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Veto

Vamos tratar hoje do assunto veto. Ele faz parte da deliberação executiva (sanção ou
veto), que integra a segunda fase do processo legislativo (a primeira é a iniciativa e a terceira é
a fase complementar).
A sanção é a concordância do Poder Executivo com o projeto de lei aprovado pelo
Congresso Nacional. De modo diverso, caso o Chefe do Executivo discorde do projeto (vamos
conhecer os casos), pode vetá-lo. Vamos conhecer a previsão legal:

CF, art. 66, § 1º Se o Presidente da República considerar o projeto, no todo ou em


parte, inconstitucional ou contrário ao interesse público, vetá-lo-á total ou parcialmente,
no prazo de quinze dias úteis, contados da data do recebimento, e comunicará, dentro de
quarenta e oito horas, ao Presidente do Senado Federal os motivos do veto.

A sanção pode ser expressa, quando o Presidente, no prazo, coloca por escrito, logo em
seguida promulgando e publicando a lei. Mas também pode ser tácita, quando o Presidente
fica inerte no prazo de 15 dias úteis.
O seu silêncio implica a sanção, mas de forma tácita. Nesta hipótese, ele tem 48h para
promulgar a lei. Se não fizer, cabe ao Presidente do Senado fazê-lo, em igual prazo. Caso este
também não o faça, cabe ao Primeiro Vice-Presidente do Senado promulgar a referida lei.

Mas, neste prazo de 15 dias úteis, pode o Presidente da República vetar o projeto,
sempre de forma expressa. Não existe veto tácito.

O veto deve ser motivado, podendo ser jurídico (quando o projeto é inconstitucional)
ou político (quando o projeto é contrário ao interesse público). O Presidente pode até aplicar
os dois dispositivos para vetar o projeto, não há problemas. Mas sempre terá que mencionar
pelo menos um desses motivos.

O veto também pode ser classificado em total ou parcial. É total quando abrange todo
o texto, todos os artigos do projeto de lei. É parcial quando ocorre somente em relação a parte
do texto. Em relação a este último:
CF, art. 66. § 2º O veto parcial somente abrangerá texto integral de artigo, de parágrafo, de
inciso ou de alínea.
Esta proibição tem o intuito de evitar que haja o veto de palavras ou expressões isoladas
dentro do texto do projeto, alterando seu mérito. Seria o caso, por exemplo, de o Presidente
vetar a palavra “não” no texto “não é permitido fumar em ambientes fechados”. Ora, no caso
em questão sobraria a expressão “é permitido fumar em ambientes fechados”, totalmente
contrária à vontade do Congresso. Assim, se quiser vetar parcialmente o projeto, deve vetar
um artigo inteiro, ou um parágrafo todo, um inciso, alínea, que seja. Não pode vetar palavras
ou expressões isoladas.

O veto, quando parcial, não impede que a parte não vetada seja promulgada e
publicada.
Por exemplo, imagine que o CN tenha aprovado um projeto de lei com 10 artigos. O
Presidente da República exerce seu poder e veta os arts. 8º e 9º. Vai encaminhar esse texto,
junto com a motivação, ao Congresso. Mas neste caso ele irá, independente disto, sancionar
os demais dispositivos (arts. 1º a 7º e também o último), promulgá-los e publicá-los.

Já vimos que o veto deve ser executado no mesmo prazo da sanção (15 dias úteis do
recebimento do projeto) e que ele deve ser fundamentado (jurídico ou político) e expresso,
pois não existe veto tácito. Vamos conhecer mais algumas características do veto.
O veto é formal, pois sempre é apresentado por escrito, tendo em vista que deve ser
encaminhado ao Poder Legislativo para sua apreciação.
Também é supressivo, pois, ao vetar, está sempre retirando uma parte do texto, não
sendo possível alterar ou acrescentar um dispositivo.
O veto é relativo. E por que isso? Porque o Congresso Nacional vai deliberar sobre o
veto, podendo mantê-lo ou rejeitá-lo. Se o Congresso mantiver o veto, a parte vetada (ou o
projeto todo, se for o caso), vai ao arquivo. Mas se o CN rejeitar (diz-se informalmente
derrubar) o veto, a parte anteriormente vetada será promulgada e publicada. Assim, o Poder
Executivo não tem a última palavra, o veto não é absoluto, mas sim relativo (também
chamado de suspensivo ou superável).
É irretratável. Assim que vetado e enviado ao CN os motivos do veto, não pode o
Presidente “mudar de ideia” e solicitar o “cancelamento” do veto.
Se o veto for executado de acordo com as normas (foi no prazo, foi motivado, enviado
ao Congresso...) não cabe apreciação judicial sobre o mesmo. Não pode o Poder Judiciário
estabelecer que o Presidente não deveria ter vetado, mas sim sancionado determinado
projeto. Isso seria uma clara afronta ao princípio da separação dos Poderes.
Agora vamos conhecer então como se dá o processo de tramitação do veto, adentrando
especificamente no RCCN.
Assim que distribuídos os avulsos com o texto do projeto, com a indicação das partes
vetadas e sancionadas, os vetos são incluídos em Ordem do Dia.
A apreciação dos vetos ocorre em sessões do Congresso Nacional a serem convocadas
para a terceira terça-feira de cada mês, impreterivelmente.
Se por qualquer motivo não ocorrer a sessão acima, será convocada sessão conjunta
para a terça-feira seguinte.
O veto deve ser apreciado em sessão conjunta, dentro de 30 dias a contar de seu
recebimento.
Importante ressaltar que prazo de 30 dias é contado da protocolização do veto na
Presidência do Senado Federal.
Após o esgotamento do prazo constitucional, fica sobrestada a pauta das sessões
conjuntas do Congresso Nacional para qualquer outra deliberação, até a votação final do veto.
Isso significa que nada mais pode ser deliberado até que o veto seja votado. Mas perceba que
é a pauta das sessões conjuntas, não é pauta do Senado nem da Câmara.
A discussão de todos os vetos constantes da pauta é feita em globo.
Na discussão, a palavra é concedida, por 5 min, aos oradores inscritos.

Após a discussão por 4 Senadores e 6 Deputados, o processo de votação por cédula é


iniciado, podendo os líderes orientar suas bancadas por até 1 min.

A votação do veto é nominal e ocorre por meio de uma cédula que permita a apuração
eletrônica, com identificação do parlamentar, da qual constarão todos os vetos incluídos na
Ordem do Dia, agrupados por projeto.
É considerado em obstrução em relação ao item da cédula que estiver em branco o
parlamentar cujo líder nesse sentido houver se pronunciado, não sendo, nesse caso, sua
presença computada para efeito de quorum.

Havendo vários vetos a serem apreciados, é possível que haja destaque de alguns deles,
para que sejam votados separadamente (um a um). Lembre que a regra é a cédula que
permite a apuração eletrônica: uma cédula que contém todos os vetos e cada parlamentar
marca “sim”, “não” ou abstenção para cada um deles.

Assim, até o início da Ordem do Dia, pode ser apresentado destaque de dispositivos
individuais ou conexos para apreciação no painel eletrônico, a requerimento de líderes, que
independerá de aprovação pelo Plenário, observada a seguinte proporcionalidade:

Nº de Deputados Nº de Senadores Nº de destaques

5 – 24 3–5 1
25 – 49 6 – 11 2
50 – 74 12 – 17 3
75 ou mais 18 ou mais 4

Para exemplificar: um Deputado Líder de um partido com 30 parlamentares tem direito


a 2 destaques; um Senador que lidera uma bancada de 15, tem direito a 3 destaques.
Quando a cédula contiver mais de 8 projetos de lei ou mais de 80 dispositivos
vetados, é admitido quantitativo de destaques até o dobro do previsto, ou seja, a última
coluna da tabela passa a ser preenchida com 2, 4, 6 e 8.

É inadmissível, para efeito da tabela, a sobreposição de lideranças, sendo admissível,


contudo, a combinação.

Combinar, que é permitido, é o seguinte: um Senador de um partido que só tem ele não
tem direito a destaque. Um outro Senador de um partido que somente tem 2 parlamentares
também não tem direito a destaques. Mas se eles se juntarem (combinarem), dá o total de 3,
o que já lhes garante um destaque.

Sobrepor, que é vedado, é o seguinte: imagine que exista um bloco no Senado com os
partidos A, com 5 membros e B, também com 5 integrantes. O líder do bloco, como
representa 10 parlamentares, tem direito a 2 destaques. Sobrepor seria juntar o líder do bloco
com um líder de partido desse bloco, o que daria um total fictício de 15 Senadores, tendo
então direito a 3 destaques. Isso é proibido, por motivos óbvios.
Para votação no painel eletrônico de cada matéria vetada (no caso de destaques), pode
haver o encaminhamento, por 5 min, de 2 Senadores e 2 Deputados, preferencialmente de
forma alternada entre favoráveis e contrários, cabível, em qualquer caso, a orientação de
bancada pelos líderes por 1 min.
O veto é rejeitado pela maioria absoluta dos Deputados e Senadores. Ou seja, temos
que ter a maioria absoluta dos votos de ambas as Casas para rejeitar, derrubar, o veto.
Se derrubado, o projeto vai ao Chefe do Executivo para promulgação. Este tem o prazo
de 48h para promulgar. Caso contrário, aquela regra que já conhecemos, da sanção tácita: o
Presidente do Senado tem o mesmo prazo para promulgar a lei e, caso isto não aconteça, o
seu 1º vice irá fazê-lo. Cabe ressaltar que a vigência dessas partes ocorre com a publicação,
não retroagindo à data da publicação da parte da lei sancionada anteriormente (ex nunc).

É possível que haja uma rejeição parcial do veto.


No nosso exemplo anterior, o Presidente da República vetou apenas os arts. 8º e 9º de
um projeto de lei. É um exemplo de um veto parcial. É possível que, na deliberação do veto
pelo Congresso, fique mantido o veto sobre o art. 8º, mas haja a derrubada do veto em
relação ao art. 9º. Assim, (somente) o texto deste último artigo será promulgado e publicado.
Dessa forma, temos quatro opções:

1) rejeição total de um veto total (o Presidente vetou integralmente um projeto de lei e o


Congresso rejeitou integralmente o veto)

2) rejeição parcial de um veto total (o Presidente veta integralmente o projeto de lei e o


Congresso rejeita o veto apenas em relação a certos dispositivos, mantendo vetados os
demais dispositivos do projeto)
3) rejeição total de um veto parcial (o Presidente vetou apenas parte do projeto e o
Congresso rejeitou integralmente o veto, fazendo com que todo o texto inicialmente
aprovado pelo Legislativo tenha eficácia)

4) rejeição parcial de um veto parcial (o Presidente veta apenas parte dos dispositivos do
projeto de lei e o Congresso rejeita alguns e mantém outros)

Já na opção de o veto ser mantido, o que foi vetado vai ao arquivo e vale o princípio da
irrepetibilidade, ou seja, a matéria só pode ser apresentada novamente na mesma sessão
legislativa mediante proposta da maioria absoluta dos membros de uma das Casas do
Congresso.

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