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Waly Salomão viaja o mundo, a arte e as drogas em Jet Lag - 07/04/20... https://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/2023/04/waly-salomao-viaja...

CRÍTICA LIVROS (HTTPS://WWW1.FOLHA.UOL.COM.BR/ILUSTRADA/LIVROS/)

Waly Salomão viaja pelo mundo, pela arte e


pelas drogas em coletânea
'Jet Lag' traz 36 poemas que exploram as conexões ocultas entre os diferentes
significados de 'viagem'

7.abr.2023 às 13h00

Alcir Pécora (https://www1.folha.uol.com.br/autores/alcir-pecora.shtml)


Professor titular de teoria literária da Unicamp

JET LAG - POEMAS PARA VIAGEM


Preço R$ 99,90 (128 págs.); R$ 39,90 (ebook) Autor Waly Salomão (org. Omar Salomão)
Editora Companhia das Letras

A ideia de coletânea no sentido forte de criação não é estranha ao talento


poliforme do poeta baiano Waly Salomão (https://www1.folha.uol.com.br/folha/ilustrada
/ult90u32679.shtml), que, só para citar dois exemplos notáveis de invenção editorial,

organizou os melhores livros de Caetano Veloso (https://www1.folha.uol.com.br/folha-topicos


/caetano-veloso/) ("Alegria, Alegria") e de Torquato Neto (https://www1.folha.uol.com.br/ilustrada

/2022/12/poesia-de-torquato-neto-ilumina-a-melancolia-e-a-vida-do-menino-infeliz.shtml) ("Os Últimos Dias de

Paupéria"), para não falar da revista Navilouca, de número único, mas


definitivo para o desbunde artístico dos anos 1970 (https://www1.folha.uol.com.br/ilustrada
/2014/05/1459244-critica-feita-de-colagens-obra-reunida-de-waly-salomao-e-explosiva.shtml).

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O poeta e compositor Waly Salomão, em fotografia de 1982 - Manoel P. Pires/Folhapress

Já aqui, em "Jet Lag - Poemas para Viagem", é um dos filhos do autor, Omar
Salomão, que se encarrega da tarefa de produzir uma coletânea da poesia do
pai, da qual se desincumbe a partir de uma concepção tradicional de viés
temático.

Reúne um conjunto de 36 poemas bastante diversos entre si, em que o mais


estimulante, em termos de leitura crítica, é a exploração das equivocidades e
conexões ocultas entre os diferentes signos de "viagem", retirados dos livros de
Salomão com destaque para "Tarifa de Embarque", de 2000.

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Formalmente, predominam na sua poesia o verso branco livre, isto é, sem rima

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regular ou medida fixa; a enumeração, que abrange desde sinonímias a


listagens caóticas; a paronomásia e a aliteração, que se apoiam na repetição
fônica no início e no interior dos versos; e, de maneira persistente, a
adjetivação sonora, o emprego de expressões populares e trocadilhos.

Já por isso se percebe que são poemas de muita fluência, oralidade e


flexibilidade de elocução, que Salomão sabia explorar em suas leituras públicas
com voz potente e gestos largos, que, por vezes, tocavam o histriônico, sem
desafinar.

A constelação sígnica da noção de "viagem", na coletânea, contempla vários


sentidos, dos quais destaco três.

O primeiro é literal, no qual a poesia se constrói como súmula evocativa de


diferentes lugares que o autor conheceu, desde a cidade da infância de
"tabaréu", no interior da Bahia, até o Rio de Janeiro, onde viveu, além de outros
sítios do Brasil e do exterior, como a região do "crescente fértil", a meia-lua
formada entre os rios Tigre, Eufrates, Jordão e Nilo ("ali está situada Al-Rouad/
minúscula ilha fenícia de meu pai").

Não raras vezes, esse tipo de descrição desemboca em crônicas de costumes


("Bahia de vistas turvas e línguas de trapo"), ou anedota de submundo e de
amor bandido ("Grã-fina da pesada (superoito a tiracolo): -- Nasceu-me a ideia
de conhecer melhor o black-ground"), que insinuam um Nelson Rodrigues mais
pop e menos reacionário.

O segundo sentido de "viagem" que está presente na coletânea é sobretudo


simbólico, quando ela se divide em duas direções quase opostas: uma, mais
melancólica e solitária, voltada sobretudo à busca das origens paternas de
imigrante sírio; outra, muitas vezes eufórica, que refere a expansão da
percepção por meio das drogas.

São trips em fluxos de consciência, cujo ápice se dá nos dois poemas extraídos
de seu livro de estreia, que é também a sua obra-prima (https://www1.folha.uol.com.br
/ilustrada/2020/04/ha-50-anos-waly-salomao-escrevia-no-carandiru-texto-que-mudaria-a-contracultura.shtml): "Me

Segura qu'Eu Vou Dar um Troço", de 1972, ideado em torno da prisão por porte
de drogas que o levou por 18 dias ao Carandiru.

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Para fechar este esboço de "Jet Lag", há um terceiro sentido da "viagem"


contido na coletânea, talvez o mais insistente deles, que é o dos nexos entre
arte e vida, o que não surpreende num autor formado nos anos 1960 e 70.

Nesse aspecto, os pontos de ligação acentuados por Salomão são a leitura dos
clássicos, especialmente os de viés órfico, quando a palavra interfere e
"desoculta" a realidade que o cotidiano mascara ("Abr’olhos para as flores da
trepadeira Camõesia máxima"); a erótica "latejante" das línguas ("e, balbucio só
o c de bulício, cio, chiado,/ cama, cunhantã, cunhã e cobertor"); certo
populismo tropicalista, que faz vibrar a conexão mística com a gente simples
("Quem canta aí fora na varanda de Dona Ana? / Que entidade range a rede
gostosa da casa de/ Eliana?).

E, pra resumir tudo, uma paixão da vida que só se efetua de fato quando
recolhida na poesia ("Em louvor da poesia futura de Propertius/ Outrora a vida
fervilhou em Tebas/ E era Troia adornada com torres").

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mundo-pela-arte-e-pelas-drogas-em-coletanea.shtml

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