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Por que Grupos?

Uma (breve) introdução


Prof.º Me. Manolo Kottwitz
Grupo-dispositivo
Visa “incitar processos de desterritorialização. Isto é,
transformações nos âmbitos cognitivo, afetivo, social e
político. As práticas grupais, nessa perspectiva, são
tomadas como disruptivas e potencializadoras dos
fluxos desejantes.” (HUR; VIANA, 2016, p.04)
Grupos
e Grupos e
Grupos-operativos Grupos e [...]
Para Enrique Pichon-Rivière (1988), o grupo apresenta-se como o
principal instrumento de transformação da realidade. A mudança,
que é o objetivo primordial de todo grupo em tarefa, envolve um
processo gradativo, no qual os integrantes do grupo passam a
assumir diferentes papéis e posições frente à tarefa grupal.
Devir-Grupo ou grupo
como devir

“O grupo entendido como devir se oferece como oportunidade


para a extração de partículas das formas já constituídas,
apontando para a emergência de outras formas [...] de
composição com outros modos de afecção, outros modos de
existencialização [...] Estar em grupo é como lançar-se em uma
linha de fuga para além dos dualismos, para além das
estratificações, das medidas-padrão.” (BARROS, 2009, p.15)
Operando com/em
Grupos. Como?
Paradigma Ético-Estético-Político

Ético porque considera os valores que se apresentam caso a caso, em cada


encontro, para então produzir as estratégias de cuidado, Estético porque este
modo de produzir cuidado implica em uma reconfiguração sensível das relações
que criadas no seio destes encontros, pautada pela composição de novos
universos de subjetivação e Político porque age em um plano de experimentação
pautado no comum, produzindo neste plano regimes inéditos de organização,
orientados pela afirmação da diferença e pelo combate à lógica policial de
controle que opera pelo poder e pela burocratização da vida, “deixando vazar a
polifonia que habita as multiplicidades” (BARROS, 2009, p. 322)
“A esquizoanálise é um conjunto de saberes
contemporâneo, multifacetado, plural e heterogêneo
- um campo teórico-político criado pelos pensadores
#01 Gilles Deleuze e Félix Guattari [...] Trata-se de uma
análise micropolítica dos agenciamentos,
De onde e para investimentos desejantes e de poder que propõe
onde olhamos? uma cartografia das relações clínicas, institucionais,
sociais e políticas não mais no par família e neurose,

tal como privilegiado na psicanálise, mas, sim, na
articulação entre capitalismo e esquizofrenia.” (HUR,
2019, p. 09)
Dispositivo e [...]

Trata-se de um conjunto heterogêneo


que inclui discursos, instituições,
edifícios, leis, medidas de segurança,
proposições filosóficas, enunciados
diversos, etc. O dispositivo em si mesmo
é a rede que se estabelece entre esses
elementos, tendo uma função
estratégica que serve ao sistema
dominante, inscrito sempre em uma
relação de poder (FOUCAULT, 1978).
Contra-dispositivo
Já o contra-dispositivo “Produz e coloca em
circulação processos de deslocamentos,
desvios voltados ao horizonte da saúde,
sendo as forças produtivas (sujeitos, afetos,
sentidos, expressões, códigos, etc…)
constituintes do contra-dispositivo, que
atualizam as condições para a emergência de
novos modos de vida, na medida em que
configuram uma passagem entre um antes e
um depois, ao qual chamamos devir,
produção de diferença” (KOTTWITZ;
CAVAGNOLI, p. 09, 2022).
O que é um grupo?

Como surge um grupo?


#02
Perguntas pra Quanto tempo ele dura?
pensar!

Quando me sinto em
grupo?
Cartografia

#03 Território Existencial


KLÍNICAS DE GRUPO:
OPERADORES
Máquinas de Guerra

Corpo Sem Órgãos


CARTOGRAFIA

<<participa ativamente do traçado das linhas,


enfrenta os mesmos perigos e variações que elas.>>

{DELEUZE; GUATTARI, 2012 (vol. 03) , p. 85}


<<Separar as linhas de um dispositivo, em cada caso, é desenhar um mapa,


cartografar [...] Dispositivos são máquinas de fazer ver e de fazer falar [...]
Cada dispositivo tem seu regime de luz, distribuindo o visível e o invisível,
fazendo nascer ou desaparecer determinadas formas de vida.>>

A relação das linhas é sempre {DELEUZE - O que é um dispositivo}


dialógica, não estão postas à priori.

Implicam-se em constantes
processos de territorialização - Linhas de segmentaridade flexíveis
desterritorialização -
reterritorialização, sempre em devir,
Linhas de estratificação (duras)
orientado por uma mudança de Linhas de fuga
natureza.
Acompanhar o traçado das linhas de força em ato,

cartografar no momento em que os processos de deslocamento


acontecem. “Consiste na aposta da experimentação
(PASSOS, KASTRUP; ESCÓSSIA, 2014, p. 10)

“Consiste em desconstruir as estruturas coercitivas e


bloqueadoras do desejo nos âmbitos psíquico ou social.
raspar Visa desbloquear e suprimir as barreiras que causam
algum tipo de sofrimento aos indivíduos, num exercício de
desterritorialização das condutas instituídas.” (HUR, 2016,
p. 02)

“Visa conectar os investimentos libidinais aos


agenciamentos sociais. Busca ligar o desejo ao meio, o

produzir dentro ao fora, possibilitando a fluidez entre interno e


externo, mitigando a alienação do indivíduo sobre seu
desejo, seu corpo e o próprio ambiente em que está
inserido.” (HUR, 2016, p. 02)
TERRITÓRIO
EXISTENCIAL
- O grupo território -

“Não há território sem um vetor de saída do território, e


não há saída do território, ou seja, desterritorialização,
sem, ao mesmo tempo, um esforço para se
reterritorializar em outra parte.” (DELEUZE, Abecedário)
TERRITÓRIO
EXISTENCIAL

º Não se reduz a uma localização geográfica, mais que isso, trata-se de


uma localização espaço-temporal e afetiva, composta de sentidos e
expressões singulares a partir da lógica dos encontros dos sujeitos e
forças que ali habitam.

º Um território existencial é um ambiente vivo que está sempre sujeito a


modificações, desvios e recriações de si mesmo, já que sempre se
constitui na relação com outros territórios em movimento.
TERRITÓRIO
EXISTENCIAL
º Ao habitarmos um território existencial, devemos ter noção de que não
estamos apenas intervindo, estamos antes implicados na própria produção
e configuração dos modos de ser, agir, pensar, sentir, perceber e
compartilhar determinado recorte da realidade. O bilioterapeuta ou
mediador de leitura, ao habitar um território existencial, está sempre e
diretamente envolvido na produção de encontros, na produção de
subjetividade e produção de desejo dos corpos.

º Diz sobre uma capacidade de afetar e ser afetado, sobre uma


predisposição ao encontro de “fazer com” e não “fazer de” ou “fazer para”.
MÁQUINAS
DE GUERRA

“A máquina de guerra é exterior ao aparelho do Estado [...] é antes como a


multiplicidade pura e sem medida, a malta, irrupção do efêmero e potência
da metamorfose.” (DELEUZE; GUATTARI, 2012, p. 13)
MÁQUINAS MÁQUINAS
X
DE GUERRA DE ESTADO
A máquina do Estado, opera pela axiomática do capital, ou seja, age
a partir da produção de reprodução, impondo sobrecodificações a
partir de organizações binárias e lógicas identitárias. É puramente
funcional.

Atua através de dispositivos de poder concêntricos, sempre


relacionados a uma economia do desejo direcionada a produção de
enfermidades através da desaceleração das velocidades intensivas
da vida.
MÁQUINAS MÁQUINAS
X
DE GUERRA DE ESTADO
A máquina de Guerra, opera por linhas de fuga, ou seja, age sempre a
partir da produção de diferença, desmanchando as
sobrecodificações a partir de processos desterritorializantes. É como
uma fonte constituída por linhas de criação.

Opera na ativação de contra-dispositivos revolucionários e


heterogêneos, também relacionados a uma economia do desejo,
porém orientada pela produção de vida através da experimentação
das intensidades, ou seja, age por aceleração.
CORPO
SEM “É sobre ele que dormimos, velamos, que
lutamos, lutamos e somos vencidos, que
ÓRGÃOS procuramos nosso lugar, que descobrimos
nossas felicidades inauditas e nossas quedas
fabulosas, que penetramos e somos
penetrados, que amamos.” (DELEUZE;
GUATTARI, 2012, p.12)
CORPO “Não é uma noção, um conceito, mas antes uma prática, um

SEM conjunto de práticas. Ao CsO não se chega, não se pode


chegar, nunca se acaba de chegar a ele, é um limite.”

ÓRGÃOS (DELEUZE; GUATTARI, 2012, p.12)

Se a Máquina do Estado é a imposição de organizações


pautadas pela lógica do nexo prático-utilitário-funcional, a
produção de um Corpo Sem Órgãos passa pela experimentação
de uma Máquina de Guerra, da desfuncionalização do
organismo, das hierarquias. As Máquinas de Guerra são como
programas que nos permitem a produção de uma existência
orientada pela criação de um novo corpo que permita a
expressão e circulação de afetos singulares.
CORPO Deleuze e Guattari nos aconselham administrar a produção
de um CsO: “Prudência como dose, como regra imanente à
SEM experimentação: injeções de prudência [...] saiba fazê-lo, é
uma questão de vida ou de morte, de juventude e de velhice,
ÓRGÃOS de tristeza e alegria. É aí que tudo se decide.” (2012, p.13)

“É necessário guardar o suficiente do organismo para que ele se


recomponha a cada aurora; pequenas provisões de significância
e de interpretação, é também necessário conservar, inclusive
para opô-las a seu próprio sistema [...] Não se atinge o CsO e
seu plano de consistência desestratificando grosseiramente.”
(DELEUZE; GUATTARI, 2012, p. 26)
REFERÊNCIAS
BARROS, R. B. de. Grupo: A Afirmação do Simulacro. - Porto Alegre: Sulina; Editora da UFRGS, 2009.
DELEUZE, G; GUATTARI, F. Mil Platôs: Capitalismo e Esquizofrenia 2 (Vol. 1); trad. Ana Lúcia de Oliveira,
Aurélio Guerra Neto e Célia Pinto Costa. - São Paulo: Editora 34, 2011.
DELEUZE, G; GUATTARI, F. Mil Platôs: Capitalismo e Esquizofrenia 2 (Vol. 3); trad. Aurélio Guerra Neto,
Ana Lúcia de Oliveira, Lúcia Claudia Leão e Suely Rolnik. - São Paulo: Editora 34, 2012.
DELEUZE, G; GUATTARI, F. Mil Platôs: Capitalismo e Esquizofrenia 2 (Vol. 4); trad. Suely Rolnik. - São
Paulo: Editora 34, 2012.
DELEUZE, G; GUATTARI, F. Mil Platôs: Capitalismo e Esquizofrenia (Vol. 5); trad. Peter Pál Pelbart e
Janice Caiafa. - São Paulo: Editora 34, 2012.
HUR, D. U. Psicologia, Política e Esquizoanálise. - Campinas, SP: Alínea, 2019
__________. Práticas grupais na esquizoanálise: Cartografia, oficina e esquizodrama. Rev. Arquivos
Brasileiros de Psicologia, 2016.
__________. O dispositivo grupo na Esquizoanálise: Tetravalência e esquizodrama. VÍNCULO - Revista do
NESME, 2009
KOTTWITZ, M; CAVAGNOLI, M. Eu é sempre um outro: Literatura menor e produção de subjetividade. Rev.
ECOS - Estudos Contemporâneos da Subjetividade, 2022 (no prelo)
KOTTWITZ, M. Performance Art: Produção de Encontros, Produção de Subjetividade - Ensaios em arte e
esquizoanálise. - São Paulo: Dialética, 2022

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