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UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPIRITO SANTO – UFES

PROGRAMA DE PÓS GRADUAÇÃO MESTRADO PROFISSIONAL EM


EDUCAÇÃO

PISTAS DO MÉTODO DA CARTOGRAFIA


Pesquisa-intervenção e produção de subjetividade

Virgínia Kastrup e Regina Benevides de Barros

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TRABALHO APRESENTADO POR :

ELAINE FERREIRA WETLER PEREIRA

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Pista 4 - MOVIMENTOS-FUNÇÕES DO DISPOSITIVO NA PRÁTICA
DA CARTOGRAFIA
Kastrup e Barros (2015) reiteram que a
cartografia não se serve de um modelo de
investigação, mas requer procedimentos
concretizados em dispositivos, que Á subjetividade é refratária a um
desempenham movimentos-função. método de investigação que vise
representar um objeto e requer um
A cartografia é caminho que nos ajuda no
método capaz de acompanhar o
estudo das subjetividades.
processo em curso.
Os fenômenos de produção da
subjetividade possuem como
características o movimento, a
transformação, a processualidade.

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Encontramos na cartografia, um
método formulado por Gilles Deleuze e
Félix Guattari (Deleuze e Guattari,
1995; Guattari, 1986), um caminho que
nos ajuda no estudo da subjetividade
dadas algumas de suas características.
1ºlugar:
Não comparece como um método pronto;

Cartografia se pratica e não se aplica, pois


não se trata de um método baseado em
regras gerais que servem para casos
particulares;

É um procedimento ad hoc (para determinada


finalidade) a ser constituído caso a caso;
2º lugar:

Não é uma abordagem histórica ou longitudinal e
sim geográfica e transversal – GEOGRÁFICA - As
configurações subjetivas não apenas resultam de
um processo histórico que lhes molda estratos,
mas portam em si mesmas processualidade,
guardando a
.
potência do movimento.
TRANSVERSAL - consiste na captação dos
movimentos constituintes das formas e não do já
constituído do/no produto.
O método vai se fazendo no acompanhamento
dos movimentos das subjetividades e dos
territórios.

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Método não fornece um modelo
de investigação. Esta se faz
através de pistas, estratégias e
procedimentos concretos.

A cartografia, enquanto método,


sempre requer, para funcionar,
procedimentos concretos
encarnados em dispositivos.

Dispositivo no dicionário:
Mecanismo, peça, instrumento
capaz de acionar uma ação.

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Michel Foucault (1979) nomeia dispositivo “um
conjunto decididamente heterogêneo que
engloba discursos, instituições, organizações
arquitetônicas, decisões regulamentares, leis,
medidas administrativas, enunciados científicos,
proposições filosóficas, morais, filantrópicas. Em
suma, o dito e o não dito são os elementos do
dispositivo. O dispositivo é a rede que se pode
estabelecer entre esses elementos” (p. 244).

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Comentando esse conceito de
Foucault, Deleuze indica a
composição de qualquer
dispositivo: ele “é de início um
novelo, um conjunto multilinear.
Ele é composto de linhas de
natureza diferente”.
(Deleuze,1990), da destaque a
quatro tipos de linhas: a de
visibilidade, a de enunciação, a
de força e a de subjetivação.

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LINHA DE VISIBILIDADE E A DE ENUNCIAÇÃO
Os dispositivos são “máquinas de fazer ver O saber é a combinação dos visíveis e
e falar”. dizíveis de um estrato, não havendo
nada antes dele, nada por debaixo
Em cada formação histórica há maneiras dele.
de sentir, perceber e dizer que conformam
regiões de visibilidade e campos de Trata-se, então, de extrair as variações
dizibilidade (linhas de visibilidade e de que não cessam de passar.
enunciação). Isso quer dizer que em cada
“É preciso pegar as coisas para extrair
época, em cada estrato histórico, existem
delas as visibilidades... é necessário
camadas de coisas e palavras.
rachar as palavras ou as frases para
A realidade é feita de modos de iluminação delas extrair os enunciados”
e de regimes diversos. (Deleuze,1992).

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LINHA DE FORÇAS

Aqui se destaca a dimensão do poder-saber. Essas


linhas levam as palavras e as coisas à luta incessante
por sua afirmação. Elas operam “no vai-e-vem do ver
ao dizer e inversamente, ativo como as flechas que
não cessam de entrecruzar as coisas e as palavras
sem cessar de levá-las à batalha” (Deleuze,1990).
Essas linhas passam por todos os pontos do
dispositivo e nos levam a estar em meio a elas o
tempo todo.

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LINHAS DE SUBJETIVAÇÃO

Linhas que inventam modos de Da filosofia dos dispositivos


existir. A dimensão do si não podemos tirar consequências, como
está, portanto, determinada a nos indica Deleuze. A primeira é o
priori: “A linha de subjetivação é repúdio dos universais, e a
um processo, uma produção de segunda, não menos contundente, é
subjetividade, num dispositivo: a “mudança de orientação, que se
ela deve se fazer, para que o desloca do eterno para apreender o
dispositivo a deixe ou a torne novo”.
possível...” (Deleuze, 1990).

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A função do dispositivo se faz
através de três movimentos, o que
torna necessário falar de
movimentos-funções. São eles:

(1) movimento-função de
referência;

(2) movimento-função de
explicitação;

(3) movimento-função de
transformação-produção.

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MOVIMENTO-FUNÇÃO DE REFERÊNCIA: O CASO DO CADERNO

Movimento- função de referência como O dispositivo é, dessa forma,


aquele que trabalha com a mesma sempre uma série de práticas e
matéria do circuito claudicante da de funcionamentos que
repetição, em que se articulam a produzem efeitos.
repetição e a variação, que nomeamos
movimento-função de referência. Na história do caderno-
dispositivo serviu como
Se dá como imediata criação de referência o tempo todo.
território existencial.

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MOVIMENTO-FUNÇÃO DE EXPLICITAÇÃO: ENTREVISTAS COM OS
A autora utilizou a noção de CEGOS
explicitação de maneira ampliada, Oficinas de prática e seu
explorando a potência que os movimento-função de explicitação
processos de devir-consciente de linhas aciona processos de
possuem de produzir subjetividades. produção de subjetividades.
Numa pesquisa desenvolvida numa A instituição-Instituto, a oficina de
oficina de cerâmica para pessoas cerâmica, a entrevista, o rádio
com deficiência visual, a entrevista mostraram-se dispositivos dentro de
de explicitação funcionou como um dispositivos, série de elos, de
dispositivo dentro de outro agenciamentos concretos produtores
dispositivo. de subjetividade.

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MOVIMENTO-FUNÇÃO DE PRODUÇÃO DE REALIDADE: O EFEITO DE
CONFLUÊNCIA DAS FUNÇÕES DE REFERÊNCIA E DE EXPLICITAÇÃO
Embora a cartografia vise ao estudo de subjetividades, a
investigação se faz através da habitação de um território, o que
significa abordá-las por suas conexões, pelos agenciamentos
que estabelecem com o que lhes é exterior. Nesse caso, a
função de produção de realidade abarca tanto a produção de
subjetividades quanto a dos territórios nos quais elas se
prolongam.

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O método cartográfico, como
modo de acompanhar processos
de produção de subjetividade,
requer dispositivos. O que
caracteriza um dispositivo é sua
capacidade de irrupção naquilo
que se encontra bloqueado para a
criação, é seu teor de liberdade
em se desfazer dos códigos, que
dão a tudo o mesmo sentido.
 

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