia, compensando o indicada melhora a condição de vida do
da consulta: 3.450 gramas). Após anamnese período da amamentação insuficiente. bebê, fornecendo todas as vantagens do
e exame clínico (Figura 1), juntamente com aleitamento materno, inclusive possibili-
a odontopediatra foi possível observar a pre- DISCUSSÃO tando a mãe de exercer o papel de alimen-
sença do freio lingual curto (Figura 2). As opiniões dos profissionais da área da tar seu filho, mantendo o vínculo entre am-
Observou-se que no momento do alei- saúde variam quanto à indicação da cirurgia bos, que é de extrema importância no as-
tamento, a criança apresentava dificuldade corretiva do freio lingual curto. Muito pro- pecto psicológico.
na pega da aréola do seio materno. Segundo vavelmente pela dificuldade e localizar ade-
a mãe, a criança ficava muitas horas no peito quada mente a região da incisão cirúrgica REFERÊNCIAS
para conseguir saciar-se. Após o diagnósti- em lactentes. 1. Ballard JL, Auer CE, Khoury JC.
co do freio lingual curto, a mãe foi orientada Para Corrêa (2001), Guedes-Pin- Ankyloglossia: Assesment, incidence, and
quanto a necessidade da realização da cirur- to(2003), Mcdonald e Avery (1991) e Perei- effect of frenuloplasty on the brestfeeding
gia (frenectomia lingual) e a importância do ra (2001), concordam que não se deve indi- dyad.Pediatrics; 2002 Nov;110(5):e 63.
aleitamento materno logo após, por que tem car a frenectomia lingual de forma 2. Boraks S. Diagnóstico bucal.Alterações
efeito antimicrobiano e cicatrizante. Expli- indiscriminada. A indicação deve ser feita bucais dentro dos padrões de normalida-
de. Anquiloglossia. 3ª ed. São Paulo: Ar-
cações foram dadas quanto a necessidade da nos casos em que há prejuízo no aleitamen-
tes Médicas; 2001.Cap. 2, p. 16-17,21.
contenção física, neste caso com lençol, pa- to materno, problemas na articulação da fala 3. Graziani M. Cirurgia-buco-maxilo-
cote pediátrico (Figura 3). (dicção) e alteração periodontal. facial.Cirurgia plástica pré-protética. Cor-
Antes de realizar a cirurgia o bebê foi Deve-se notar que a técnica cirúrgica de reção do freio lingual. 7ª ed. Rio de Janei-
pesado (3.450 gramas) e anotado na ficha. frenectomia lingual em lactentes não é mui- ro: Guanabara Koogan; 1986.Cap. 25, p.
Após a contenção física, iniciou-se a to difundida. Em bebês de 4 meses normal- 501-504.
anestesia, com uso de anestésico tópico, mente é necessário o procedimento de 4. Gregori C, Motta LFG. Cirurgia em odon-
Benzocaína (Figura 4), posteriormente com anestesia. Em recém-nascidos o procedimen- tologia. Freio lingual. In: Guedes-Pinto
anestesia infiltrativa, Cloridrato de Prilocaína to cirúrgico pode ser feito sem anestesia, com AC. Odontopediatria. 7ª ed. São Paulo:
com felipressina 2%, próxima a base do freio mínimo desconforto (Ballard; Aurer; Khoury Santos; 2003. cap. 30, p. 547-551.
(Figura 5). JC, 2002). Entretanto, nestes casos de recém- 5. Laskaris G.Atlas colorido de doenças bu-
O freio foi posicionado com os dedos nascidos, pode-se indicar o uso de anestesia cais da infância e da adolescência. Ano-
malias de desenvolvimento. Anquiloglosia.
indicador e médio da mão esquerda, eviden- com colírio anestésico(Pereira, 2001). Não
1ª ed. Trad. De Moraes E, Brandão AAH.
ciando-se o estiramento fibroso do freio. Não se pode subestimar a sensação dolorosa da
Porto Alegre/ São Paulo: Artes Médicas
foi utilizado a tentacânula, pois o assoalho criança, deve-se sempre evitá-la. Sul/ Livraria Santos Editora; 2000.Cap. 2,
da cavidade bucal do bebê é muito fino, e O procedimento cirúrgico deve ser rea- p. 38-42.
este instrumento poderia feri-lo. O freio foi lizado dentro dos padrões de biossegurança, 6. McDonald RE, Avery DA.
liberado com o bisturi (Figura 6). e a criança deve estar contida para evitar aci- Odontopediatria. Alterações congênitas e
Após a cirurgia foi feita a compressão dentes (Ballard; Aurer; Khoury JC, 2002). adquiridas dos dentes e das estruturas bu-
com gaze esterilizada por alguns minutos A observação do freio lingual deve ser cais associadas. Anquiloglossia. 5ª ed.
(Figuras 6,7,8). Removida a contenção físi- feita com o levantamento do ápice lingual Trad. de Silvio Bevilacqua. Rio de Janei-
ca, o bebê foi levado ao seio materno (Figu- (Ballard; Aurer; Khoury JC, 2002), quando ro: Guanabara Koogan; 1991.cap. 7, p.
ra 9), previamente limpo com o próprio leite é possível visualizar grupos de fibras 103-104.
da mãe. Esta relatou que a apreensão da distendidas, de coloração clara entre a base 7. Pereira MBB. Urgências e emergências em
odontopediatria. Alterações bucais mais
mama foi mais eficiente. da língua e o ápice lingual. A incisão cirúr-
prevalentes nos primeiros anos de vida.
No retorno cirúrgico, período de uma gica deve ser feita próximo à base da língua
Anquiloglossia. 1ª ed. Paraná: Maio;
semana, a mãe relatou que os movimentos somente nestas fibras de coloração clara, sem 2001.Cap. 2, P. 64-66.
de ordenha estavam mais fortes e que o bebê cortar os vasos sanguíneos facilmente visí- 8. Persaud M. Aparelho faríngeo – desenvol-
conseguia a saciedade mais rápido. A pro- veis, liberando-a. Há pouco sangramento. No vimento da língua. Embriologia Clínica. 7ª
dução de leite era maior, devido ao estímulo caso de bebês recém-nascidos não há neces- ed. Trad. de Mathiles ALA et al. Rio de
ser mais eficiente e a pega ser melhor. A re- sidade de sutura, pois com a compressão de Janeiro: Elsevier; 2005. cap.10, p. 245-447.
gião da incisão apresentava-se gaze esterilizada por alguns minutos cessa o 9. Valentim C. Condições patológicas da ca-
esbranquiçada, com tecido de granulação, em sangramento. vidade bucal na infância. Anquiloglossia.
fase de cicatrização (Figura 10). In:Corrêa MSNP. Odontopediatria na Pri-
Um mês após a cirurgia, observou-se o CONCLUSÃO meira Infância.1ª ed. São Paulo: Santos;
peso do bebê, 4.150 gramas, que ganhou A frenectomia lingual, quando bem 2001. Cap. 42, p. 614.

Padovani, Maria Cristina et al. Frenectomia lingual em bebê recém-nascido - Relato de caso clínico
416 Rev. ABO Nac. Suplemento nº 1 Vol. 18 nº 1 - Fevereiro/março 2010

Recuperação estética em dentes anteriores por meio


de reanatomização, clareamento interno e coroa
metal-free - Relato clínico
Esthetic achievements in anterior teeth trough recontouring, internal bleaching and metal-
free crown - case report

Palavras-chave: Clareamento de dente. Facetas dentárias. Estética dentária.


Key words: Tooth bleaching. Dental veneers. Esthetics, dental.

Rosiane Nogueira Kuguimiya* RESUMO


Daniella Neves da Rocha* Atualmente, sobretudo quando se busca a excelência estética, a união de várias
Cláudia Tavares Machado** especialidades é imprescindível para um resultado final satisfatório. Neste relato de
Caroline Helena Carlos Saldanha*** caso clínico, associam-se clareamento interno, coroa metal-free e reanatomização com
faceta direta em resina composta. A opção por esse planejamento ocorreu em função de
levar-se em conta o binômio conservadorismo e harmonia estética, em comum acordo
com a paciente, mostrando que o profissional deve ser capaz de encontrar tratamentos
alternativos e realizá-los da melhor maneira possível.

ABSTRACT
Currently, and mainly, when we search for aesthetic excellence, the union of some
specialties is essential for a satisfactory final result. In thi clinical case report, there
were associated internal bleaching, metal-free crown and recontouring with composite
resin direct dental facets. The option for this planning was based on both conservatism
and aesthetic harmony, in common with patient’s choice, showing that professional
should be capable to find alternatives treatments and accomplish them in the best possible
way.

INTRODUÇÃO Atualmente, muitas são as alternativas


A grande preocupação com o belo nos para se recuperar um sorriso que apresen-
dias atuais, fez com que a estética se tor- te estética desfavorável, e essas vão desde
nasse um referencial de saúde 10. a confecção de restaurações indiretas em
De maneira geral, observa-se que porcelana ou resina composta a restaura-
modernamente quando se trata da aparên- ções diretas com resinas compostas 8.
cia dentária, as pessoas buscam soluções A indicação para realização de restau-
harmônicas e, para isso, vários fatores de- rações diretas em resina composta para
vem ser considerados em conjunto, como dentes anteriores tem crescido em impor-
idade do paciente, tamanho, cor, formato tância, para a Dentística contemporânea 1.
do rosto e dos próprios elementos dentais. Esse aumento é resultado dos recentes
* Mestre em Odontologia, Área de Concen-
tração em Clínica Odontológica, Universi- Em Odontologia Estética, os aspectos re- avanços nas formulações das resinas com-
dade Potiguar –(UnP- Natal /RN) lativos à cor, morfologia e posicionamento postas e dos modernos e potentes siste-
** Professora Doutora da Disciplina de dos dentes são particularmente importan- mas adesivos que tornam a execução de
Dentística da graduação e pós-graduação, do tes para se planejar corretamente o trata- restaurações em dentes anteriores e pos-
Departamento de Odontologia Restauradora
da UnP-Natal (RN) mento nessa área, na qual a aparência é o teriores adequada sob o ponto de vista bi-
**** Cirurgiã-dentista principal fator 9. ológico, estético e funcional 2,4-6.

Kuguimiya, Rosiane Nogueira et al. Recuperação estética em dentes anteriores por meio de reanatomização, clareamento interno e
coroa metal-free - Relato clínico
Vol. 18 nº 1 - Fevereiro/março 2010 Rev. ABO Nac. Suplemento nº 1 417

O objetivo da estética e da cosmética


não se resume apenas na restauração da
forma e função dos elementos dentários,
mas também na capacidade de restabele-
cer um novo sorriso que se adapte ao es-
tilo de vida do paciente, ao seu trabalho e
posição social, bem como realçar suas ca-
racterísticas estéticas positivas.
Assim, tratamentos estéticos restau- Figura 2 Figura 3
radores são empregados mesmo sem a
presença da lesão de cárie em que coroa total metalocerâmica mal adaptada, uso Plus-3M) e associação das resinas
hipoplasias, descolorações, diastemas e com sinais de inflamação gengival locali- compostas híbrida (Charisma) e de
alterações de forma e tamanho por des- zada. Além disso, havia diastema entre os micropartículas (Silux) pela técnica
gaste dentário patológico são corrigidas dentes 11 e 21 e giroversão do elemento incremental, fotopolimerizando cada ca-
pelos procedimentos adesivos diretos ou dental 22 (Figura 1). mada por 40 segundos com luz halógena
indiretos centrados ao condicionamento Primeiramente, foi realizado modelo (Figura 3).
ácido do esmalte e eventualmente da de estudo para posterior planejamento do O próximo passo clínico foi a remo-
dentina. A reanatomização ou remodela- caso. As modalidades de tratamento foram ção da coroa metalocerâmica do elemento
ção cosmética pela plastia do esmalte é apresentadas à paciente, bem como suas 11 e confecção do provisório, já nas pro-
outro recurso que pode restabelecer a har- vantagens e desvantagens. porções da restauração definitiva.
monia de forma e tamanho dos dentes e o O planejamento envolveu, inicial- Posteriormente, foi realizado o fecha-
sorriso estético do paciente, sem muitas mente, o clareamento interno dos ele- mento do diastema entre os incisivos cen-
vezes utilizar material restaurador 9. mentos 31,41 e 42 com peróxido de hi- trais superiores, com a associação das re-
Este artigo tem como objetivo rela- drogênio a 35% (Hilite), pela técnica sinas compostas híbrida (Charisma) e de
tar um tratamento multidisciplinar, asso- imediata. Após a seleção da cor inicial micropartículas (Silux), sem a necessida-
ciando a Prótese e a Dentística, visando sob luz natural, sendo esta C3, foram de de nenhum desgaste da estrutura den-
uma melhor estética do sorriso para a pa- realizados, sob isolamento absoluto, os tal. A resina foi levada ao dente com
procedimentos de desobstrução do con- espátulas Thompson pela técnica
duto radicular, tampão com cimento de
ionômero de vidro (Vitrebond) e a apli-
cação do agente clareador, interna e ex-
ternamente (Figura 2).
Ativou-se com aparelho LED Radii
(SDI) e após a terceira aplicação, em uma
única sessão, lavou-se com água, secou-
se com jato de ar e cones absorventes de
Figura 1 papel e fez-se curativo de demora com pó
de hidróxido de cálcio PA por 7 dias, para
ciente. neutralizar o efeito do agente clareador. Figura 4
Após 1 semana, o curativo foi removido e incremental (Figura 4).
RELATO DE CASO realizada a restauração final com uma re- As alterações de tamanho e forma fo-
Paciente do gênero feminino, com 39 sina composta híbrida (Charisma). ram planejadas através do modelo de es-
anos de idade, apresentou-se relatando o Embora o tratamento ortodôntico fos- tudo e aplicadas em todos os procedimen-
seu descontentamento com a estética dos se a alternativa mais apropriada para cor- tos restauradores, seguindo-se as regras de
seus dentes. Após anamnese e exame clí- reção da giroversão do elemento 22, a pa- proporção áurea, na qual cada dente deve
nico inicial, observou-se o escurecimento ciente se recusou a tal tratamento e, por- ter, aproximadamente, 60% do tamanho
dos elementos 31,41 e 42 que, de acordo tanto, optou-se por uma abordagem res- do dente antecessor; o incisivo central deve
com a paciente, era muito antigo e pós- tauradora através da técnica de faceta di- medir 1,618 cm; o incisivo lateral, 1,0 cm;
tratamento endodôntico dos mesmos. Ao reta com resina composta. Foi realizada a e o canino, 0,618 cm, contando da mesial
exame radiográfico, o tratamento reanatomização, iniciando-se pelo desgas- até o terço médio (Gomes et al. 7. Tam-
endodôntico desses elementos era te com ponta diamantada 2135, aplicação bém foi observada a proporção estética,
satisfatório. O elemento 11 apresentava do sistema adesivo (Scotch Bond Multi- onde a distância cervicoincisal deve ser de

Kuguimiya, Rosiane Nogueira et al. Recuperação estética em dentes anteriores por meio de reanatomização, clareamento interno e
coroa metal-free - Relato clínico
418 Rev. ABO Nac. Suplemento nº 1 Vol. 18 nº 1 - Fevereiro/março 2010

Figura 4 Figura 5 Figura 6

100% para a distância mesio distal de 80% Tanto para a reanatomização do in- tagem do ponto de vista estético, com-
e, com isso, seria aplicada a relação lar- cisivo lateral como para o fechamento parada às restaurações metalocerâmicas.
gura versus altura dos dentes anteriores do diastema presente entre os incisivos Dissimular a presença de metal é uma
superiores (Figura 5). centrais, a reabilitação estética foi ba- das tarefas mais difíceis para o protético
Uma semana após, foram realizados seada nos princípios da proporção áu- e para o cirurgião-dentista, pois o metal
o acabamento e o polimento, refinan- rea 11. Com o auxílio de um compasso modifica completamente a maneira
do a forma, contorno e textura superfi- de ponta seca, as dimensões dos dentes como a luz que incide sobre a restaura-
cial das restaurações (Figura 6). a serem reconstruídos foram examina- ção é direcionada 13. Considerando es-
Para isso, foram empregadas pon- das. Notou-se que a inserção de resina tes fatores e aliado à má adaptação da
tas diamantadas finas e extrafinas (KG composta nas faces mesiais dos elemen- coroa metalocerâmica apresentada pela
Sorensen), pontas montadas em tos dentais 11 e 21 além da faceta direta paciente no elemento dental 11,optou-
silicone amarelas e brancas (Viking), sobre o lateral girovertido, tornaria os se pela substituição, já que a coroa em
discos Soflex (3M) na sequência do dentes proporcionais, com contorno, cerâmica pura tem um padrão estético
mais escuro para o mais claro e tiras comprimento e largura de acordo com muito superior ao da metalocerâmica,
de lixa (3M). os princípios estéticos (Figura 7). pois permite maior transmissão da luz
De acordo com Lacy em 1988, o tra- através do corpo do dente.
DISCUSSÃO tamento para a resolução de diastemas Com relação à fase de cimentação,
Em Dentística Restauradora, a esté- inclui a terapia ortodôntica, confecção usou-se um cimento resinoso de
tica pode ser definida como a arte de cri- de inlays, onlays, coroas totais e as res- polimerização dual. Estes oferecem a
ar, reproduzir, copiar e harmonizar as taurações diretas em resina composta. vantagem de polimerização inicial obti-
restaurações com as estruturas dentárias Este último, preferido por uma grande da pela ativação com luz, garantindo es-
e anatômicas circunvizinhas, de tal parcela de profissionais, depende de tabilidade da peça para os procedimen-
modo que o trabalho se torne belo, ex- uma série de fatores, incluindo a dura- tos de acabamento e função imediata
pressivo e imperceptível 9. ção do tratamento, desempenho, expec- pós-cimentação, associada à vantagem
É comum que pacientes apresentan- tativas estéticas, durabilidade e grau de da reação química que assegura a
do diastemas na região anterior sintam- reversão do procedimento. polimerização do cimento nas regiões
se insatisfeitos com a aparência do seu O escurecimento de um único dente inacessíveis à luz 13.
sorriso. anterior ou de um grupo de dentes, na
Vários tratamentos podem ser maioria das vezes, interfere negativa- CONCLUSÃO
adotados e a decisão deve considerar as mente na aparência do sorriso 3. O clí- Através deste trabalho, observa-
diferentes causas, para permitir um di- nico pode optar pela reversão da altera- se que a harmonia estética foi alcançada,
agnóstico diferencial e a seleção da me- ção de cor, por meio da aplicação de téc- utilizando a correção de diastemas e
lhor opção – ortodontia e/ou restaura- nicas de restauração associadas ao reanatomização por meio de uma abor-
ções. clareamento dental. Neste caso clínico, dagem conservadora com restaurações
O caso clínico aqui relatado poderia apenas o clareamento interno dos ele- diretas em resina composta. O resulta-
ter sido solucionado também pela téc- mentos 31,41 e 42 foi satisfatório, não do é considerado satisfatório pelo cirur-
nica indireta 12 . Entretanto, a técnica sendo necessária a associação com téc- gião-dentista e pela paciente. É impor-
direta apresenta vantagens como custo nicas restauradoras. tante que o profissional tenha conheci-
reduzido; preservação da estrutura den- A possibilidade de realizar restau- mento das diferentes técnicas, materiais
tal sadia; rapidez, pois não requer etapa rações de abrangência total da coroa e fundamentos básicos da estética den-
laboratorial; permite reparos e os pro- com as cerâmicas, sem infra-estrutura tal que o auxiliem a tomar decisões e
cedimentos são reversíveis 3 . metálica, é sem dúvida, uma grande van- oferecer ao paciente o tratamento mais

Kuguimiya, Rosiane Nogueira et al. Recuperação estética em dentes anteriores por meio de reanatomização, clareamento interno e
coroa metal-free - Relato clínico
Vol. 18 nº 1 - Fevereiro/março 2010 Rev. ABO Nac. Suplemento nº 1 419

adequado para criar uma harmonia do Aesthet Dent 2000; 12 (3):259-66. 10- Naufel FS, Schmitt VL, Chaves LP. Re-
sorriso. 5- Blitz N. Direct bonding in diastema closure cuperação estética do sorriso através de
– high dama, immediate resolution. Oral clareamento interno e externo, faceta
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1- Aranha ACC, Marchi GM. Restaurações 6- Fahl N. Achieving ultimate anterior Odontol Estet Dent. 2004; 3 (10):181-93.
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de laterais conóides. Rev Ibero-am (Suppl):4-13. 2003; 2 (5):80-5.
Odontol Estet Dent. 2003; 2(8):303-12. 7- Gomes JC, Cabral JC, Porto CLA, 12- Pfeifer JMGA, Nascimento F, Soares CJ,
2- Baratieri LN, Araujo Jr EM, Monteiro Jr Miranda MM, Hoeppner MG, Candida Oliveira LCA, Abdalla MC. Conceitos de
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retas com resinas compostas em dentes rações adesivas indiretas. São Paulo: Ar- diastemas e reanatomização de dentes an-
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3- Baratieri LN, Andrada MAC de,Monteiro 8- Lacy AM. Application of composite resin am Odontol Estet. Dent. 2004; 3 (10):122-
Jr. S, Vieira LCC, Ritter AV, Cardoso AC. for single-appointment anterior and pos- 31.
et al. Odontologia restauradora: funda- terior diastema closure. Pract Periodont 13- Silva e Souza Jr. MH, Carvalho RM,
mentos e possibilidades. São Paulo: San- Aesthet Dent. 1998; 10 (3):279-86. Mondelli RFL, Franco EB, Pinheiro RF.
tos. São Paulo: Santos; 2001. 739p. 9- Mondelli J. Estética e Cosmética em Clí- Odontologia estética: fundamentos e apli-
4- Behle C. Placement of direct composite cações clínicas. São Paulo: Santos; 2001.
nica Integrada Restauradora. São Paulo:
veneers utilizing a silicone buildup guide P.147-62.
Santos; 2003. 546p.
and intraoral mock-up. Pract Periodont

Kuguimiya, Rosiane Nogueira et al. Recuperação estética em dentes anteriores por meio de reanatomização, clareamento interno e
coroa metal-free - Relato clínico
420 Rev. ABO Nac. Suplemento nº 1 Vol. 18 nº 1 - Fevereiro/março 2010

Estudo da prevalência de alterações bucais em


bebês ao nascimento
Study of the prevalence of oral changes in just born babies

Palavras chaves: Alterações bucais. Bebês. Recém-nascidos.


Key Words: Babies. Oral changes. Newborn.

Margareth Pandolfi* RESUMO


José Carlos P. Imparato** Conhecer a prevalência das alterações bucais ao nascimento neste estudo apro-
Danilo Antônio Duarte** vado junto ao comitê de ética da C.P.O. São Leopoldo Mandic. Foi examinada
Sylvia Lavinia Martini Ferreira** uma amostra de 433 bebês nascidos a termo, na maternidade pública Fundação
André Alberto Câmara Puppin*** Beneficente – PROMATRE - Vitória (ES). Após calibragem intra-examinador e
anotador pelo método do Teste Reteste e estabelecida uma concordância de 0,95
buscou-se toda e qualquer alteração que apresentasse envolvimento da cavidade
bucal, fosse ela congênita, hereditária ou adquirida. Os dados coletados do pron-
tuário, da entrevista e do exame clínico facial e bucal do bebê foram analisados
pelo qui-quadrado, encontrando-se os seguintes resultados: 43 bebês (10,62%)
apresentaram 46 alterações; as alterações congênitas, diagnosticadas em 37 be-
bês (86,04%), foram as mais prevalentes; os cistos de desenvolvimento aparece-
ram em 20 bebês (4,65%); foram diagnosticadas duas alterações hereditárias re-
lacionadas à Síndrome de Pierre Robin; dentre as alterações adquiridas a
candidíase foi encontrada em dois bebês (4,61%); a prevalência das alterações
nos bebês segundo o sexo e a etnia não apresentou diferenças estatisticamente
significantes; os acidentes anatômicos mais envolvidos foram o rebordo alveolar
e o palato duro seguidos do assoalho da língua; e, os cistos de inclusão foram as
alterações mais prevalentes. As alterações bucais ao nascimento são congênitas,
próprias da fase de desenvolvimento, benignas, prevalentes em tecidos moles,
tendo como sítios o rebordo alveolar, a lâmina dentária e o palato duro.

ABSTRACT
Know what the most prevalent changes in just born babies. The 433 babies
born in the Fundação Beneficente - PROMATRE - in Vitória (ES). were examined
after their parent’s agreement. Any kind of change that presented involvement of
the oral cavity was searched after calibration by the test and retest method with a
* Mestre Centro de Estudos São Leopoldo concordance of 0.95. The data was collected from the babies’ records, interviews,
Mandic. Especialista em Odontopediatria,
Odontologia em Saúde Coletiva. Professora
and facial and oral clinical exams. Afterwards, it was analyzed the following of
do Curso de Especialização em qui-quadrado and the results were found: 43 babies (10.62%) showed 46 changes;
Odontopediatria e Saúde Coletiva da ABO/ the congenital changes, diagnosed in 37 babies (86.04%), were the most frequent;
ES the developmental cysts and Bohn’s nodules were seen in 20 babies (4.65%); 3
Especialista em Saúde Coletiva, Odontolo-
gia do Trabalho e Odontopediatria
hereditary changes related to the Pierre Robin’s Syndrome were diagnosed. The
** Doutores em Odontopediatria pela Faculda- prevalence of oral changes in babies according to the gender and the race did not
de de Odontologia da Universidade de São present significant statistic difference. The majority of the oral changes in just
Paulo (FO-USP) born babies are congenital, most common in the developmental phase, benign, and
*** Doutor em Cirurgia Bucomaxilofacial pela
Universidade Federal do Rio Grande do Sul
most prevalent in soft tissue and developmental cysts were the most prevalent
e professor da disciplina de Cirurgia d a Uni- changes.
versidade Federal do Espírito Santo.

Pandolfi, Margareth et al. Estudo da prevalência de alterações bucais em bebês ao nascimento


Vol. 18 nº 1 - Fevereiro/março 2010 Rev. ABO Nac. Suplemento nº 1 421

INTRODUÇÃO rugosidades palatinas; na porção media- sexos. Friend; Harris e Mincer (1990)
A cavidade bucal apresenta desenvol- na, a rafe palatina mediana; na porção consideram os nódulos de Bohn e as pé-
vimento constante, estando em relação di- posterior, a transição do palato duro e rolas de Epstein como cistos do palato
nâmica com outros sistemas e órgãos, mole; e na porção posterior, a prega ou da rafe mediana, e como cistos
também em desenvolvimento. Apresenta palatina transitória. No arco inferior, além alveolares, os do rebordo alveolar. Em um
estruturas anatômicas únicas, transitóri- do freio labial e das bridas, existe o estudo realizado com 500 bebês no
as e peculiares, podendo ocorrer altera- assoalho e o freio lingual, assim como o Tenessee (USA), 58% dos cistos foram
ções e patologias nos diferentes estágios sulco alveolar interno e sua transição oblí- encontrados no palato e 25% na região
do desenvolvimento. A detecção, diag- qua. Em ambos os roletes, sobre a região alveolar, apresentando uma variação en-
nóstico e prevenção das alterações da de incisivos e caninos existe o cordão fi- tre 70% a 86%. Para Koch et al., (1992),
cavidade bucal, o mais precocemente broso de Robin e Magitot; e na região an- ocorrem com maior frequência na região
possível, são necessários, para que o vín- terior e vestibular, segmentações verticais anterior da crista alveolar da maxila,
culo entre a mãe e o bebê e, posterior- (Walter; Ferelle e Issao, 1996). numa relação 2:1. Penido e Fonseca
mente, com o meio não sofra interferên- Microglossia, língua pequena, (2003) concluíram que há prevalência dos
cia. Diante dos aspectos citados, propu- aglossia, ausência da língua e a cistos gengivais e palatinos, isolados ou
semos uma investigação sobre a anquiloglossia que é uma condição na em grupos. Walter; Ferelle e Issao (1996)
prevalência de alterações bucais em be- qual a superfície ventral da língua está examinaram bebês entre zero e 24 me-
bês nascidos na PROMATRE - Vitória parcial ou completamente presa ao soa- ses, e encontraram uma prevalência de
(ES). lho da cavidade bucal (Bhaskar, 1976). 6,96% entre zero e 12 meses, e 0,56%
Segundo Cerri e Silva (1997), a entre 13 e 24 meses de cistos de inclu-
REVISÃO DE LITERATURA microglossia é uma anomalia rara e difí- são, com maior ocorrência na faixa etária
Para conhecer as alterações faciais e cil de ser diagnosticada em criança viva, de zero e três meses.
bucais de desenvolvimento, é necessário sendo observada em fetos de conforma- Dentes natal e neonatal são de apari-
conhecer a cavidade bucal e seus compo- ção defeituosa e incompatível com a vida. ção rara, mas têm sido reportados com
nentes anatômicos e, por meio desse co- Os cistos de inclusão ou cistos da frequência (Friend; Harris e Mincer,
nhecimento, reconhecer as alterações con- mucosa foram relatados por Alois 1990). É uma anomalia relativamente rara,
gênitas, hereditárias e adquiridas que nela Epstein, como cistos localizados no pa- e a prevalência varia de acordo com os es-
manifestam características peculiares lato de recém-nascidos, e também por tudos realizados, entre 1:1100 e 1:3700
(Hooley, 1967; Walter; Ferelle e Issao, Henrich Bohn, como cistos localizados nascimentos, eles geralmente se localizam
1996). A cavidade bucal do recém-nasci- na região alveolar, originários de glân- na região de incisivos inferiores, sendo du-
do apresenta alterações estruturais próprias dulas mucosas. Tradicionalmente dividi- plos e da série normal (Walter; Ferelle e
da idade. O lábio superior apresenta na dos em três tipos, identificados por exa- Issao, 1996; Bonecker et al., 2000;
porção média o suckning pad, com múlti- mes histológicos, os nódulos de Bohn, Bonecker; Ferreira e Birman, 2002); e se-
plas projeções vilosas que têm, por carac- remanescentes de glândulas mucosas, en- gundo estes últimos apareceram em 2,2%
terística, aumentar de volume quando em contrados sobre os roletes gengivais, no das crianças, com 36,4% de prevalência.
contato com o seio materno (Hooley, 1967; palato e ao longo da rafe; as pérolas de Segundo Morita; Walter e Guillain
Raubenheiner; Roux e Heyl 1987). Na Epstein, remanescentes de tecido epitelial (1993), a prevalência das doenças da ca-
porção interna e mediana do lábio superi- incluído ao longo da rafe mediana duran- vidade bucal é mais alta em crianças de
or existe o freio labial que, em 50% dos te a etapa de crescimento fetal; e os cis- até um ano de idade, decrescendo em se-
recém-nascidos, liga o lábio superior à tos de lâmina dentária, de origem na lâ- guida e tendo um pico por volta de três e
papila palatina, constituindo o chamado mina dentária. Os cistos de inclusão não quatro anos, coincidindo com a maior
freio teto labial persistente, auxiliar na apresentam variações quanto ao sexo, prevalência da gengivoestomatite herpé-
amamentação (Albuquerque, 1990). 76,5% no masculino e 73,5% no femini- tica aguda. Dados apresentados pelos mes-
Walter; Ferelle e Issao (1996) destacam no, com prevalência de 75% . Fromm, mos autores colhidos na Bebê-clínica, de
que o freio labial superior está presente a (1967), Uauy; Celis e Martinez (1980) Londrina, entre 1985 e 1990, informam
partir do 3º mês e o inferior encontra-se examinaram 100 recém-nascidos e encon- essas características. Para SONIS (1997),
na linha mediana, ligando a porção inter- traram 92%, destes cistos na maxila e 50% da população apresenta a Cândida
na do lábio à gengiva e que são sujeitos à 21% na mandíbula Na maxila, a região albicans na flora bucal, em especial, ao
variação. mais afetada foi a rafe palatina seguida nascer, em pacientes debilitados e em in-
Os maxilares dos recém-nascidos da região vestibular do rebordo alveolar, divíduos em antibioticoterapia prolonga-
apresentam, no arco superior, o rolete e na mandíbula, na região de caninos, não da. Segundo Mesquita et al. (1998) é uma
gengival, o palato, a papila palatina e as havendo diferença significativa entre os doença associada à infecção pelo vírus da

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422 Rev. ABO Nac. Suplemento nº 1 Vol. 18 nº 1 - Fevereiro/março 2010

Imunodeficiência Humana (HIV). Yared et apresentaram algum tipo de anomalia de nigna em 5,00%; as doenças infecciosas
al. (2001), ao estudarem 730 bebês, en- desenvolvimento ou de erupção; 29 apre- aparecem em 2,50%, sendo a candidíase a
contraram uma prevalência de 12,9%. sentaram cistos da mucosa bucal, sendo mais comum; os cistos de inclusão ocor-
Cerri e Silva (1997) relatam que a grande que 20 (28,5%) apresentaram cistos reram com maior frequência nas meninas
maioria das lesões ulcerativas é causada alveolares, com maior frequência na ma- (10,87%) do que nos meninos (4,63%);
por ação mecânica, alertando sobre o uso xila do que na mandíbula; 09 (12,9%) para a maioria das condições (76,19%),
de intubação. apresentaram cistos no palato; e, 01 (1,4%) não houve necessidade de tratamento.
Segundo Hooley (1967), as alterações apresentou dente neonatal. A superfície Bessa (2001), ao estudar crianças de
congênitas mais comuns no bebê são os vestibular do maxilar superior foi o local zero a 12 anos no Hospital das Clínicas
dentes natais e neonatais, as fístulas labi- preferencial para localização dos cistos da UFMG examinou 1.211 de zero a qua-
ais, a hipertrofia do freio labial, a micro e alveolares. A conclusão foi uma alta tro anos (61,6%) e de cinco a 12 anos
macroglossia, a anquiloglossia, a glossite prevalência de cistos da mucosa epitelial (38,4%), encontrando uma prevalência de
rombóide mediana, a rânula, os cistos em recém nascidos (41,4%), e uma baixa 30% de alterações. A maior prevalência
epidermóides, os cistos alveolares e os prevalência de alterações relacionadas à foi da língua geográfica, da lesão traumá-
palatinos, e outros cistos. Também relata erupção dentária (Corrêa; Villena e tica e da mácula melanótica; a prevalência
a hipoplasia da mandíbula relacionada à Frascino, 2000). foi maior na faixa etária de cinco a 12 anos
Síndrome de Pierre Robin, os tumores, Montandon; Alves e Menezes (1998), do que entre zero a 04 anos; a candidíase
como o epulis congênito, as lesões trau- ao estudar a prevalência de patologias bu- apresentou associação significante com o
máticas e a epidermólise bolhosa com me- cais em 250 crianças, de zero a 30 meses uso de antibiótico e o hábito de sucção de
nor frequência. em Recife (PE), apuraram que a candídose chupeta; e a língua fissurada associou-se
Segundo Friend; Harris e Mincer esteve presente em 6,4% das crianças na com alterações congênitas na faixa etária
(1990), as alterações bucais na maioria das forma pseudomembranosa aguda, sendo de cinco a 12 anos.
vezes são inócuas e resolvem-se com a ida- mais prevalente na faixa etária de zero e Bessa; Santos e Carmo (2002) exami-
de e sem tratamento. De natureza efêmera, seis meses, e que a glossite migratória be- naram 170 crianças de zero a 12 anos no
os estudos em crianças mais velhas nor- nigna ou língua geográfica, em 2,4%; dos Ambulatório de Pediatra do Hospital das
malmente subestimam a frequência de al- 50 bebês de zero e seis meses, apresenta- Clínicas - UFMG, encontrando na faixa
terações na infância. No Regional Center, ram ainda 10% e 4%, respectivamente, de etária de zero a quatro anos 25,2% de le-
em Memphis, Tennessee, os autores exa- Nódulos de Bohn e cistos da lâmina sões, com predomínio da língua geográfi-
minaram 500 recém-nascidos normais e dentária. ca, lesão traumática, candidíase e cisto
encontraram lesões em 27. A prevalência Dutra et al. (2000), ao estudarem a gengival. A diferença entre as faixas etárias
em ordem decrescente foi o leucoedema prevalência de alterações bucais em recém não foi significante, assim como, em rela-
(35%), os cistos palatinos (78,2%), os nascidos com dados colhidos dos prontu- ção à classe e uso de medicamentos.
nódulos de Bohn (45,8%) e as pérolas de ários de hospitais de Belém, encontraram
Epstein (12,4%), os cistos alveolares fissuras lábio palatais e os cistos da PROPOSIÇÃO
(26,2%), e o freio labial hipertrofiado mucosa, anquiloglossia, cistos da lâmina Estabelecer a prevalência das altera-
(15,4%); e, o dente natal, o épulis congê- dentária, dentes natal e neonatal, doença ções presentes no bebê ao nascimento, a
nito e a anquiloglossia, que apareceram em de Rega-Fede, glossite rombóide media- prevalência segundo o sexo e a etnia, e
apenas um bebê. na, língua fissurada, geográfica, observar qual o acidente anatômico.
Para Walter; Ferelle e Issao (1996), as despapilada, saburosa, macro e
alterações de desenvolvimento mais co- microglossia, nódulos de Bohn e pérolas MATERIAL E MÉTODO
muns são: dentes natais e neonatais; nó- de Epstein. Além de alterações adquiridas Este trabalho é um Estudo Transver-
dulos de Bohn, pérolas de Epstein e cis- como a candidíase, herpes e sífilis. sal aplicado em uma amostra do tipo in-
tos de lâmina dentária. Citam também as Baldani; Lopes e Scheidt (2001), ao tencional que totalizou 433 bebês nasci-
alterações da língua e outros. As altera- estudaram a prevalência de alterações em dos a termo.
ções congênitas mais comumente encon- crianças atendidas em clínicas públicas de O projeto de pesquisa do qual resul-
tradas são os cistos epidermóide, da bebês de Ponta Grossa, PR, encontraram: tou o presente trabalho foi protocolizado
mucosa epitelial e os cistos da lâmina 21,00% das crianças com alterações; pre- em 22 de maio de 2001, junto ao Comi-
dentária, nódulos de Bohn, pérolas de dominância em meninas (22,83%) em re- tê de Ética, instituído pelo Centro de Pós
Epstein e dentes natais. lação a meninos (19,44%); as alterações Graduação São Leopoldo Mandic de
No Departamento de Ginecologia e predominantes foram congênitas acordo com a resolução 196/1996 do
Obstetrícia do Hospital Ipiranga, em São (13,50%); os cistos de inclusão aparece- CNS – Ministério da Saúde, sendo apro-
Paulo, 30 de 70 recém-nascidos (42,9%) ram em 7,50% e a glossite migratória be- vado no dia 04 de junho de 2001, sob o

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Vol. 18 nº 1 - Fevereiro/março 2010 Rev. ABO Nac. Suplemento nº 1 423

Tabela 1. Distribuição do número e percentagem da presença das alterações bucais em recém-nascidos,


Maternidade PROMATRE, Vitória, 2003.
Característica N %

Nódulo de Bohn 23 50
Freio lingual hipertrofiado 5 10,86
Cisto de lâmina dentária 4 8,69
Retrogmatismo mandibular 2 4,34
Candidíase 2 4,34
Pérolas de Epstein 2 4,34
Lesão por uso de sonda 2 4,34
micrognatia 1 2,17
Alteração da cor palato posterior 1 2,17
Dente neonatal 1 2,17
Fenda palatina 1 2,17
Lesão comissura labial 1 2,17
Úlcera 1 2,17
Total 46 100,0

Tabela 2. Distribuição do número e percentagem da presença das alterações bucais em recém-nascidos,


de acordo com o sexo, Maternidade PROMATRE, Vitória, 2003.
Masculino Feminino
Alteração bucal presente
Nº % Nº %

Sim 25 10,2 21 11,2


Não 220 89,9 167 88,8
Total 245 100,0 188 100,0

número 502. significante p maior que o valor de 0,05. to foram os mais prevalentes, e apare-
Foi confeccionada uma ficha ceram em 29 bebês (6,69%).
catalográfica onde eram anotados os da- RESULTADOS As lesões adquiridas somaram um to-
dos colhidos através da anamnese, do A amostra estudada foi 433 bebês tal de 15,19%. Dentre elas a candídiase
prontuário e do exame clínico, que con- nascidos a termo, sendo de 245 bebês foi a mais prevalente, encontrada em dois
tinha o consentimento livre e esclarecido. (56,6%) do sexo masculino e 188 bebês, 4,61%; seguidas pelas lesões por
Para melhor sistematização o exame (43,4%) do sexo feminino. uso de sonda (4,61%), da comissura labi-
clínico do bebê seguiu uma ordem (Bessa A tabela 1 trata da distribuição das al- al e da mucosa (2,30%). Foi encontrado
et al. 2001; Bessa; Santos e Carmo, 2002) terações bucais nos bebês recém-nascidos. um caso de dente neonatal (2,30%).
e foi realizado no alojamento conjunto e Foram encontradas 46 alterações em A tabela 2 trata da distribuição das al-
na UTI neonatal, e com o bebê no colo da 43 bebês, sendo três (0,7%) do tipo fen- terações bucais presentes segundo o sexo
pesquisadora em decúbito dorsal e à luz da palatina, retrognatismo mandibular e dos bebês recém-nascidos.
artificial. micrognatia, ligadas à Síndrome de A presença de alteração e sexo não foi
Para apuração e análise dos resultados Pierre Robin, e encontradas em um úni- estatisticamente significante (c2=0,105;
usamos o programa SPSS Win. A concor- co bebê. As alterações congênitas, 37 p=0,746).
dância estabelecida foi de 0,95. Os dados (80,45%), foram as prevalentes. As al- A tabela 3 trata da distribuição das al-
depois de catalogados foram tratados es- terações adquiridas apareceram em cin- terações bucais presentes segundo a etnia
tatisticamente utilizando-se o teste do Qui- co bebês e somaram sete alterações dos bebês recém-nascidos.
quadrado de Pearson, considerando não (15,21%). Os cistos de desenvolvimen- Não foi observada diferença estatisti-

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424 Rev. ABO Nac. Suplemento nº 1 Vol. 18 nº 1 - Fevereiro/março 2010

Tabela 3. Distribuição do número e percentagem da presença das alterações bucais em recém nascidos,
de acordo com a etnia, Maternidade PROMATRE, Vitória, 2003.
Branco Negro
Alteração bucal
Nº % Nº %

Sim 16 12,3 30 10,0


Não 114 87,7 271 90,0
Total 130 100,0 301 100,0

Gráfico 1. Distribuição das alterações bucais presentes em bebês recém-nascidos, Montandon; Alves e Menezes (1998) en-
segundo o sítio de localização, Maternidade PROMATRE, Vitória, 2003. contraram os nódulos de Bohn e os cis-
tos da lâmina dentária, 10% e 4%, res-
pectivamente; e, Dutra et al. (2000),
6,69%, sem variação entre os sexos. No
que se refere à prevalência os resultados
foram relativamente homogêneos com
este estudo, discordamos apenas de
Baldani; Lopes e Scheidt (2001), que
demonstram haver diferença estatística
significativa entre sexo e etnia. Com re-
lação às localizações os resultados foram
homogêneos (Fromm, 1967; Bhaskar,
1976; Friend; Harris e Mincer 1990;
Montandon; Alves e Menezes, 1998;
Dutra et al., 2000).
Segundo Friend; Harris e Mincer
(1990), dente natal e dente neonatal são
camente significante em relação à etnia dos cavidade bucal e seus componentes de aparição rara. Corrêa; Villena e Frascino
bebês (c2=0,522; p=0,470). anatômicos para assim reconhecer as al- (2000) relatam 1,4%, na prevalência. Lo-
Em ordem crescente, foram encontra- terações congênitas, hereditárias e adqui- calizam-se na região de incisivos inferio-
dos os cistos da mucosa epitelial, do tipo ridas, o que vem de encontro às afirma- res, normalmente duplos e da série nor-
nódulos de Bohn em 23 bebês (50%), ções de Hooley, 1967; Walter; Ferelle e mal e são muito raro na região posterior
seguidos de cistos da lâmina dentária Issao, 1996; Raubenheiner; Roux e Heyl, (Walter; Ferelle e Issao, 1996; Bonecker
(8,69%), e pérolas de Epstein (4,34%). A 1987. Segundo Hooley (1967), as altera- et al., 2000; Bonecker; Ferreira e Birman,
candidíase (4,34%) e a discrepância entre ções congênitas mais comuns são os den- 2002). Em nosso trabalho encontramos
o rebordo mandibular e o maxilar (8,69%) tes natais e neonatais, e segundo Friend; apenas um caso de dente neonatal (0,23%),
aparecem em seguida. Harris e Mincer, 1990; Baldani; Lopes e discordando da prevalência apresentada
O gráfico 1 representa a distribui- Scheidt, 2001; Bessa, 2001, os cistos de por BONECKER et al., 2000; Bonecker;
ção das alterações segundo seu sítio de inclusão são os prevalentes, resultado Ferreira e Birman, 2002.
localização. esse homogêneo com este estudo. Entre- Dois bebês apresentaram candidíase,
As alterações envolveram o rebordo tanto, Bhaskar (1976) encontrou uma coincidindo o resultado com Walter;
alveolar, o assoalho bucal, a lâmina prevalência de 85%; Walter (1996), de Ferelle e Issao, (1996), e discordando de
dentária e a mandíbula com maior 6,96% entre zero e 12 meses, e de 0,56% BaldanI; Lopes e Scheidt, (2001), quando
prevalência, e o palato duro, o palato mole entre 13 e 24 meses; Friend; Harris e afirmam acometer 21,0% de crianças, e de
e a úvula. Maior número de alterações Mincer (1990), de 58% na região do pa- Sonis (1997), que afirma aparecer em 50%
ocorreu nos tecidos moles, 43 (93,4%). lato e de 25% na região alveolar; para de recém-nascidos. Cerri e Silva (1997)
Corrêa; Villena e Frascino (2000), 29 cri- relatam que a grande maioria das lesões é
DISCUSSÃO anças apresentaram cistos da mucosa, causada por intubação orotraqueal, corro-
Para o desenvolvimento deste traba- sendo 20 (28,5%) cistos alveolares; e borando com o fato de que dois bebês, de
lho foi fundamental o conhecimento da nove (12,9%) cistos no palato; um total de 15 internos em UTI, apresen-

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Vol. 18 nº 1 - Fevereiro/março 2010 Rev. ABO Nac. Suplemento nº 1 425

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