Você está na página 1de 22

Sociedades e Instituições II

Função/funcionamento
• Outra maneira de referir-se a isso é dizer que nas instituições,
organizações, estabelecimentos, agentes, práticas, pode-se
distinguir uma função e um funcionamento. Para poder
entender essa terminologia, tem-se que compreender que nas
civilizações e nos conjuntos humanos, e na vida humana
tomada num sentido muito amplo, há a tendência a adquirir
sempre características históricas que comprometem este
objetivo utópico ativo.
• UTOPIAS: conjuntos de desejos, idéias ou crenças
que os seres humanos e assumem acerca de como
deveria estar organizada sua existência em todas os
seus aspectos (éticos, estéticos, econômicos,
políticos e sociais. São modos ideais que não
existem em lugar algum cuja realização se costuma
esperar para um futuro distante.
Utopia ativa
• O Movimento Institucionalista a nomeia a objetivos desse tipo, com a
peculiaridade de considerá-los como nunca completamente
formulados ( sua formulação depende da história que a inspira) e
como realizável, em alguma medida aqui e agora, sempre
coletivamente.
Processos de exploração, dominação,
mistificação
• Essas são as deformações do percurso da vida social e de seus
objetivos mais nobres, de suas finalidades mais altas, que cada
sociedade coloca à sua maneira, e que são chamadas de utopias
sociais: como uma sociedade tenta, deseja, deve chegar a ser.
Características históricas, muito diferentes de uma sociedade para a
outra, que podem ser resumidas em três grandes situações viciosas
conhecidas por todo mundo: são os processos de exploração, de
dominação e de mistificação (desinformação ou engano).
• Então, cada sociedade, em seus aspectos instituintes e organizantes,

sempre tem uma utopia, uma orientação histórica de seus objetivos, que

é desvirtuada ou comprometida por uma deformação que se resume em:

exploração de alguns homens pelos outros (expropriação da potência e

do resultado produtivo de uns por parte dos outros); dominação, ou

seja, imposição da vontade de uns sobre os outros e desrespeito à

vontade coletiva, compartilhada, de consenso; e mistificação, ou seja,

uma administração arbitrária ou deformada do que se considera saber e

verdade histórica, que é substituída por diversas formas de mentira,

engano, ilusão, sonegação de informação etc.


Função/funcionamento

• Para compreender mais facilmente uma divisão que se estabelece


entre função e funcionamento temos que levar em conta a oposição
entre a utopia, o aperfeiçoamento da vida social e suas deformações
– exploração, dominação, mistificação
Função/mistificação

• Só que a função raramente se apresenta como ela é justamente por


causa da questão da mistificação. A função apresenta-se deformada,
disfarçada, mostra-se como objetivo natural, desejado e lógico das
instituições e das organizações. Isto é, não se manifesta claramente
ao nível do instituído, do organizado.

• Função = exploração – dominação - mistificação


• As instituições, organizações, estabelecimentos, agentes e

práticas desempenham uma função. Esta função está sempre

a serviço das formas históricas de exploração, dominação e

mistificação que se apresentam nesta sociedade.

• A função é predominantemente reacionária, conservadora,

a serviço da exploração, da dominação, e da mistificação, e

se apresenta aos olhos não atentos como eterna, natural,

desejável e invariável.
• Os os instituídos, e os organizados apresentam
predominantemente funções a serviço da
exploração, da dominação, da mistificação.

• As expressam de tal maneira que as fazem parecer


“naturais”, desejáveis e eternas. Naturalização
Funcionamento
• O instituinte e o organizante são sempre inspirados pela utopia social, está sempre a serviço dos
objetivos que provisoriamente chamamos de Justiça, de Igualdade e Fraternidade.

• Essas forças, esses processos recebem o nome de funcionamento.

• O funcionamento é sempre instituinte, é sempre transformador, é justiceiro e tende à utopia


social.
•A característica essencial do instituinte do

organizante e dos seus produtos operantes é serem

propícios à produção.

• Produção que é a geração do novo, daquilo que

almeja a utopia; funcionamento e produção são a

mesma coisa.
Função/Funcionamento
• Função é sinônimo de reprodução: é a tentativa de reiterar o mesmo,

de perpetuar o que já existe, aquilo que não é operativo para propiciar

as transformações sociais.  

• Para concluir, os instituíntes-instituídos, organizantes-organizados que

constituem a malha, a rede social, não atuam separadamente, mas sim

em conjunto. E essa atividade em conjunto pode ser enunciada com

uma fórmula pedagógica: cada um deles atua no outro, pelo outro,

para o outro, desde o outro.


• Essa é uma tentativa de enunciar o entrelaçamento,
a interpenetração que existe entre todos os
instituintes e instituídos, entre todos os organizantes
e organizados. Isso acontece ao nível da função e ao
nível do funcionamento; ao nível da produção e ao
nível da reprodução; ao nível daquilo que funcionará
a favor da utopia e ao nível daquilo que está contra.
Atravessamento

• Então, essa interpenetração ao nível de função, do conservador, do


reprodutivo, chama-se atravessamento. A interpenetração ao nível
do instituínte, do produtivo, do revolucionário, do criativo, chama-se
transversalidade.
• ATRAVESSAMENTO: a rede social do instituído-
organizado-estabelecido, cuja função prevalente é a
reprodução do sistema, atua em conjunto. Cada uma
dessas entidades opera na outra, pela outra, para a
outra, desde a outra. Esse entrelaçamento,
interpenetração e articulação de orientação
conservadora, serve à exploração, dominação e
mistificação, apresentando-as como necessárias e
benéficas.
Sociedades e Instituições
• TRANSVERSALIDADE: interpenetração, entrelaçamento, no
rizoma (modelo de uma raiz vegetal que não tem membranas
celulares nem limites externos precisos), que é imanente à
rede social das forças produtivo-desejantes-instituíntes-
organizantes. A transversalidade veiculada pelas linhas de
fuga do desejo e da produção é uma dimensão do devir que
não se reduz nem à ordem hierárquica da verticalidade nem à
ordem informal da horizontalidade nas organizações.
• A transversalidade é capaz de provocar sínteses
insólitas entre elementos incompatíveis, gerando
efeitos à distância sem transmissores detectáveis, a
partir de conexões locais. Como montagens, os
dispositivos ou agenciamentos heterogêneos
inovadores que escapam aos limites estratos,
deflagram efeitos transversais inventivos e libertários.
Dispositivo/Agenciamento
Montagens de elementos extraordinariamente heterogêneos que
podem incluir “pedaços” sociais, naturais, tecnológicos e até
subjetivos. Um dispositivo se caracteriza porque o importante nele
é seu funcionamento, sempre simultâneo a sua formação e
sempre a serviço da produção, do desejo, da vida do novo. Forma-
se da mesma maneira e ao mesmo tempo em que funciona
gerando acontecimentos insólitos, revolucionários e
transformadores. Embora seu tamanho e duração sejam tão
variáveis quanto as materialidades que o compõem, tem a
peculiaridade de nascer, operar e extinguir-se enquanto seu
objetivo de metamorfose e subversão histórica se realizam. Gera
linhas de fuga do desejo, acontecimentos inéditos.
Transversalidade

• Os efeitos da transversalidade caracterizam-se por criar dispositivos


que não respeitam os limites das unidades organizacionais
formalmente constituídas, gerando assim movimentos e montagens
alternativos, marginais e até clandestinos às estruturas oficiais e
consagradas.
• A sociedade é uma rede constituída pela interpenetração de
forças e entidades reprodutivas e anti-produtivas cujas
funções estão a serviço da exploração, dominação e
mistificação (atravessamento), assim como também está
constituída pela interpenetração das forças e entidades que
estão a serviço da cooperação, da liberdade, da plena
informação, ou seja, da produção e da transformação
afirmativa e ativa da realidade (transversalidade).
Bibbliografia
• BAREMBLITT, Gregório. Compêndio de análise institucional e outras
correntes. Belo Horizonte: Instituto Félix Guttari, 2002.
• ___________________. Cinco Lições sobre a transferência. São Paulo:
Hucitec, 1996.
• https://www.youtube.com/watch?v=ruN_LR60ZfQ
• https://www.youtube.com/watch?v=30ymNCF1vsI

Você também pode gostar