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ADOLESCÊNCIA PROLONGADA: UM OLHAR SOBRE A NOVA GERAÇÃO

Alessandra Oliveira

Piscóloga formada pela Universidade do Oeste Paulista, UNOESTE.

RESUMO
O presente artigo investiga as modificações atuais ocorridas no estilo de vida das pessoas
consideradas adultas. Sabe-se que o desenvolvimento humano não é estático, pois
acompanha a época e cultura em que está inserido, envolvendo a busca da identidade,
autonomia e o amadurecimento da pessoa. Neste contexto as mudanças ocorridas refletem um
novo modo de viver na sociedade atual. Este estudo buscou investigar causas e
conseqüências desse fenômeno, uma vez que há pouca literatura a respeito do assunto.
Palavras-chave: Adolescência prolongada; relação pais/filhos, modernidade.

LINGERING ADOLESCENCE: A GLANCE ABOUT THE NEW GENERATION

ABSTRACT

The present article investigates the current modifications happened in the considered people's
lifestyle adult. It is known that the human development is not static, because it accompanies the
time and culture in that it is inserted, involving the search of the identity, autonomy and the
person's ripening. In this context the happened changes reflect a new way of living in the
current society. This study looked for to investigate causes and consequences of that
phenomenon, once there is little literature regarding the subject.
Key words: Lingering adolescence; relationship parents/children, modernity.

Colloquium Humanarum, v. 4, n.1, Jun. 2007, p. 31-45. DOI: 10.5747/ch.2007.v04.n1/h033


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1. INTRODUÇÃO 1.1 Breve histórico sobre a evolução do


O presente artigo trata de uma termo adolescência
experiência de um projeto de pesquisa realizado
na Universidade do Oeste Paulista, tendo como
“Sabemos que não há realidade
sujeitos estudantes universitários de diversos humana exterior à cultura, uma
vez que os seres humanos se
cursos, visando traçar o perfil dos entrevistados
constituem na cultura, portanto,
de acordo com alguns critérios estabelecidos para simbolicamente.” SARTI (2004, p.
6)
“adolescência prolongada”.
O projeto iniciou-se no ano de 2005 a
A adolescência não é uma fase natural do
partir de uma investigação bibliográfica e visava
desenvolvimento humano, mas sim uma criação
uma continuidade prática por meio do
cultural. Esta etapa pode ser compreendida de
conhecimento teórico referido.
diversas formas dependendo da cultura e época
No decorrer do trabalho buscou-se
em que está inserida.
levantar e compreender algumas das causas que
Sob esta perspectiva, Calligaris (2000)
podem levar à adolescência prolongada, bem
afirma que a adolescência é produto da cultura
como possíveis conseqüências que este
moderna, sendo uma invenção da sociedade e do
fenômeno pode gerar em relação ao
“marketing”. Mas, esta adolescência inventada
amadurecimento do indivíduo.
que conhecemos hoje passou por várias
Durante o desenvolvimento da pesquisa
transformações, como veremos adiante.
percebeu-se uma grande curiosidade dos
Nos dias atuais, considera-se que o ciclo
participantes em relação ao tema investigado.
de vida é composto por quatro fases: infância,
Infelizmente, mesmo sendo atual, não há muitos
adolescência, maturidade e velhice. É difícil
trabalhos publicados que discutem sobre o tema.
concebermos nossa vida sem as experiências
Neste contexto, reconhece-se a relevância do
destas etapas. Mas, antigamente, a infância e a
assunto desta investigação.
adolescência não eram consideradas fases
Na modernidade, cada vez mais, os
distintas do desenvolvimento.
jovens prolongam sua passagem da infância à
Tendo em vista estes aspectos, devemos
vida adulta, sendo diversos os fatores que
compreender que o conceito não é estático e
influenciam para que isto ocorra. Percebe-se
sabemos desde Áries (1981) que há mudanças
assim que a adolescência prolongada é um
sociais relacionadas a mudanças na própria
fenômeno que vem ganhando cada vez mais
concepção de infância.
espaço na sociedade. Mas, para
No inicio da Idade Média não havia uma
compreendermos sua dinâmica primeiramente
representação familiar para os membros, nessa
precisamos conhecer sua origem, evolução e
fase da vida. Obras de arte entre os séculos X e
definir o conceito de adolescência.
XI retratavam crianças como adultos em tamanho
O intuito deste artigo é discutir o assunto
reduzido, e só progressivamente, entre esse
proporcionando informações, bem como,
período e o século XVI, elas começaram a serem
colaborar para uma maior compreensão deste
retratadas em suas formas próprias. Esse
problema.
processo ocorreu a partir da reprodução artística
de crianças relacionadas com a religião, a

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exemplo do menino Jesus e dos anjos. grande, o jovem tem seu espaço garantido dentro
Progressivamente, a reprodução de crianças foi da estrutura familiar e entende-se que esta fase
desvinculada da religião, mas se manteve ao lado da vida é especial e complicada, por isso ele é
da família. Só a partir do século XVII em diante, ativo e participa das questões familiares.
passaram a ser retratadas sozinhas. Porém, Desta forma, o que hoje é considerado
antes, período em que foram criados os colégios aceitável socialmente, daqui a alguns anos talvez
nos moldes mais parecidos com os atuais, não não o será mais. A mudança externa da
havia separação dos alunos por faixa etária e sociedade reflete uma mudança intrínseca dos
adultos e crianças freqüentavam juntos as indivíduos em relação a seus valores e modos de
mesmas salas de aprendizagem. Deste período viver. Não há um modo melhor ou pior de viver,
em diante é que os colégios passaram a se só há uma maneira diferenciada de ser e que
destinar a jovens entre nove e pouco mais de também pode ser mudada.
quinze anos.
Com base nos dados, pode-se 1.2 Definição de adolescência
compreender que a infância e a adolescência são “Crescer significa, precisamente,
poder relativizar as referências
criações culturais da Idade Moderna, visto que
familiares, desnaturalizando-as, o
mudanças sócio-históricas levaram a mudanças que permite o processo de
singularização, tanto das famílias
de paradigmas e conseqüentemente de atitudes e
frente aos modelos, quanto do
comportamentos. sujeito diante das imposições
familiares”. SARTI (2004, p. 9)
Perrot (1991) enfatiza que antigamente a
adolescência era ignorada pelas sociedades
De acordo com a Psicologia, espera-se
tradicionais. Ele considera que a vivência da
que o período da adolescência ofereça ao jovem
adolescência é um perigo para o jovem e para a
a possibilidade de crescimento e amadurecimento
sociedade, pois existe uma busca narcisista, ou
em todos os seus aspectos para que este consiga
seja, busca de si mesmo; há procura de sua
ter uma vida saudável.
imagem física e moral e o adolescente é,
Na visão popular, o adolescente é
portanto, o único que tende a desintegrar a
entendido como complexo e instável; por este
sociedade.
motivo, é necessário elucidarmos as suas
Os jovens do século XIX, para Perrot
características principais.
(1991) não são mais considerados como grupo, e
Bock (1994) afirma que “[...] a
sim como indivíduos que só têm a obedecer e
adolescência é uma fase típica do
calar. Zona de turbulência e contestação, a
desenvolvimento do jovem na nossa sociedade
adolescência constitui uma linha de fraturas e
(...) e que a mesma não é igual para todos os
erupções vulcânicas no seio das famílias.
jovens” (p. 152).
Considerando estes aspectos, percebe-
Desta forma, a vivência desta fase é
se como o tratamento dado ao adolescente
singular, pois depende de vários fatores: família
mudou. Antigamente, este recebia um tratamento
em que o individuo está inserido, cultura, época,
extremamente autoritário, não podia ter vontade
dentre outros.
própria e deveria ser passivo frente às suas
Para Outeiral (1994) um dos aspectos
próprias descobertas. Hoje, a permissividade é
mais marcantes que ocorre na adolescência

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refere-se a mudanças em vários níveis do o do adulto que ainda não é. Os pais ratificam
desenvolvimento, biológico, psicológico e social, essa posição ao lhe cobrar responsabilidades
sejam elas relacionadas a capacidades mentais com frases do tipo: “você não é mais uma
(maior capacidade de abstração), físicas (perda criança” e ao lhe negar direitos com outras
do corpo infantil) e emocionais. Ocorre assim, afirmações: “você ainda não é um adulto”. Se
uma mudança profunda na totalidade do indivíduo algo acontece com um adulto, trata-se de um
adolescente e conseqüentemente em sua acidente, já com o adolescente, mesmo que se
personalidade como um todo. A adolescência é trate de fato idêntico e nas mesmas
uma fase de descoberta em todos os sentidos. circunstâncias, há uma propensão a
Em decorrência, a adolescência é tida responsabilizá-lo, considerando-o imprudente,
como um período de instabilidade, marcada desatento e mesmo incapaz.
inclusive pelas mudanças físicas que Desta forma, entende-se que todas as
surpreendem, gratificam, mas também mudanças que ocorrem com o adolescente
incomodam aos próprios adolescentes e a seus resultarão em uma nova identidade para o jovem,
pais. a identidade adulta. Esta é formada pelas
Por conta da velocidade dessas identificações que o indivíduo obtém ao longo de
mudanças, o adolescente não possui um lugar sua vida, sendo que as mais relevantes são as
definido e se vê entre dois mundos: o da criança que ocorrem durante a socialização primária, ou
que não é mais e o do adulto que ainda não é. Os seja, no âmbito familiar.
pais ratificam essa posição ao lhe cobrar Um dos requisitos primordiais para a
responsabilidades com frases do tipo: “você não é entrada na fase adulta é a formação da
mais uma criança” e ao lhe negar direitos com identidade. Neste sentido, Grimberg (1995) afirma
outras afirmações: “você ainda não é um adulto”. que a identidade é resultado de três aspectos:
Se algo acontece com um adulto, trata-se de um “para possuir a noção espacial o jovem deverá ter
acidente, já com o adolescente, mesmo que se antes a noção corporal que o fará sentir-se único;
trate de fato idêntico e nas mesmas deve saber lidar e separar o passado, presente e
circunstâncias, há uma propensão a futuro; deve ter estabelecido relação e vínculo
responsabilizá-lo, considerando-o imprudente, com os pais e figuras significativas”( p. 145).
desatento e mesmo incapaz. E, o término da adolescência ocorre,
Ao adolescente são exigidas portanto, quando o jovem tem sentido de sua
simultaneamente independência e dependência, própria individualidade e compreende o papel
o que se traduz pelas expressões "já não és independente na orientação da sua vida,
criança, tens idade para ser responsável"; "ainda aceitando compromissos. Ele cumpriu
não tens idade para saberes o que queres". O determinadas tarefas como afirmação de
adolescente reconhece e sente bem esta identidade pessoal, sexual e psicossocial e a
ambivalência. aquisição de uma autonomia.
Monteiro e Santos (1995) postulam que
devido à velocidade dessas mudanças, o 1.3 O que é a Adolescência Prolongada?
adolescente não possui um lugar definido e se vê “Quando eu tiver setenta anos
então vai acabar esta
entre dois mundos: o da criança que não é mais e
adolescência vou largar da minha

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vida louca e terminar minha livre dos adultos. Hoje, tanto os adultos como as
docência (...)” LEMINSKI (1983)
crianças se “fantasiam” de adolescentes.
Desta forma, o adolescente se torna um
O trecho da poesia que abre este tópico
ideal para si mesmo, é empurrado pelo olhar de
traduz de forma clara as inquietações da
admiração dos adultos e crianças a se tornar
juventude moderna. Loucura e liberdade ao lado
cada vez mais a cópia de seu próprio modelo, é
de controle e responsabilidade. Demonstra uma
estimulado a ser rebelde e a se marginalizar, para
vontade de ser tudo ao mesmo tempo, de ser
“seguir sendo o lugar do sonho dos adultos” (p.
criança e adulto.
19).
Calligaris (2000) relata que, até a década
Levisky (1998) descreve os adolescentes
de 50, os adolescentes imitavam os adultos; após
profissionais como: ”indivíduos cronologicamente
esta época passam a proibir que o adolescente
adultos, mas cujo processo adolescente se
tenha esta postura. Entende-se que nesta época
estende no tempo, mantendo-os num estado de
era natural que o jovem trabalhasse, casasse,
dependência afetiva e econômica. O fator
tivesse filhos, enfim que amadurecesse. Hoje,
socioeconômico-cultural também está presente
ocorre o inverso o jovem é cada vez mais
nesta situação. Podem ser jovens de famílias
estimulado em sua dependência e adolescência.
abastadas ou não. Alguns deles não se sentem
Observa-se que antigamente o jovem de
gratificados em assumir suas responsabilidades
18 anos já tinha autonomia e independência em
pessoais e comunitárias. Não querem perder
diversos âmbitos de sua vida e este
seus privilégios infantis e encontram respaldo na
comportamento era aceito socialmente.
família, que se incumbirá de protegê-los,
Calligaris (2000) aponta que a sociedade
prolongando o estado de imaturidade” (p.31).
considera o jovem indivíduo adulto quando este
Zagury (2004) considera que a
realiza as tarefas de ordem psicossocial exigidas
adolescência está mudando muito nos dias de
pela sociedade como a adoção de independência
hoje. O que se observa é uma adolescência
dos pais e definição da identidade sexual. Em
prolongada até os 28/30 anos, quando muitos
contrapartida, observa-se atualmente o fenômeno
jovens ainda estão em convívio com os pais,
da adolescência prolongada, que é pouco
tendo tudo pronto a seus pés, sem muito esforço.
divulgado e conhecido.
O próprio casamento, antes tão esperado pelos
Para compreendermos o conceito da
pais, hoje é substituído pelo não-casar, que se
adolescência prolongada ou profissional,
transformou num “juntar os trapos ou ficar sem
devemos ter em mente a questão da sociedade e
compromisso”, na esperança de um
da cultura e sua constante mudança de padrões e
relacionamento mais feliz, talvez mais feliz do que
modelos em relação ao pensar e agir humano. O
o que eles estão percebendo com seus pais. A
olhar que temos sobre o adolescente deve mudar
grande perspectiva que realmente sobrou para o
de acordo com as transformações vigentes
ritual da adolescência é o enfrentamento do
sociais.
vestibular, já que os outros estão se perdendo ou
Calligaris (2000) enfatiza que a
sendo modificados.
adolescência foi criada pelos Estados Unidos.
Pode-se compreender o fenômeno do
Aos poucos os adolescentes se tornaram o ideal
prolongamento da adolescência (extensão e/ou

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duração maior) como resultado de uma educação dias de vida da criança, pois a partir do
confusa da atualidade que perdeu seus nascimento do filho gradativamente ocorre um
parâmetros de como educar um adolescente sem processo de desprendimento de sua condição
torná-lo dependente e sem super protegê-lo. infantil.
Cabe aos pais uma compreensão desta fase de As mudanças psicológicas e corporais
seu filho, no sentido de ajudá-lo no processo de que surgem na adolescência determinam uma
amadurecimento e autonomia, pois ninguém nova relação com os pais. O processo de
nasce “pronto” e a imposição de limites de forma elaboração desta nova condição ocorrerá a partir
saudável fará com que o filho viva melhor a “do luto pelo corpo da criança, pela identidade
maturidade e tenha subsídios internos para infantil e pela relação com os pais da infância”
tolerar futuras frustrações. (Outeiral, 1995 e Aberastury, 1981).
O termo adolescente profissional é Contudo, algumas questões podem ser
utilizado por Levisky (1998), descrevendo os levantadas sobre a adolescência prolongada
mesmos aspectos de dependência e imaturidade relacionando-as ao modo de interação entre pais
citados por Zagury. Em geral, as pessoas e filhos e conseqüentemente pela sociedade em
confundem o fenômeno adultescência com geral.
adolescentes profissionais, por isto faz-se Pesquisas atuais foram elaboradas no
necessária uma distinção destes conceitos. De sentido de responder a estas questões. Através
acordo com Eutrópio (2004), de dados obtidos em pesquisas realizadas por
[...] os adultescentes são pessoas Zagury (2004), o prolongamento da adolescência
que relutam em envelhecer; assim o
deve-se aos seguintes fatores: “consumismo, falta
adultescente é imbuído de cultura
jovem, mas com idade suficiente para de limites e superproteção dos pais”. A autora
não o ser. Geralmente entre os 35 e
enfatiza que:
45 anos, os adultescentes não
conseguem aceitar o fato de estarem [...] ao contrário de seus pais, os
deixando de ser jovens (p.2). jovens atuais não têm mais tanta
pressa em sair de casa. A maioria,
aliás, nem pensa no assunto. São os
Já, os adolescentes profissionais não
representantes da chamada geração-
chegam a possuir identidade e autonomia canguru, que resistem a abandonar a
comodidade da casa paterna do
próprias, não desenvolvem a maturidade própria
mesmo modo que o filhote marsupial
do adulto e geralmente não saem de casa. Os agarra-se à bolsa protetora da mãe.
Alguns, mais folgados, não
adultescentes, por sua vez, casam-se, trabalham,
desgrudam da barra da saia nem
possuem filhos e, quando chegam à meia idade, mesmo depois que casam e têm
filhos. Com isso, um novo fenômeno
voltam a apresentar comportamentos de
surgiu: o prolongamento da
adolescentes, regressivos, como por exemplo: adolescência. Cada vez mais
aumenta o número de jovens entre
vestimentas, lugares que freqüentam e outros.
20 e 30 anos acomodados à situação
de eternos adolescentes” (p.12).

Bock (1994) aponta como uma das


1.4 Algumas causas e conseqüências da
causas da adolescência prolongada à exigência
adolescência prolongada
de “formação permanente”. Esta é fruto da
A relação entre pais e filhos adolescentes
sociedade moderna, de suas mudanças bruscas
é um processo que se inicia logo nos primeiros

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e rápidas, do capitalismo e consequentemente da 1. Verificar a incidência de adolescência


competição acirrada que enfrentamos no prolongada no âmbito de uma população de
mercado de trabalho. Assim, a formação universitários e destacar algumas
permanente dificulta a aquisição de características do fenômeno;
independência, pois exige-se cada vez mais que 2. Traçar o perfil dos entrevistados de acordo
o indivíduo busque o conhecimento e se com os critérios estabelecidos da
especialize no que faz. Na sociedade atual, o adolescência prolongada;
adulto nunca está pronto o suficiente para o 3. Investigar acerca da motivação que gerou o
trabalho (p.257). interesse de estudantes em participar desta
Na modernidade, são inúmeros os fatores pesquisa, embora não preenchendo as
que contribuem para o prolongamento da condições características para tal.
adolescência; como, por exemplo: culto ao corpo,
busca pela juventude eterna, associação de DESENVOLVIMENTO DA INVESTIGAÇÃO
beleza a juventude, dentre outros. Assim, a A presente pesquisa é de natureza
juventude é valorizada e ser jovem é ser atual. qualitativa, o que, segundo Minayo (2004),
Sobre as conseqüências da adolescência possibilita adaptações e ajustamentos durante
prolongada, vários autores afirmam que a pessoa seu percurso. A autora enfatiza que:
que vivenciar uma adolescência prolongada A pesquisa qualitativa responde a
questões muito particulares. Ela se
poderá ter a sua vida prejudicada em vários
preocupa com um nível de realidade
aspectos: sociais, psicológicos, entre outros, que não pode ser quantificado. Ou
seja, ela trabalha com o universo de
devido à falta de autonomia e independência.
significados, motivos, aspirações,
crenças, valores e atitudes, o que
corresponde a um espaço mais
1.5 Formulação do problema, justificativa e
profundo das relações, dos
objetivos processos e dos fenômenos que não
podem ser reduzidos à
Sabe-se que a vivência das fases da vida
operacionalização de variáveis. (p.
de forma equilibrada, ou seja, dentro do seu 21-22).
tempo ideal acarreta em um desenvolvimento
Uma vez que a pesquisa qualitativa é
saudável. Atualmente a busca pela juventude
uma forma de investigação menos objetiva e
pode ser percebida em todos os aspectos: físicos,
diretiva, compreende-se que na execução da
emocionais e psicológicos. Assim, a adolescência
pesquisa qualitativa o investigador tenha certa
prolongada é uma vivência da modernidade e que
flexibilidade com relação à proposta estabelecida
pode gerar conseqüências negativas, como por
com seu problema central.
exemplo, dependência afetiva, na vida do
No início da execução da pesquisa houve
indivíduo.
a necessidade de aplicar questionários em
Pode-se dizer que o presente estudo é
estudantes universitários com o intuito de
relevante para a compreensão de causas e
estabelecer uma aproximação com as pessoas
conseqüências deste fenômeno, o que é
interessadas em participar do projeto. Durante a
necessário para o entendimento do assunto em
aplicação do questionário, estudantes que não
questão. Os objetivos da presente pesquisa
preenchiam um dos requisitos para participação
foram:
(idade entre 25 a 35 anos) mostraram ter

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interesse em serem entrevistados. A inclusão por último, após preenchimento do questionário


dessas pessoas no estudo foi feita atendendo ao foi explicado o tema de que se tratava a pesquisa,
seguinte objetivo: investigar acerca da motivação visando não influenciar nas respostas obtidas.
que gerou o interesse de estudantes em participar Após esta etapa, foi realizado um
desta pesquisa, embora não preenchendo as encontro com cada participante, para a aplicação
condições características para tal. da entrevista, este ocorria de acordo com a
Foram utilizadas entrevistas semi- disponibilidade dos sujeitos em locais
estruturadas nas quais o participante discorria previamente combinados, na própria
sobre sua vida e seu modo de vida atual. No total universidade. Nestes contatos o investigador
restaram 80 questionários aplicados em mencionava os temas e pedia para a pessoa
estudantes universitários de diversos cursos: discorrer livremente sobre os mesmos. Os dados
direito, comunicação, dentre outros, sendo que 10 coletados foram analisados e tabulados
pessoas não identificaram seus dados (nome, relacionando-os com os critérios da adolescência
sexo, idade). Após essa etapa, oito pessoas prolongada.
manifestaram interesse em continuar a pesquisa;
destas, 3 não se identificaram, o que RESULTADOS E DISCUSSÃO
impossibilitou o contato. Desta forma, foi possível Para o cumprimento do primeiro objetivo
continuar a pesquisa, agora, com 4 homens e 1 deste estudo: verificar a incidência de
mulher. Foi constatado que, dentre estas adolescência prolongada no âmbito de uma
pessoas, 3 (2 homens e 1 mulher) estavam na população de universitários e destacar algumas
faixa etária de interesse para a pesquisa (25-35) características do fenômeno passaremos a
anos e 2 possuíam menos de 25 anos. analisar os dados obtidos com a aplicação dos
O questionário foi elaborado a partir da questionários.
pesquisa bibliográfica que contribuiu para a Na Tabela I observam-se porcentagens
escolha dos seguintes temas: hobbies e esportes, de pessoas dos sexos masculino e feminino (49
trabalho, relacionamento atual e passado com homens e 21 mulheres) que responderam o
pais, relacionamento com cônjuge, amigos e questionário e que foram classificadas em três
conhecidos, relacionamento com filhos, faixas etárias: até os 25 anos, entre os 25 e 35
realização profissional e pessoal, opiniões sobre anos e acima de 35 anos. Esse agrupamento por
a vida atual e expectativas para o futuro. faixa etária foi feito uma vez que interessava
A aplicação do instrumento foi motivada analisar a incidência de pessoas na faixa etária
pelo seguinte objetivo: verificar a incidência de escolhida para este estudo.
adolescência prolongada no âmbito de uma
população de universitários e antes da aplicação
do questionário houve a preocupação em
esclarecer que este era parte de um projeto de
pesquisa, que os dados levantados seriam
mantidos em sigilo e também foi solicitada
autorização por escrito. A pessoa tinha liberdade
para concordar ou não com sua participação, e

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Tabela I – Participantes do questionário Tabela II – Participantes menores de 25 anos


Sexo Sexo
Faixa Etária
Masculino Feminino
Idade Masculino Feminino Total
(n=28) (n=14)
Estado civil Solteiro 28 14
Até 25 anos 40% 20% 60%
Condições de Com os pais 25 12
25 até 35 anos 23% 6% 29% moradia Sozinhos 3 1
Acima de 35 9% 2% 11% Com os amigos - 1
anos Trabalho Trabalham 18 8

Total 72% 28% 100 Não trabalham 10 6


Dependência dos pais 23 13
financeira Não dependem
A maior parte dos entrevistados, homens de outrem financeiramente
e mulheres, que responderam as questões têm dos pais 5 1
menos de 25 anos. Esse número cai para mais ou
menos da metade na faixa etária dos 25 aos 35 Pode-se observar na Tabela II que as
anos e poucas são as pessoas acima dos 35 pessoas de ambos os sexos, com até 25 anos de
anos. Em todas as faixas etárias, sempre há mais idade, apresentam características em comum,
homens do que mulheres. Assim, o fato de ter-se pois todas são solteiras e a grande maioria mora
a proporção de três homens para uma mulher que com os pais. Também, a maioria dos
se dispuseram a continuar a pesquisa está de entrevistados, de ambos os sexos, trabalha, mas
acordo com esta tendência geral. Visando quase todos dependem dos pais financeiramente.
destacar alguns aspectos característicos da Na Tabela III pode-se observar os dados
população que respondeu o questionário, foram equivalentes aos acima referidos para
considerados os seguintes dados: estado civil, participantes com idade entre 25 a 35 anos.
condição de residência, dependência econômica
de outrem e trabalho. A Tabela II mostra esse
conjunto de dados, para o dos participantes com
menos de 25 anos de idade.

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Tabela III - Participantes de 25 à 35 anos. Tabela IV – Relação dos temas e respostas


obtidas com participantes de 25 a 35 anos.
Sexo Sexo
Temas Resumo da resposta dada Total
Masculino Feminino
Lazer Fica com a família, descansa,
(n= 16) (n= 4)
assiste Tv e lê 15
Estado civil Solteiros 10 1
(gosto do que Gosta e se sente realizado 8
Casados 6 3
faço?)
Realização Sente-se satisfeito neste aspecto 12
Condições de Com os pais 9 1
pessoal
moradia Sozinhos 2
Divisão das Colabora com as despesas e as
Com o
Tarefas tarefas de casa 11
cônjuge 5 3
Relacionamento Afirma possuir relacionamentos
Trabalho Trabalham 15 3
com pais, favoráveis 15
Não
amigos, e
trabalham 1 1
outros.
Dependência Pais 7 -
Opiniões sobre Relata ter vontade de mudar algo
financeira Cônjuge - 3
a vida atual em sua vida 15
de outrem Não
Como imagina Busca realização profissional
dependem 9 1
a si próprio (estabilidade financeira) e 20
daqui há 10 constituir uma família
A maior parte das mulheres com idade
anos
entre 25-35 anos é casada mora com o marido e
trabalha, mas depende economicamente deste.
Com relação ao aspecto ocupacional foi
Por outro lado, grande parte dos homens é
constatado que 20 pessoas trabalham, mas que
solteira e mora com os pais. A grande maioria
apenas 8 gostam e sentem-se realizada com o
trabalha, mas metade deles depende
que fazem. Todos os participantes esperam,
economicamente dos pais.
daqui a 10 anos, possuir uma vida profissional e
Buscando caracterizar melhor o grupo de
pessoal estabilizadas. A maioria menciona a
participantes desta faixa etária, principal foco da
vontade de constituir uma família bem como de
pesquisa, foi realizado um levantamento com
ter uma carreira promissora em todos os
informações mais detalhadas sobre o grupo das
aspectos. Contudo, 15 pessoas relatam ter
pessoas desta idade.
vontade de mudar algo em suas vidas. Na
Desta forma, a Tabela IV mostra os
Tabela V pode-se observar características dos
principais dados levantados quando da aplicação
participantes com mais de 35 anos de idade.
do questionário, relacionados a população com
idade entre 25 e 35 anos, (n= 20).

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Tabela V - Participantes maiores de 35 anos. cônjuge, o que explicita a necessidade de que o


Sexo Sexo casal trabalhe para pagar as contas domésticas.
Masculino Feminino Na primeira faixa etária, há muitas
(n=6) (n= 2) pessoas que não trabalham, embora a maioria o
Estado civil Solteiro 4 1
faça. Na segunda e terceira faixa etária, aumenta
Casado 2 1
o número daqueles que trabalham.
Condições Com os pais 2 -
Os resultados obtidos deixam claro que a
de moradia Sozinhos 3 1
independência econômica, que é um aspecto
Com o cônjuge 1 1
Trabalho Trabalham 6 1 importante da fase adulta, não se vincula a
Não trabalham - 1 trabalhar ou não, pois verifica-se que este critério
Dependência Dividem as despesas de maturidade não está sendo observado na faixa
financeira financeiras 2 1 etária dos 25 aos 35 anos.
de outrem Com os pais ou Concluindo, os dados analisados até este
cônjuge 4 -
momento indicam que, pelo menos até os 35
Não dependem de
anos, há indícios sugerindo o prolongamento da
ninguém
adolescência tanto em termos da independência
Dependem
econômica quanto em termos da realização
financeiramente dos
pais ou cônjuge - 1 pessoal e profissional.
Com relação às entrevistas realizadas

Com relação aos homens maiores de 35 apresentar-se-á a seguir um resumo daquilo que

anos, verifica-se que há vários solteiros, que foi dito. Os primeiros três relatos se referem às

moram sozinhos. Todos trabalham e mais da pessoas com idade entre 25 a 35 anos. A análise

metade é responsável economicamente por suas visa: traçar o perfil dos entrevistados de acordo

despesas. Uma mulher entrevistada nesta faixa com os critérios estabelecidos para adolescência

etária trabalha e a outra não. Uma mora com o prolongada.

cônjuge com quem divide as despesas, e a outra, Para a análise dos relatos foram

sozinha. escolhidos nomes fictícios visando preservar a

Puderam ser observadas diferenças identidade dos participantes, os relatos e as

interessantes em relação às pessoas das descrições obtidos foram sintetizados como se

diferentes faixas etárias: da primeira para a seguem:

terceira faixa diminui o número de pessoas que


moram com os pais. Por outro lado, aumentam as Caso 1 – Vera, 33 anos, filha única, de nível

opções de moradia: com o cônjuge, amigos ou econômico baixo, casada, duas filhas.

sozinhos, categorias que mostram respostas mais Relatou que foi criada pela avó, pois os

ou menos equivalentes. pais trabalhavam. Na infância a mãe foi

Na segunda faixa etária aumenta o “presente, ausente”. Atualmente relaciona-se bem

número de participantes que não dependem com a mãe, mas não com o pai. O pai foi contra

financeiramente dos pais, embora uma boa parte seu casamento. Tem duas filhas, mas acredita

ainda dependa dos mesmos. Existe a que tem criado melhor a mais velha. Sobre a

responsabilidade de dividir as despesas com o relação com o marido, diz que ele é “nojento”,

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pois faz coisas que não a agradam, acha que tem sentidos. Tem os sonhos de casar-se de novo, de
um pensamento que não bate com o dele, mas ter um filho, comprar uma casa, um carro e ser
ele paga a sua faculdade. Afirma que se pudesse reconhecido na profissão que escolheu exercer.
voltar atrás trabalharia mais cedo, buscaria maior Comentário
independência, educaria a filha mais velha de Miguel assim como o caso anterior,
modo diferente, mudaria a postura passiva também busca crescer e amadurecer em todos os
(acomodada) que possui frente a tudo e se sentidos, mas atualmente não está conseguindo.
casaria mais tarde. Ao mesmo tempo, demonstra alguns
Vera. questiona sobre a escolha profissional, pensamentos e modos de viver imaturos e
declara não saber estudar e não confiar nela bastante relacionados à fase da adolescência.
mesma, pois têm o hábito de colar.
Caso 3 – Osvaldo, 26 anos, possui três irmãos
Comentário mais novos, de nível econômico baixo.
Esta estudante nos passa a vontade de Relatou que sempre teve uma relação
mudar e amadurecer, só que, ao mesmo tempo, mais próxima com o pai. Quando pequeno, este
demonstra uma dificuldade para que isto ocorra. teve um derrame, motivo que acabou
Em sua fala há um sentimento de arrependimento aproximando-os mais ainda. O pai já faleceu e
em relação a coisas que fez e ao sentido que sua ele sofreu muito e nunca teve uma relação de
vida tomou. Sua vontade era de ser mais adulta e proximidade com a mãe. A mãe nunca foi
independente em outras palavras, ela se sente amorosa, mas sempre distante, pois sempre
uma adolescente. trabalhou muito e nunca se interessou por suas
coisas. Hoje é casado, porque engravidou uma
Caso 2 – Miguel, 28 anos, filho caçula de uma moça. Se pudesse escolher não estaria casado.
família de 8 irmãos, de nível econômico baixo. Relatou ter uma relação de amigo com o filho.
Afirmou que foi bastante mimado pelos Atualmente não têm amigos, somente
pais e irmãos mais velhos. Precisou trabalhar amizades superficiais. Gosta do que faz, mas não
cedo para a sobrevivência. Durante a infância, é o seu ideal e acha que ganha pouco. Se
teve um bom relacionamento com os pais. Na pudesse, optaria por só estudar; não teria a
época da adolescência teve conflitos com o pai responsabilidade atual, moraria na casa da mãe e
(bem mais velho) que faleceu o que trouxe não teria tido filho, esperaria mais. O filho tem
grande sofrimento para Miguel. Foi casado, três anos de idade.
separou-se e voltou a morar com a mãe e um Comentário
irmão. Trabalha, mas quem paga as contas O. é o que mais amadureceu, desses 3
domésticas é a mãe. Decepcionou-se com os entrevistados, e assumiu responsabilidades de
amigos, não tem com quem contar. Essa adulto. Mas, relatou sentir desconforto nesta
decepção o transformou em uma pessoa posição e vontade de voltar atrás. Na verdade ele
desconfiada. Sente falta de um “grupo fixo de demonstra um desejo de voltar a ser adolescente
amigos”. Gostaria de ajudar com as contas de para não assumir tantas responsabilidades e
casa, mas no momento não pode. Gosta de compromissos.
esportes radicais e quer vencer em todos os

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Considerando estes 3 entrevistados, que Sua fala explicita contraditoriedade e


têm entre 25 a 35 anos, em todos podemos conflito interno, pois ao mesmo tempo em que
observar algumas características adolescentes, possui vontade de não assumir
quer seja no comportamento e as atitudes, quer responsabilidades, sabe que precisa mudar ser
no modo de vida, expectativas e aspirações. mais responsável e disciplinado. Quer crescer e
Embora, este conhecimento está restrito ser adolescente, também.
a poucos casos, podemos observar que estes
possuem características da adolescência Caso 5 – Samuel, 22 anos, possui um irmão
prolongada. mais novo, de nível econômico baixo.
As apresentações dos relatos a seguir Afirmou que sempre teve um diálogo
atendem ao seguinte objetivo da pesquisa: aberto e espaço para perguntar e questionar
investigar acerca da motivação que gerou o sobre qualquer assunto. Relaciona-se bem com
interesse de estudantes em participar desta os pais e com os irmãos. Namora há quase 1
pesquisa, embora não preenchendo as condições ano conversa bastante com a namorada. Tem
características para tal. verdadeiros amigos, porque são amigos desde a
infância. Gosta de namorar, praticar esportes,
Caso 4 - Vagner, 23 anos, possui dois irmãos enfim de fazer coisas de adolescente, mas afirma
mais novos, de nível econômico baixo que não é mais adolescente. Não cria
Afirmou que os pais sempre trabalharam. expectativas para o futuro, mas quer se formar,
Sempre foi mais ligado à mãe do que ao pai. Diz casar, comprar casa, carro e ajudar os pais.
que o pai sempre foi autoritário e conservador, Pretende amadurecer e realizar-se profissional e
mas que melhorou um pouco. Na infância quando pessoalmente.
aprontava e mentia, apanhava do pai. Hoje, não o Comentário
admira, o pai estagnou; parou de trabalhar e não Assim como no caso anterior este
faz mais nada. Tem dois irmãos e se relaciona entrevistado gosta de poder fazer coisas de
melhor com o irmão homem. Tem poucos amigos. adolescente, mas, ao mesmo tempo, enfatiza que
Depois que morou em Salvador passou a pretende crescer e se tornar independente.
valorizar mais as amizades. Atualmente não tem Em relação aos relatados, pode-se
namorada e quando tem, não sente ciúmes. observar que: o motivo implícito do primeiro grupo
Trabalha pouco, é autônomo e não ganha muito. de pessoas (25-35 anos) para concordar em
Gostaria de arrumar um emprego em que não participar da pesquisa resulta da insatisfação que
precisasse acordar cedo. Também gostaria de ter trazem dentro de si tanto em relação a aspectos
mais disciplina, mais responsabilidade no trabalho pessoais como a profissionais. Estas pessoas
e nos estudos. Acredita que se estivesse bem pensam que poderiam ter feito algumas coisas de
financeiramente, sua relação com o pai modo diferente e que, se tivessem tomado
melhoraria. Quer se dar bem profissionalmente, decisões acertadas e mais maduras, talvez hoje
e, se não for rico, quer ser um eterno voluntário. estivessem mais realizadas e satisfeitas.
Daqui a algum tempo imagina-se casado e com Nota-se que os estudantes menores de
um novo estilo de vida. 25 anos participaram da pesquisa por curiosidade
Comentário e identificação com o tema investigado, pois, em

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função da idade, possuem uma familiaridade com REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS


o que os adolescentes vivenciam. Atualmente,
ABERASTURY, A.; KNOBEL, M. Adolescência
nesta faixa etária ainda existe a busca da
Normal: Um enfoque psicanalítico. 10. ed. Porto
identidade e muitas vezes as pessoas se sentem
Alegre: Artes Médicas, 1981.
adolescentes por diversos fatores, o que se
ABERASTURY, Arminda e outros. Adolescência.
evidencia como busca pela profissão e parceiros,
Porto Alegre: Artes Médicas, 1983.
dentre outros. Assim, há uma identificação muito
forte com o tema. BOCK, A. M. F.; FURTADO O.; TEIXEIRA, M. L.
T. Psicologias uma introdução ao estudo de
CONSIDERAÇÕES FINAIS psicologia. 6.ed. São Paulo: Saraiva, 1994.
Conforme exposto neste trabalho, Levisky
CALLIGARIS, C.; A adolescência. São Paulo:
(1998) considera adolescente prolongado:
Publifolha. 2000.
[...] o
indivíduo cronologicamente adulto, LAKATOS, E.; MARCONI, M.. Técnicas de
mas cujo processo adolescente se
estende no tempo, mantendo-o num Pesquisa. São Paulo: Atlas, 1990.
estado de dependência afetiva e
econômica (...) Não quer perder seus LEVISKY, D. L. Adolescência: Reflexões
privilégios infantis e encontra Psicanalíticas. 2.ed. rev. e atual. São Paulo: Casa
respaldo na família, que se incumbirá
de protegê-lo, prolongando o estado do Psicólogo, 1998.
de imaturidade” (p.31).
LOUSADA, A.; OUTEIRAL, J.; CORDEIRO, A

Esta afirmação do autor se relaciona adolescência e algumas implicações a ela

diretamente com o que foi observado referente associadas. Disponível em:

aos dados coletados dos entrevistados, pois há <http.www.psiqweb.med.br/dsm/infadol.htm>.

uma marcante dependência afetiva e financeira Acesso em: 13 ago, 2004.

dos pais e/ou cônjuges bem como ao mesmo MARCONDES, W. Adolescência: um período de
tempo a consciência de que é preciso crescer e o muitas transformações. 2004. Disponível em:
desejo de voltar a ser criança. <http.www.valeverdenet.com.br/publicações>
O estudo do desenvolvimento humano Acesso em: 13 ago, 2004.
colabora para o avanço científico e é fundamental
OSBORNE, E. L.et al. Seu filho adolescente. Rio
acompanhar suas transformações e suas
de Janeiro: Imago, 1975.
implicações. A pouca literatura sobre
adolescência prolongada denuncia uma OUTEIRAL, J.; Adolescer: Estudos sobre

necessidade relevante de ampliar este adolescência. Porto Alegre: Artes Médicas, 1994.

conhecimento. PERROT, M. etal. História da vida privada: da


Espera-se que esta pesquisa possa Revolução Francesa à primeira Guerra. São
acrescentar informações sobre o tema, Paulo: Cia da Letras, 1991.
contribuindo para o avanço científico em relação
ROSA, M. Psicologia Evolutiva: Psicologia da
ao desenvolvimento humano, suas implicações e
idade adulta. Rio de Janeiro: Vozes, 1984.
transformações.
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci.
Acesso em: 20 jan, 2006.

Colloquium Humanarum, v. 4, n.1, Jun. 2007, p. 31-45. DOI: 10.5747/ch.2007.v04.n1/h033


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SARTI, C. A. A família como ordem simbólica.


Psicol. USP. [online]. 2004, vol.15, no.3 [citado 25
Janeiro 2006], p.11-28. Disponível na World Wide
Web:

ZAGURY, T. Encurtando a adolescência. Rio de


Janeiro: Record, 1999.

ZAGURY, T. A doce vida dos filhos cangurus.


Disponível em:
<http.www.galileu.globo.com/edic/95/comportame
nto.htm> Acesso em: 10 set, 2004.

ZAGURY, T. Adolescência sem fim. Disponível


em: <http.www.planetajota.jor.br/teens.htm>
Acesso em: 10 set, 2004.

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