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Querida Elaine

Fui assistir neste sábado um filme brasileiro intitulado "entre irmãs ". Vim
no cinema pois queria apreciar o filme na tela grande e com um bom ar
condicionado, ja que Goiânia nos proporciona 36 graus neste verão. Antes de
escolher o filme li, como de praxe, a crítica feita pelos especialistas. Um deles
escreveu na Folha de SP que o filme deixava muito a desejar...que a música
era exagerada…que as paisagens eram artificiais e classificou o filme como
ruim com uma estrelinha. Mesmo assim, a despeito de sua apreciação vim
assistir. O filme é simplesmente lindo e muito bem feito. Retrata muito bem o
contexto social e político da década de 30 do século XX. Uma produção muito
bem-feita com uma trilha sonora muito boa, com fotografias especiais, com
excelente atores e atrizes. O filme fala de liberdade, de sexualidade, de
feminilidade, de masculinidade, mas acima de tudo fala de amor…não o amor
erótico propagado pela Globo e pelas mídias convencionais, mas de amor…
amor entre mãe e filho, amor entre homem e outro homem, amor entre mulher
e mulher, amor entre homem e mulher, amor entre irmãs. O filme fala de amor
e nele nossa capacidade de exercer nosso livre arbítrio, de fazer escolhas, de
saber o que falar e o que guardar em segredo, de toque corporal que
comunica, de estratégias e resistências para sobreviver em sociedade. O filme
nos provoca para reflexão social, para a desigualdade social marcante em
nosso passado e nosso presente em nosso país…mas vai além das classes
sociais mostrando como as crenças não respeitam cor, sexo, posição social,
classe, conhecimento acadêmico. Na vida de duas irmãs podemos ver duas
classes sociais, duas formas de viver e amar, duas mentalidades sobre o a
política no Brasil...através da vida das duas irmãs podemos ver o trabalho, as
dores, a sobrevivência, a luta, os encontros e desencontros. Luzia e Emília
retratam o Brasil das desigualdades sociais onde uma elite dominante manda e
tem em seu poder a ciência como conhecimento e verdade. Lembrei-me de
Jesse de Souza (vale a pena ler). O colunista da Folha, vindo do mundo dos
esportes, representa uma classe média ignorante que devora os pacotes
vindos dos EUA diretamente para a mente daqueles que gastam dinheiro para
encher suas mentes com ilusões, alimentando valores como vingança e
violência e justificando a matança de todas as formas do empobrecido no
Brasil(armas de fogo,  tráfico de drogas,  bandidagem,  vagabundagem,
preguiça, meritocracia ). O cangaceiro retratado no filme pode ser visto hoje
nestes pobres que odiamos e que a mídia propõe sua eliminação a todo custo.
Defesa do cangaço?  Cruel e maléfico?  Quer dizer dos ruralistas e
empresários da agricultura que portam seus capangas e matam todos os dias
homens e mulheres que não se curvam ao seu poderio? 
Ha muitos filmes bons vindo dos EUA e nisso eu admiro os norte-americanos
que não tem vergonha de sua história e a retrata em filmes, revelando as
contradições de um país racista, xenófobo, capitalista, violento. Traz a memória
de suas lutas, mas também há os grandes empresários que bancam os filmes
babacas em 3 ou 4 D, com muita computação gráfica,  com efeitos especiais e
com temas que nos faça esquecer que somos sujeitos políticos e sociais.
Pobres e ricos bebem das novelas globais,  das baboseiras de seriados e lotam
salas de cinema para ver filmes de ação enquanto um pequeno grupo de seres
humanos neste planeta geram e lucram com um capitalismo financeiro, 
indecente e humilhante.
Assistir "entre irmãs " é penetrar numa realidade brasileira cheia de
controvérsias que nos faz pensar e refletir com seriedade. Os diálogos e os
argumentos são muito bons mesmo.
Enfim, um filme que vale a pena assistir e colocar nossos pés no chão e
nossa mente para funcionar para ter lucidez sobre o que realmente acontece e
dissipar nossas confusões.

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