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Universidade Estadual de Feira de Santana

Fichamento
História da América II
Professora: Larissa P. B. Pacheco
Aluna: Evelli Beatriz de Jesus Cerqueira

SCOTT, Rebecca. Emancipação escrava em Cuba: a transição para o trabalho livre.1860-


1899.Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1991.

Tese e objetivos centrais

A tese central do texto de Rebecca é analisar o processo de fim da escravidão em Cuba,


focando não só nas pressões internas e externas que o governo espanhol vinha sofrendo, mas
também nas conexões e interações entre senhores, escravizados, rebeldes e administradores.
Entre seus objetivos estão: 1. questionar a interpretação histórica feita por muitos historiadores
de que as contradições internas da escravidão poderiam ser resolvidas apenas pela abolição,
enfatizando a necessidade de compreender as múltiplas pressões que contribuíram para o fim
desse sistema. 2. Analisar o papel da indústria açucareira na manutenção da escravidão em
Cuba, questionando a ideia de que a mecanização tornou a escravidão incompatível e
explorando argumentos econômicos relacionados aos custos da escravidão. 3. abordar como foi
importante a participação dos próprios escravizados na conquista de seus direitos e na
aceleração do processo de emancipação, demonstrando como a resistência e a busca por seus
direitos desempenharam um papel crucial na abolição da escravidão em Cuba.

Principais Argumentos

A autora inicia fazendo uma comparação de cuba com Brasil, já que os dois demoraram
para abolir a escravidão e utilizavam de leis e técnicas gradualistas para a chegada da mesma.
Fazendo com que desse modo a abolição chegasse no Brasil apenas em 1888 enquanto na Cuba
apenas em 1886, dois anos de diferença.
Em seguida ela fala que existem várias maneiras de abordar sobre o que levou ao fim
da escravidão em Cuba. E ela cita 2 argumentos considerados "comuns": O PRIMEIRO seria
um problema político, já que existiam pressões internas e externas para acabar com a
escravidão, visto que a maior parte da América já havia feito a extinção da escravidão.
A SEGUNDA seria usar a abolição como forma de solucionar as dificuldades
econômicas que começavam a se instaurar no interior do mundo açucareiro, crise essa que seria
associada por alguns pesquisadores como a incompatibilidade da escravidão com os avanços
tecnológicos, mas autora na verdade diz que não irá pelo caminho de um nem do outro e
tampouco a síntese os dois, mas seguiria por um rumo diferente.

"Questionarei a validade da interpretação


histórica de que eles enfrentavam
"contradições internas" passíveis de
serem resolvidas somente por meio da
abolição. Minha ênfase será (...) sobre as
conexões entre os diferentes tipos de
pressões - social, econômica, política,
militar - e sobre as relações entre
senhores, escravos, rebeldes e
administradores." (SCOTT, 1991)

SOCIEDADE CUBANA:

O início do capítulo é voltado para a sociedade cubana, ela apresenta muitas informações
de como essa população era organizada, não muito diferente das demais colônias da América,
uma sociedade totalmente estratificada e hierarquizada, ela traz diversas tabelas com a
quantidade de escravizados, de brancos, livres, homens e mulheres e ela também traz tabelas
com as toneladas de açúcar que eram produzidas. Ou seja, ela trabalha com muitos números
para poder comprovar o seu ponto.
Cuba se destacava entre as demais ilhas açucareiras do Caribe por ser
predominantemente branca. Isso não foi um evento que sempre esteve presente na sociedade
cubana, visto que no censo feito pelo governo de 1846 os brancos eram minorias e só viram
maioria em 1862, um aumento que foi acontecendo ao longo dos anos. Essa população branca
era majoritariamente criolla, ou seja, descendentes dos espanhóis que nasciam na américa,
enquanto os espanhóis eram minoria.
Rebecca fala de um assunto muito comum nas discussões sobre a América onde
envolvem os diferentes grupos de cores "(...) os mulatos livres procuravam frequentemente
distanciar-se dos negros, num esforço tanto de evitar a “mancha” compartilhada pela
ascendência escrava como para afirmar a importância das diferenças nos status sociais e nas
gradações de cor da pele.”(p.28) enquanto os mulatos buscavam se distanciar, os negros livres
e os escravizados faziam um movimento contrário, eles se uniam, seja por parentesco ou por
qualquer tipo de movimento.
Continuando na análise da população cubana, na década de 1860 a maioria dos
escravizados se encontravam na zona rural, sendo que 47% desses estavam nas grandes
propriedades açucareiras. O que a autora deixa claro nas notas, ser um argumento que vai contra
a visão enganosa, propagada por alguns pesquisadores de que Cuba, às vésperas da
emancipação, oferecia muitas oportunidades a todos os escravizados, visto que isso não seria
possível, já que quando grandes inovações tecnológicas chegam, sempre vão esmagadoramente
para as regiões urbanas, então como os escravizados teriam tantas ricas oportunidades se eles
se encontravam em maioria na zona rural? (Visualizar tabela da página 30 para maior análise)

A COARTACIÓN

Antes de falar sobre o próximo tópico que seria a coartación, a autora traz um ponto
muito importante que é de que muitos pesquisadores têm uma visão de que a escravidão em
Cuba foi uma escravidão moderada e eles utilizam como argumentos de que a Igreja Católica
estaria trazendo esse caráter paternalista para Cuba. Mas a autora contra-argumenta que essa
visão não pode ser sustentada, devido ao fato de que pesquisas recentes (1991) mostram que a
Igreja Católica não teria como interferir diretamente nas relações escravistas no interior de
Cuba, principalmente nas grandes propriedades açucareiras, devido ao fato de que ali se
desenvolvia uma agricultura capitalista de larga escala.
Seguindo, a CORTACION era basicamente um estatuto, uma condição que permitia aos
escravizados cubanos alcançarem de forma gradual a emancipação. Ele dava uma entrada, uma
primeira parcela de acordo com o seu valor, e a partir daí ele se encontrava em uma posição
intermediária em relação aos escravizados e aos livres. Eles adquiriam alguns benefícios como
caso fosse alugado ele teria direito a alguma porcentagem de acordo com os seus rendimentos.
Mas esse era um meio muito ilusório, pois o preço dos escravizados, principalmente em 1860,
subiu muito, chegando até mais de 6x o valor anterior, o que tornava, para os escravizados,
muito difícil de alcançar a emancipação.
Os escravizados, apesar do rigoroso sistema, obtêm acesso concedido pelos seus
senhores, há alguns tantos de terra, acesso esse que não possuía caráter paternalistas e sim
porque era conveniente aos senhores, ter escravizados produzindo suas próprias alimentações e
vendendo, de forma muito barata e desproporcional, aos senhores. Mas mesmo com todas essas
invalidações, era uma pequena experiência econômica e de subsistência que serviria como uma
base, insólita, mas base, para os escravizados no período pós abolição. Lembrando que não
eram todos escravizados que possuía isso, Rebecca argumenta que, numericamente não tem
como saber quantos escravizados possuíam terras e nem se eram a maioria, o mesmo se
enquadra em relação à constituição de família, até porque ir para o engenho aparece naquela
sociedade como forma de castigo para os escravizados urbanos.

O AÇÚCAR

O cultivo de açúcar teve sua fortificação pela escravidão, já que os senhores tinham a
total liberdade de explorar quem trabalhava durante as safras, sem se importarem com seus
bem-estar.
Voltando ao início do capítulo, onde a autora diz que muitos pesquisadores dizem que
a escravidão se tornou incompatível com a mecanização, ela argumenta como essa ideia tem
vários pontos fracos:
Um dos Argumento dos autores era de que os escravizados não sabia lidar com a
tecnologia e poderiam até sabotar as máquinas, mas esse argumento cai por terra, pois Rebecca
traz ao texto provas de que havia diversas sociedades escravistas onde os escravizados
trabalhavam em usinas, fábricas e minas, da mesma forma que nos campos, ou seja dizer que
eles não saberiam mexer com tecnologia só por serem escravizados e apenas com o trabalho
livre essas máquinas poderiam serem manuseadas, é um pensamento racista, ao invés de admitir
que os escravizados cubanos não tinham instrução de como manusear e eram mantidos em
cativeiro e a hipótese de que eles poderiam sabotar as máquinas não impediu que as outras
sociedades escravistas colocassem eles em equipamentos caros.
A autora apresenta um novo elemento que seriam os trabalhadores chineses, os
pesquisadores que consideravam a escravidão incompatível com a tecnologia, usaria o
argumento de que a mecanização só se tornaria possível em Cuba graças ao trabalho livre feito
pelos chineses. Mas a autora (na página 44) diz que não é bem assim,
A importância do trabalho chines na
sobrevivência e desenvolvimento da
indústria açucareira cubana é indiscutível,
mas as razões de sua significação são
complexas. Entre 1847 e 1874 foram
trazidos para Cuba cerca de 125 000
trabalhadores chineses, impedindo a crise
na oferta de trabalho que de outra forma
sobreviveria com a atenuação do tráfico
de escravos. Muitos foram engajados a
força ou iludidos e embarcados para um
destino imprevisível em Cuba. Uma vez
em terra, eles eram postos à venda como
se fossem escravos, muito embora legal e
estritamente seus contratos é que
estivessem sendo vendidos. A maior parte
era conduzida para os engenhos de
açúcar, onde eram alojados em cabanas
feitas de cana ou palmeira ou em
barracões, alimentados com milho,
bananas, carne seca ou peixe, organizados
em turmas e enviados para o trabalho nos
campos e usinas sob a supervisão de
capatazes armados. Apesar da proibição
de castigo corporal de 1854, os chineses
eram açoitados. Ainda que seus contratos
fossem por oito ano, depois de expirado o
prazo às vezes eram obrigados a renová-
los ou deixar o país à sua própria custa.
(SCOTT, 1991)

Ou seja, a vida dos chineses se comparava com as dos escravizados, e não se pode
atribuir a mecanização aos chineses até porque a maioria deles não eram enviados para
propriedades mecanizadas e sim para os campos, junto aos escravizados, ao invés de serem
tratados como trabalhadores assalariados e livres os senhores os tratavam como escravizados.
Sendo assim seria algo enganador associar a mecanização aos Chineses.
E a própria autora sugere um argumento que seria valido ser usado na discussão, seria
que a escravidão poderia ser incompatível com a tecnologia, pois ela custava muito para ser
mantida, e ao invés de gastar com o custo dos escravizados, esse dinheiro poderia ser investido
em maquinário, para aumentar a produção. Mas os senhores não se encontravam interessados
em abolir a escravidão por um longo tempo e de certo modo ela permitiu um lucro considerável
nas plantações e negócios dos senhores.

PATRONATO

Existiam vários fatores acontecendo ao mesmo tempo que levaram a um caminho de


abolição da escravidão. Um deles seria o fato dos Estados Unidos ter abolido a escravidão, e
ele era o maior parceiro no tráfico de escravos de cuba, o que tornou o território tenso, fazendo
os senhores terem atitudes a curto prazo que era de aumentar a severidade no tratamento dos
escravizado e também a longo prazo, que seria abolir a escravidão de modo gradual, pois muitos
dos senhores argumentam que caso a escravidão fosse abolida de vez, a indústria açucareira
poderia entrar em colapso. Mas ao mesmo tempo em que os que pensavam em reformas em
cuba, defendiam o fim do tráfico, com medo de causar um desiquilíbrio racial na ilha, eles
continuavam o tráfico ilegal de escravizados. Era uma situação contraditória. Então por essa
situação, eles defendiam uma emancipação feita de forma GRADUAL, tendo em vista de evitar
uma emancipação IMEDIATA.
E é aí que o patronato entra, como uma posição intermediária entre escravizado e livre,
seriam para os senhores a única forma de os escravizados se tornarem livres de forma
responsável, seria ao longo dessa transformação que a sociedade cubana iria aceitando a
emancipação, sem causar espantos ou choques caso a abolição fosse imediata.
Rebecca vai dizer que mesmo com a lei sancionada, não houve uma verdadeira mudança
social, mas a lei teve um certo impacto. Os senhores eram agora chamados de patrono e os
escravizados passou a ser patrocinado, e os direitos que os senhores tinham sobre os
escravizados eram basicamente os mesmos, os patronos poderiam exercer castigo físico caso o
trabalho não fosse bem-feito, ou realizado e caso os patrocinados fugissem, teriam que serem
levados de volta ao seu patrono. Porém, agora os senhores eram obrigados a alimentar e vestir
os escravizados, não poderiam separar a família, e tinham que arcar com a educação dos mais
jovens e ao concluir 18 anos, os patrocinados recebiam um valor mensal pago pelo patrono.
Caso os escravizados quisessem trocar de patronos não podiam e não tinha quase
nenhum direito de trabalhador livre. Desse modo, um quarto dos escravizados deveriam ser
libertos a cada ano, por ordem de idade, e caso vários escravizados estivessem com a idade de
sair, seria feito um sorteio para definir qual deles seria.
Existiam juntas que monitorava se a lei de patronato de 1880 estava sendo cumprida,
mas esse trabalho das juntas estava comprometido por outros interesses, e eles não faziam
questão de acelerar nem um pouco a liberação dos patrocinados, a partir de 1880 os
escravizados começaram a serem libertos e só em 1886, que o número realmente zerou. Isso se
deve não as juntas, ou a boa vontade dos senhores, mas sim aos escravizados que começaram a
reconhecer seus direitos, e não permitiram que esse processo de patrono durasse muito tempo,
os escravizados sempre se apresentavam a juntas e reivindicavam seus direitos.

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